segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A criação na toponímia portuguesa

PATOS E PAVÕES (c. 1680)
Melchior d' Hondecoeter (1636-1695)
Óleo sobre tela (211 x 177 cm)
Wallace Collection, London.

Pese embora a importância que a criação desempenha na economia doméstica das gentes do campo e mesmo das vilas e cidades, não são abundantes os topónimos relativos a criação. Apenas identificámos os seguintes:

FRANGONEIRO - Lugar da freguesia de Fortios, concelho de Portalegre.
GALINHEIRO - Lugar da freguesia de Marvila, concelho de Santarém.
GALINHEIRO - Lugar da freguesia de S. Salvador, concelho de Santarém.
GALINHELA - Lugar da freguesia de Arentim, concelho de Braga.
GALOS - Lugar da freguesia de Vilaça, concelho de Braga.
PERÚ - Lugar da freguesia de Castelo, concelho de Sesimbra.
PINTAINHOS - Lugar da freguesia de Santiago, concelho de Torres Novas.
PINTO - Lugar da freguesia de Vila Nova de Souto de El-Rei, concelho de Lamego.
PINTOS - Lugar da freguesia de Azinheira doa Barros, concelho de Grândola.
PINTOS - Lugar da freguesia de Rebordosa, concelho de Paredes.
PATARIA — Lugar da freguesia de Barro, concelho de Resende.
PATEIRA — Lugar da freguesia de Merelim (S. Pedro), concelho de Braga.
PATEIRÃO — Lugar da freguesia de Roriz, concelho de Barcelos.
FATEIRA E PEDREIRA — Lugar da freguesia e concelho de Silves.
PATEIRO — Lugar da freguesia de Estômbar, concelho de Lagos.
PATEIRO — Lugar da freguesia de Pêro Soares, concelho da Guarda,
PATELOS — Lugar da freguesia de Serafão, concelho de Fafe.
PATÕES — Lugar da freguesia de Rabaçal, concelho de Panela.
PATUDOS — Lugar da freguesia e concelho de Alpiarça.

BIBLIOGRAFIA
[1] – FRAZÃO, A. C. Amaral. Novo Dicionário Corográfico de Portugal. Editorial Domingos Barreira. Porto, 1981.

A criação nas alcunhas alentejanas

PERÚS - Obra do artista plásticos norte-americano Nick Reitzel.

