quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Gíria portuguesa ilustrada - 3

Altar = Seios femininos [3]
Bilhete-postal ilustrado de fabrico francês, dos meados do séc. XX.

Beber como uma esponja = Ser bom bebedor [3]
Bilhete-postal ilustrado de fabrico português, dos meados do séc. XX.

Cabrito = Homem que costuma dar dinheiro às amantes [4]
Bilhete-postal ilustrado de fabrico português, dos meados do séc. XX.

Cábula = Estudante que não estuda a lição [1]
Bilhete-postal ilustrado de fabrico português, dos meados do séc. XX.

Dormir como um porco = Dormir profundamente [5]
Bilhete-postal ilustrado de editor desconhecido, dos primórdios do séc. XX.

Preto como um tição = Muito preto [2]
Bilhete-postal ilustrado de fabrico português, dos meados do séc. XX.

Preto da Casa Africana = Pessoa que vai muito carregada [2]
Bilhete-postal ilustrado de fabrico português, dos meados do séc. XX.

Seca - Adegas = Bêbado [2]
Bilhete-postal ilustrado de editor desconhecido, dos primórdios do séc. XX.



BIBLIOGRAFIA

[1] - BESSA, Alberto. A Gíria Portugueza. Gomes de Carvalho - Editor. Lisboa, 1901.
[2] - NEVES, Orlando. Dicionário de Expressões Correntes. Editorial Notícias. Lisboa, 1998.
[3] - NOBRE, Eduardo. Dicionário de Calão. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1986.
[4] - PRAÇA, Afonso. Novo Dicionário de Calão. Editorial Notícias. Lisboa, 2001.
[5] - SIMÕES, Guilherme Augusto. Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1993.

Mitologia Popular do Natal


Bento Coelho da Silveira (1620-1708). Adoração dos Pastores.

A presente colectânea de superstições e tradições populares sobre o Natal, recolhidas de três fontes bibliográficas distintas, cujos autores as recolheram da tradição oral, mostra novamente a riqueza da Mitologia Popular Portuguesa:
- Cerca de um mês antes do Natal, lançam trigo ou cizirão num pequeno recipiente, o qual vai sendo continuamente borrifado com água. São as searinhas do Menino Jesus, utilizadas posteriormente na decoração dos presépios (Elvas). [3]
- A construção ou reparação do lar deve ser efectuada na noite de Natal. [1]
- À meia-noite do dia de Natal deve sair-se para o campo e colher arruda, alecrim, salva e erva-terrestre. A arruda frita-se em azeite para usar nas fricções e das outras plantas faz-se chá para beber quando se está doente. [1]
- A rosa de Jericó desabrocha na noite de Natal, conservando-se aberta até ao dia da Purificação. [1]
- À rosa de Jericó é atribuída a virtude de facilitar o nascimento das crianças. Para tal, a rosa é lançada numa tigela com água e à medida que vai abrindo, o parto é facilitado. A planta é vendida pelos judeus ambulantes, sendo boa para a enxaqueca quando se aspira o aroma que exala ao abrir-se. C$olocada num oratório na noite de Natal, encontra-se aberta pela manhã. (Elvas). [2]
- Na noite de Natal percorrem as ruas, ao som da ronca e em grandes cantorias. (Elvas). [3]
- Quando canta na noite de Natal, o galo diz: “Jesus é Cristo.” (Elvas). [2]
- Na noite de Natal, os rapazes costumam assar muitas pinhas, costumando guardar os cascos das que são mansas, meio-queimadas, para serem incendiadas por altura de trovoadas, a fim destas passarem. (Barcelos). [2]
- Havendo luar na noite de Natal, é sinal de no próximo ano haver muito leite. [2]
- Devem-se comer cinco bagos de uva quando a hóstia é erguida na missa da noite de Natal, a fim de evitar dores de cabeça. [3]
- Uvas comidas seguidamente à meia-noite de Natal, livram de sezões (Évora). [1], [2]
- É bom ficar a mesa posta no fim da ceia de Natal, que é para os Apóstolos virem comer. (Barcelos). [2]
- Ao meio-dia do dia de Santa Bárbara devem deitar-se algumas galinhas para tirarem na noite de Natal. Todo o galo nascido nessa noite, cantará sempre à meia-noite. [1]
- As pessoas nascidas no dia de Natal ou de Ano Bom são muito felizes. [1]
- As pessoas nascidas no dia de Natal vivem muito tempo. [1]
- O cepo da fogueira do Natal e os cotos de velas usadas nessa época, têm grandes virtudes contra as coisas más. [1]
- O vento que sopra à meia-noite do dia de Natal, não muda de direcção até ao dia de São João. [1]
- Para curar uma pessoa de ataques epilépticos, esta deve ser medida com uma cana, a qual na noite de Natal deve ser colocada por detrás do altar do Menino Jesus. [1]
- No presépio, a mula espalhava o feno e a vaca juntava-o. Daí a maldição de Nossa Senhora à mula: —"Não parirás! — prometendo à vaca que a carne dela seria a que sustentaria mais (Elvas). [2], [3]

