segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Medalhas de barro de Estremoz

Marca de fabrico Tipo 1 - Legenda “OLARIA ALFACINHA / ESTREMOZ“,
inscrita numa coroa circular de 2,3 cm e 1,4 cm de diâmetro,
com a palavra “PORTUGAL”, ao centro.

A barrística de Estremoz abarca um vasto domínio a suscitar pesquisa, o qual transvaza amplamente o mero âmbito do vasilhame de barro e dos bonecos de Estremoz. Engloba também, entre outros, o sector das medalhas de barro vermelho, mandadas fabricar a pedido de entidades como a Câmara Municipal de Estremoz, a Comissão Organizadora da Feira-Exposição de Maio ou a Comissão Organizadora das Festas à Exaltação da Santa Cruz.
Trata-se de medalhas de carácter comemorativo, associadas a eventos locais, fabricadas por recurso a moldes de gesso e submetidas posteriormente a cozedura.
O estudo destas medalhas é do âmbito da Medalhística, um ramo da Numismática e foi aqui apresentado por ordem da suposta cronologia dos espécimes conhecidos.
Das duas últimas olarias de Estremoz, a Olaria Alfacinha e a Olaria Regional, apenas conhecemos medalhas fabricadas na primeira.
O estudo aqui apresentado é necessariamente incompleto, já que incide apenas no diminuto universo de 10 medalhas que integram a nossa colecção. Todavia, nelas foi possível identificar três marcas de fabrico:
- Tipo 1 - Legenda “OLARIA ALFACINHA / ESTREMOZ“, inscrita numa coroa circular de 2,3 cm e 1,4 cm de diâmetro, com a palavra “PORTUGAL”, ao centro.
- Tipo 2 – Leganda “OLARIA ALFACINHA / ESTREMOZ“, inscrita numa coroa circular de 2,5 cm e 1,7 cm de diâmetro, com a palavra “PORTUGAL”, ao centro.
- Tipo 3 – Legenda “OLARIA ALFACINHA / ESTREMOZ / PORTUGAL “ distribuída por três linhas e ocupando uma superfície de 1,2 cm x 3 cm.
Os resultados do nosso estudo são aqui expostos como legendas das imagens apresentadas. Desde já ficamos muito gratos a todos aqueles que nos puderem dar conhecimento doutras medalhas existentes, que as há. Desde já o nosso muito obrigado.


