quarta-feira, 25 de maio de 2011

A caça aos grilos - 3ª edição


Caça aos grilos (1891). pintura a óleo de Manuel Henrique Pinto (1853-1912).

Esta é a 3ª edição do texto, cuja 1ª edição é de 21 de Fevereiro de 2010,
a que se seguiu uma 2ª edição a 29 de Janeiro de 2011. Novamente foi
ampliado com múltiplas  referências de literatura oral: adagiário
português (1),  superstições populares (2), cancioneiro popular (6), gíria
portuguesa (16), toponímia (1)  jogos populares infantis (1). Foram
igualmente  adicionadas, mais dez  referências bibliográficas.
 
EU E OS GRILOS
Íamos apanhar grilos cuja toca localizávamos pelo som. Feito isto, o grilo estava perdido. Obrigávamo-lo a sair à força com uma palhinha que metíamos na toca. Porém, se não saía a bem, saía a mal. Para grandes males, grandes remédios. Víamo-nos então forçados a dar uma mijadela na toca, o que tinha o condão de persuadir o grilo a sair. Apanhávamo-lo depois com as mãos postas em concha e metíamo-lo numa caixa de fósforos das grandes, nas quais previamente tínhamos feito uns pequenos respiradouros, não fosse o caso de o bicho, salvo da morte por afogamento, viesse a morrer de asfixia. Depois, já em casa, o grilo era metido numa gaiola, havendo as feitas só de cana e as de arame e cortiça ou de arame e madeira.
Alimentávamos o grilo com folhas de serralha ou de alface, que íamos renovando para o “cantor” ter permanentemente alimentação fresca.
Os grilos que cantavam bem eram chamados de “realistas”.
As gaiolas estavam geralmente junto às janelas.
Tivemos conhecimento que, por vezes, os trabalhadores rurais prendiam na camisa uma gaiola de “bunho” com um grilo lá dentro, que cantava para eles o dia inteiro.

OS GRILOS NA LITERATURA ORAL
A caça aos grilos era uma traquinice dos putos da minha laia e da minha geração. Decorridos mais de cinquenta anos sobre a última mijadela numa toca, resta a saudade dos tempos que já lá vão. Esta, aliada à memória dos nossos ancestrais, tornou-me arqueólogo da oralidade com a missão explícita de escavar os múltiplos géneros da nossa literatura popular. Daí que tenha registado a presença dos grilos no adagiário português:
-  "Anda a raposa aos grilos.“
- “Fazer punhetas a grilos.”
- “Fica melhor a mulher no seu lar, ouvindo o grilo cantar.“
- “Infeliz da raposa que anda aos grilos.“
- “Mal vai a raposa quando anda aos grilos e ao juiz quando vai à forca.“
- “Mal vai a raposa quando anda aos grilos e pior quando anda aos ovos.“
- “Mal vai a raposa quando anda aos grilos.” [21]
- ”Quando a raposa anda aos grilos, a mulher dama fia e o escrivão não sabe quantos são do mês, mal deles três.“
- “Quando a raposa anda aos grilos, mal da mãe, pior dos filhos.“
- “Quando a raposa anda aos grilos, vai mal para a mãe e pior para os filhos.“
- “Quando o grilo grilar, está a seara a aloirar.“
- “Se queres um grilo, vai pari-lo.“
- “Tomai a sorte do grilo, que é comer e cantar.“
Os grilos foram objecto de superstições populares. São conhecidas as seguintes:
- Na Beira Alta, os aldeãos apreciavam muito o canto dos grilos nas pilheiras das cozinhas, encarando-o como um prenúncio de fortuna para os residentes. [12]
- Nas feiras da Lixa e de Penafiel, vendiam-se outrora, canudos com um grilo lá dentro. Havia a crença de que quem metesse o dedo mindinho num dos orifícios do canudo e consentisse que o grilo lhe sugasse uma gota de sangue, ficava rico. O grilo era o Diabo. Por isso, quando alguém se referira a uma pessoa rica, dizia: “Aquele tem grilo em casa”. [6]
Os grilos estão igualmente presentes no cancioneiro popular. Sobre o canto do grilo dizia-se na Feira:

“Agora cantam os grilos,
É sinal de tempo quente.
Adeus, amor de algum dia,
Já que não foste p’ra sempre.” [12]

No Alentejo com muito humor diziam:

“Já degradaram o grillo
Para o campo da manobra,
Por dar uma navalhada
Na barriga d’uma cobra.” [18]

Em Guimarães, os rapazes quando esgaravatavam a toca com uma palhinha, diziam:

“Sai grilinho,
Sai grilão,
Que lá vem
O S. João.” [12]

Uma variante era:

“Sai grilinho,
Sai grilão,
Que andam os porcos
No teu lameirão.” [12]

Em Vouzela, os rapazes empunhavam, por vezes, uma lumieira de palha a arder ou até mesmo uma candeia, que chegavam à entrada da toca, proclamando então:

“Grilo, grilinho
Sai do buraquinho.” [12]

A presença dos grilos no reportório das adivinhas portuguesas é vasto e na maioria delas, a solução é obviamente: “Grilo”. As adivinhas têm, geralmente a ver com o canto deste ortóptero:

“Eu canto ao desafio
Como a cigarra no Verão.
Gosto muito de alfaces
E não trabalho ao serão.” [17]

Eis outra:

“Seja de noite ou de dia
um pequeno bailarino
oferece serenatas
sem guitarra ou violino.” [2]

Mais uma:

“Lá no deserto onde vivo
Me vão buscar da cidade.
Nascendo em dias grandes
É mui curta a minha idade.

Cantar sem abrir a boca
É o meu divertimento.
Como leigo que sou
Pertenço a certo convento.

Dão-me uma pequena cela
Onde só posso habitar,
E uma ração em cru
Até na cela acabar.” [10]

E ainda outra:

“Não sou frade, nem sou monge,
Nem sou de nenhum convento;
Meu fato é de franciscano,
E só de ervas me sustento.” [13]

Nas duas adivinhas anteriores há uma alusão ao Convento de S. Lourenço, no Porto, popularmente conhecido por Convento dos Grilos. Grilos foi a designação atribuída aos frades descalços da Ordem de Santo Agostinho, que vieram de Espanha em 1663, instalando-se inicialmente em Lisboa, no sitio do Grilo, onde rapidamente conquistaram a amizade da população, que os passou a designar por frades grilos, em virtude do hábito negro.
As adivinhas anteriores referiam-se apenas ao grilo, mas podem ser respeitantes a mais que um animal, como acontece nesta:

“Quem é quem é
Que canta
Sem ser com a garganta?” [4]

A solução agora é “A cigarra e o grilo”.

A adivinha pode, de resto, envolver aparentemente cálculo mental:

“Bão três grilos p’la estrada fora.
Vem um carro mata um.
Quantos ficam?” [16].