À semelhança do que acontece com outros temas, também a criação está significativamente representada no âmbito das alcunhas alentejanas, o que mais uma vez é revelador da riqueza da língua portuguesa. Destacamos as seguintes alcunhas alentejanas:
- FRANGANEIRO - O visado adquiriu esta alcunha por ter sido um guarda-redes pouco hábil (Aljustrel e Santiago do Cacem).
- FRANGANITO - Alcunha herdada do pai, desconhecendo-se a razão da sua atribuição (Vidigueira).
- FRANGO (A) - Designação atribuída a:
  - rapariga muito fraca (Mértola);
  - indivíduo com modas efeminadas (Marvão);
  - sujeito que era mau guarda-redes (Alandroal).
- FRANGO LONGO - O nomeado tem esta alcunha porque é alto e ao andar, agita os braços e dá grandes passadas (Marvão).
- GALISPO - O nomeado adquiriu esta denominação porque só tem um testículo (Portel).
- GALO - Alcunha outorgada a:
  - indivíduo muito vaidoso (Avis e Borba);
  - sujeito que anda metido com muitas mulheres (Odemira);
  - homem que se zangava com facilidade e gostava de se armar em galo (Évora);
  - alguém considerado muito aéreo (Aljustrel);
  - indivíduo que se levantava bastante cedo e sempre a cantar (Moura);
  - alguém que a herdou do avô (Moura);
  - sujeito que quando estava bêbado, tinha o hábito de gritar: "Olha o galo!" (Redondo);
  - sujeito que gosta muito de cantar (Estremoz);
  - indivíduo que está sempre a olhar para as mulheres (Grândola).
- GALO BÊBADO - Epíteto atribuído a um indivíduo muito bêbado (Beja).
- GALO BRANCO - Denominação aplicada a um sujeito que tem o cabelo branco (Cuba).
- GALO CEGO - O visado vê mal (Moura).
- GALO MALHADO - O pai do visado, quando este era pequeno, na sequência de um problema de saúde, ficou com manchas, passando a ser designado por "galo malhado", alcunha assumida pelo filho (Mértola).
- GALO MARICAS - Alcunha atribuída a um indivíduo efeminado (Moura).
- GALO PRETO - O visado, aparvalhado, um dia pôs um galo preto em cima da cabeça (Redondo).
- PERU - Denominação aplicada outorgada a:
  - mulher muito vaidosa (Odemira e Fronteira);
  - indivíduo que, quando era criança, tinha o habito de imitar os perus (Grândola);
  - homem que é muito vaidoso (Odemira);
  - sujeito que estava sempre com a cabeça pendurada (Serpa);
  - indivíduo apanhado a roubar perus (Eivas e Portei);
  - homem que tem o pescoço muito alto (Barrancos);
  - sujeito que tem o rabo muito grande (Ferreira do Alentejo e Elvas);
  - indivíduo alto e mal constituído (Portei);
  - mulher que herdou a alcunha do pai que bebia muito, pelo que as pessoas diziam que ele "estava mais encarnado do que um pirum!" (Serpa);
  - indivíduo que teve relações com uma perua (Portei);
  - sujeito que em miúdo, guardava perus num monte (Arraiolos);
  - mulher que em criança, batia muito na irmã (Sines);
  - homem muito teimoso (Beja);
  - indivíduo muito bêbado (Ourique).
- PERU MALUCO - Denominação aplicada a um indivíduo que gosta muito de apreciar as mulheres (Campo Maior).
- PERU PIRUM - O nomeado é guardador de perus (Arraiolos).
- PERUA ARRUFADA - Epíteto atribuído a uma mulher que é muito vaidosa (Fronteira).
- PRUA CHOCA - Designação atribuída a uma mulher que é muito mole (Santiago do Cacem).
- PIRUM - O alcunhado adquiriu esta denominação porque roubou perus. Corruptela de peru (Vendas Novas).
- PIRUM ARRUFADO - Designação atribuída a um homem que é muito vaidoso (Aljustrel).
- PIRUM DOS SARROS - Indivíduo de pequena estatura e que morou num monte com esse nome (Redondo).
- PIRUM MALUCO - Nome outorgado:
  - a uma mulher irrequieta (Elvas);
  - a um sujeito considerado doido (Elvas).
- PINTAINHO (A) - Alcunha atribuída a:
  - rapariga muito pequena e magrinha (Mértola e Nisa);
  - sujeito com o cabelo parecido com a penugem dos pintainhos (Santiago do Cacem);
  - indivíduo de baixa estatura (Avis e Almodôvar).
- PINTO(A)(S) - Epíteto atribuído a:
- um sujeito de baixa estatura (Odemira e Borba);
- uma família (Arraiolos);
- uma mulher que em criança, andava sempre com pintainhos (Cuba).
- PINTO BALSEMÃO - O visado é parecido com Pinto Balsemão (Alcácer do Sal).
- PINTO DE AVIÁRIO - Denominação aplicada a um indivíduo que é muito preguiçoso (Almodôvar).
- PINTO LATAS - O nome outorgado resulta do pai do visado ter sido latoeiro (Mora).
- PINTO LOIRO - Epíteto atribuído a um indivíduo, louro e de baixa estatura (Viana do Alentejo).
- PINTO MALUCO - Alcunha outorgada a um sujeito, de baixa estatura e malandro (Grândola).
- PINTO MOLHADO - O outorgado recebeu esta designação da parte da namorada, quando ao namorar à janela, de capote, apanhou uma molha (Moura).
- PINTO VADIO - O nomeado é aparvalhado e tem o hábito de vadiar (Portel).

BIBLIOGRAFIA
RAMOS, Francisco Martins; SILVA, Carlos Alberto da. Tratado das Alcunhas Alentejanas. 2ª edição. Edições Colibri. Lisboa, 2003.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A criação na Bíblia Sagrada

GALO E GALINHAS
Aelbert Cupy (1620- 1690)
Óleo sobre painel (48x45 cm)
Museum voor Schone Kunsten, Ghent.

Na Bíblia Sagrada, a galinha é referida como mãe que protege os filhos e simultaneamente como fêmea perante a qual o galo machista se empina. Este por sua vez, vê o seu canto citado como sinal do apóstolo Pedro negar três vezes a Jesus. Vejamos, em pormenor, o que dizem os livros sagrados:

GALINHAS
(Provérbios 30)
29. Existem três seres com belo porte, e um quarto de andar imponente:
30. o leão, o mais valente dos animais, que não recua diante de ninguém;
31. o galo empinado diante das galinhas; o carneiro que vai à frente do rebanho; e o rei que chefia o seu exército.
(São Mateus 23)
37. "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes Eu quis reunir os teus filhos, como a galinha reúne os pintainhos debaixo das asas, mas tu não quiseste!
(São Lucas 13)
34. "Jerusalém, Jerusalém, tu que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes Eu quis reunir os teus filhos, como a galinha reúne os pintainhos debaixo das asas, mas tu não quiseste!
GALOS
(Provérbios 30)
29. Existem três seres com belo porte, e um quarto de andar imponente:
30. o leão, o mais valente dos animais, que não recua diante de ninguém;
31. o galo empinado diante das galinhas; o carneiro que vai à frente do rebanho; e o rei que chefia o seu exército.
(São Mateus 26,34)
Jesus declarou: "Eu te garanto: esta noite, antes que o galo cante, negar-Me-ás três vezes".
(São Mateus 26,74)
Então Pedro começou a maldizer e a jurar, dizendo: "Nem conheço esse homem!" Nesse instante, o galo cantou.
(São Mateus 26,75)
Pedro lembrou-se então do que Jesus tinha dito: "Antes de o galo cantar, negar-Me-ás três vezes". E, saindo, chorou amargamente.
(São Marcos 14,30)
Jesus disse a Pedro: "Eu te garanto: ainda hoje, esta noite, antes que o galo cante duas vezes, negar-Me-ás três vezes".
Sã(o Marcos 14,68)
Mas Pedro negou: "Não sei nem compreendo o que dizes!" E o galo cantou.
(São Marcos 14,72)
Nesse instante, o galo cantou pela segunda vez. Pedro lembrou-se de que Jesus lhe havia dito: "Antes de o galo cantar duas vezes, negar-Me-ás três vezes". Então Pedro começou a chorar.
(São Lucas 22,34)
Jesus, porém, respondeu: "Pedro, Eu te digo que hoje, antes que o galo cante, três vezes negarás conhecer-Me".
(São Lucas 22,60)
Mas Pedro respondeu: "Homem, não sei do que estás a falar!" Nesse momento, enquanto Pedro ainda falava, um galo cantou.
(São Lucas 22,61)
Então o Senhor voltou-Se e olhou para Pedro. E Pedro lembrou-se de que o Senhor lhe havia dito: "Hoje, antes de o galo cantar, negar-Me-ás três vezes".
(São João 13,38)
Jesus respondeu: "Darias a vida por Mim? Eu te garanto: antes que o galo cante, negar-Me-ás três vezes".
(São João 18,27)
Pedro negou de novo. E, na mesma hora, o galo cantou.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A criação no Adagiário Português

Ilustração de Alfredo Roque Gameiro (1864 - 1935)
para “As Pupilas do Senhor Reitor”,
 de Júlio Diniz (1839-1871).

O termo “criação”, designa o conjunto de todas as aves domésticas, criadas com a finalidade de serem consumidas na alimentação. Como aves, são caracterizadas por terem um bico, penas, asas e porem ovos, além de poderem voar e terem um habitat próprio, assim como um tipo próprio de ninho.
A pesquisa efectuada no adagiário português e o subsequente estudo, levou-nos a sistematizar os adágios em grupos e sub-grupos, de acordo com o seguinte esquema:

1. ASAS
2. BICO
3. CANTO
5. PENAS
6. VOO
7. HABITAT
8. NINHOS
9. AVES DE CRIAÇÃO
9.1. Pintos
9.2. Frangos
9.3. Galinhas
9.4. Galos
9.5. Patos
9.6. Gansos
9.7. Perus
10. HÁBITOS ALIMENTARES
11. OUTROS HÁBITOS
12. ECONOMIA DOMÉSTICA
13. CULINÁRIA

Passemos cada um deles, em revista:

1. ASAS
Boa asa voa com todo o vento.
2. BICO
A galinha põe pelo bico.
As galinhas põem pelo bico e às mulheres, o leite vai-se-lhes pela boca.
Ave de bico, nunca fez o dono rico.
Porcos e gado de bico não fazem o dono rico.
3. CANTO
A galinha que cacareja, ou tem ovo ou chama galo.
A galinha que canta é a dona dos ovos.
A teia no tear, o galo a cantar, a chaminé a fumegar, deixa o cão ladrar.
Ainda que o galo não cante, a manhã rompe sempre.
Aonde canta galo não canta galinha.
Aonde está o galo não canta a galinha.
As mulheres cantam de galo, mas os homens estão no poleiro.
Ave que canta demais não sabe fazer o ninho.
Cacarejar não é pôr ovo.
Cada galo canta no seu poleiro e o bom no seu poleiro e no alheio.
Como canta o galo velho, assim canta o novo.
Dois galos não cantam num só terreiro.
Franga que canta quer galo.
Galinha de campo não quer capoeira.
Galinha que canta com o galo, corta-se-lhe o gargalo.
Galinha que canta como galo, faca na garganta.
Galinha que canta de galo, põe o dono a cavalo.
Galinha que canta de galo, quer ver o ano no adro.
Galinha que canta é dona dos ovos.
Galinha que canta quer galo.
Galinha que canta, quer pôr.
Galinha que como galo canta, anuncia a morte do dono.
Galo antes de cantar bate as asas três vezes.
Galo cantando fora de horas, temos novidade amanhã.
Galo de esporão não cacareja na pista.
Galo fecha os olhos quando canta, porque sabe a música de cor.
Galo que a desoras canta: faca na garanta.
Galo que canta à meia-noite, morte certa.
Galo que canta no poleiro, ou chuva ou nevoeiro.
Galo que fora de horas canta, faca na garganta.
Galo, onde canta, come.
Mulher que assobia e galinha que canta, faca na garganta.
Não é pelo galo cantar que se há-de madrugar.
Outro galo me cantará.
Ouvir cantar o galo e não saber onde é o poleiro.
Ouvir cantar o galo e não saber onde.
Pelo canto conhece-se a ave.
Quando o galo canta, a galinha está por perto.
Quando o galo canta, já é dia.
Quando uma galinha cacareja, a outra copeja.
4.OVOS
É rainha a galinha que põe os ovos na vindima.
Galinha de Celorico pranta os ovos pelo bico.
Galinha de monturo não quer ovo.
Galinha preta põe ovo branco.
Galinha que não canta, papa o ovo.
Galinha tem de muita cor, mas todo o ovo é branco.
Galinha tua, ovo meu.
Galinhas de São João (24 de Junho), pelo Natal poedeiras são.
Mais vale um ovo hoje, que uma galinha amanhã.
Não ponhas todos os ovos debaixo da mesma galinha.
O ovo de hoje vale mais do que a galinha de amanhã.
5. PENAS
Aves da mesma pena andam juntas.
6. VOO
Dos homens é obrar virtude e das aves, avoar.
O homem nasceu para trabalhar como a ave para voar.
7. HABITAT
Galinha de aldeia não quer capoeira.
Galinha de caminho não quer cerca.
Galinha de eira, quer capoeira.
Galinha do campo não quer capoeira.
Galinha do mato não quer capoeira.
8. NINHOS
Aquela ave é má que em seu ninho suja.
Ave que canta demais não sabe fazer o ninho.
Ave só, não faz ninho.
Bem estavas em teu ninho, passarinho pinto.
É má a ave que seu ninho suja.
9. AVES DE CRIAÇÃO
9.1. Pintos
À porta do pinto não se junta miolo.
Gavião pega pinto, mas respeita galo.
Moléstia de pinto é gozo.
Não contes os pintos senão depois de nascidos.
Não é por escoucear que se conhece o pinto.
Pé de galinha não mata pinto.
Pintainho de Janeiro não vai com a mãe ao poleiro.
Pintainhos jeitosos darão galos formosos.
Pinto de Janeiro vai com sua mãe ao poleiro.
Pinto de Janeiro vai pôr atrás do rolheiro.
Pinto de Janeiro vai pôr com a sua mãe ao colmeiro.
9.2. Frangos
Franga aninhou-se, quer pôr.
O frango de hoje é preferível ao galo de amanhã.
Onde vai galo de fama, não têm as frangas que fazer.
9.3. Galinhas
A galinha da vizinha é mais gorda do que a minha.
A galinha de Janeiro vai pôr com a mãe ao colmeio.
A galinha do passado dá conta do recado.
A galinha é que cobre os pintos.
A galinha, aparta-lhe o ninho e pôr-te-á ovo.
A mulher e a galinha, com o sol recolhida.