BIBLIOGRAFIA
[1] - PEDROSO, Consiglieri. “Supertições Populares”, O Positivismo: revista de Filosofia, Vol. III e IV. Porto, 1981-1882.
[2] - PIRES, THOMAZ A. A noite de Natal, o Anno Bom e os Santos Reis (2ª edição). António José Torres de Carvalho. Elvas, 1923.
[3] – PIRES, THOMAZ A. Tradições Populares Transtaganas. Tipographia Moderna. Elvas, 1927.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 22 de Dezembro de 2010

domingo, 19 de dezembro de 2010

Nós por cá todos bem




COMUNICAÇÃO "ON LINE"
A comunicação “on-line” está na ordem do dia. Qualquer um de nós é protagonista diário de uma saga que tem a ver com rotinas diárias que passam pela utilização da www, nos seus múltiplos aspectos:
- Motores de busca para recolha de informação;
- Correio electrónico para difusão de mensagens;
- Blogues e web sites para editar textos, imagens e sons;
- Redes sociais como o Facebook, para convívio e partilha de informação.
Hoje os eventos ocorrem à escala planetária e a sua divulgação processa-se à velocidade de um click.
Somos cidadãos do Mundo e neste ano de 2010, em que se comemora o Centenário da I República Portuguesa, quer queiramos ou não, somos os herdeiros lusitanos da Revolução Francesa, arautos dos valores da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade entre os homens.
Pesem embora alguns desvios de percurso, aqueles são valores que permanecem actuais e que urge honrar e revitalizar, porque os grandes valores são eternos. Têm a dimensão do Homem e/ou de Deus. A opção fica ao critério de cada um, porque é isso que é ser um Homem Livre.
PROBLEMÁTICAS SUSCITADAS PELA COMUNICAÇÃO “ON-LINE”
Hoje não podemos estar de costas viradas uns para os outros. A Liberdade exige Responsabilidade e não pode ser Anarquia em nome do combate à Tirania. A Cidadania exige que cada um de nós dê a cara e se assuma de corpo inteiro, não se refugiando no anonimato ou o que é pior do que isso, não se mascarando cobardemente atrás de um pseudónimo, que muitas das vezes não é mais que o auto-reconhecimento da incapacidade de ser um Homem Livre.
Hoje, comunicar é importante. Tão importante como respirar ou comer. É igualmente um acto que deve ser assumido de uma forma ética. Hoje, não é admissível que ninguém, em nome de nenhuns pseudo-valores, tente rebaixar os outros, para se elevar a si próprio. Hoje e muito bem, fala-se em Ética da Comunicação.
Hoje, que somos Homens Livres, devemos ter respeito pela Dimensão dos Outros, bem como respeito pela Propriedade e entre ela a Propriedade Intelectual. Um acto de comunicação na www, não pode ser um mero acto de corte e colagem. São atitudes que devem ser reprovadas pela Comunidade. A Elevação do Homem é fruto necessariamente do Trabalho e do Aperfeiçoamento, mas nunca da facilidade, nem do facilitismo.
São estes alguns dos valores em que acredito. Por eles dou a cara no blogue ESTREMOZ NET (http://estremoznet.blogspot.com), no qual, como diria Ives Montand, sou “compagnon de route” de amigos que não pensam como eu, mas que eu respeito na sua individualidade, porque como Homens de Corpo Inteiro, dão a Cara, na defesa dos ideais em que acreditam. Posso discordar deles, mas respeito-os.
Essa a Postura que será sempre a minha, nesse blogue cujos membros, numa atitute tipicamente cristã, ali resolveram partilhar o seu amor a Estremoz.
BLOGUE “ESTREMOZ NET”