Naturalmente que a solução é: “Ficou aquele que morreu. Os outros andaram sempre.”
No âmbito das alcunhas alentejanas são conhecidas as seguintes
GRILA - A receptora, em criança, andava sempre aos pulos (Barrancos). [20]
GRILA ESPANHOLA – Alcunha outorgada a um individuo que fala muito e é espanholado (Elvas). [20]
GRILO – Designação atribuída a um indivíduo que gosta muito de cantar (Odemira, Portel, Viana do Alentejo, Santiago do Cacém, Almodôvar, Serpa e Grândola). [20]
GRILO – o alcunhado herdou a alcunha da mãe (Borba). [20]
GRILO – O receptor, em criança, tinha o hábito de apanhar grilos (Cuba e Santiago do Cacém). [20]
GRILO – O visado, em criança, sempre que via uma gaiola com grilos à porta de alguém, começava a logo a assobiar (Moura). [20]
GRILO – Os visados são de baixa estatura e muito cantadores (Alandroal). [20]
A nível de gíria portuguesa são conhecidos os termos:
“Andar aos grilos como a raposa = Ser muito pobre = Não ter com que viver” [1]
“Cebo de grilo = Excrementos” [15]
“Encangar grilos = Estar desocupado = Não ter trabalho” [22]
“Fazer ratos na grila = reflectir a luz solar com um espelho, fazendo-a incidir sobre os olhos” [8]
“Frade grilo = Frade que pertence á Ordem dos Agostinhos Descalços” [1]
“Grila = Mentirola = Peta”(Portel – Alentejo) [8]
“Grila = Órgão sexual do homem” (Alto-Douro) [8]
“Grila = Ponta de Cigarro = Pirisca” [19] [11]
“Grila = Vulva da mulher” (Chulos) [8]
“Grilada = Bolsos laterais do casaco ou das calças” [11]
“Grilada = Ordem dos frades grilos” [8]
“Grilo = Fraque” [9]
“Grilo = Jogo popular infantil” [8]
“Grilo = Órgão sexual masculino, especialmente das crianças” [23]
“Grilo = Pénis de criança” [1]
“Grilo = Relógio = Apito” [3]
“Grilo = Telefone = Relógio de bolso = Coração” [19] [15]
“Memória de grilo = Memória de pessoa muito esquecida” [22]
“Vir com os grilos = Estar bêbado” [9]
Finalmente, no sector da toponímia são de assinalar os seguintes topónimos:
- “GRILA – Lugar da freguesia de S. Pedro, concelho da Covilhã.“ [7]
- “GRILO – Freguesia do concelho de Baião.“ [7]
- “GRILO – Freguesia do concelho e concelho de Baião, do Bispado do Porto, tendo S. João Baptista por Orago.” [14], [8]
- “GRILO – Lugar da freguesia de Fornos, concelho de Castelo de Paiva.“ [7]
- “GRILO – Lugar da freguesia de S. Vicente do Paul, concelho de Santarém.“ [7]
- “GRILO – Lugar da freguesia de Vale de Figueira, concelho de Santarém.“ [7]
- “GRILOS - Lugar da freguesia Arazede, concelho de Montemor-o-Velho.“ [7]
Entre os jogos populares infantis, existe um jogo, conhecido por “Jogo do grilo”, que envolve rimas infantis e que é jogado assim:
Uma criança pede a outra, que está à frente de uma fila indiana:
— Dá-me um grilo?”
Esta, responde-lhe:
— “Vá lá atrás pedi-lo.”
— “Se o pilhar ou não
Meta a mão no caldeirão.”
O primeiro corre então rapidamente para o fim da coluna e procura agarrar o último, que por sua vez tenta alcançar a posição dianteira. Se este o conseguir, o jogo reinicia com o mesmo jogador a pedir o grilo. Porém, se for agarrado é ele que tem de pedir o grilo, enquanto que o perseguidor passa para o último lugar. O jogo que deve ser praticado com rapidez, termina quando o que inicialmente era o último, chegar a primeiro. [5]

A TERMINAR
Só os grilos machos produzem sons, o que fazem visando atrair as fêmeas para a reprodução. Para o efeito, possuem uma série de pelos nas bordas das asas, alinhados como pentes, produzindo sons quando roçam uma asa contra a outra. O som emitido tem a frequência de 4 as 5 KHz e pode ser ouvido a quilómetro e meio de distância.
Em muitos países como Portugal, o grilo sempre foi considerado como animal de estimação, sendo mantido em cativeiro dentro de gaiolas, pelo que como param de cantar quando alguérm se aproxima, funcionam como detectores de ladrões.
A Bíblia contém referências ao grilo:
- “Poderão comer toda espécie de gafanhotos e grilos.” [Levítico 11:22]
- “Aí o fogo te devorará, a espada te exterminará; ela te devorará como o gafanhoto, ainda que fosses numeroso como o gafanhoto, e te multiplicasses como o grilo.” [Naum 3:15]
Nalguns países, os grilos são criados em larga escala para serem vendidos como alimento vivo e serem usados como isca em pescarias ou consumido como iguaria em restaurantes exóticos. Pela nossa parte, habituados à excelência da gastronomia alentejana, dispensamos tais iguarias e preferimos ouvir cantar os grilos nos campos e em liberdade, o que é cada vez mais difícil, dado o uso intensivo de pesticidas e herbicidas. A vida está cada vez mais difícil no planeta Terra, mesmo para os grilos.

BIBLIOGRAFIA
[1] – ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. I Volume. Editorial Verbo. Lisboa, 2001.
[2] - ARTMUSICA .
[3] - BESSA, Alberto. A Gíria Portugueza. Gomes de Carvalho- Editor. Lisboa, 1901.
[4] – CARDOSO, Fernando. Novíssimas Flores para Crianças. Editora Portugal Mundo. Lisboa.
[5] - COELHO, Adolfo. Jogos e Rimas Infantis. Magalhães e Moniz Editores. Porto, 1883.
[6] - CONSIGLIERI PEDROSO, “Supertições Populares”, O Positivismo: revista de Filosofia, Vol. III, 1882. Porto, 1882.
[7] – FRAZÃO, A. C. Amaral. Novo Dicionário Corográfico de Portugal. Editorial Domingos Barreira. Porto, 1981.
[8] – GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Vol. 12. Editorial Enciclopédia, Limitada. Lisboa, s/d.
[9] - GRANDE DICIONÁRIO. Porto Editora. Porto, 2004.
[10] - GUERREIRO, M. Viegas. Adivinhas Portuguesas. Fundação Nacional Para A Alegria No Trabalho. Lisboa, 1957.
[11] – LAPA. Albino. Dicionário de Calão. Edição do Autor. Lisboa, 1959.
[12] – LEITE DE VASCONCELLOS, José. Tradições Populares de Portugal. Livraria Portuense de Clavel e C.ª – Editores. Porto, 1882.
[13] - LIMA, Fernando de Castro Pires de. Qual é a coisa qual é ela? Portugália Editora. Lisboa, 1957.
[14] - NIZA, Paulo Dias de. Portugal Sacro-Profano. Parte I. Oficina de Miguel Manescal da Costa. Lisboa, 1767.
[15] - NOBRE, Eduardo. Dicionário de Calão. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1986.
[16] – PEREIRA, Maria Pereira (“Maria Carpinteira”), 62 anos, Daivões.
[17] – PEQUENOS MIRANDESES.
[18] - PIRES, A. Tomaz. Cantos Populares Portuguezes. Vol. IV. Typographia e Stereotipía Progresso. Elvas, 1912.
[19] - PRAÇA, Afonso. Novo Dicionário de Calão. Editorial Notícias. Lisboa, 2001.
[20] – RAMOS, Francisco Martins e SILVA, Carlos Alberto da. Tratado das Alcunhas Alentejanas. 2ª edição. Edições Colibri. Lisboa, 2003.
[21] - ROLAND, Francisco. ADAGIOS, PROVERBIOS, RIFÃOS E ANEXINS DA LINGUA PORTUGUEZA. Tirados dos melhores Autores Nacionais, e recopilados por ordem Alfabética por F.R.I.L.E.L. Typographia Rollandiana. Lisboa, 1841.
[22] - SANTOS, António Nogueira. Novos dicionários de expressões idiomáticas. Edições João Sá da Costa. Lisboa, 1990.
[23] – SILVA, António de Morais. Novo Dicionário Compacto da Língua Portuguesa. Vol. V. 4ª edição. Editorial Confluência. Mem Martins, 1988.
[24] - SIMÕES, Guilherme Augusto. Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1993.

     Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 25 de Maio de 2011
O presente texto integra o meu livro "Memórias do Tempo da Outra Senhora"


Gaiola paras grilos, feita de cana, cortiça e cordão (Colecção do autor).


Gaiolas de bunho, cana e arame (Colecção de Manuela Mendes).

Querem ver um grilo em liberdade?
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sábado, 21 de maio de 2011

Adágios para a semana

JOÃO  SEMANA - Ilustração de Alfredo Roque Gameiro  (1864-1935)
para o romance "As Pupilas do Senhor Reitor", publicado em 1867,
por Júlio Dinis (1839-1871).

A semana (do latim septimana = sete manhãs) é um período de tempo de sete dias sucessivos.
Na língua portuguesa, os dias da semana têm denominações baseadas na liturgia católica, por iniciativa de Martinho de Dume (518-579), bispo de Braga e de Dume, canonizado pela Igreja Católica e figura de proa da História Ca cultura e da Língua Portuguesas
Martinho considerava impróprio de bons cristãos continuar a designar os dias da semana pelos nomes latinos pagãos de Lunae dies, Martis dies, Mercurii dies, Jovis dies, Veneris dies, Saturni dies e Solis dies. Daí ter introduzido a terminologia litúrgica para os designar (Feria secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta, Feria sexta, Sabbatum, Dominica Dies), donde as designações actuais em língua portuguesa (Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira, Sábado e Domingo).
Devido á sua formação cristã, o povo aceitou de bom grado as novas designações e a partir daí perpetuou-as nos adágios que a sua criatividade foi gerando ao logo dos tempos. Eis alguns desses adágios:

SEGUNDA-FEIRA
- ”Não há domingo sem missa, nem segunda-feira sem preguiça.”
TERÇA-FEIRA
- ”Às terças e sextas-feiras não cases os filhos, nem urdes a teia.”
QUARTA-FEIRA
- ”Quem promete à quarta e vem à quinta, não faz falta que sinta.”
QUINTA-FEIRA
- ”Não há semana sem quinta-feira.”
SEXTA-FEIRA
- ”A sexta-feira arremeda o domingo.”
SÁBADO
- ”Não há sábado sem sol, nem noiva sem lençol.”
DOMINGO
- ”Quem à semana bem parece, ao domingo aborrece.”

Mais adágios existem, mas propositadamente não quisemos ser exaustivos. A nossa finalidade era, mais uma vez e só apenas essa, mostrar a importância da via popular e da literatura oral na consolidação da língua portuguesa, um dos vectores mais importantes, se não o mais importante, da nossa identidade cultural.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O sentido da visão: Alcunhas Alentejanas e Toponímia

São belos os olhos de mulher, que na vastidão da charneca alentejana invocam a vastidão do mar e a sede de infinitos. Ilustração de Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957) para o livro “Alentejo não tem sombra” de Eduardo Teófilo, Portugália Editora, 1954.

