RUA EM BRANCO
Aguarela s/papel (40 x 50 cm)
Feliciano Cupido nasceu em Alcáçovas, exactamente no ano da graça de 1948, no dia da Restauração da Independência de Portugal. Data paradigmática em que o Portugal espezinhado pelo jugo castelhano, pôs o seu destino nas mãos de um homem de cultura, que governaria com o real nome de D. João IV, um alentejano de Vila Viçosa, que inauguraria a distinta dinastia dos Braganças, pela qual nutro especial admiração.
D. João IV foi um homem de profunda cultura musical e Alcáçovas, é reconhecida desde tempos primordiais, como pátria sonora e alentejana dos chocalhos. Desses mesmos chocalhos com que os ganadeiros ataviam a gadeza com que se enche a barriga, já que barriga vazia não conhece alegrias.
São chocalhos machos, chocalhos beirões, chocalhas, campanilhas, esquilões, esquilas, guizos, mangas, sem serras, picadeiros e sinetas.
São maquinetas de sons campestres que anunciam a fartura da matança que há de vir: a cachola, os pezinhos, as orelhas, a focinheira, as costeletas, os lombinhos, os presuntos, os paios, as paias, as farinheiras e as morcelas, que são como que hóstias sagradas com as quais nos seus rituais gastronómicos, os alentejanos comungam com vinho tinto rijo, espesso e aveludado, daquele que se mastiga e deposita “ad eternum” memórias de prazer nas suas papilas gustativas. Memórias de castas nacionais como Aragonês, Trincadeira Preta, Castelão, Tinta Caiada, Touriga Nacional e Alicante, mas memórias também de castas internacionais como Syrah, Cabernet Sauvignon, Alicante Bouschet, Petit Verdot e Merlot. Memórias também do odor das flores de esteva, dos poejos e dos ourégãos, do azeite com que temperamos divinamente a comida e do barro húmido que tresanda a ventre de mulher fecundada.
Estão pois a ver que a data de nascimento de Feliciano Cupido, consubstanciou um acto premonitório de que todo a sua vida decorreria sob os auspícios da música e toda ela teria a ver com estas terras de Além Tejo.
Como quase todos os homens da sua geração, Feliciano Cupido, passou pelas fileiras militares e permaneceu vinte e sete meses em Moçambique. Quando regressou inteiro, privilégio que muitos não tiveram, foi trabalhar em Évora para a Siemens, mais tarde Tyco. Aí iniciou a sua vida laboral e viveu intensamente os momentos mais extraordinários da novel revolução portuguesa e de todos os seus supremos valores de generosidade.
Desde sempre esteve ligado a movimentos e pessoas que cultivam o contacto com a natureza e o respeito pela mesma.
Integrou o Grupo Coral e Etnográfico “Cantares de Évora”, do qual foi um dos fundadores. Foi ainda criador e fundador da primeira Escola de Pintura de Évora, na Casa do Pessoal da Siemens, da qual foi Presidente da Direcção, durante vários anos.
Da Tyco se aposentou em 2006, ano em que começou a pintar, pois parar é morrer.
Para Feliciano Cupido, viver tem sido bom, uma vez que teve uma meninice agradável com pais e avós que sempre lhe proporcionaram o bem estar possível, com muito amor e carinho, temperados pelo respeito pelo próximo e pelos valores humanos, código que ainda hoje mantém.
A atracção pela pintura acompanha-o desde criança. Na qualidade de Director da Casa do Pessoal da Siemens, proporcionou ao pintor Camol d´Évora, as condições para se fixar em Évora. Instalaram então aí a primeira Escola de Pintura, passando então a dedicar-se a ela com mais empenho. Começou primeiro pelo acrílico, passando quase de imediato ao óleo e só mais tarde à aguarela.
Como pintor, Feliciano Cupido considera-se um autodidacta em aprendizagem permanente. Por outras palavras: um eterno insatisfeito na demanda alquímica de querer sempre fazer melhor, o que procura concretizar numa entrega total. Como tema dominante tem a região Alentejo, muito em especial a paisagem e alguns dos seus pormenores. Para ele, o acto de criação artística, representa um encontro consigo próprio. Nos seus quadros utiliza as cores que o Alentejo tem no Verão ou seja as cores da charneca seca. É que ele gosta muito das cores que nos transmitem a sensação de calor. Daí que o preto não entre nos seus trabalhos e o verde seja uma cor pouco utilizada.
