Grupo
de cantadores.
Ana Bossa (séc. XXI).
Colecção particular.
A identidade cultural alentejana tem a ver com a arte
popular, na qual se insere a manufactura dos bonecos de Estremoz. Estes são figuras cerâmicas, geralmente
antropomórficas ou zoomóficas, confeccionadas através de práticas ancestrais
iniciadas em Estremoz, que remontam aos finais do séc. XVII – princípio do séc.
XVIII e que chegaram aos nossos dias.
A identidade cultural do povo alentejano tem igualmente a
ver com o cante, que segundo a tese
litúrgica do padre António Marvão teve origem em escolas de canto popular
fundadas em Serpa, por monges paulistas do Convento da Serra d’Ossa, os quais
tinham formação em canto polifónico.
Manuel Ribeiro na "Lembrança dos Cantadores da Aldeia
Nova de São Bento, Mértola, Vidigueira e Vila Verde de Ficalho", diz-nos:
Só no Alentejo há o culto popular do canto. Ali se criou o
tipo original do “cantador”. Pelas esquinas, altas horas, embuçados nas fartas
mantas, agrupam-se os homens: esmorece a conversa, faz-se silencio e de subito,
expontâneamente, rompe um coral. É o diálogo em que eles melhor se entendem, é
a conversa em que todos estão de acôrdo.
Quem não viu em Beja, em certas ruas lôbregas, em certos
recantos que escondem ainda os antros esfumados das adegas pejadas de negras e
ciclopicas talhas mouriscas, quem não viu duas bancadas que se defrontam e
donde se eleva um canto entoado, solene e soturno, com o quer que seja da
salmodia dum côro de monges?
Embora possa cantar só, o alentejano canta
sobretudo em coros e esse canto é sério, dolente, compenetrado e mesmo solene,
porque o alentejano é lento, comedido e contemplativo, por força do Sol
escaldante.
O cante e os bonecos de Estremoz são duas fortes
marcas identitárias do Alentejo, qualquer deles candidato a Património
Imaterial da Humanidade. Para estabelecer a conexão entre as duas candidaturas,
nada melhor que o exemplar do figurado de Estremoz que ilustra a presente
crónica.
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