PREÂMBULO
No desenvolvimento do tema “O sentido da visão” ; efectuámos até á presente data edição dos posts:
Chegou agora a altura de editar o post:
- O sentido da visão: Alcunhas Alentejanas e Toponímia
Comecemos pelas:
ALCUNHAS ALENTEJANAS
No âmbito das alcunhas alentejanas, o sentido da visão está amplamente representado através de diversos termos e seus derivados, assim contabilizados: cego (1), luz (3), olho (32), vista (2) e zarolho (2):
- CEGO (A) – Alcunha outorgada a quem, ao andar, está sempre a encalhar com as coisas e parece que não vê (Montemor-o-Novo).
- LUZEIR0 – Na época em que surgiu o jornal local “Luzeiro”, o visado informava os colegas de tudo (Barrancos).
- LUZINHA (Barrancos).
- LUZIRAS – O receptor viveu num monte com este nome (Grândola).
- OLHA GALINHAS - O visado recebeu esta alcunha porque trabalhava para uma patroa que todos os dias o mandava "olhar as galinhas a ver se tinham ovos" (Portalegre).
- OLHICO - A visada adquiriu esta alcunha porque tinha um olho de vidro (Beja e Moura).
- OLHINHO AZUL - O receptor, quando era bebé, era posto ao colo da mãe, que dizia: "Ai meu olhinho azul! Ai meu olhinho azul!" (Aljustrel).
- OLHINHO DE BOGA - O alcunhado tem este nome porque tem os olhos saídos para fora (Arraiolos); designação atribuída a indivíduo que tem muita falta de vista (Mértola); designação atribuída a quem tem "olhos de peixe" (Campo Maior).
- OLHINHO DE CALIÇO (Moura).
- OLHINHO DE CESIRÃO (Portel).
- OLHINHO DE GAIO (Vidigueira).
- OLHINHO DE GALO (Campo Maior).
- OLHINHO DE PANO CRU - O visado ganhou esta denominação porque tem os olhos muito pequenos (Vidigueira).
- OLHINHO DE PREGADEIRA - Epíteto aplicado a um sujeito que tem um olho mais pequeno do que o outro (Santiago do Cacém).
- OLHINHO DE SOL (Castro Verde).
- OLHINHO DE VIDRO - O nomeado ficou com este cognome porque tem os olhos muito azuis (Redondo).
- OLHINHOS - Alcunha outorgada a um indivíduo que usa uns óculos muito graduados (Grândola); sobrenome atribuído a mulher que só usa blusas com bolinhas (Almodôvar); o visado tem os olhos muito grandes (Elvas, Redondo).
- OLHINHOS DE RATO – Cognome conferido a um sujeito que tem os olhos muito pequenos (Aljustrel).
- OLHO À GATA - Epíteto atribuído a um indivíduo que tem os olhos azuis (Serpa).
- OLHO AZUL - Designação conferida a um indivíduo que tem um olho azul e outro castanho (Aljustrel); o visado tem os olhos azuis (Castro Verde, Grândola, Moura e Portel).
- OLHO CEGO - O alcunhado adquiriu esta alcunha porque ficou com um olho inutilizado, quando caiu em cima de arame farpado (Nisa).
- OLHO DE BOGA - O visado recebeu esta alcunha porque acham que tem os olhos salientes (Aljustrel). OLHO DE BOI - O alcunhado tem os olhos grandes e a mulher foi-lhe infiel (Alcácer do Sal); sujeito que tem os olhos muito grandes (Ferreira do Alentejo, Montemor-o-Novo e Reguengos de Monsaraz).
- OLHO DE CHITA - Denominação outorgada a um indivíduo que tinha um olho azul e outro castanho (Castelo de Vide).
- OLHO DE LATA - O visado adquiriu esta denominação porque tem os olhos muito azuis (Moura).
- OLHO DE MEIO QUILO - Designação atribuída a um indivíduo que tinha os olhos tão grandes, que até assustavam as crianças (Moura).
- OLHO DE POLVO - Sobrenome outorgado a um homem que tem um olho todo branco (Sines).
- OLHO DE PORCO - (Alter do Chão).
- OLHO DE SOLA - Epíteto atribuído a um indivíduo que era sapateiro (Aljustrel).
- OLHO DE VIDRO - O nomeado ficou com esta alcunha porque tinha um olho artificial (Elvas e Évora).
- OLHO VIVO - Alcunha atribuída a um sujeito parecido com um personagem da série televisiva homónima (Aljustrel).
- OLHOS - Cognome atribuído a um sujeito que tem os olhos muito grandes (Beja).
- OLHOS DE BRUNHO - Alcunha conferida a um indivíduo que tinha os olhos muito grandes e muito abertos (Moura).
- OLHOS DE GATO - O visado recebeu esta denominação porque tem os olhos verdes (Santiago do Cacém).
- OLHOS DE RÃ – Designação atribuída a um indivíduo que tem os olhos pequenos (Aljustrel).
- OLHUDO - O visado tem os olhos muito grandes. (Aljustrel).
- VISTA CURTA – Designação atribuída a sujeito que é míope (Santiago de Cacém).
- VISTAS (Serpa).
- ZAROLHA – A alcunhada é cega de um olho (Ourique).
- ZAROLHO (A) – O visado é homem ou mulher que tem a vista torta (Évora, Grândola, Mértola, Odemira, Ourique, Santiago de Cacém, Avis e Campo Maior).
TOPONÍMIA
A nível da toponímia, o sentido da visão está avantajadamente representado através de múltiplos termos e seus derivados, os quais integram topónimos de cidades, freguesias, lugares, nascentes de água e bairros, com a seguinte distribuição:
- OLHO: cidades (1), freguesias (3), lugares (17), nascentes (2);
- VISTA: freguesias (1), lugares (208);
- LUZ: freguesias (5), aldeias (1), lugares (10);
- CEGO: bairros (1);
Observou-se um pico, extraordinariamente elevado, no âmbito do termo “BOAVISTA”, englobado em “VISTA” e inserido na classificação “LUGARES”.
Em todas as considerações de toponímia que se seguem, o topónimo inserido num parêntesis curvo é concelho e o que o antecede, é a freguesia. Os topónimos foram por nós, assim hierarquizados:
CIDADES
- OLHÃO — Cidade, sede de concelho, de comarca e de freguesia. Distrito de Faro.
FREGUESIAS
- BOAVISTA - Freguesia do concelho de Leiria.
- LUZ – Freguesia do concelho de Lagos.
- LUZ – Freguesia do concelho de Mourão.
- LUZ – Freguesia do concelho de Tavira.
- LUZINDE - Freguesia do concelho de Penalva do Castelo.
- LUZIO - Freguesia do concelho de Monção.
- OLHALVO - Freguesia do concelho de Alenquer.
- OLHO MARINHO – Freguesia do Concelho de Óbidos.
- OLHOS DE ÁGUA – Freguesia do concelho de Albufeira.
ALDEIAS
ALDEIA DA LUZ - Concelho de Mourão.
LUGARES
- BELA VISTA - Águas Belas (Ferreira do Zêzere), Ribeira de Pena (Ribeira de Pena), Este (Braga), S. Pedro da Cova (Gondomar).
- BOAVISTA - A dos Cunhados (Torres Vedras), Águas Belas (Ferreira do Zêzere), Ajude (Póvoa de Lanhoso), Aldreu (Barcelos), Alegrete (Portalegre), Almargem do Bispo (Sintra), Alterco (Monchique), Alvarenga (Arouca), Alvorninha (Caldas da Rainha), Ancede( Baião), Arcozelo (Ponte de Lima), Arcozelo (Vila Nova de Gaia), Aregos – S.Romão (Resende), Arouca (Arouca), Ataíde (Amarante), Avis (Avis), Banho e Carvalhos (Marco de Canaveses), Barbudo (Vila Verde), Barro (Resende), Barrosas - Santa Eulália (Lousada), Barrosas - Santo Estevão (Lousada), Beire (Paredes), Benedita (Alcobaça), Besteiros (Paredes), Bitarães (Paredes), Caíde de Rei (Lousada), Capelo (Amarante), Carvalhosa (Paços de Ferreira), Ceide – S. Paio (Vila Nova de Famalicão), Celeiros (Braga), Cercal (Santiago de Cacém), Constance (Marco de Canaveses), Couço (Coruche), Courel (Barcelos), Crato (Crato), Crespos (Braga), Cruz (Vila Nova de Famalicão), Cumieira (Penela), Esmeriz (Vila Nova de Famalicão), Esmoriz (Ovar), Espargo (Feira), Esperança (Arronches), Este – S. Mamede (Braga), Ferreiros (Braga), Ferreiros de Avões (Lamego), Figueira (Paços de Ferreira), Folhada (Marco de Canaveses), Formaria (Paredes de Coura), Fornelos (Barcelos), Fornos (Feira), Fortios (Portalegre), Fradelos (Vila Nova de Famalicão), Fraião (Braga), Frazão (Paços de Ferreira), Freamunde (Paços de Ferreira), Frezim (Amarante), Galveias (Ponte de Sor), Gandarela (Guimarães), Gémeos (Celorico de Basto), Geraz do Lima - Santa Leocadia (Viana do Castelo), Geraz do Lima - Santa Maria (Viana do Castelo), Gestacô (Baião), Góis (Góis), Gomes Aires (Almodôvar), Gonçalo (Guarda), Gondalães (Paredes), Gondar (Guimarães), Gondarém (Vila Nova de Cerveira), Gondomar (Guimarães), Grijó (Vila Nova de Gaia), Gualtar (Braga), Idães (Felgueiras), Insalde(Paredes de Coura), Jazente(Amarante), Lanhas (Vila Verde), Lavos (Figueira da Foz), Longos (Guimarães), Lordelo (Guimarães), Louredo (Vieira do Minho), Macieira da Lixa (Felgueiras), Maiorga (Alcobaça), Marinha Grande (Marinha Grande), Maureles (Marco de Canaveses), Mazedo (Monção), Medrões (Santa Marta de Penaguião), Melrea (Gondomar), Mesâo Frio (Guimarães), Milharado (Mafra), Mire de Tibães (Braga), Modelos (Paços de Ferreira), Mogege (Vila Nova de Famalicão), Mora (Mora), Negrelos – S. Mamede (Santo Tirso), Nespereira (Lousada), Nevogilde (Lousada), Nogueira (Lousada), Odeceixe (Algezur), Oleiros (Ponte da Barca), Oliveira – S. Mateus (Vila Nova de Famalicão), Oliveira - Santa Maria (Vila Nova de Famalicão), Oliveira (Amarante), Oliveira (Barcelos), Oliveira do Douro(Cinfães), Paços (Cabeceiras de Basto), Paços (Fafe), Paços da Ferreira (Paços da Ferreira), Pedreira (Felgueiras), Pedroso (Vila Nova de Gaia), Pencelo (Guimarães), Perosinho (Vila Nova de Gata), Pias (Lousada), Pico de Regalados (Vila Verde), Ponte (Guimarães), Portimão (Portimão), Queijada (Ponte de Lima), Quelfes (Olhão), Rebordões (Santo Tirso), Redinha (Pombal), Regadas (Fafe), Resende (Resende), Riba de Ave (Vila Nova de Famalicão), Ribeirão (Vila Nova de Famalicão), Rio de Moinhos (Borba), Rio de Mouro (Sintra), Rio Tinto (Gondomar), Roliça (Bombarral), Ronfe (Guimarães), Ruivãs (Vila Nova de Famalicão), S. Brás e S. Lourenço (Elvas), S. Cristóvão de Nogueira (Cinfães), S. Luís (Odemira), S. Torcato (Guimarães), Salreu (Estarreja), Sanche (Amarante), Sanguedo (Feira), Santa Catarina da Fonte do Bispo (Tavira), Santa Clara de Louredo (Beja), Santa Eulália (Arouca), Santa Margarida (Lousada), Santa Maria (Lagos), Santa Maria de Sardoura (Castelo de Paiva), Santa Maria do Castelo (Alcácer do Sal), Santa Marinha (Ribeira de Pena), Santiago da Guarda (Ansião), Santiago de Subarrifana (Penafiel), Sequeira (Braga), Sermonde (Vila Nova de Gaia), Sernande (Felgueiras), Serpins (Lousa), Serzedo (Vila Nova da Gaia), Silvares – S. Martinho (Fafe), Silvares (Lousada), Silveira (Torres Vedras), Soalhães (Marco de Canaveses), Sobrado (Castelo de Paiva), Solho – S. Jorge (Guimarães), Sousa (Felgueiras), Sousela (Lousada), Tabaçô (Arcos de Valdevez), Tarouquela (Cinfães), Telões (Amarante), Terroso (Póvoa de Varzim), Torno (Lousada), Valença (Valença), Valongo (Valongo), Várzea (Felgueiras), Varziela (Felgueiras), Vila Caiz (Amarante), Vila Chão do Marão (Amarante), Vila Cova da Lixa (Felgueiras), Vila Fria (Felguetras), Vila Maior (Feira), Vila Marim (Mesão Frio), Vizela – S. Jorge (Felgueiras), Vizela - Santo Adrião (Felgueiras).
- BOAVISTA DA ESTRADA - Arcozelo (Vila Nova de Gaia).
- BOAVISTA DE BAIXO — Aljubarrota - Prazeres (Alcobaça).
- BOAVISTA DE BAIXO — Igreja Nova (Mafra).
- BOA VISTA DE CIMA — Aljubarrota – Prazeres (Alcobaça).
- BOAVISTA DE CIMA — Castelões (Penafiel).
- BOAVISTA DE CIMA — Igreja Nova (Mafra).
- BOAVISTA DO MEIO — Aljubarrota – Prazeres (Alcobaça).
- LUZEIRO - Santo António doa Olivais (Coimbra).
- LUZELAS - Murzagão (Carrazeda de Ansiães).
- LUZELOS - Colmeal (de Castelo Rodrigo).
- LUZENCA - Real (Castelo de Paiva).
- LUZENÇAS - Luzio (Monção).
- LUZENDA DE ALÉM – Góis (Gós).
- LUZES - Ovar (Ovar).
- LUZIANES - Sabóia (Odemira), Santa Maria (Odemira).
- LUZINDININHO - Luzinde (Penalva do Castelo).
- LUZIO - Fornos (Castelo de Paiva), Bico (Paredes de Coura).
- OLHADELA - Limões (Ribeira de Pena).
- OLHAS - Ferreira do Alentejo (Ferreira do Alentejo).
- OLHEIRÃ - Almoster (Alvaiázere).
- OLHEIRO - Alferce (Monchique, Arnoso (Santa Eulália) (Vila Nova de Famalicão), Creixomil (Barcelos), Folgoso(Maia), Gandra (Ponte de Lima), Monchique (Monchique), Sines (Sines), Vilarelho (Caminha).
- OLHEIROS - Aljubarrota (S. Vicente) (Alcobaça), Brotas (Mora), Coruche (Coruche), Rendufe (Amares), Santo André (Santiago de Cacém), S. Pedro e Santiago (Torres Vedras), Vermoil (Pombal).
- OLHEIROS DA SERRA - Maçãs de D. Maria (Alvaiázere).
- OLHITOS - Mexilhoeira Grande (Portimão).
- OLHO - Cadima (Cantanhede), Serpins (Cantanhede). Rebordões (Santo Tirso).
- OLHO-BRANCO - Algezur (Algezur).
- OLHO-D'AGUA - Salreu (Estarreja), S. Clemente (Loulé).
- OLHO-DE-BOI - Cacilhas (Almada), S. Paulo de Frades (Coimbra), S. Vicente (Abrantes).
- OLHO-DE-MOURO - Vila Cova de Carros (Paredes).
- OLHO DE S. CAETANO - Cantanhede (Cantanhede.
- OLHO-MARINHO - Freguesia do concelho de Óbidos.
- OLHO-MABINHO - Arada (Ovar), Vila Nova de Poiares (Vila Nova de Poiares).
- OLHOS-DE-ÁGUA - Albufeira (Albufeira), N.ªS.ª da Anunciada (Setúbal), Pinhal ovo (Palmela), Quinta do Anjo (Palmela), S. Salvador da Aramenha (Marvão).
- OLHOS NEGROS – Monchique (Monchique).
- VISTA ALEGRE - Tabuado (Marco de Canaveses), Sobretâmega (Marco de Canaveses), Figueiró (Paços de Ferreira), Freamunde (Paços de Ferreira), Cete (Paredes), Alpendurada e Matos (Marco de Canaveses, Santa Eulália (Arouca), Fermentões (Guimarães), Oliveira - Santa Maria (Vila Nova de Famalicão), Ceide - S. Paio (Vila Nova de Famalicão), Nespereira (Cinfães), Ílhavo (Ílhavo), Rio de Moinhos (Penafiel), Santo António dos Olivais (Coimbra), Raiva (Castelo de Paiva), Real (Castelo de Paiva). Porventura o mais famoso lugar com a designação de VISTA ALEGRE, será o do concelho de Ílhavo, por ali ter sido fundada em 1824, a Fábrica da Vista Alegre, graças à iniciativa de José Ferreira Pinto Basto (1774-189), industrial, lavrador, político e fidalgo da Casa Real.
- VISTA AUSENTE - Fermentões (Guimarães).
- VISTORIA - Perosinho (Vila Nova de Gaia).
NASCENTES DE ÁGUA
- OLHOS-DE-ÁGUA – Nascente do rio Alviela, situada na freguesia de Louriceira, no concelho de Alcanena. É uma das nascentes mais importantes do nosso país, pois chega a debitar 17 mil litros por segundo. Desde 1880 até praticamente à actualidade, foi uma das principais fontes de abastecimento de água à cidade de Lisboa.
- OLHO D’ÁGUA – Nascente da freguesia de olho Marinho, concelho de Óbidos, com propriedades medicinais semelhantes às das Caldas da Rainha.
BAIRROS
- ARCO DO CEGO – Lisboa.
CONCLUSÃO
De novo, uma abordagem efectuada em termos de literatura oral, centrada num tema aparentemente estéril, revela uma enorme vastidão, reveladora da riqueza da língua portuguesa, que nenhum acordo ortográfico malquisto, conseguirá cercear.
BIBLIOGRAFIA
[1] – FRAZÃO, A. C. Amaral. Novo Dicionário Corográfico de Portugal. Editorial Domingos Barreira. Porto, 1981.
[2] - RAMOS, Francisco Martins; SILVA, Carlos Alberto da. Tratado das Alcunhas Alentejanas. 2ª edição. Edições Colibri. Lisboa, 2003.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Os talêgos (3ª edição)


