quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A criação no Adagiário Português

Ilustração de Alfredo Roque Gameiro (1864 - 1935)
para “As Pupilas do Senhor Reitor”,
 de Júlio Diniz (1839-1871).

O termo “criação”, designa o conjunto de todas as aves domésticas, criadas com a finalidade de serem consumidas na alimentação. Como aves, são caracterizadas por terem um bico, penas, asas e porem ovos, além de poderem voar e terem um habitat próprio, assim como um tipo próprio de ninho.
A pesquisa efectuada no adagiário português e o subsequente estudo, levou-nos a sistematizar os adágios em grupos e sub-grupos, de acordo com o seguinte esquema:

1. ASAS
2. BICO
3. CANTO
5. PENAS
6. VOO
7. HABITAT
8. NINHOS
9. AVES DE CRIAÇÃO
9.1. Pintos
9.2. Frangos
9.3. Galinhas
9.4. Galos
9.5. Patos
9.6. Gansos
9.7. Perus
10. HÁBITOS ALIMENTARES
11. OUTROS HÁBITOS
12. ECONOMIA DOMÉSTICA
13. CULINÁRIA

Passemos cada um deles, em revista:

1. ASAS
Boa asa voa com todo o vento.
2. BICO
A galinha põe pelo bico.
As galinhas põem pelo bico e às mulheres, o leite vai-se-lhes pela boca.
Ave de bico, nunca fez o dono rico.
Porcos e gado de bico não fazem o dono rico.
3. CANTO
A galinha que cacareja, ou tem ovo ou chama galo.
A galinha que canta é a dona dos ovos.
A teia no tear, o galo a cantar, a chaminé a fumegar, deixa o cão ladrar.
Ainda que o galo não cante, a manhã rompe sempre.
Aonde canta galo não canta galinha.
Aonde está o galo não canta a galinha.
As mulheres cantam de galo, mas os homens estão no poleiro.
Ave que canta demais não sabe fazer o ninho.
Cacarejar não é pôr ovo.
Cada galo canta no seu poleiro e o bom no seu poleiro e no alheio.
Como canta o galo velho, assim canta o novo.
Dois galos não cantam num só terreiro.
Franga que canta quer galo.
Galinha de campo não quer capoeira.
Galinha que canta com o galo, corta-se-lhe o gargalo.
Galinha que canta como galo, faca na garganta.
Galinha que canta de galo, põe o dono a cavalo.
Galinha que canta de galo, quer ver o ano no adro.
Galinha que canta é dona dos ovos.
Galinha que canta quer galo.
Galinha que canta, quer pôr.
Galinha que como galo canta, anuncia a morte do dono.
Galo antes de cantar bate as asas três vezes.
Galo cantando fora de horas, temos novidade amanhã.
Galo de esporão não cacareja na pista.
Galo fecha os olhos quando canta, porque sabe a música de cor.
Galo que a desoras canta: faca na garanta.
Galo que canta à meia-noite, morte certa.
Galo que canta no poleiro, ou chuva ou nevoeiro.
Galo que fora de horas canta, faca na garganta.
Galo, onde canta, come.
Mulher que assobia e galinha que canta, faca na garganta.
Não é pelo galo cantar que se há-de madrugar.
Outro galo me cantará.
Ouvir cantar o galo e não saber onde é o poleiro.
Ouvir cantar o galo e não saber onde.
Pelo canto conhece-se a ave.
Quando o galo canta, a galinha está por perto.
Quando o galo canta, já é dia.
Quando uma galinha cacareja, a outra copeja.
4.OVOS
É rainha a galinha que põe os ovos na vindima.
Galinha de Celorico pranta os ovos pelo bico.
Galinha de monturo não quer ovo.
Galinha preta põe ovo branco.
Galinha que não canta, papa o ovo.
Galinha tem de muita cor, mas todo o ovo é branco.
Galinha tua, ovo meu.
Galinhas de São João (24 de Junho), pelo Natal poedeiras são.
Mais vale um ovo hoje, que uma galinha amanhã.
Não ponhas todos os ovos debaixo da mesma galinha.
O ovo de hoje vale mais do que a galinha de amanhã.
5. PENAS
Aves da mesma pena andam juntas.
6. VOO
Dos homens é obrar virtude e das aves, avoar.
O homem nasceu para trabalhar como a ave para voar.
7. HABITAT
Galinha de aldeia não quer capoeira.
Galinha de caminho não quer cerca.
Galinha de eira, quer capoeira.
Galinha do campo não quer capoeira.
Galinha do mato não quer capoeira.
8. NINHOS
Aquela ave é má que em seu ninho suja.
Ave que canta demais não sabe fazer o ninho.
Ave só, não faz ninho.
Bem estavas em teu ninho, passarinho pinto.
É má a ave que seu ninho suja.
9. AVES DE CRIAÇÃO
9.1. Pintos
À porta do pinto não se junta miolo.
Gavião pega pinto, mas respeita galo.
Moléstia de pinto é gozo.
Não contes os pintos senão depois de nascidos.
Não é por escoucear que se conhece o pinto.
Pé de galinha não mata pinto.