Marca de fabrico Tipo 2 -  Leganda “OLARIA ALFACINHA / ESTREMOZ“,
inscrita numa coroa circular de 2,5 cm e  1,7 cm de diâmetro,
com a palavra “PORTUGAL”, ao centro.
Marca de fabrico Tipo 3 - Legenda “OLARIA ALFACINHA / ESTREMOZ / PORTUGAL“
distribuída por três linhas e ocupando uma superfície de 1, 2 cm x 3 cm. 
Medalha de barro vermelho, com legenda em alto-relevo “1927 NOTAVEL  VILA DE
ESTREMOZ”.  Módulo: 3,5 cm; Peso: 8 g, incluindo gancho e fita com que era fornecida.
Repare-se que a fita é verde, que é a cor municipal. Fabrico da Olaria Alfacinha. Ausência
de qualquer marca de fabrico no verso da medalha. Observe-se que apesar da legenda,
no ano de 1927 Estremoz já era cidade, uma vez que foi elevada a essa categoria 31
de Agosto de 1926, em virtude do decreto-lei nº 12.227, iniciativa do Engº Agrónomo
Santos Garcia, representante do distrito de Évora, no Senado. Recorde-se que a Ditadura
Militar que abriria as portas ao Estado Novo foi implantada a 28 de Maio de 1926 e viria
a demitir a Comissão Executiva da Câmara Municipal de Estremoz, presidida pelo Dr. José
Lourenço Marques Crespo (1872-1955), a 13 de Julho de 1926. Mas foi graças à iniciativa
do Dr. Marques Crespo, que a “Notável Vila de Estremoz”, ascendeu à categoria de cidade. 
Medalha de barro vermelho, oblonga, com o brasão de armas da cidade, encimado
pela coroa real e tendo por baixo a legenda em alto-relevo “FESTAS 1929 ESTREMOZ”.
Dimensões: 6,3 cm x 4,2 cm, Peso: 13 g. Fabrico da Olaria Alfacinha. Ausência de
qualquer marca de fabrico no verso da medalha.
Medalha de barro vermelho, oblonga, com o brasão de armas da cidade, encimado
pela coroa real e tendo por baixo a legenda em alto-relevo “FESTAS EM ESTREMOZ”.
Dimensões: 6,3 cm x 4,2 cm, Peso: 13 g. Fabrico da Olaria Alfacinha. Ausência de
 qualquer marca de fabrico no verso da medalha.
Medalha de barro vermelho, oblonga, com o brasão de armas da cidade, encimado
pela coroa real e tendo por baixo a legenda em alto-relevo “ESTREMOZ”. Dimensões: 
6,7 cm x 5 cm; Peso: 26 g. Fabrico da Olaria Alfacinha. No verso da medalha,
marca  de fabrico da Olaria Alfacinha, do tipo 1.
Medalha de barro vermelho, oblonga, com o brasão de armas da cidade, encimado
pela coroa real e tendo por baixo a legenda em baixo-relevo “ESTREMOZ”. Dimensões:
6,3 cm x 4,2 cm, Peso: 13 g. Fabrico da Olaria Alfacinha. No verso da medalha,
marca de fabrico da Olaria Alfacinha, do tipo 2.
Medalha de barro vermelho, oblonga, com o brasão de armas da cidade, encimado
pela data de 1933 e tendo por baixo a legenda em alto-relevo “FESTAS EM ESTREMOZ”.
 Dimensões: 6,3 cm x 4,2 cm; Peso: 15 g. Fabrico da Olaria Alfacinha. No verso da medalha,
 marca de fabrico da Olaria Alfacinha, do tipo 2.
Medalha de barro vermelho, oblonga, com o brasão de armas da cidade, ladeado por duas
espigas e tendo por fundo uma roda dentada com a legenda em alto-relevo “ESTREMOZ
1955”. 7 cm x 6 cm; Peso: 20 g. Fabrico da Olaria Alfacinha. Ausência de qualquer marca
no verso da medalha. Observe-se que 1955 foi o ano da 3ª Exposição Agro-Pecuária de
Estremoz, organizada conjuntamente pelo Grémio da Lavoura e pela Câmara Municipal
de Estremoz.
Medalha de barro vermelho, oblonga, com a legenda em alto-relevo  “FESTAS DA EXALTAÇÃO
DA SANTA CRUZ EM ESTREMOZ 1963”. Dimensões: 6,3 cm x 4,2 cm, Peso: 21 g. Fabrico da
Olaria Alfacinha. No verso da medalha, marca de fabrico da Olaria Alfacinha, do tipo 3.
Medalha de barro vermelho, oblonga, com a legenda em alto-relevo “FESTAS DA EXALTAÇÃO
DA SANTA CRUZ EM ESTREMOZ 1964”. Dimensões: 6,6 cm x 5,9 cm; Peso: 18 g. Fabrico da
Olaria Alfacinha. No verso da medalha, marca de fabrico da Olaria Alfacinha, do tipo 1.
Medalha de barro vermelho, circular, com a legenda em alto-relevo “FESTAS EM ESTREMOZ 1964”, emoldurada com uma grinalda de ramos de sobreiro. Módulo: 6,5 cm;  Peso: 20 g. Fabrico da
Olaria Alfacinha. No verso da medalha, marca de  fabrico da Olaria Alfacinha, do tipo 1.

domingo, 11 de novembro de 2012

Provérbios de Dezembro


DEZEMBRO - Iluminura (10,8x14 cm) do “Livro de Horas de D. Manuel I”
[Século XVI (1517-1551)], manuscrito com iluminuras atribuídas a António
de Holanda, conservado no Museu Nacional de Arte Antiga.
Pintura a têmpera  e ouro sobre pergaminho.