À mulher e à galinha, torcer-lhe o pescoço para a fazer boa.
Afaga a tua galinha, para te parir galinhos.
Água benta e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.
Aonde a galinha tem os ovos, tem os olhos.
Boa é a galinha que outrem cria.
Da galinha a preta, da pata a parda, da mulher a sarda.
Da minha galinha, a postura é minha.
De galinhas e más fadas se enchem as casas.
De galinhas e más fadas, não se enchem as casas.
É esperta a galinha, mas deixa-se apanhar.
Em casa como uma galinha, na rua como uma rainha.
Em terra de gavião, galinha não vinga pinto.
Folgar galinhas, que morto é o galo.
Folgar galinhas, que o galo é na vindima.
Fraca é a galinha que não esgravata para ela.
Galinha com pintos e burra com burrinho, é mal de pôr a caminho.
Galinha estalou, meu servo fugiu.
Galinha gorda por pouco dinheiro, não há no poleiro.
Galinha gorda por pouco dinheiro? Desconfia.
Galinha grande a João Fernandes? Boa vai ela.
Galinha não põe de galo, senão de papo.
Galinha pedrês não a comas, não a vendas, nem a dês.
Galinha pedrês vale por três.
Galinha pedrês, não a comas nem a dês.
Galinha pedrês, não a comas, não a vendas, não a dês.
Galinha pedrês, vale por três.
Galinha pinta, ovos trinta.
Mais vale pão hoje, que galinha amanhã.
Mais vale pedaço de pão com amor, que galinha com dor.
Matar a galinha dos ovos de ouro
Mulher e galinha, da pequenina.
Não cries galinha onde a raposa mora, nem creias em mulher que chora.
Não há coisa mais daninha que é a cabra e a galinha.
Não há galinha gorda por pouco dinheiro.
Negra a galinha e negro o carneiro.
Nem sempre rainha, nem sempre galinha.
Nem só galinha, nem só rainha.
Nunca mulher perdida amou a homem honrado, nem galinha gorda a capão.
Onde a galinha tem os ovos lá se lhe vão os olhos.
Para doze galinhas basta um galo.
Pé de galinha não mata pinto.
Quando as galinhas tiverem dentes.
Quem de si faz lixo, pisam-no as galinhas.
Quem tem galinhas, que as guarde que os meus galos ponho eu à solta.
Rainha é a galinha que põe os ovos na vindima.
Rato, gato, galinha e primo, são bichos chamados para sujarem a casa.
Trocar galinhas de capoeira pelos ovos do gavião.
Vem o diabo de fora e enxota as galinhas de casa.
Muita galinha e poucos ovos.
9.4. Galos
Ao moço e ao galo, um ano.
Aos afortunados até os galos lhe põem ovos.
Galo bom, só luta borrifado.
Galo branco não dá manhã certa.
Galo de sangue no olho e na crista, não dá com o bico no chão.
Galo furtado, orelhas de fora.
Galo loiro dá agoiro.
Galo pedrês, não o vendas nem o dês.
Galo, quer-se novo.
Gavião pega pinto, mas respeita galo.
Moço e galo, um só ano.
O bom galo não engorda.
O galo canta só onde tem morada.
O galo não canta adonde quer.
O galo nica, a galinha recolhe.
O galo, no seu poleiro, é rei.
O moço e o galo, um só ano.
Onde estão galos de fama, não têm pintos que fazer.
Onde o galo canta, aí janta.
Onde vai galo de fama, não têm as frangas que fazer.
Para doze galinhas basta um galo.
Sem galos novos não nascem pintos.
Tarde piaste para galo.
Todo o galo tem o seu poleiro.
Diz-se capão mas arrasta o saco.
Galo capão é que sai cantando de galinha.
Nunca mulher perdida amou a homem honrado, nem galinha gorda a capão.
A quem te dá o capão, dá-lhe a perna.
Sem galos novos não nascem pintos.
9.5. Patos
A adem, a mulher e a cabra, é má coisa, sendo magra.
Da galinha a preta, da pata a parda, da mulher a sarda.
Patas ao mar, velhas a assoalhar; patas à beira, velhas à fogueira.
Carreira de pato é na água.
De pato a ganso é pequeno avanço.
Fugiu da água o pato, tempestade sente.
Ir-se-ão os hóspedes e comeremos o pato.
Leitão de um mês, pato de três.
O pato, pela mão do escasso.
Patos para a Beira, velhas à fogueira; patos para o mar, velhas a assoalhar.
Se és pato procura a água, se és sapo procura o charco.
Três mulheres e um pato fazem uma feira.
Leitão de um mês e marreco de três.
9.6. Gansos