Pintainho de Janeiro não vai com a mãe ao poleiro.
Pintainhos jeitosos darão galos formosos.
Pinto de Janeiro vai com sua mãe ao poleiro.
Pinto de Janeiro vai pôr atrás do rolheiro.
Pinto de Janeiro vai pôr com a sua mãe ao colmeiro.
9.2. Frangos
Franga aninhou-se, quer pôr.
O frango de hoje é preferível ao galo de amanhã.
Onde vai galo de fama, não têm as frangas que fazer.
9.3. Galinhas
A galinha da vizinha é mais gorda do que a minha.
A galinha de Janeiro vai pôr com a mãe ao colmeio.
A galinha do passado dá conta do recado.
A galinha é que cobre os pintos.
A galinha, aparta-lhe o ninho e pôr-te-á ovo.
A mulher e a galinha, com o sol recolhida.
À mulher e à galinha, torcer-lhe o pescoço para a fazer boa.
Afaga a tua galinha, para te parir galinhos.
Água benta e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.
Aonde a galinha tem os ovos, tem os olhos.
Boa é a galinha que outrem cria.
Da galinha a preta, da pata a parda, da mulher a sarda.
Da minha galinha, a postura é minha.
De galinhas e más fadas se enchem as casas.
De galinhas e más fadas, não se enchem as casas.
É esperta a galinha, mas deixa-se apanhar.
Em casa como uma galinha, na rua como uma rainha.
Em terra de gavião, galinha não vinga pinto.
Folgar galinhas, que morto é o galo.
Folgar galinhas, que o galo é na vindima.
Fraca é a galinha que não esgravata para ela.
Galinha com pintos e burra com burrinho, é mal de pôr a caminho.
Galinha estalou, meu servo fugiu.
Galinha gorda por pouco dinheiro, não há no poleiro.
Galinha gorda por pouco dinheiro? Desconfia.
Galinha grande a João Fernandes? Boa vai ela.
Galinha não põe de galo, senão de papo.
Galinha pedrês não a comas, não a vendas, nem a dês.
Galinha pedrês vale por três.
Galinha pedrês, não a comas nem a dês.
Galinha pedrês, não a comas, não a vendas, não a dês.
Galinha pedrês, vale por três.
Galinha pinta, ovos trinta.
Mais vale pão hoje, que galinha amanhã.
Mais vale pedaço de pão com amor, que galinha com dor.
Matar a galinha dos ovos de ouro
Mulher e galinha, da pequenina.
Não cries galinha onde a raposa mora, nem creias em mulher que chora.
Não há coisa mais daninha que é a cabra e a galinha.
Não há galinha gorda por pouco dinheiro.
Negra a galinha e negro o carneiro.
Nem sempre rainha, nem sempre galinha.
Nem só galinha, nem só rainha.
Nunca mulher perdida amou a homem honrado, nem galinha gorda a capão.
Onde a galinha tem os ovos lá se lhe vão os olhos.
Para doze galinhas basta um galo.
Pé de galinha não mata pinto.
Quando as galinhas tiverem dentes.
Quem de si faz lixo, pisam-no as galinhas.
Quem tem galinhas, que as guarde que os meus galos ponho eu à solta.
Rainha é a galinha que põe os ovos na vindima.
Rato, gato, galinha e primo, são bichos chamados para sujarem a casa.
Trocar galinhas de capoeira pelos ovos do gavião.
Vem o diabo de fora e enxota as galinhas de casa.
Muita galinha e poucos ovos.
9.4. Galos
Ao moço e ao galo, um ano.
Aos afortunados até os galos lhe põem ovos.
Galo bom, só luta borrifado.
Galo branco não dá manhã certa.
Galo de sangue no olho e na crista, não dá com o bico no chão.
Galo furtado, orelhas de fora.
Galo loiro dá agoiro.
Galo pedrês, não o vendas nem o dês.
Galo, quer-se novo.
Gavião pega pinto, mas respeita galo.
Moço e galo, um só ano.
O bom galo não engorda.
O galo canta só onde tem morada.
O galo não canta adonde quer.
O galo nica, a galinha recolhe.
O galo, no seu poleiro, é rei.
O moço e o galo, um só ano.
Onde estão galos de fama, não têm pintos que fazer.
Onde o galo canta, aí janta.
Onde vai galo de fama, não têm as frangas que fazer.
Para doze galinhas basta um galo.
Sem galos novos não nascem pintos.
Tarde piaste para galo.
Todo o galo tem o seu poleiro.
Diz-se capão mas arrasta o saco.
Galo capão é que sai cantando de galinha.
Nunca mulher perdida amou a homem honrado, nem galinha gorda a capão.
A quem te dá o capão, dá-lhe a perna.
Sem galos novos não nascem pintos.
9.5. Patos
A adem, a mulher e a cabra, é má coisa, sendo magra.
Da galinha a preta, da pata a parda, da mulher a sarda.
Patas ao mar, velhas a assoalhar; patas à beira, velhas à fogueira.
Carreira de pato é na água.
De pato a ganso é pequeno avanço.
Fugiu da água o pato, tempestade sente.