- Ande o frio por onde andar, pelo Natal cá vem parar.
- Assim como vires o tempo de Santa Luzia ao Natal, assim estará o ano, mês a mês até ao final.
- Caindo o Natal à segunda-feira, o lavrador tem de alargar a eira.
- Conceição molhada, festa seca.
Chuva em Novembro, Natal em Dezembro.
- De Outubro a Dezembro não busques o pão no mar.
- De Santa Catarina ao Natal, bom chover e melhor nevar.
- De Santa Catarina ao Natal, mês igual.
- De Santa Luzia ao Natal, ou bom chover ou bom nevar.
- De Santos a Santo André, um mês é; de Santo André ao Natal, três semanas.
- De Santos ao Natal perde a padeira o cabedal.
- De Santos ao Natal, ou bom chover ou bem nevar.
- Depois de o Menino nascer, é tudo a crescer.
- Dezembro com Junho ao desafio, traz Janeiro frio.
- Dezembro diz: olha que o governo está na boca do saco; até Janeiro qualquer burro passa o regueiro, mas para a frente tem de ser forte e valente; se não tens governo depois arreganhas o dente.
- Dezembro frio, calor no estio.
- Dezembro molhado, Janeiro geado.
- Dezembro nasceu Deus para nos salvar.
- Dezembro ou seca as fontes ou levanta as pontes
- Dezembro quer lenha no lar e pichel a andar.
- Dia de São Silvestre, não comas bacalhau que é peste.
- Dia de São Silvestre, nem no alho nem na reste.
- Dia de São Silvestre, quem tem carne que lhe preste.
- Do Natal a Santa Luzia cresce um palmo em cada dia.
- Do Natal a São João, seis meses são.
- Dos Santos ao Advento, nem muita chuva nem muito vento.
- Dos Santos ao Natal bico de pardal.
- Dos Santos ao Natal é bom chover e melhor nevar.
- Dos Santos ao Natal é Inverno natural.
- Dos Santos ao Natal vai um salto de pardal.
- Em caindo o Natal à segunda-feira, o lavrador tem de alargar a eira.
- Em Dezembro a uma lebre galgos cento.
- Em Dezembro ande o frio por onde andar, pelo Natal há-de chegar.
- Em Dezembro chuva, em Agosto uva.
- Em Dezembro corta lenha e dorme.
- Em Dezembro descansar para em Janeiro trabalhar.
- Em Dezembro quem vai ao São Silvestre, vai um ano, vem no outro e não se despe.
- Em Dezembro treme o frio em cada membro.
- Em Dezembro vinho, azeite e amigo sempre do mais antigo.
- Em Dezembro, a uma lebre, galgos cento.
- Em Dezembro, lenha no lar e pichel a andar.
- Em dia de festa e Natal, atesta a barriga, não faz mal.
- Em dia de Santa Luzia cresce a noite e minga o dia.
- Em dia de Santa Luzia onde o vento fica de lá aporfia.
- Em dia de São Tomé pergunta ao porco que tempo é.
- Em dia de São Tomé, favas à terra.
- Em dia de São Tomé, vão os porcos à pilé.
- Em Natal chuvoso até o diligente é preguiçoso.
- Em Outubro, Novembro e Dezembro, abre o teu celeiro e o teu mealheiro.
- Em Outubro, Novembro e Dezembro, quem come do mar, tem de jejuar.
- Entrudo borralheiro. Natal em casa, Páscoa na praça.
- Festa do Natal no lar, da Páscoa na Praça e do Espírito Santo no campo.
- Galinhas de São João, pelo Natal ovos dão.
- Janeiro gear, Fevereiro chover. Março encanar, Abril espigar, Maio engrandecer, Junho ceifar, Julho debulhar. Agosto engavelar, Setembro vindimar. Outubro revolver, Novembro semear, Dezembro nasceu Deus para nos salvar.
- Janeiro gear. Fevereiro chover, Março encanar, Abril espigar. Maio engrandecer. Junho ceifar, Julho debulhar. Agosto engavelar, Setembro vindimar. Outubro revolver. Novembro semear. Dezembro nascer.
- Laranja antes do Natal livra o catarral.
- Na mesa de Natal, o pão é o principal.
- Não há ano, afinal, que não tenha o seu Natal.
- Não há em Dezembro valente que não trema.
- Não peças água a Luzia e a Simão, nem sol a António e a João, que eles tudo isso te darão.
- Natal a assoalhar e Páscoa ao luar.
- Natal à segunda-feira, lavrador alarga a eira.