De pato a ganso é pequeno avanço.
Quando o ganso mergulha, trás o trigo para a tulha.
9.7. Perus
Peru calado ganha um cruzado, peru falando vai apanhando.
Peru quando faz roda quer minhoca.
Quem morre de véspera é peru de Natal.
Só peru morre na véspera.
10. HÁBITOS ALIMENTARES
Como a galinha com a sua pevide.
A mulher e a galinha são bichos interesseiros: a galinha pelo milho e a mulher pelo dinheiro.
Ave de casa, mais come do que vale.
Bago a bago enche a galinha o papo.
Galinha cega, de vez em quando, apanha um grão.
Galinha de casa mais come do que vale.
Galinha em casa rica, sempre pica.
Galinha que em casa fica se não come, depenica.
Galinha que em casa fica, sempre pica.
Graeiro a graeiro, enche a galinha o papeiro.
Grão a grão, enche a galinha o papo.
Jejua pato que já foste farto.
Mulher e galinha são bichos interesseiros: galinha por milho, mulher por dinheiro.
Padres e patos, nunca estão satisfeitos.
Vinte galinhas e um galo, comem tanto como um cavalo.
Viva a galinha, viva com sua pevide.
11. OUTROS HÁBITOS
Galinha cedo no poleiro, é sinal de invernia.
Galinha de Janeiro, enche o poleiro.
Galinha do pé queimado procura agasalho cedo.
Galinha e mulher, não se deixem passear.
Galinha não nasce que não esgravate.
Galinha quando se mete a galo, faz do dono cavalo.
Galinha que nasce em Janeiro, põe no colmeiro.
Galinha rica, tudo que vê cobiça.
Galinha vesga, cedo procura o poleiro.
Galo cantando à boca da noite é sinal de que estão furtando moça.
Luar de Janeiro faz sair a galinha do poleiro, lá vem Fevereiro que leva a galinha e o carneiro.
Má é a galinha que outra não cria.
Muito pode o galo no seu poleiro.
Na casa da galinha o galo entra por trás.
12. ECONOMIA DOMÉSTICA
Acabou a galinha, acabou o resguardo.
Frango em Janeiro, vale um carneiro.
Frio, focinho e bico, não fazem ninguém rico.
Gado de bico nunca fez ninguém rico.
Linho, focinho e bico, nunca fizeram homem rico.
Quanto mais me dá a minha galinha amarela, mais eu quero por ela.
Quem não tem que fazer, compra galinhas e torna-as a vender.
Se estás sem tostão, atira-te à criação.
Viúva e capão, quanto comem assim dão.
13. CULINÁRIA
À falta de capão, cebola e pão.
A galinha velha faz bom caldo.
A gorda galinha faz gorda a cozinha.
Aldeã é a galinha e come-a o de Coimbra.
Caldo de galinha é canja.
Camponesa é a galinha e vai à mesa da rainha.
Carne de pena tira do rosto a ruga.
Capão de oito meses, para a mesa de reis.
Da garganta para baixo, tanto sabe a galinha como a sardinha.
Do capão a perna, da galinha a titela.
Franga lardeada com toucinho - faz bom focinho.
Frango na panela de pobre é desgraça certa: doença do pobre, “bouba” do franguinho ou raiva do vizinho.
Galinha e "pirum" tudo é um.
Galinha e costela, unha com ela.
Galinha e peru, tudo é um com arroz.
Galinha e peru, tudo é um.
Galinha gorda à cozinha.
Galinha gorda a maltês, ou é choca, ou morta de um mês.
Galinha gorda a maltês, ou foi roubada ou está choca há um mês.
Galinha gorda não precisa de tempero.
Galinha velha não faz bom caldo.
Galinha velha, faz boa canja.
Galinha velha, faz boa cozinha.
Galinha velha, faz bom caldo.
Galo bom nunca foi gordo.
Gorda galinha faz boa cozinha.
Mulher que pariu, quer galinha.
Na falta de capão, cebola e pão.
O leitão e o pato, do cutelo ao espeto.
Prudência e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.
Quando a galinha dorme, a raposa vela.
Quando pobre come frango, um dos dois está doente.
Quem come a galinha magra, paga uma gorda.
Quem galinha de mau come magra, gorda a paga.
Quem vende sardinha, come galinha.
Sardinha e galinha, só com a mãozinha.
Se o vilão soubesse o sabor da galinha em Janeiro, não deixaria nenhuma no poleiro.
Todos os dias galinha, enfastia a cozinha.
Vale mais pão hoje que galinha amanhã.
Velha galinha faz gorda cozinha.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A criação na Mitologia Popular