Ir-se-ão os hóspedes e comeremos o pato.
Leitão de um mês, pato de três.
O pato, pela mão do escasso.
Patos para a Beira, velhas à fogueira; patos para o mar, velhas a assoalhar.
Se és pato procura a água, se és sapo procura o charco.
Três mulheres e um pato fazem uma feira.
Leitão de um mês e marreco de três.
9.6. Gansos
De pato a ganso é pequeno avanço.
Quando o ganso mergulha, trás o trigo para a tulha.
9.7. Perus
Peru calado ganha um cruzado, peru falando vai apanhando.
Peru quando faz roda quer minhoca.
Quem morre de véspera é peru de Natal.
Só peru morre na véspera.
10. HÁBITOS ALIMENTARES
Como a galinha com a sua pevide.
A mulher e a galinha são bichos interesseiros: a galinha pelo milho e a mulher pelo dinheiro.
Ave de casa, mais come do que vale.
Bago a bago enche a galinha o papo.
Galinha cega, de vez em quando, apanha um grão.
Galinha de casa mais come do que vale.
Galinha em casa rica, sempre pica.
Galinha que em casa fica se não come, depenica.
Galinha que em casa fica, sempre pica.
Graeiro a graeiro, enche a galinha o papeiro.
Grão a grão, enche a galinha o papo.
Jejua pato que já foste farto.
Mulher e galinha são bichos interesseiros: galinha por milho, mulher por dinheiro.
Padres e patos, nunca estão satisfeitos.
Vinte galinhas e um galo, comem tanto como um cavalo.
Viva a galinha, viva com sua pevide.
11. OUTROS HÁBITOS
Galinha cedo no poleiro, é sinal de invernia.
Galinha de Janeiro, enche o poleiro.
Galinha do pé queimado procura agasalho cedo.
Galinha e mulher, não se deixem passear.
Galinha não nasce que não esgravate.
Galinha quando se mete a galo, faz do dono cavalo.
Galinha que nasce em Janeiro, põe no colmeiro.
Galinha rica, tudo que vê cobiça.
Galinha vesga, cedo procura o poleiro.
Galo cantando à boca da noite é sinal de que estão furtando moça.
Luar de Janeiro faz sair a galinha do poleiro, lá vem Fevereiro que leva a galinha e o carneiro.
Má é a galinha que outra não cria.
Muito pode o galo no seu poleiro.
Na casa da galinha o galo entra por trás.
12. ECONOMIA DOMÉSTICA
Acabou a galinha, acabou o resguardo.
Frango em Janeiro, vale um carneiro.
Frio, focinho e bico, não fazem ninguém rico.
Gado de bico nunca fez ninguém rico.
Linho, focinho e bico, nunca fizeram homem rico.
Quanto mais me dá a minha galinha amarela, mais eu quero por ela.
Quem não tem que fazer, compra galinhas e torna-as a vender.
Se estás sem tostão, atira-te à criação.
Viúva e capão, quanto comem assim dão.
13. CULINÁRIA
À falta de capão, cebola e pão.
A galinha velha faz bom caldo.
A gorda galinha faz gorda a cozinha.
Aldeã é a galinha e come-a o de Coimbra.
Caldo de galinha é canja.
Camponesa é a galinha e vai à mesa da rainha.
Carne de pena tira do rosto a ruga.
Capão de oito meses, para a mesa de reis.
Da garganta para baixo, tanto sabe a galinha como a sardinha.
Do capão a perna, da galinha a titela.
Franga lardeada com toucinho - faz bom focinho.
Frango na panela de pobre é desgraça certa: doença do pobre, “bouba” do franguinho ou raiva do vizinho.
Galinha e "pirum" tudo é um.
Galinha e costela, unha com ela.
Galinha e peru, tudo é um com arroz.
Galinha e peru, tudo é um.
Galinha gorda à cozinha.
Galinha gorda a maltês, ou é choca, ou morta de um mês.
Galinha gorda a maltês, ou foi roubada ou está choca há um mês.
Galinha gorda não precisa de tempero.
Galinha velha não faz bom caldo.
Galinha velha, faz boa canja.
Galinha velha, faz boa cozinha.
Galinha velha, faz bom caldo.
Galo bom nunca foi gordo.
Gorda galinha faz boa cozinha.
Mulher que pariu, quer galinha.
Na falta de capão, cebola e pão.
O leitão e o pato, do cutelo ao espeto.
Prudência e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.
Quando a galinha dorme, a raposa vela.
Quando pobre come frango, um dos dois está doente.
Quem come a galinha magra, paga uma gorda.
Quem galinha de mau come magra, gorda a paga.
Quem vende sardinha, come galinha.
Sardinha e galinha, só com a mãozinha.
Se o vilão soubesse o sabor da galinha em Janeiro, não deixaria nenhuma no poleiro.
Todos os dias galinha, enfastia a cozinha.
Vale mais pão hoje que galinha amanhã.
Velha galinha faz gorda cozinha.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A criação na Mitologia Popular