- Natal à sexta-feira, guarda o arado e vende os bois.
- Natal ao sol, Páscoa ao fogo, fazem o ano formoso.
- Natal de rico é bem sortido.
- Natal em casa, junto à brasa.
- Nem em Agosto caminhar, nem em Dezembro marear.
- No dia de Santa Luzia, cresce um palmo cada dia.
- No dia de Santa Luzia, onde o vento fica, de lá aporfia.
- No dia de Santo André, pega o porco pelo pé; se ele disser quié-quié, diz-lhe que tempo é; se ele disser que tal-que-tal, guarda-o para o Natal.
- No dia de São Silvestre, não comas bacalhau que é peste.
- No dia de São Tomé, quem não tem porco, mata a mulher.
- No Natal a casa, junto à brasa.
- No Natal tem o alho bico de pardal.
- No Natal, só o peru é que passa mal.
- No Natal, todo o lobo vira cordeiro.
- No Santo Ambrósio, frio para oito dias.
- Noite de Natal estrelada dá alegria ao rico e promete fartura ao pobre.
- Nos bons anos agrícolas, o Natal passa-se em casa e a Páscoa na rua.
- Nove meses de Inverno e três de Inferno.
- Novembro, semear; Dezembro, nascer.
- Nuvens em Setembro: chuva em Novembro e neve em Dezembro.
- O ano vai mal, se não há três cheias antes do Natal.
- O Natal ao soalhar e a Páscoa ao luar.
- O Natal em casa e junto da brasa.
- O Natal quer-se na praça, a Páscoa em casa.
- Outubro, Novembro e Dezembro, não busques o pão no mar, mas torna ao teu celeiro e abre teu mealheiro.
- Outubro, Novembro e Dezembro, não busques o pão no mar.
- Outubro, revolver; Novembro, semear; Dezembro, nasceu um Deus para nos salvar; Janeiro, gear; Fevereiro, chover; Março, encanar; Abril, espigar; Maio, engrandecer; Junho, ceifar; Julho, debulhar; Agosto, engravelar; Setembro, vindimar.
- Para o ano não ir mal, hão-de os rios três vezes encher, entre o São Mateus e o Natal.
- Para o ano ser bom, passar o Natal na rua e a Páscoa em casa.
- Pela Conceição, de galinholas um quarteirão.
- Pela Santa Luzia, minga a noite e cresce o dia.
- Pela Senhora da Conceição, favas ao chão; por São Tomé, carregam da ponta ao pé; eu semeio quando me faz conta e carregam do pé à ponta.
- Pelo Natal cada ovelha em seu curral.
- Pelo Natal se houver luar, senta-te ao lar; se houver escuro, semeia outeiros e tudo.
- Pelo Natal, bico de pardal vai ao laranjal.
- Pelo Natal, cada ovelha em seu curral.
- Pelo Natal, lua cheia, casa cheia.
- Pelo Natal, neve no monte, água na ponte.
- Pelo Natal, poda natural.
- Pelo Natal, sachar o faval.
- Pelo Natal, saltinho de pardal.
- Pelo Natal, semeia o teu alhal e se o quiseres cabeçudo, semeia-o no Entrudo.
- Pelo Natal, sol; pela Páscoa, carvão.
- Pelo Natal, tenha o alho bico de pardal.
- Pelo Santo André pega no porco pelo pé. Se ele disser cué-cué, diz-lhe que tempo é; se ele disser que tal, que tal, guarda-o para o Natal.
- Pelo São Nicolau neve e arraia, mas não carapau.
- Pelo São Silvestre, nem no alho nem na reste.
- Por Natal ao jogo e por Páscoa ao fogo.
- Por Natal sol e por Páscoa carvão.
- Por São Silvestre o bacalhau é peste.
- Por Todos-os-Santos, neve nos campos; por dia de São Nicolau, neve no chão.
- Quando o Natal tem o seu pinhão, a Páscoa tem o seu tição.
- Quem quer bom ervilhal semeia antes do Natal.
- Quem quiser bom pombal, ceva-o pelo Natal.
- Quem vareja antes do Natal, fica-lhe a azeitona no olival.
- Quem varejar antes do Natal, deixa azeite no olival.
- Se Junho não judia, Dezembro não castiga.
- Se os pepinos dessem em Dezembro, ninguém os comeria.
- Se te queres livrar de um catarral, come uma laranja antes do Natal.
- Sol de Dezembro sai tarde e põe-se cedo.
- Sol no Natal, chuva na Páscoa.
- Três semanas antes do Natal, Inverno geral.
- Tudo a seu tempo e os nabos no Advento.
- Uma cama em Agosto e uma ceia em Natal, quem a quer a pode dar.