Esta é a 3ª edição do post, cuja 1ª edição é de 27 de Fevereiro de 2010, a que se seguiu uma 2ª edição a 7 de Novembro de 2010. Novamente foi ampliado com considerações de natureza linguística e de literatura oral, bem como pela adição de seis novas ilustrações e de mais três fontes bibliográficas.


APONTAMENTOS ETNOGRÁFICOS
OS talêgos eram sacos multicolores, de tamanho variável, confeccionados pelas mulheres com as sobras dos panos usados na confecção de saias, blusas e aventais ou mesmo de roupa velha que se tinha deixado de usar. Tinham um cordão ou nastro que corria dentro de uma bainha e que os permitia fechar. Podiam ser forrados ou ser singelos. Alguns eram rebuscados na sua concepção e manufactura, a qual podia incluir pompons e borlas. Outros haviam que eram simples, sendo alguns, até, manufacturados com um único tecido.
Os talêgos eram o providencial modo de transportar aquilo que de que precisávamos. Ia-se às compras de talêgo, o qual era lavado sempre que necessário. Havia um talêgo para ir aviar a mercearia e outro para ir ao pão, bem como outro para ir ao grão, ao feijão ou ao milho. Usávamos também um talêgo para guardar os magros tostões que tínhamos e ainda outro para guardar a existência usada no jogo do botão.
Os camponeses guardavam as sementes em talêgos e os moleiros recebiam talêgos de trigo, centeio ou milho, que devolviam com farinha, após terem subtraído a maquia devida à moagem. Era também nos talêgos que se levava comida para o local de trabalho.
Em nossas casas, nas arcas, cómodas e guarda-fatos havia pequenos talêgos com alfazema, que pelo seu cheiro afugentava traças, moscas, mosquitos e demais insectos. Nesses mesmos locais, existiam por vezes talêgos maiores, nos quais se acondicionava a roupa mais delicada ou mais antiga e que inspirava mais cuidados de preservação.
A pobreza, a falta de oportunidades de vida, a adversidade do clima, as catástrofes, a política repressiva, fizeram com que ao longo dos tempos, o povo português tivesse de emigrar, visando a melhoria das suas condições de vida. Para transportar os seus bens, a maioria das vezes, uma parca bagagem, lá estavam o talêgo e mais tarde, a mala de cartão.
O talêgo era a embalagem reciclável inventada pelo sabedoria popular, que sempre soube encontrar formas criativas de lutar contra a adversidade e a falta de meios. Depois de puído e roto pelo uso e pelas lavagens sucessivas, era remendado por mãos hábeis de mulheres, que assim lhe prolongavam a longevidade. E mesmo depois de serem abatidos ao serviço como “talêgos”, continuavam ter préstimo. Serviam de rodilha ou de esfregão, até tal ser possível. Só depois se deitavam fora, para serem degradados pela terra-mãe e renascerem sob outra forma.
Actualmente, a luta contra o desperdício e o consumismo, pela melhoria da nossa qualidade de vida e pela salvação do planeta, passa pela implementação da política dos 3 RRR:
 - Reduzir o lixo que se produz;
- Reutilizar as embalagens mais que uma vez;
- Reciclar os componentes do lixo, separando-os na origem.