VENDEDORA DE CRIAÇÃO A CAMINHO DO MERCADO
Boneco de Estremoz da autoria das Irmãs Flores

O termo “criação”, designa o conjunto de todas as aves domésticas (galo, galinha, frango, franga, pinto, peru e pato).
A presente colectânea de superstições populares sobre a “criação”, que culmina a nossa pesquisa em três fontes bibliográficas distintas, cujos autores as recolheram da tradição oral, mostra mais uma vez a riqueza da Mitologia Popular Portuguesa:
Sistematizámos o material identificado, em três grandes grupos:
- GALINHAS
- GALOS
- OVOS
Passemos cada um deles, em revista:

GALINHAS
- Quando se põem as galinhas a pastar, para que regressem cedo é conveniente esfregar-lhes as patas na lareira, dizendo: - “Para casa a horas!” [1]
- A fim de que as galinhas não se percam, esfrega-se-lhes o rabo pelo lar, dizendo:

“Se eu te procurar,
Aqui te venha encontrar.
Que cresças no forno e fora do forno,
E os meus inimigos, que comam um corno.” [1]

- Se as galinhas se espiolham, é sinal de chuva. [3]
- Se os galos e as galinhas cantam muito, é sinal de chuva. [1]
- Se as galinhas se põem a cantar ou se recolhem de dia ao galinheiro, é sinal de chuva. [2]
- Se uma galinha canta como o galo, deve ser logo morta, porque é sinal de morte do dono de casa. Lá diz o provérbio:

“Galinha que canta de galo
Põe o dono a cavalo!” [2]

- Se uma galinha canta de galo, haverá em casa grandes penas, pelo que deve ser vendida e com o dinheiro dela, comprarem-se uns sapatos. [1]
- Costuma-se dizer que galinha que canta quer galo. [3]
- Para se deitar uma galinha, sobe-se para cima dum forno com umas calças vestidas com a cuada para a cabeça e diz-se:

“Em louvor de S. Salvador,
Tudo pitinhas, só um galador.”

e reza-se um Padre-Nosso e uma Ave Maria. [3]
- Quando se deita uma galinha, em sítio que possa estremecer, a fim de que os ovos não saiam goros, é conveniente pôr uma ferradura na palha debaixo deles. [1]
- Não é conveniente deitar galinhas quando troveja, porque goram os ovos. [2]
- Os ovos que se deitam para a galinha chocar, não devem passar por nenhum lugar onde haja água, por que se estragam. Todavia, se isso tiver de acontecer, deve-se deitar-lhes por cima, sal ou pão esmigalhado. [3]
- Não se devem lavar os ovos que se deitam para a galinha chocar, senão não criam sangue. E devem ser sempre treze ovos, que é a dúzia de Nossa Senhora. [2]
- Devem deitar-se algumas galinhas no dia de Santa Bárbara (4 de Dezembro) ao meio-dia, para tirarem na noite de Natal. O galo que nascer nesta noite, cantará sempre à meia-noite. [1]
- Quando troveja, goram todos os ovos que nessa ocasião estiverem deitados às galinhas. [1]
- Quando troveja e está uma galinha a chocar, a fim de que os ovos não gorem, devem pôr-se dois ferros em cruz, por cima da galinha. [1]
- Se há trovoada e uma galinha está no choco, é conveniente meter uma ferradura entre os ovos, para os pintos não se assustarem dentro da casca. [2]
- Na Quinta-Feira de Ascensão, quem tiver galinhas, deve espreitá-las, para ver as que põem ovos do meio-dia para a uma hora. Esses ovos devem ser guardados, porque nunca estragam e são um excelente profiláctico contra todas as doenças. [1]
- Se uma galinha demora a pôr, bate-se com o cú na lareira, dizendo:

“Pões ou não pões,
Galispo, galinha,
As penas têm tinha
E o corpo sezões.” [3]

- Depois das galinhas porem ovos, devem ser passadas pela perna esquerda de um homem, para voltarem a pôr ovos de casca dura. [3]
- Ao matar-se uma galinha ou outra ave doméstica e ela estrebuchar muito, sem morrer, é porque alguém está com pena dela. [1]
- Para alguém saber da sua sorte, verte um ovo de galinha num copo bem limpo e repleto de água. Depois, coloca o copo no exterior de casa, desde o anoitecer até ao amanhecer. Conforme o ovo assumir a froma de esquife, navio ou igreja, assim anunciará, respectivamente, morte, viagem para o Brasil ou casamento. [3]
- Sonhar com galinhas, é sinal de desgosto e morte. [1]
- Ter uma galinha pedrês, é de bom agouro. Lá diz o provérbio:

“Galinha pedrês
Nem a vendas nem a dês.” [1]

- Galinha preta em casa, livra o dono de ser agarrado pelo Diabo. [3]
- A galinha preta tem a ver com a feitiçaria. [1]
- As galinhas pretas põem ovos com duas gemas, com a faculdade de curar certas doenças. [1]
- Para as recém-paridas, o melhor caldo é o de galinha preta. [1]

GALOS
- O galo quando canta diz: “Jesus é Cristo.” [2]
- Ao fim de sete anos de estar numa casa, o galo põe um ovo donde sai uma serpente. Se esta olha, primeiro o dono da casa, este morre. Se acontecer o contrário, é a serpente que morre. [1]
- Em chegando a velhos, os galos põem um ovo, do qual nasce um sardão, que mata o dono da casa. [1]
- Galo que canta como galinha, é mau agouro. [3]
- Se os galos e as galinhas cantam muito, é sinal de chuva. [1]
- Se um galo canta ao sol-posto, é sinal de morte. [1]
- Se os galos cantarem de noite, todas as coisas más se espalham. [2]
- É mau agouro um galo cantar antes da meia-noite. Lá diz o provérbio:

“Galo que fora de horas canta
Cutelo na garganta.” [3]

- Se os galos cantarem antes da meia-noite, é anúncio de mudança de tempo. [2]
- Se um galo canta antes da meia-noite, é sinal de navio à barra, ou que alguma filha foge de casa. [1]
- Se um galo canta quatro vezes antes da meia-noite, é sinal de morte. [1]
- O canto do galo à meia-noite faz dispersar a assembleia do Diabo e das Bruxas. [3]
- Uma pessoa que coma atrás duma porta, cristas de galo assadas, perde o medo. [3]
- O galo preto espanta as coisas ruins. [1]
- À meia-noite da noite de Natal, na igreja diz-se a missa do galo. [3]
- Nos telhados e mas torres das igrejas é hábito pôr um galo de ferro a fazer de catavento. [3]

OVOS
- Passar pelos olhos, um ovo quente, acabado de ser posto, tem a faculdade de aclarar a vista. [1]
- Visando ter mais galinhas do que frangos, ao acomodarem-se os ovos no ninho, deve-se dizer:

“Em nome de S. Salvador
Que nasçam todas as galinhas,
E um só galador.” [1]

- É mau deitar as cascas dos ovos para o lume, porque as galinhas deixam de pôr. [2]
- Em Quarta-Feira de Trevas, é conveniente pôr um ferro sobre a ave que choca ovos, para que estes não gorem. [1]
- Sonhar com ovos, é sinal de mexericos. [1]
- Sonhar com um ovo, é sinal de notícia triste. [1]

BIBLIOGRAFIA
[1] - CONSIGLIERI PEDROSO, “Supertições Populares”, O Positivismo: revista de Filosofia, Vol. III. Porto, 1881.
[2] - THOMAZ PIRES, A. Tradições Populares Transtaganas. Tipographia Moderna. Elvas, 1927.
[3] – LEITE DE VASCONCELLOS, José. Tradições Populares de Portugal. Livraria Portuense de Clavel e C.ª – Editores. Porto, 1882.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Estremoz - Mercado da criação

VENDEDORA DE CRIAÇÃO NO MERCADO
Boneco de Estremoz da autoria das Irmãs Flores

Aos sábados, Estremoz tem um dos melhores mercados tradicionais do país, que constitui um dos pontos altos na animação da cidade de Estremoz, formigueiro humano de quem compra e vende ou simplesmente usufrui do prazer de ver. É também um catalizador da economia local, que nesse dia espevita o adormecido comércio local.
Uma das componentes do mercado de sábado é o chamado “mercado da criação”. Este sempre teve por base, os camponeses das nossas freguesias rurais, que ali vão vender produtos que não consomem, conseguindo com isso equilibrar o periclitante orçamento familiar, seja ele salário ou pensão. É um mercado em que os vendedores são maioritariamente pessoas de idade. E é sempre triste quando algum deles parte. Sentimos então a falta da pessoa a quem comprávamos os ovos, as galinhas, os coelhos ou mesmo vegetais ou fruta. Digo isto, porque com o tempo se cria uma relação de empatia entre as pessoas. É que compramos nabiças ao senhor Joaquim, porque elas estão mordidas das lagartas, o que é a melhor garantia de não terem sido tratadas com pesticidas. Compramos laranjas à Dona Antónia, porque além de serem doces, são pequenas e não brilham, o que é a melhor caução de não serem transgénicas e não terem sido polidas com um produto químico qualquer. Compramos também galinhas à Dona Joana, porque são galinhas do campo, alimentadas com aquilo que a terra dá e não com ração para animais. Até os ovos sabem melhor. O mesmo se passa com os coelhos, alimentados exclusivamente a erva.
Compramos no mercado da criação, por que sabemos donde vêm as coisas e associamos essas coisas ao rosto das pessoas que as produzem e vendem. É pois, natural, que quando algumas dessas pessoas parte, a gente sinta a sua falta. É um círculo de afectividade que se quebra e uma clareira que se abre no mercado, pois em geral quem parte não deixa substituto. E assim o mercado da criação corre o risco de ir definhando lentamente.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A brincar se constrói a personalidade