Publicado inicialmente a 11 de Novembro de 2012

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Aclénia Pereira, bonequeira de Estremoz

Aclénia Pereira (1927-2012), artesã polifacetada e bonequeira de Estremoz.

NASCIMENTO E NOME
Em 21 de Abril do presente ano, faleceu com a idade de 85 anos na Casa de Saúde do Montepio Rainha D. Leonor, na Freguesia de Nossa Senhora do Pópulo nas Caldas da Rainha, Aclénia Pereira (Fig. 1), artesã polifacetada e barrista estremocense, que tive o privilégio de conhecer nos anos 50 do século passado, em virtude de ser amiga de minha prima Adozinda Pacífico Carmelo da Cunha, que era íntima da casa de seus pais e que me levava a passear com ela.
Aclénia nasceu às 21 horas do dia 26 de Fevereiro de 1927 no nº 12 da Rua Magalhães de Lima, Freguesia de Santo André de Estremoz. Filha legítima de Carlota Rita Capeto Pereira, 23 anos, doméstica, casada com Ricardo de Jesus Pereira Ventas, 26 anos, conceituado relojoeiro e ourives da nossa praça (a) , natural como sua mulher da Freguesia de Santo André, concelho de Estremoz.
A criança então nascida era neta paterna de Joaquim Abílio Ventas e de Adelaide do Nascimento Pataco e, neta materna de Estevão da Silva Capeto e de Perpetua Rosa Polido Capeto
A recém-nascida foi registada a 21 de Março de 1927, no Registo Civil de Estremoz. Apadrinharam o acto, José Joaquim Pereira Ventas, sapateiro, maior e Maria Antónia Pulido Capeto, doméstica, maior, ambos residentes em Estremoz.
A menina recebeu o nome de Aclénia Risolete Capeto Ventas.
Em 1945 o pai de Aclénia foi autorizado superiormente a mudar o nome para Ricardo de Jesus Pereira, pelo que a filha com a idade de 18 anos foi também autorizada a alterar o nome para Aclénia Risolete Capeto Pereira.
Em 28 de Dezembro de 1960, com a idade de 33 anos, casou na Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, com Pedro Paulo de Oliveira e Noronha, de 30 anos, natural de vale de Santarém, Santarém, onde o casal passaria a residir. O nome da noiva passaria então a ser Aclénia Risolete Capeto Pereira e Noronha.

INFÂNCIA E JUVENTUDE
Aclénia cresceu sem problemas e frequentou o Ensino Primário Elementar em Estremoz, tendo sido aprovada no exame de 2º grau em 1939, com a idade de 12 anos.
Com a idade de 13 anos, Aclénia inscreveu-se em 1940 na Escola Industrial António Augusto Gonçalves (b), situada na rua da Pena nº 11 em Estremoz, no local onde funcionaria mais tarde a Ala nº 2 da Mocidade Portuguesa Masculina e depois o Salão Paroquial de Santa Maria. Era então director José Maria de Sá Lemos (1892–1971). A organização do Ensino Técnico-Profissional era então regida pelo Decreto nº 20.420 de 20 de Outubro de 1931. Na Escola era ministrado o ensino dos seguintes ofícios: canteiro civil, canteiro artístico, oleiro e tapeceira, sendo o pessoal docente desta Escola composto por 1 professor e 3 mestres.
Aclénia inscreveu-se no Curso de Tapeceira cuja carga horária era a seguinte:


Aclénia frequentou a Escola com aproveitamento até ao 3º ano, tendo realizado todos os exames e frequências constantes do currículo. Não frequentou todavia o 4º ano.
Na oficina de tapeçaria aprendeu com Mestra Joana Maria de Albuquerque Simões e na oficina de Olaria com Mestre Mariano Augusto da Conceição (1902-1959). A oficina de tapeçaria era no 1º andar e a oficina de olaria, logo à entrada da Escola, do lado direito.
Com as mão sábias e experientes de Mestra Joana aprendeu o ponto de Arraiolos, a bordar, a recortar autênticas filigranas em papel e o deslumbramento da Arte Conventual. Por sua vez, Mestre Mariano, já consagrado pela sua luminosa participação na Exposição do Mundo Português, ocorrida nesse ano em Lisboa, soube-lhe transmitir no trabalho do barro informe, a destreza de mãos herdada da dinastia dos Alfacinhas a que ele próprio pertencia, bem como os gestos ancestrais das bonequeiras de oitocentos que na década de 30 do século passado, aprendera com ti Ana das Peles, com a supervisão do director, o escultor José Maria de Sá Lemos.
Com tais mestres e dotada de rara habilidade e fina sensibilidade, Aclénia aprendeu a dominar os materiais e a criar artefactos que nos deleitam o espírito.
Depois de ter saído da Escola Industrial António Augusto Gonçalves terá frequentado a Escola do Magistério Primário de Évora, após o que passou a desempenhar funções de Professora do Ensino Primário, o que fez até á altura da sua aposentação.
Após o casamento em 1960, deixou de morar na Avenida Dr. Marques Crespo, nº 23, em Estremoz, para onde entretanto mudara e transferiu-se para Santarém.
Em 1983 participou na I Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz, cujo stand 5,6,7 ocupou. Dela diz o catálogo (4): Natural de Estremoz e residente em Santarém, dedica-se de há longos anos à prática variadíssmas técnicas, às artes popular e conventual. Com barro, tecidos, papel, metal, organiza pequenas obras de arte preenchendo da melhor maneira os lazeres da sua vida doméstica e profissional.”. De acordo com o jornal “Brados do Alentejo”(6), Aclénia participou no certame nas secções de “Barro”, “Papel” e “Têxteis”. Ainda de acordo com o catálogo, partilhou o stand com sua tia Ernestina Capeto de Matos (c) que apresentou trabalhos de arte conventual.
Aclénia está representada com os seus bonecos de Estremoz em colecções particulares e no Museu Rural da Casa do Povo de Estremoz.

OS BONECOS DE ACLÉNIA
Aclénia reproduziu as figuras que aprendera com Mestre Mariano: figuras que têm a ver com a realidade local, figuras intimistas que têm a ver com o quotidiano doméstico, figuras que são personagens da faina agro-pastoril das herdades alentejanas, figuras alegóricas e imagens religiosas.

Primavera de arco da autoria de Aclénia Pereira.
3,5 cm x 5,5 cm x 17 cm.
 Exemplar pertencente a colecção do Museu Rural
da Casa do Povo de Santa Maria, Estremoz. 
Procissão do Senhor dos Passos de Estremoz.
Conjunto escultórico em barro da autoria de Aclénia Pereira,
 pertencente a colecção do Museu Rural
da Casa do Povo de Santa Maria, Estremoz. 
O andor do senhor dos Passos. Figura da autoria de Aclénia Pereira,
 pertencente à Procissão do Senhor dos Passos de Estremoz
 e que integra a colecção do Museu Rural
 da Casa do Povo de Santa Maria, Estremoz.

Os bonecos de Aclénia são inconfundíveis, a meu ver pela ingenuidade e simplicidade dos traços do rosto, que com a sua rara sensibilidade feminina lhes soube transmitir.
Todos têm estampada na base a marca de identificação da barrista: “Tanagra”, manuscrita dentro de um rectângulo de 1 cm x 3 cm (Fig. 3). Quase todos têm igualmente estampada na base a marca de identificação do local de produção: “ESTREMOZ / PORTUGAL”, em maiúsculas e em duas linhas, dentro de um rectângulo de 1 cm x 2,7 cm (Fig. 4).


Marca de identificação da barrista: “Tanagra”, manuscrita dentro de um rectângulo de 1 cm x 3cm.
Marca de identificação do local de produção: “ESTREMOZ / PORTUGAL”,
em maiúsculas e em duas linhas, dentro de um rectângulo de 1 cm x 2,7 cm.