Parafraseando - me a mim próprio, em texto já parido anteriormente, eu diria que Feliciano Cupido nos sabe transmitir duma maneira sábia, o azul límpido do céu, o castanho da terra de barro, a cor de fogo do Sol e o verde seco da copa dos sobreirais. E, as suas aguarelas, essas constituem uma paleta de cores, trespassada por uma claridade que quase nos cega e é companheira inseparável do calor que nos esmaga o peito, queima as entranhas e encortiça a boca.
Feliciano Cupido é natural das Alcáçovas, a catedral da sonoridade chocalheira desta terra transtagana. Dela fala Eduardo Teófilo na “Planície Heróica”, quando nos diz que: “Comovedora, sobretudo, era a música do crepúsculo, o cardume tremidinho de esquilas, campainhas e chocalhos dos lentos rebanhos recolhendo a currais, apriscos e arribanas – que ora tinha a soturnidade dum fabordão, ora a finura e a macieza dum coro angélico.”
As aguarelas de Feliciano Cupido têm a ver com a dimensão regional das minhas emoções, que é o mesmo que dizer com a identidade cultural do povo alentejano, forjada e caldeada em condições adversas.
Por isso eu me identifico com as aguarelas de Fernando Cupido.
MONTE DOS MOCISSOS
Aguarela s/papel (30 x 40 cm)
MONTE DA BARRA AZUL
Aguarela s/papel (30 x 40 cm)
ESTENDAL
Aguarela s/papel (30 x 40 cm)
MONTE DA ALFARROBEIRA
Aguarela s/papel (30 x 40 cm)
CEIFA
Aguarela s/papel (30 x 40 cm)
TELHADOS - MONSARAZ
Aguarelas/papel (30 x 40 cm)
MONSARAZ - TORRE DO RELÓGIO
Aguarela s/papel (50 x 40 cm)
FONTE DAS PORTAS DE MOURA II – ÉVORA
Aguarela s/papel (40 x 30 cm)
PALÁCIO DE D. MANUEL I - ÉVORA
Aguarela s/papel (40 x 30 cm)
AQUEDUTO - ÉVORA
Aguarela s/papel (30 x 40 cm)
SALA DO MUSEU MUNICIPAL DE ESTREMOZ
Aguarela s/papel (40 x 30 cm)
SALA DO MUSEU MUNICIPAL DE ESTREMOZ
Aguarela s/papel (30 x 40 cm)
SALA DO MUSEU MUNICIPAL DE ESTREMOZ
Aguarela s/papel (30 x 40 cm)
Aguarela s/papel (30 x 40 cm)
Excelentes aguarelas com motivos do nosso Alentejo. Resenha breve da vida do aguarelista e do seu porfiar autodidacta em prol de uma das mais difíceis artes de pintar( lembra-me o saudoso Vicente Rosado, que, também, em Évora fez escola e pintou tantos e belos motivos alentejamos). Parabéns ao Feleciano Cupido, e a ti, Hernâni,por nos mostrares as aguarelas.
ResponderEliminarJosé:
EliminarObrigado pelo teu comentário.
Um abraço para ti, amigo.
Numa ampla sala de exposições, tive o previlégio de vêr e apreciar, as aguarelas de Feliciano Cupido, apresentadas pelo professôr Hernâni, que foi o grande anfitrião do Evento. Aproveito para agradecer pela simpatia na recepção. As aguarelas além de emolduradas em quadreo estão também magnificamente apresentadas em video. Os meus parabéns ao professôr e ao pintor. Convido os colegas e amigos a visitar.
ResponderEliminarRosa Casquinha
Rosa:
EliminarMais uma vez obrigado pelo seu estimulante comentário.
Gostei muito de seu blog. Parabéns por ele.
ResponderEliminarRegina
www.livroerrante.blogspot.com
Regina.
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Eu bem profetizei amigo Hernâni.
ResponderEliminarPerdi a "olhada" presencial por impossibilidade, mas...o Dr. Hernâni "trataria" de me presentear com um "desfile" do que na exposição se passou...engrandecido pelo texto envolvente e de suporte que publicou.
Parabéns ao Feliciano que desconhecia nas suas aguarelas!
Parabéns amigo Hernâni pelo seu trabalho no Do Tempo...como sempre!
Abraço
Hélio:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Um abraço para si, também.
Que linda representação alentejana em aguarelas, parabens, estão à venda algumas?
ResponderEliminarEstão:
EliminarPode contactar o pintor através do Facebook.
Muito interessante esta mensagem! !!A língua portuguesa é muito rica e,por isso deve ser preservada!!
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