VENDEDORA DE CRIAÇÃO A CAMINHO DO MERCADO
Boneco de Estremoz da autoria das Irmãs Flores

O termo “criação”, designa o conjunto de todas as aves domésticas (galo, galinha, frango, franga, pinto, peru e pato).
A presente colectânea de superstições populares sobre a “criação”, que culmina a nossa pesquisa em três fontes bibliográficas distintas, cujos autores as recolheram da tradição oral, mostra mais uma vez a riqueza da Mitologia Popular Portuguesa:
Sistematizámos o material identificado, em três grandes grupos:
- GALINHAS
- GALOS
- OVOS
Passemos cada um deles, em revista:

GALINHAS
- Quando se põem as galinhas a pastar, para que regressem cedo é conveniente esfregar-lhes as patas na lareira, dizendo: - “Para casa a horas!” [1]
- A fim de que as galinhas não se percam, esfrega-se-lhes o rabo pelo lar, dizendo:

“Se eu te procurar,
Aqui te venha encontrar.
Que cresças no forno e fora do forno,
E os meus inimigos, que comam um corno.” [1]

- Se as galinhas se espiolham, é sinal de chuva. [3]
- Se os galos e as galinhas cantam muito, é sinal de chuva. [1]
- Se as galinhas se põem a cantar ou se recolhem de dia ao galinheiro, é sinal de chuva. [2]
- Se uma galinha canta como o galo, deve ser logo morta, porque é sinal de morte do dono de casa. Lá diz o provérbio:

“Galinha que canta de galo
Põe o dono a cavalo!” [2]

- Se uma galinha canta de galo, haverá em casa grandes penas, pelo que deve ser vendida e com o dinheiro dela, comprarem-se uns sapatos. [1]
- Costuma-se dizer que galinha que canta quer galo. [3]
- Para se deitar uma galinha, sobe-se para cima dum forno com umas calças vestidas com a cuada para a cabeça e diz-se:

“Em louvor de S. Salvador,
Tudo pitinhas, só um galador.”

e reza-se um Padre-Nosso e uma Ave Maria. [3]
- Quando se deita uma galinha, em sítio que possa estremecer, a fim de que os ovos não saiam goros, é conveniente pôr uma ferradura na palha debaixo deles. [1]
- Não é conveniente deitar galinhas quando troveja, porque goram os ovos. [2]
- Os ovos que se deitam para a galinha chocar, não devem passar por nenhum lugar onde haja água, por que se estragam. Todavia, se isso tiver de acontecer, deve-se deitar-lhes por cima, sal ou pão esmigalhado. [3]
- Não se devem lavar os ovos que se deitam para a galinha chocar, senão não criam sangue. E devem ser sempre treze ovos, que é a dúzia de Nossa Senhora. [2]
- Devem deitar-se algumas galinhas no dia de Santa Bárbara (4 de Dezembro) ao meio-dia, para tirarem na noite de Natal. O galo que nascer nesta noite, cantará sempre à meia-noite. [1]
- Quando troveja, goram todos os ovos que nessa ocasião estiverem deitados às galinhas. [1]
- Quando troveja e está uma galinha a chocar, a fim de que os ovos não gorem, devem pôr-se dois ferros em cruz, por cima da galinha. [1]
- Se há trovoada e uma galinha está no choco, é conveniente meter uma ferradura entre os ovos, para os pintos não se assustarem dentro da casca. [2]
- Na Quinta-Feira de Ascensão, quem tiver galinhas, deve espreitá-las, para ver as que põem ovos do meio-dia para a uma hora. Esses ovos devem ser guardados, porque nunca estragam e são um excelente profiláctico contra todas as doenças. [1]
- Se uma galinha demora a pôr, bate-se com o cú na lareira, dizendo:

“Pões ou não pões,
Galispo, galinha,
As penas têm tinha
E o corpo sezões.” [3]

- Depois das galinhas porem ovos, devem ser passadas pela perna esquerda de um homem, para voltarem a pôr ovos de casca dura. [3]
- Ao matar-se uma galinha ou outra ave doméstica e ela estrebuchar muito, sem morrer, é porque alguém está com pena dela. [1]
- Para alguém saber da sua sorte, verte um ovo de galinha num copo bem limpo e repleto de água. Depois, coloca o copo no exterior de casa, desde o anoitecer até ao amanhecer. Conforme o ovo assumir a froma de esquife, navio ou igreja, assim anunciará, respectivamente, morte, viagem para o Brasil ou casamento. [3]
- Sonhar com galinhas, é sinal de desgosto e morte. [1]
- Ter uma galinha pedrês, é de bom agouro. Lá diz o provérbio:

“Galinha pedrês
Nem a vendas nem a dês.” [1]

- Galinha preta em casa, livra o dono de ser agarrado pelo Diabo. [3]
- A galinha preta tem a ver com a feitiçaria. [1]
- As galinhas pretas põem ovos com duas gemas, com a faculdade de curar certas doenças. [1]
- Para as recém-paridas, o melhor caldo é o de galinha preta. [1]