Por isso impõe-se o regresso da utilização do talêgo na nossa vida quotidiana, sempre que formos às compras. O planeta e a melhoria da nossa qualidade de vida assim o exigem.
Não queremos abandonar o tema que temos estado a abordar, sem tecer algumas considerações de natureza linguística, bem como sublinhar igualmente algumas notas de literatura oral:
CONSIDERAÇÕES DE NATUREZA LINGUÍSTICA
Em primeiro lugar convém esclarecer que “talêgo” é a forma regionalista do substantivo “taleigo”, devida a um fenómeno fonético que consistiu na monotongação do ditongo “ei”, que se transformou assim em “ê”, o que teve repercussões no grafismo da palavra. [10]
Nos dicionários consultados, que abrangem o período de 1721[4] a 2001[2], existem verbetes sobre as palavras “ataleigar”, “taleiga”, “taleigada”, “taleigão”, “taleigo” e “taleiguinho”. Vejamos o que sobre estas palavras dizem os diferentes dicionários:
ATALEIGAR - Puxar as calças para cima da cintura. [9] (1922)
ATALEIGAR – Encher muito. [25] (1993)
TALEIGA – Substantivo feminino. De acordo com os dicionaristas consultados, designa:
- Saco pequeno. Uma taleiga de trigo são quatro alqueires. [4] (1721)
- Saco pequeno. Uma taleiga de trigo são quatro alqueires. [3] (1789)
- Saco, de maiores ou menores dimensões, e destinado especialmente à condução de cereais para os moinhos e da farinha que nestes se fabrica. Antiga medida para líquidos e cereais. (Do lat. Talica) [8] (1913).
- Saco pequeno e largo, destinado à condução de cereais para os moinhos e da farinha que nestes se fabrica. Antiga medida de azeite, equivalente a dois cântaros. Antiga medida de trigo, equivalente a quatro alqueires. (Do latim “talica”) [12] (s/d)
- Saco, bolsa, surrão. “Taleiga” é sinónimo de “teiga”. (Do árabe “ta’lîqâ”, saco). [15] (1977)
- Saco, pequeno e largo, destinado à condução de cereais para os moinhos e da farinha que nestes se fabrica. Antiga medida de azeite, equivalente a dois cântaros. Antiga medida de trigo, equivalente a quatro alqueires. [24] (1988)
- Saco pequeno e largo. Antiga medida para líquidos e cereais (Do árabe “ta'liqa”, saco) [19] (1996)
- Saco pequeno e largo usado normalmente no transporte de cereais e de farinha. Medida antiga de azeite, equivalente a dois cântaros. Medida antiga de trigo, equivalente a quatro alqueires. (Do árabe “ta'liqa”, saco.) [2] (2001)
- Saco pequeno e largo. Antiga medida para líquidos e cereais. (Do árabe “ta'lïqa”, saco). [20] (s/d)
TALEIGADA - Substantivo feminino. De acordo com os dicionaristas consultados:
- Uma taleigada de azeite, são dois cântaros de azeite, medida de Lisboa. [4] (1721)
- A porção que se leva numa taleiga. Uma taleigada de azeite, são dois cântaros de azeite, medida de Lisboa. [3] (1789)
- O que uma taleiga pode conter. Taleiga cheia (De taleiga). [8] (1913).
- O que uma taleiga pode conter. Taleiga cheia: uma taleiga de trigo. [12] (s/d)
- O que uma taleiga pode conter. Taleiga cheia. [24] (1988)
- Porção que enche uma taleiga ou um taleigo (De taleiga ou taleigo). [19] (1996)
- Conteúdo de uma taleiga. Porção que enche uma taleiga (De taleiga + suf. -ada). [2] (2001)
- Porção que enche uma taleiga ou um taleigo (De taleiga ou taleigo+-ada). [20] (s/d)
TALEIGÃO – Adjectivo e substantivo masculino. O mesmo que latagão (indivíduo robusto, forte, desempenado , e geralmente novo). [12] (s/d)
TALEIGO - Substantivo masculino. De acordo com os dicionaristas consultados:
- É um saco pequeno, como aquele em que o soldado leva às costas, pão de munição ou outra virtualha. Um taleigo leva dois alqueires de trigo (Deriva do castelhano “Talega” e este segundo Covarrubuias deriva do Grego). [4] (1721)
- Saco estreito e longo que leva dois alqueires. [3] (1789)
- Taleiga pequena. [8] (1913).
- Taleiga pequena. Saco. Cesto onde se transporta comida. O mesmo que barça. Saco onde se metia o falcão, na caça de altanaria. Antiga medida para secos, equivalente a dois alqueires. Víveres de reserva, para três dias, guardados num saco prlos homens de armas das hostes em campanha na Idade Média. O saco que continha esses víveres. [12] (s/d)
- Substantivo masculino e adjectivo, diminutivo de taleigão. [12] (s/d)
- Taleiga pequena. Saco. Cesto onde se transporta comida: O mesmo que barca. Saco onde se metia o falcão, na caça de altanaria. Antiga medida para secos, equivalente a dois alqueires. Víveres de reserva, para três dias, guardados num saco pelos homens de armas das hostes em campanha, na Idade Média. O saco que continha esses víveres. [24] (1988)
- Saco estreito e comprido. Taleiga pequena. (De taleiga) [19] (1996)
- Saco pequeno, estreito e comprido: Taleiga de dimensões reduzidas. Cesto usado para transportar comida. Medida antiga, equivalente a dois alqueires, usada para secos. Saco que era usado na caça de altanaria para levar o falcão. Saco que continha a comida para três dias, usado pelos homens de armas na Idade Média. Víveres contidos nesse saco. [2] (2001)
- Saco estreito e comprido. Taleiga pequena (De taleiga). [20] (s/d)
TALEIGUINHO – Substantivo masculino. Taleigo pequeno. (De taleigo e sufixo diminutivo -inho). [12] (s/d)
NOTAS DE LITERATURA ORAL
De acordo com o cancioneiro popular:
“Tenho um saco de cantigas,
E mais uma taleigada:
O saco é p’ra esta noite,
Taleiga p’ra madrugada.” [18]
A palavra “Taleigo” não figura, pelo menos actualmente na Onomástica Portuguesa como nome próprio. Assim o revela a consulta à lista dos vocábulos admitidos como nomes próprios, disponibilizada pelo Instituto dos Registos e do Notariado [13]. Todavia, a palavra é conhecida como sobrenome de nome próprio. A referência mais antiga que conhecemos figura num documento simples da Chancelaria Régia de D. Afonso V (liv. 14, fl. 85v), datado de 13 de Junho de 1466, o qual certifica que o monarca perdoou os 9 meses de degredo no couto de Marvão a Mem Rodrigues Taleigo, lavrador, morador em Évora Monte, o qual pagou 600 reais brancos para a Piedade. [6]
No Alentejo são conhecidas alcunhas em que figura a palavra “taleigo” ou palavras dela derivadas [22]:
- TALEGA - o visado faz comentários do estilo: "Grande talega!" (Marvão).
- TALEGUEIRO – o atingido anda sempre com um taleigo (Sines).
- TALEIGADAS (Avis).
- TALEIGO - Alcunha concedida a um sujeito baixo e gordo (Cuba e Portel).
- TALEIGUINHO - o receptor pendurou um taleigo num sobreiro (Santiago do Cacém) ou então é um indivíduo de baixa estatura (Aljustrel e Portei).
- TALEIGUINHO DA BUCHA - o receptor é baixo e gordo (Moura).
- TALEIGUINHO DAS ISCAS – o receptor quando ia à caça, levava sempre um taleiguinho com iscas (Aljustrel).
O adagiário português relativo ao taleigo é escasso:
- “Fazenda em duas aldeias, pão em duas talegas” [4]
- “O fidalgo, o galgo e o talego de sal, junto do fogo os hão de achar” [4]
- “O taleigo de sal quer cabedal” [5]
São conhecidas as seguintes imagens metafóricas usadas na gíria portuguesa:
Dar ao taleigo = Falar = Dar à língua = Parolar = Conversar [24], [25]
Dar aos taleigos = Parolar = Dar à língua [8]
Dar ao(s) taleigo (s) = Conversar demoradamente [23]
Dar ao(s) taleigo (s) = Dar á língua [19]
Dar ao(s) taleigo(s) = Conversar = Dar à língua [2]
No calão:
Talega = Grande Porção = Grande Peso = Saco de pano [25]
Taleiga = Carga excessiva = Grande quantidade [17]
Taleiga = Coisa Grande [14]
Taleiga = Naco = Pedaço de haxixe [21]
Taleiga = Saco Grande [25]
Taleigão = Latagão [25]
Taleigo = Prisão” [14], [25]
Taleigo = Saco pequeno [1], [25]
Na toponímia:
TALEGA = Freguesia do bispado de Elvas [16]
TALEIGÃO = Freguesia do concelho e distrito de Goa, Índia Portuguesa.
QUINTA DA TALEIGA = Lugar do concelho de Portalegre.
Os pregões usados pelos pregoeiros eram outra forma de literatura oral. Através deles se proclamava qualquer coisa, como por exemplo, aquilo que se tinha para vender. Era o caso do vendedor de picão que nos anos cinquenta do século passado percorria, todo enfarruscado, as ruas de Elvas, quando o frio de rachar aconselhava o uso da braseira. O pregão:
“Ah! Bom pi-cão”! "
anunciava a preciosa e sazonal mercadoria contida em taleigos transportados no dorso de pacientes asnos.
NOTA FINAL
Depois desta "taleigada" de considerações suscitadas pelo substantivo "talêgo" em termos linguísticos e de literatura oral, achamos por bem atar os cordões e dar o presente texto por terminado. Pelo menos por agora.
BIBLIOGRAFIA
[1] - BESSA, Alberto. A Gíria Portugueza. Gomes de Carvalho- Editor. Lisboa, 1901.
[2] – ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. II Volume. Editorial Verbo. Lisboa, 2001.
[3] – BLUTEAU, Raphael; MORAES SILVA, António de. Diccionario da Língua Portugueza. Tomo Segundo. Officina de Simão Thaddeo Ferreira. Lisboa, 1789.
[4] – BLUTEAU, Raphael. Vocabulario Portuguez e Latino. Vol. V. Officina de Pascoal da Sylva. Lisboa, 1721.
[5] – DELICADO, António. Adagios portuguezes reduzidos a lugares communs / pello lecenciado Antonio Delicado, Prior da Parrochial Igreja de Nossa Senhora da charidade, termo da cidade de Euora. Officina de Domingos Lopes Rosa. Lisboa, 1651.
[6] – DIRECÇÃO-GERAL DE ARQUIVOS [http://digitarq.dgarq.gov.pt/default.aspx?page=listShow&searchMode=as&sort=id&order=ASC]
[7] - FERREIRA, Diogo Fernandes. Arte da Caça de Altaneria. Vol. I. A Liberal. Lisboa, 1899.
[8] - Figueiredo, Cândido de. Novo Diccionário da Língua Portuguesa (2 vol.). Clássica Editora. Lisboa, 1913.
[9] - Figueiredo, Cândido de. Novo Dicionário de Língua Portuguesa. (2 vol.). Editora Portugal-Brasil Limitada, 1922.
[10] – FLORÊNCIO, Manuela. Dialecto Alentejano – contributos para o seu estudo. Edições Colibri. Lisboa, 2001.
[11] - GAMA, Eurico. Os Pregões de Elvas. Edição de Álvaro Pinto. Lisboa, 1954.
[12] – GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Vol. 30. Editorial Enciclopédia, Limitada. Lisboa, s/d.
[13] – INSTITUTO DOS REGISTOS E DO NOTARIADO. Vocábulos admitidos e não admitidos como nomes próprios [http://www.irn.mj.pt/sections/irn/a_registral/registos-centrais/docs-da-nacionalidade/vocabulos-admitidos-e/downloadFile/file/2010-09-30_-_Lista_de_nomes.pdf?nocache=1287071845.45]
[14] – LAPA. Albino. Dicionário de Calão. Edição do Autor. Lisboa, 1959.
[15] – MACHADO, José Pedro Machado. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Vol. 5. 3ª edição. Livros Horizonte. Lisboa, 1977.
[16] - NIZA, Paulo Dias de. Portugal Sacro-Profano. Parte II. Oficina de Miguel Manescal da Costa. Lisboa, 1768.
[17] – NOBRE, Eduardo. Dicionário de Calão. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1986.
[18] - PIRES, A. Tomaz. Cantos Populares Portuguezes. Vol. IV. Typographia e Stereotipía Progresso. Elvas, 1912.
[19] - PORTILLO, Lorenzo. Grande Dicionário Enciclopédico Ediclube. Ediclube. Alfragide, 1996.
[20] – PORTO EDITORA. Grande Dicionário. Porto Editora. Porto, 2004.
[21] – PRAÇA, Afonso. Novo Dicionário de Calão. Editorial Notícias. Lisboa, 2001.
[22] – RAMOS, Francisco Martins e SILVA, Carlos Alberto da. Tratado das Alcunhas Alentejanas. 2ª edição. Edições Colibri. Lisboa, 2003.
[23] – SANTOS, António Nogueira. Novos dicionários de expressões idiomáticas. Edições João Sá da Costa. Lisboa, 1990.
[24] – SILVA, António de Morais. Novo Dicionário Compacto da Língua Portuguesa. Vol. V. 4ª edição. Editorial Confluência. Mem Martins, 1988.
[25] – SIMÕES, Guilherme Augusto. Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1993.
[26] - VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de. Elucidário das Palavras, Termos e Frases. Edição Critica de Mário Fiúza. Vol. 2. Livraria Civilização. Porto, 1966.