“ESTREMOZ NET“ é um espaço de Encontro e de Caminhada, para quem ama Estremoz, o qual assumiu a forma de um blogue de âmbito local e regional, generalista e que se orienta pelos princípios da liberdade, do pluralismo e da independência, procurando assegurar a todos o direito ao debate construtivo e responsável. Como tal, respeita os direitos, deveres, liberdades e garantias consignadas na Constituição da República Portuguesa. Por isso, assume-se como independente de todos os poderes políticos e económicos, bem como de qualquer credo, de qualquer doutrina ou ideologia, respeitando todas as opiniões ou crenças. As opiniões políticas, doutrinárias ou ideológicas ali veiculadas, apenas vinculam os respectivos autores.
“ESTREMOZ NET" é integrado por bloggers que validarão sempre com o seu nome, os respectivos posts e tem a particularidade de não publicar comentários anónimos, mas unicamente os comentários de leitores devidamente identificados.
"ESTREMOZ NET" considera a sua acção como de serviço público, com respeito total pelos seus leitores, em prol do desenvolvimento da identidade e da cultura local, regional e nacional, da promoção do progresso económico, social e cultural das populações e do reforço da independência nacional e da paz. Estes são de resto, os princípios consignados no Estatuto Editorial do blogue.
Criado a 27 de Março de 2010, é integrado por 27 membros e tem como administradores António José Ramalho, José Capitão Pardal e Hernâni Matos. Da equipa de 27 bloggers, 7 ainda não chegaram a postar, provavelmente porque se dividem por múltiplas tarefas e outros têm postado espaçadamente. Todavia há um “núcleo duro” que assegura a continuidade e a permanência do blogue colectivo que veio para ficar. A sua saúde está bem e recomenda-se. De resto, não se trata de uma federação de blogues locais contra ou a favor de alguém, mas apenas de um espaço de Encontro e de Caminhada, para quem ama Estremoz, onde se valorizam questões como: Liberdade versus responsabilidade; - Anonimato e Identificação; - Ética da comunicação; - Propriedade Intelectual.
Outros números: até à presente data foram postadas 186 mensagens e verificaram-se 10849 visitas, o que corresponde a uma média de 35 por dia. O que não é mau, se atendermos a que é um blogue que entronca na realidade local.
BLOGUE “DO TEMPO DA OUTRA SENHORA”
Tem endereço http://dotempodaoutrasenhora.blogspot.com . Surgido a 20 de Fevereiro passado, trata-se do meu blogue pessoal, de autor, com posts originais, fruto da criação literária e da recolha etnográfica. Aí como blogger assumo “A escrita como Instrumento de Libertação do Homem” e centro a escrita em conteúdos que têm a ver com Estremoz e o Alentejo, muito particularmente os Usos e Costumes, a Arte Popular e a Identidade Cultural Alentejana. E sobretudo muito, mas muito humor, humor às carradas, com base em factos da vida real, que são “do tempo da outra senhora”.
Alguns números relativos a este blogue: até à presente data foram postadas 75 mensagens, o que corresponde a uma média de 1,8 mensagens por semana. Verificaram-se até agora 25527 visitas, o que corresponde a uma média de 148 por dia. O que seria bom para um blogue de âmbito local, mas que é fraco para um blogue que se assume como de âmbito nacional. De qualquer modo, a visualização do blogue tem vindo a consolidar-se e é caso para dizer que “Roma e Pavia não se fizeram num dia”. O blogue que aposta forte na selecção de links para outros blogues, tem 108 seguidores através do “Google Rede Social” e 33 através dos “Networked Blogs”. Até agora os seus 75 posts receberam 295 comentários, o que corresponde a uma média de 3,9 comentários por post e é revelador da interactividade que este blogue suscita.
Este blogue tem como rectaguarda no Facebook um Grupo de Fãs homónimo do blogue, integrado até ao presente por 1534 membros, número que cresce diariamente.
MENSAGEM FINAL
Contra aquilo que apregoam alguns profetas da desgraça, apetece-nos parafraser o cineasta Fernando Lopes, dizendo:“NÓS POR CÁ TODOS BEM!”