GALOS
- O galo quando canta diz: “Jesus é Cristo.” [2]
- Ao fim de sete anos de estar numa casa, o galo põe um ovo donde sai uma serpente. Se esta olha, primeiro o dono da casa, este morre. Se acontecer o contrário, é a serpente que morre. [1]
- Em chegando a velhos, os galos põem um ovo, do qual nasce um sardão, que mata o dono da casa. [1]
- Galo que canta como galinha, é mau agouro. [3]
- Se os galos e as galinhas cantam muito, é sinal de chuva. [1]
- Se um galo canta ao sol-posto, é sinal de morte. [1]
- Se os galos cantarem de noite, todas as coisas más se espalham. [2]
- É mau agouro um galo cantar antes da meia-noite. Lá diz o provérbio:

“Galo que fora de horas canta
Cutelo na garganta.” [3]

- Se os galos cantarem antes da meia-noite, é anúncio de mudança de tempo. [2]
- Se um galo canta antes da meia-noite, é sinal de navio à barra, ou que alguma filha foge de casa. [1]
- Se um galo canta quatro vezes antes da meia-noite, é sinal de morte. [1]
- O canto do galo à meia-noite faz dispersar a assembleia do Diabo e das Bruxas. [3]
- Uma pessoa que coma atrás duma porta, cristas de galo assadas, perde o medo. [3]
- O galo preto espanta as coisas ruins. [1]
- À meia-noite da noite de Natal, na igreja diz-se a missa do galo. [3]
- Nos telhados e mas torres das igrejas é hábito pôr um galo de ferro a fazer de catavento. [3]

OVOS
- Passar pelos olhos, um ovo quente, acabado de ser posto, tem a faculdade de aclarar a vista. [1]
- Visando ter mais galinhas do que frangos, ao acomodarem-se os ovos no ninho, deve-se dizer:

“Em nome de S. Salvador
Que nasçam todas as galinhas,
E um só galador.” [1]

- É mau deitar as cascas dos ovos para o lume, porque as galinhas deixam de pôr. [2]
- Em Quarta-Feira de Trevas, é conveniente pôr um ferro sobre a ave que choca ovos, para que estes não gorem. [1]
- Sonhar com ovos, é sinal de mexericos. [1]
- Sonhar com um ovo, é sinal de notícia triste. [1]

BIBLIOGRAFIA
[1] - CONSIGLIERI PEDROSO, “Supertições Populares”, O Positivismo: revista de Filosofia, Vol. III. Porto, 1881.
[2] - THOMAZ PIRES, A. Tradições Populares Transtaganas. Tipographia Moderna. Elvas, 1927.
[3] – LEITE DE VASCONCELLOS, José. Tradições Populares de Portugal. Livraria Portuense de Clavel e C.ª – Editores. Porto, 1882.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Estremoz - Mercado da criação

VENDEDORA DE CRIAÇÃO NO MERCADO
Boneco de Estremoz da autoria das Irmãs Flores

Aos sábados, Estremoz tem um dos melhores mercados tradicionais do país, que constitui um dos pontos altos na animação da cidade de Estremoz, formigueiro humano de quem compra e vende ou simplesmente usufrui do prazer de ver. É também um catalizador da economia local, que nesse dia espevita o adormecido comércio local.
Uma das componentes do mercado de sábado é o chamado “mercado da criação”. Este sempre teve por base, os camponeses das nossas freguesias rurais, que ali vão vender produtos que não consomem, conseguindo com isso equilibrar o periclitante orçamento familiar, seja ele salário ou pensão. É um mercado em que os vendedores são maioritariamente pessoas de idade. E é sempre triste quando algum deles parte. Sentimos então a falta da pessoa a quem comprávamos os ovos, as galinhas, os coelhos ou mesmo vegetais ou fruta. Digo isto, porque com o tempo se cria uma relação de empatia entre as pessoas. É que compramos nabiças ao senhor Joaquim, porque elas estão mordidas das lagartas, o que é a melhor garantia de não terem sido tratadas com pesticidas. Compramos laranjas à Dona Antónia, porque além de serem doces, são pequenas e não brilham, o que é a melhor caução de não serem transgénicas e não terem sido polidas com um produto químico qualquer. Compramos também galinhas à Dona Joana, porque são galinhas do campo, alimentadas com aquilo que a terra dá e não com ração para animais. Até os ovos sabem melhor. O mesmo se passa com os coelhos, alimentados exclusivamente a erva.
Compramos no mercado da criação, por que sabemos donde vêm as coisas e associamos essas coisas ao rosto das pessoas que as produzem e vendem. É pois, natural, que quando algumas dessas pessoas parte, a gente sinta a sua falta. É um círculo de afectividade que se quebra e uma clareira que se abre no mercado, pois em geral quem parte não deixa substituto. E assim o mercado da criação corre o risco de ir definhando lentamente.