VIAJANTES A SEREM RECEBIDOS NUMA ESTALAGEM. O que está apeado transporta um taleigo suspenso de um pau. Iluminura do  “Tacuinum  Sanitatis” (Finais do séc. XIV), livro medieval sobre o bem-estar, com base na al Taqwin Taqwin تقوين الصحة ("Quadros de Saúde"), tratado do século XI da autoria do médico árabe Ibn Butlan de Bagdá,  o qual pertence à Biblioteca Casanatense, em Roma.
ABRIL - FÓLIO 9v, Iluminura do “Livro de Horas de D. Manuel “, Séc. XV. No pé de página, à beira-rio, duas levadas movem duas azenhas. À esquerda da do lado esquerdo uma mulher aproxima-se, transportando à cabeça um talêgo com grão para ser moído, o mesmo se passando do lado direito, onde um homem carrega um talêgo de grão às costas. Simultâneamente um homem montado num burro com talêgos de farinha, parece fazer-se ao caminho.
MARÇO - Iluminura do “Livro de Horas do Duque de Berry” (Século XV) manuscrito com iluminuras dos irmãos Paul, Jean et Herman de Limbourg, conservado no Museu Condé, em Chantilly, na França. Na iluminura estão representados trabalhos agrícolas. No segundo plano, à direita, um camponês dobrado sobre um taleigo, retira daí sementes, que de seguida irá semear. Ainda no segundo plano à esquerda, um camponês que poda a vinha, tem junto a si, no chão, uma enxada, um chapéu e um taleigo.

OUTUBRO - Iluminura do “Livro de Horas do Duque de Berry” (Século XV) manuscrito com iluminuras dos irmãos Paul, Jean et Herman de Limbourg, conservado no Museu Condé, em Chantilly, na França. Na iluminura estão representados trabalhos agrícolas. Em primeiro plano, um camponês semeia a terra. Próximo de si, um taleigo com sementes.
  
PADARIA. COLÓNIA SUÍÇA DE CANTAGALO – BRASIL (1835). Jean Baptiste Debret (1768-1848). Pormenor de Litografia. Firmin Didot Frères,  Paris.
O EMIGRANTE (1918). José Malhoa (1855-1933). Óleo sobre tela ( 80 x 104 cm). Colecção particular.
Ilustração de Alfredo Roque Gameiro (1864 - 1935) para “As Pupilas do Senhor Reitor”, de Júlio Diniz (1839-1871).
OS EMIGRANTES (1926). Domingos Rebelo (1891 - 1975). Óleo sobre tela. Museu Carlos Machado, Ponta Delgada.
TIPOS SALOIOS (MERCÊS-RINCHOA). Leal da Câmara (1876-1948). Ilustração de bilhete-postal editado pela Casa-Museu Leal da Câmara, Rinchoa.
 
SALOIOS EM LISBOA - Stuart Carvalhais (1887-1961). Tinta da China aguarelada sobre papel (25 x 30 cm). Colecção particular.
MOLEIRO COM DOIS BURROS CARREGADOS DE TALEIGOS – Capa da revista “Ilustração Portuguesa” nº 730 de 16 de Fevereiro de 1930.
SERRA DO CAMULO - MULHER COM CAPUCHA (1937). Aguarela de Alberto de Souza (1880-1961), reproduzida em bilhete-postal ilustrado nº 17 da "Série B" - Costumes Portugueses, tendo impresso no verso um selo do tipo "TUDO PELA NAÇÃO" de $25 (azul) ou de 1$00 (vermelho) e emitido pelos CTT, em 1941.

DENTRO DO MOINHO – aguarela de Raquel Roque Gameiro Ottolini (1889-1970).
CONFRATERNIZAÇÃO INFANTIL – Laura Costa. Desenho policromo reproduzido em bilhete-postal de Boas Festas dos CTT, emitido em 1944 com selo de $30 do tipo Caravela e impresso em off-set na litografia Maia, no Porto.