PORQUÊ TANAGRA?
Azinhal Abelho, referindo-se aos bonecos de Estremoz, diz na página 24 do seu livro (1): “Outros atestam o exuberante poder de concepção e fantasia do povo. A “Primavera”, tanagra plebeia de mocidade é sumamente típica com o arco de flores preso nos ombros, passando-lhe sobre a cabeça como auréola.” É claro que o livro de Azinhal Abelho foi dado à estampa em 1964 e a utilização da marca “Tanagra” por Aclénia é anterior a essa data, pelo que não esteve na origem da escolha deste nome como marca de identificação da barrista. A origem terá sido outra, pelo que se impôs uma consulta aos nossos lexicógrafos, por ordem cronológica:
- Raphael Bluteau (4), sobre “Tanagra” diz textualmente: “Cidade da Livadia, na Turquia Europeia, perto do rio Asopo. Escreve Ateneu, que uma baleia de prodigiosa grandeza, que por este rio foi dar de fronte da cidade, deu lugar ao provérbio, Cetus Tanagreus, quando se fala num corpo extraordinariamente grande. Hoje chamam-lhe Anatoria, outros lhe chamaram Orops e Gephyra.”
- Viterbo (13), Cândido de Figueiredo (7) e Silva Bastos (3) não registam o termo “Tanagra”.
- José Pedro Machado (10) regista o termo “Tánagra”, substantivo que diz provir do grego Tânagra, topónimo na Beócia. O mesmo autor (11) regista o termo “Tânagra”, substantivo feminino que designa “Estatueta feita na cidade de Tânagra”, bem como “Qualquer estatueta fina e elegante”.
- Houaiss (9) regista o termo “Tánagra”, substantivo feminino que designa “Pequena estatueta feita com barro cozido e, encontrada em Tânagra, cidade da Beócia, região da antiga Grécia ao Norte e noroeste da Ática”. Segundo o mesmo autor, o termo “Tánagra”, designa por extensão “Qualquer estatueta fina e elegante” e por analogia “Moça bonita e tão elegante como as estatuetas”.
- Segundo a WIKIPÉDIA (14), "Tanagra" (em grego antigo Τάναγρα / Tanagra) é uma antiga cidade grega da Beócia, situada não muito longe de Platéia, a 20 km de Tebas, perto da fronteira com a Ática. É identificada com Grée, citada por Homero no “Catálogo dos navios” da “Ilíada”. Foi palco de duas batalhas entre atenienses e a Liga do Peloponeso, em 457 a.C.and 426 a.C.. Foi arrasada pela vizinha Tebas nos anos 370-360 a.C. e depois reconstruída. Na mitologia grega, "Tanagra" era filha de Éolo ou do deus fluvial Asopo e de Metope. Incitados por Afrodite e Eros, os deuses principais raptaram as filhas de Asopo, sendo Ares o que seduziu Tanagra. Finalmente casou-se com Poimandros, de quem teve os filhos Leucipo e Efipo.
- De acordo com TANAGRA (12) as "tanagras" são estatuetas de barro fabricadas com moldes que foram descobertas em túmulos antigos na cidade de Tanagra e representam a maior parte das vezes, mulheres graciosas cobertas com vestidos elegantes, jovens e mais raramente crianças. Estiveram em voga desde o séc. IV a.C. até ao fim do século III d.C.
As tanagras tornaram-se a encarnação da graça feminina e por extensão, a palavra tanagra serve para adjectivar uma jovem fina e graciosa.
Vestígios de tinta sugerem que estas estatuetas foram pintadas em tons cinzento, azul-cinzento, azul, azul celeste, rosa, roxo e verde. No entanto, com o decurso do tempo, essas supostas cores deram origem a tonalidades de ocre e de branco.
O facto de se terem encontrado as tanagras em túmulos antigos é indicativo de que elas tinham uma função funerária.

UMA INTERPRETAÇÃO POSSÍVEL
O facto de Aclénia como barrista usar a palavra “ Tanagra” como marca de identificação é revelador de que sabia que a palavra era sinónimo de estatueta fina e elegante. Todavia vamos mais longe, como Aclénia era uma mulher bela e elegante, poderá ter escolhido aquela marca de identificação, porque se considerar ela própria uma “Tanagra”. É uma hipótese absolutamente plausível e que partilhamos com o leitor.