JOGO DO PIÃO (c. 1930). Fotografia de João Martins. Negativo em nitrato. Divisão
de Documentação Fotográfica / IMC. Número de Inventário do Objecto: 155.001.122

O presente post, fruto da nossa reflexão pessoal sobre jogos e brincadeiras infantis, é a síntese dialéctica de dois posts anteriores: BRINCADEIRAS D'OUTRORA, editado em 9 de Março de 2010 e DIA MUNDIAL DA CRIANÇA, editado em 1 de Junho de 2011. Trata-se do nosso contributo para o debate que se impõe em torno do tema que é objecto deste post.

                                                   Todo o mundo é composto de mudança,
                                                   Tomando sempre novas qualidades.
                                                                   Luís de Camões (c.1524 – 1580)

Porque fomos crianças ontem, devemos pensar nas crianças de hoje e apostar fortemente nas crianças de amanhã.
A brincadeira é o trabalho da criança. É a brincar que a criança aprende a ser homem ou mulher e constrói a sua personalidade.
As brincadeiras de hoje não são as brincadeiras de ontem. Nos meus tempos de miúdo, éramos capazes de nos divertir com um simples apito. Com ele, podíamos imitar um pássaro, um polícia ou um árbitro. Dependia da nossa imaginação momentânea e daquilo que nos desse na real gana. Exercitávamos assim a nossa imaginação criadora e praticávamos o exercício da liberdade.
Outras brincadeiras e jogos eram colectivos. Jogávamos aos amalhões, à mosca, à pateira, à roda, ao botão, ao pião, ao berlinde, à bola, etc., etc. Com eles, desenvolvíamos a nossa socialização e reforçávamos o espírito colectivo. E às vezes desentendíamos e jogávamos ao soco uns com os outros e todos levavam no focinho, porque lá diz o rifão: “Quem vai à guerra, dá e leva”. Passado algum tempo, fazíamos as pazes e continuávamos a brincar juntos.
Nas nossas brincadeiras, o que contava era a imaginação sem limites e a arte do desenrasca, em que o português ainda hoje é mestre.
Havia também a ida aos grilos e partidas que se pregavam aos tansos como a “ida aos gambozinos” ou fazer de estribo na “brincadeira do rei coxo”.
Hoje em muitos casos não é assim. São as consolas, os jogos de vídeo, de computador e de telemóvel. Tudo envolvendo jogos que na sua esmagadora maioria foram concebidos para serem praticados individualmente, visando fomentar o individualismo e para programarem e vincularem os seus praticantes, a estereótipos de egoísmo, do salve-se quem puder, do vale tudo, da violência, do terror e do medo. É isso que interessa à sinistra alta finança mundial, que a nível global, controla os governos de cada país.
Não lhes interessa que haja cidadãos que se possam sentir homens livres, criativos, com carácter, com coragem, amantes da Paz, solidários com o próximo, com respeito pelo colectivo, que reconheçam o valor do esforço, do trabalho e do mérito. Isso para eles é subversivo. Para eles, interessa-lhes que em criança, os cidadãos sejam programados de maneira diferente.
Interessa-lhes cidadãos dóceis, submissos, governados pelo medo, obedientes, egoístas, sem respeito pelo colectivo e que aceitem acefalamente a violência e a guerra.
Nos meus tempos de miúdo, para além das brincadeiras de rapazes e tanto quanto me permite a memória dos tempos idos, sempre tive gosto por colecções, entre elas, botões, cromos, moedas, selos, postais, panfletos publicitários e mais tarde, aí pelos 12 anos, livros.
A estas colecções vieram-se juntar outras, mas as colecções primitivas ainda hoje perduram. Entre elas, as colecções de cromos montadas nas respectivas cadernetas, como é o caso das RAÇAS HUMANAS, da HISTÓRIA DE PORTUGAL, da HISTÓRIA NATURAL e dos TRAJES TÍPICOS DE TODO O MUNDO, entre eles os de Portugal.
As cadernetas de cromos constituíam a nossa iniciação à leitura e à literatura, a nossa primeira abordagem à História de Portugal, a nossa partida à descoberta do mundo, de outros povos e de outros costumes.
Decerto que foi com a caderneta dos TRAJES TÍPICOS DE TODO O MUNDO, que eu fiquei fascinado pela Etnografia, antes de saber que entre nós, Garrett tinha sido o percursor, Leite de Vasconcellos o fundador e Luís Chaves e outros mais, os continuadores.
As cadernetas de cromos, foram as minhas pastilhas de Cultura. Foram o meu software, antes de terem inventado as consolas electrónicas que programam e condicionam o divertimento, assim como a raça maldita dos Magalhães, que põem os putos convencidos que fazer um trabalho de pesquisa, não é mais que uma mera operação de corte e colagem.
Não trocava uma caderneta de cromos por 10 Magalhães, nem sequer o meu talego de botões (com mirôlas e chapéuzinhos de chumbo) por consolas.
Nos meus tempos de miúdo, as meninas, salvo alguma Maria Rapaz, que as havia e algumas delas encantadoras, brincavam às donas de casa, passando a ferro, fazendo jantarinhos e dando banho e biberão aos bonecos.
Hoje, reconheço que o sistema estava montado para gerar diferença de género e havia coisas que, apesar de puto, eu tinha a noção que não deveriam ser assim.
É preciso que os pais e educadores tenham cada vez mais consciência destes problemas e se empenhem em dar a volta ao que está errado, para que a formação daqueles que serão os homens e mulheres de amanhã, se possa efectuar sem desvios nem distorções.
Torna-se necessário retomar jogos e brincadeiras antigas, algumas das quais têm milhares de anos e adoptar outras novas, que ajudem a formar homens e mulheres de carácter, livres, verdadeiros, justos e solidários. Essa é uma revolução permanente que temos de tomar nas nossas mãos. É a nossa grande batalha pela cidadania. E havemos de vencer, porque quem não se rende, vence sempre. De resto, o registo das memórias passadas é o melhor investimento cultural que podemos legar aos nossos netos.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 26 de Agosto de 2011

