CORRENTES DE ÁGUA. Paisagem com rio (1778). Jacob Philipp Hackert (1737-1807)
Óleo sobre tela (64,5 x 88,5 cm). Szépmûvészeti Múzeum - Budapest.
FLUXOS DOS QUATRO ELEMENTOS PRIMORDIAIS
De acordo com a da Teoria dos Quatro Elementos do filósofo grego Empédocles (495/490 - 435/430 a.C.), tudo o que existe na natureza é constituído por quatro princípios primordiais: água, ar, fogo e terra.
Passageiros do Universo, na condição de habitantes do planeta Terra, estamos rodeados de fluxos desses quatro elementos primordiais:
- Em primeiro lugar, correntes de água, através das quais esta se move de uma região de maior potencial gravítico, para outra de menor potencial gravítico. Por outras palavras, a água flui por acção da gravidade.
- Para além dadas correntes de água, temos os ventos que são fluxos de massas de ar que se deslocam de regiões de alta pressão para regiões de baixa pressão.
- Temos ainda as correntes de fogo ou se quisermos, correntes de lava, que brota dos vulcões em erupção. É sabido que devido à enorme tensão das camadas subjacentes, o núcleo central da Terra se encontra num estado ígneo permanente, o que faz com que esta gigantesca caldeira, de vez em quando tenha que descomprimir, o que tem lugar através de erupções vulcânicas, nas quais correntes de fogo, se deslocam por convenção, de regiões profundas, caracterizadas por valores elevados de massa volúmica e de temperatura, para regiões superficiais caracterizadas por valores de massa volúmica e temperatura, mais baixos.
- Há de resto, movimentos de terra, devidos a agentes de geodinâmica externa (movimentos dunares e aluimento de terrenos) ou de geodinâmica interna (tremores de terra, movimento de placas, tremores de de terra).
Dalguns destes fluxos nos fala a Bíblia. Assim, relativamente ao vento:
- No primeiro dia de criação do mundo: “A terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas”. (Gênesis 1,2)
- Depois do Dilúvio Universal: “Então Deus lembrou-Se de Noé e de todas as feras e animais domésticos que estavam com ele na arca. Deus fez soprar um vento sobre a terra, e as águas baixaram.” (Gênesis 8,1)
Relativamente à água:
- No segundo dia de criação do mundo Deus disse: “Que as águas que estão debaixo do céu se juntem num só lugar e apareça o chão seco. E assim se fez.” (Gênesis 1,9)
Relativamente à terra:
- No segundo dia de criação do mundo, “Deus chamou ao chão seco “terra”, e ao conjunto das águas “mar”. E Deus viu que era bom.” (Gênesis 1,10)
Relativamente ao fogo:
- Quando da destruição de Sodoma e Gomorra “O Senhor fez então cair sobre Sodoma e Gomorra uma chuva de enxofre e de fogo, vinda do Senhor, do céu.” (Gênesis 19,24)
Fluxos de água, ar, fogo e terra, são exemplos elementares e paradigmáticos de que o mundo que nos rodeia e com ele o homem, personagem principal da História, da Antropologia e da Etnologia, são atravessados transversalmente e longitudinalmente por fluxos, que determinam que as coisas sejam de uma maneira e não de outra maneira qualquer. Cabe ao Homem, na qualidade de actor principal e fim último daquelas ciências, interpretar os dados de que elas dispõem e aprender com eles, para que com um desejável espírito positivo de cidadão do mundo, seja capaz de equacionar, planificar e edificar a existência de um mundo mais solidário e mais fraterno.
FLUXOS NA ALDEIA GLOBAL
Para o nosso bem e para o nosso mal, o mundo é hoje uma aldeia global, com fronteiras esbatidas e praticamente inexistentes, que todavia são atravessadas por qualquer internauta, à velocidade de um clique.
As águas e os ventos não conhecem fronteiras. A contaminação e a poluição não são locais, são sempre globais.
A prática errada da agricultura intensiva, com recurso a fertilizantes artificiais e a pesticidas está a contaminar os aquíferos e a condenar o Homem à morte. Só a prática de uma agricultura biológica auto-sustentada, poderá vir a evitar esse desfecho.
Por sua vez, a poluição e dentro dela a poluição atmosférica tem atingido níveis assustadores, nunca equacionados no arranque da revolução industrial e que têm múltiplos reflexos negativos, como é o caso do efeito de estufa, que perigosamente faz aumentar a temperatura do planeta. Só a adopção de políticas energéticas limpas e a implementação responsável de energias alternativas por parte de todos os governos, poderá salvar a Humanidade.
Para além disso, a luta contra o desperdício e o consumismo, pela melhoria da nossa qualidade de vida e pela salvação do planeta, passa pela implementação da política dos 3 RRR:
- Reduzir o lixo que se produz;
- Reutilizar as embalagens mais que uma vez;
- Reciclar os componentes do lixo, separando-os na origem.
Há que voltar a usar o talego, a alcofa e o cesto, que quando se estragam podem ser reparados ou usados sob outra forma e só em casos limite se devem deitar fora, para então serem degradados pela Terra-Mãe e renascerem sob outra forma.
VIVER É PRECISO
Para terminar não queria deixar de prestar aqui a minha singela homenagem a Afonso Cautela, jornalista, ensaísta e escritor, velho militante ecológico, percursor entre nós do ambientalismo e da sustentabilidade do planeta. Foi ele que introduziu na terminologia do militante ecológico, para serem usadas como armas de arremesso, termos como “ecocídio” para designar o assassinato do planeta, bem assim como de termos mais pesados, como “ecofascistas”, epíteto com que nos seus escritos apodava todos aqueles que com desprezo olímpico, agrediam o ambiente. Conheci-o há cerca de quarenta anos. Continuam actuais as palavras de ordem que sempre perfilhámos:
“NUCLEAR? NÃO OBRIGADO!”
E sabem porquê?
“PORQUE VIVER É PRECISO!”
Publicado inicialmente a 25 de Setembro de 2011
VENTOS. Embarcações em vento forte (c. 1630). Jan Porcellis (c. 1584-1632)
Óleo sobre tela (42 x 62 cm). Colecção particular.
CORRENTES DE FOGO. Vulcão à Noite (1880). Jules Tavernier (1844-1889)
Óleo sobre tela (48,3 × 91,4 cm). Honolulu Academy of Arts.
MOVIMENTOS DE TERRA. Paisagem de dunas com camponeses num caminho (1634)
Jan van Goyen (1596-1656). Óleo sobre tela (88.9 x 125.8 cm). Colecção particular.
POLUIÇÃO. Nuvens Industriais (2003). Kay Jackson. Óleo com folha de ouro e cobre sobre tela
(86,46 x 96,5 cm).