BIBLIOGRAFIA
(1) - ABELHO, Azinhal – Barros de Estremoz. Lisboa: Edições Panorama, 1964.
(2) - AULETE, Caldas. Diccionario Contemporâneo da Língua Portuguesa (1ª edição). Parceria António Maria Pereira, Lisboa, 1881.
(3) - BASTOS, J.T. da Silva. Diccionário Etymológico, Prosódico e Orthográphico da Língua Portugueza (2ª edição). Parceria António Maria Pereira, Lisboa, 1928.
(4) - BLUTEAU, Raphael. Vocabulario portuguez & latino: aulico, anatomico, architectonico ... 8 volumes. Collegio das Artes da Companhia de Jesus. Coimbra, 1712 - 1728. 8 v.
(5) - Catálogo da I Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz. Câmara Municipal de Estremoz. Estremoz, 15 a 17 de Julho de 1983.
(6) - FIGUEIREDO, Cândido de. Novo Diccionário da Língua Portuguesa (1ª edição). Vol.II. Editora Tavares Cardoso & Irmão, 1899.
(7) - I Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz in Brados do Alentejo, 3ª série, nº 93. Estremoz, 15 de Julho de 1983.
(8) - INSTITUTO ANTÓNIO HOUAISS DE LÍNGUA PORTUGUESA. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Tomo VI. Círculo de Leitores. Lisboa, 2003.
(9) - MACHADO, José Pedro Machado. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (5ªedição). Vol.V. Livros Horizonte. Lisboa, 1989.
(10) - MACHADO, José Pedro Machado. Grande Dicionário da Língua Portuguesa. Vol.VI. Publicações Alfa. Lisboa, 1991.
(11) - TANAGRA (http://www.tanagra-art.com/).
(12) - VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de. Elucidário das Palavras, Termos e Frases. Edição Critica de Mário Fiúza. Vol. 2. Livraria Civilização. Porto, 1966. (d)
(13) - WIKIPÉDIA (http://pt.wikipedia.org/wiki/Tanagra).

(a) - A relojoaria e ourivesaria do pai de Aclénia situava-se no Largo da República, 44-A, em Estremoz, no local onde funciona hoje o Plaza-Pronto-A-Vestir. Lembro-me de quando era rapaz ver expostas na montra do estabelecimento por altura do Natal, figurinhas de presépio confeccionadas por Aclénia. O seu pai era tio e padrinho de Inácio Augusto Basílio, com relojoaria e ourivesaria até à pouco tempo no Rossio Marquês de Pombal, 98, em Estremoz.
(b) - Esta Escola resultou da elevação a Escola Industrial, pelo Decreto nº 18.420 de 4 de Junho de 1930, da Escola de Artes e Ofícios de Estremoz, criada pela Lei nº 1.609 de 18 de Dezembro de 1924.
(c) - Ernestina além de artesão era proprietária de um bem afreguesado salão de cabeleireira, no Largo da República, 9-A, em Estremoz.
(d) - A 1ª edição é de 1798, 1799.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O que seria o Mundo sem a Utopia?

No tempo da harmonia (1893-1895).
Paul Signac (1863-1935).

Como disse Luís Vaz:
(…)
“Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.”
(…),
o que é praticamente equivalente ao corolário conservacionista de Lavoisier, de acordo com o qual:

“Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.”

Variação temporal e conservação são dois fenómenos naturais e dois aspectos da mesma realidade que regula a presença e a intervenção do Homem no Universo.
Acredito na capacidade de o Homem liberto de qualquer tipo de peias e mordaças, ser capaz com outros homens de transformar o Mundo e pô-lo ao serviço do Homem.
Não acredito nem em Deus nem no Diabo, nem no Céu nem no Inferno. Todavia nutro profundo respeito por quem partilha estas crenças, porque essa visão tolerante do Mundo e da Vida integra o meu sistema de valores, do qual não abdico. Essa é uma das componentes da minha visão do Mundo. Tenho outras que provavelmente serão utópicas. O que seria o Mundo sem a Utopia? Talvez um automóvel sem motor de arranque.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Vamos construir um mundo novo


Imagem recolhida em "Sotão de sonhos".



                                      "Há coisas encerradas dentro dos muros que,
                                       se saíssem de repente para a rua e gritassem,
                                       encheriam o mundo."

                                           Federico García Lorca (1898 - 1936)


VAMOS CONSTRUIR UM MUNDO NOVO

Está nas nossas mãos o fermento da mudança,
a capacidade de transformar o mundo
e tornar realidade o sonho de Spartacus.
Essa a maior herança que podemos legar aos nossos filhos.
É preciso crer nisso e convencer os descrentes.

Só ousando lutar, poderemos vencer.
É uma luta desigual, mas assiste-nos a razão.
Lutaremos com as armas que temos na mão
e sobretudo com a força do nosso querer.

Homens e mulheres, velhos e crianças,
Presente, passado e futuro,
Unidos na construção de um mundo novo.

Um mundo sem patrões nem generais,
Um mundo com homens e mulheres como os demais.

É esse o nosso mundo.


Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 2 de Novembro de 2012