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A menina quer bailar?




Esta é a 2ª edição do post A MENINA QUER DANÇAR?,
editado em 20 de Fevereiro de 2010, agora revisto, reformulado e ampliado,
com a introdução de mais vinte quadras do cancioneiro popular alentejano,
ligadas à temática do baile popular, assim como três provérbios desse tema e
mais duas referências bibliográficas. Quanto ao título, ele próprio foi reformulado.


Nos bailes populares alentejanos dos finais do séc. XIX – princípios do séc. XX, era sacramental a pergunta endereçada pelo rapaz, à moça que lhe enchera as medidas:
- A menina quer bailar?
A resposta, podia assumir a forma dum rotundo “Não!”, tradicionalmente conhecido por “cabaço”. Mas a resposta podia igualmente revestir a forma dum rasgado sorriso, acompanhado dum entregar de corpo, às mãos e braços do varão inquiridor, que conduziria a moça durante o baile.
Eles bailavam de chapeirão, de bota cardada e calças com boca-de-sino. Elas, de saia a rasar o chão, o que levava alguns rapazes a confessar que:

"Toda a vida me agradou
Moça de saia rasteira,
Porque pranta o pé no chão
Devagar, não faz poeira." [3]

Todavia, os rapazes não gostavam que as moças dançassem de socos:

“Os sóccos para dançar
Fazem mui ruim effêto,
Ainda que as damas usem
Ricas jóias em sê pêto. ” [3]

No descanso, dava para eles enrolarem um paivante e tirar umas quantas fumaças, que isso de ser homem dá para fumar. E é sempre bom levar o varapau, que o diabo às vezes assume a forma de maltês. Também dava para elas comporem as saias à cinta, aperaltar os colares e compor os carrapitos.
Como vêem existia uma grande diferença de género.
Eu tenho uma certa pena das moças, porque os aprestos dos homens deviam ser algo incómodos, a menos que eles fossem ágeis e cuidadosos. De contrário, dançar de botifarras, devia dar para pregar cada pisadela que fervia. Uma botas alentejanas que se prezem, não são propriamente uns sapatos à Fred Astaire.
Também o chapeirão devia ser uma grande chatice, a menos que a moça fosse mais baixa.
Se a moça fosse mais alta, o chapeirão batia-lhe no peito e mantinha as distâncias, o que convenhamos era um grandessíssimo inconveniente para o homem.
Se a moça fosse da mesma altura, o chapeirão devia estar sempre a embirrar com a cabeça dela, a menos que dançassem de cabecinha ao lado, correndo o risco de dar um jeito ao pescoço. E o dinheiro que sobrara da romaria já não dava para ir ao endireita.
Um dos locais mais afamados para bailar no Alentejo, era o terreiro das Festas de S. Mateus, em Elvas:

“Eu também já fui à festa
e fiz promessas a deus
de cá voltar outra vez
a dançar no São Mateus.” [2]

Os bailes populares eram abrilhantados por tocadores de viola ou de acordeão, que eram também cantadores.
O bailar chegava a ser apontado como recomendação divina:

“Deus do céu mandou à terra
Um aviso à mocidade,
Que cantassem e bailassem,
Divertissem-se à vontade.” [1] (Amareleja)

A maioria dos rapazes gostava de bailar e versejar:

“Canto saias, bailo saias,
Eu saias ando bailando,
Gosto de bailar as saias
Com quem as andas trajando.” [3]

Alguns indicavam minuciosamente, as características a que devia obedecer o baile:

“O bailar quer-se mexido,
Puladinho e bem cantado,
Quer-se alegre e chegadinho
Ao par que levo ao meu lado.” [1] (Beja)

Bailar bem, era uma virtude a que os rapazes aspiravam:

“Quatro coisas ha no mundo
Que eu desejava apprender:
Cantar bem, tocar viola,
Báilhar bem e saber ler.” [3]

Algumas das moças seriam vaidosas. Pelo menos, era essa a opinião de alguns dos rapazes:

“Estas meninas d’gora
São bonitas, bailam bem;
Mas em tendo um fato novo,
Já não falam a ninguém.” [3]

Algumas moças recusar-se-iam mesmo a bailar:

“Menina que é cabaceira,
Tantos cabaços tem dado,
Veja lá se tem algum
Também para mim guardado.” [3]

Por vezes, a rapariga não sabia dançar:

“Oh! Que pernas, oh! que boca,
Henriqueta, vossê tem!
P´ra que quer vossê as pernas,
Se vossê não dança bem?” [3]

Havia rapazes que sabendo cantar e bailar, não percebiam porque é que as raparigas não gostavam deles:

“Tu dizes que não me queres,
Meu amor diz-me porquê,
Eu sei cantar e bailar,
E rir e falar tambem.” [3]

Havia rapazes que lamentavam não saber cantar tão bem, quanto sabiam versejar:

“S’eu soubesse cantar bem,
Como sei fazer cantigas,
Andava de bàlho em bàlho
Divertindo as raparigas.” [1] (Aljustrel)

Quando faltavam raparigas no baile, havia rapazes que procuravam desfazer os pares, originando frequentes zaragatas:

“Camarada, dá licença,
Um bocadinho, faz favor?
Quero dar palavra e meia
Ó seu par, que é meu amor.” [3]

Alguns rapazes faziam do cantar e tocar nos bailes, o seu ganha-pão:

“A cantar e a bailar
É que o meu bem ganha pão,
De viola a tiracolle
E panderêta na mão.” [3]

Havia quem exteriorizasse a sua liberdade de poder cantar e bailar:

“Inda canto, inda bailo.
Inda cá não ha tristeza,
Inda cá não ha quem tenha
Minha liberdade presa.” [3]

Havia mulheres que desejavam ficar sem o marido, a fim de poderem cantar e bailar, tal como em solteiras:

“Já não canto, já não bailo,
Que não quer o meu marido,
Deixem-no ir embora,
Restaurarei o perdido.” [3]

Havia quem, talvez por despeito de não ter par, considerasse que quem estava a bailar, não tinha dinheiro:

“Dos pares que andam bailando
Ali no meio do terreiro,
Não se me dá de apostar:
Nenhum d’elles tem dinheiro.” [3]

Havia quem, por estar triste, desejasse que os pares a bailar, caíssem, a fim de se divertir:

“Os pares que andam bailando,
Quem m’os dera ver cair!
Tenho o meu coração triste,
Q’ria fartar-me de rir.” [3]

Os rapazes reconheciam que, bailar de empreitada, dava cabo deles:

“Não é o cantar que dá
Cabo da rapaziada;
É o muito andar de noite
E o bàlhar de empreitada.” [1] (Odemira)

Enquanto houvesse cantadores, havia baile:

“Eu vejo o baile acabado
À falta de cantadores:
Agora começo eu,
Com licença, meus senhores.” [3]

Uma coisa é certa: nem todos os homens gostavam de bailar:

“Para bailar doe-me um dente,
Para cantar uma perna,
Onde tenho algum alívio
É à porta da taberna.” [3]

Alguns homens, por questões anatómicas, dançariam mesmo mal. Lá diz o rifão: "Barrigudo não dança, só sacode a pança". Todavia, também por questões anatómicas, ainda hoje persiste a crença de que: “Homem pequenino, ou velhaco ou dançarino”. De resto, o rifão “Assim como cantares, assim dançarás", talvez possa significar que “Se tiveres voz de cana rachada, então terás, decerto, pé de chumbo”.
Era este o contexto sociológico e lúdico dos bailes populares, nas feiras, festas e romarias do Alentejo, de finais do séc. XIX – inícios do séc. XX.

BIBLIOGRAFIA
[1] – DELGADO, Manuel Joaquim Delgado. Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo. Vol. I. Instituto Nacional de Investigação Científica. Lisboa, 1980.
[2] - SANTOS, Victor. Cancioneiro Alentejano. Livraria Portugal. Lisboa, 1959.
[3] - THOMAZ PIRES, António. Cantos Populares Portugueses. Vol. IV. Typographia e Stereotypia Progresso. Elvas, 1910.

Inicialmente publicado a 17 de Agosto de 2011