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Armando Alves - O sentido de um trajecto


Foi inaugurada no passado dia 11 de Dezembro, no Centro Cultural Dr. Adriano Moreira, em Bragança, uma exposição antológica da obra de Armando Alves. A exposição realizada a convite do Presidente da Câmara Municipal, António Jorge Nunes, estará patente ao público até finais de Janeiro, donde seguirá para Zamora (Espanha).
A exposição intitulada “O sentido de um trajecto” coroa 60 anos de carreira do artista e engloba trabalhos seus dos anos 50 do século passado até aos nossos dias.
Armando Alves nasceu em Estremoz em 1935. Estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa, e na Escola Superior de Belas-Artes do Porto. Aqui conclui o curso de Pintura com vinte valores, o que originou, em 1968, a formação do grupo “Os Quatro Vintes” com Ângelo de Sousa, José Rodrigues e Jorge Pinheiro, com o qual se apresenta em exposições no final da década de 60. Entre 1963 e 1973 foi professor assistente na escola portuense, tendo aí introduzido o estudo das Artes Gráficas. A sua saída da Escola implicou, aliás, a dedicação às artes gráficas como responsável por essa área na Editorial Inova, fundada no Porto em 1968, e foi nesse domínio que recebeu o 1º prémio da Grafiporto, em 1983.
Tendo começado por uma figuração que pode aproximar-se do universo neo-realista, optou seguidamente por um informalismo matérico desenvolvido na década de 60. Nos anos 70 dedica-se à construção de objectos pintados, de grande depuração formal. A partir dos anos 80 retoma os valores da paisagem que reformula à luz de um abstraccionismo lírico.
Começou a expor individualmente em 1964, na Escola Superior de Belas-Artes do Porto para apresentar exclusivamente trabalhos de artes gráficas. Neste ano expõe na Cooperativa Árvore, onde voltaria em 1985 e 1993. Em 1978 e 1981 realiza exposições na Galeria do Jornal de Notícias, no Porto e em 1987 e 1990 apresenta-se na Galeria Nasoni, Porto. Em 1994 e 1995 expõe na mesma cidade, respectivamente na galeria Degrau Arte e na Galeria Fernando Santos. Em 1996 realiza nova exposição na Pousada de S. Francisco, em Beja, e em 1997 na Galeria Municipal de Vila Franca de Xira e na Galeria da Praça, Porto. Em 2001 expõe na Sala Maior, na cidade do Porto.
Com o grupo “Os Quatro Vintes” realizou exposições na Galeria Dominguez Alvarez, Porto (1968), Galeria Zen, Porto (1969), Sociedade Nacional de Belas-Artes (1969) e Galeria Jacques Desbrière, Paris (1970).
Entre 1997 e 2007 participou em exposições no Brasil, Chile, Cabo Verde, Maputo e Ryahd – Arábia Saudita. De então para cá tem realizado várias exposições individuais e participado em muitas outras exposições colectivas.
No dia 10 de Junho de 2006 é agraciado pelo Presidente da República com o Grau de Grande Oficial da Ordem de Mérito. Em Outubro desse mesmo ano, é homenageado pelo Município de Estremoz com a Medalha de Mérito Municipal – Ouro. Em Dezembro de 2009, recebe o “Prémio de Artes Casino da Póvoa”.
É caso para perguntar, quando é que os estremocenses terão o privilégio de ter entre si uma exposição de pintura de Armando Alves? Esta, a realizar-se, deveria ter por palco um dos locais mais nobres para o efeito: a Galeria D. Dinis ou o Museu Municipal Joaquim Vermelho. Aqui fica o alvitre a aguardar uma resposta.

1954 - Óleo sobre tela (49,5 x 28,5 cm)
1958 - Óleo sobre tela (80 x 47 cm)
1963 - Óleo sobre tela (84 x 99 cm)
1978 - Óleo sobre tela (60,5 x 60,5 cm)
1984 - Óleo sobre tela (63 x 77 cm)
1986 - Óleo sobre tela  (200 x 160 cm)
1995 - Óleo sobre tela (65 x 50 cm)

2003 - Óleo sobre tela (80 x 120)
2009 - Óleo sobre tela (40x40 cm)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Gíria portuguesa ilustrada - 2

Abadessa = Mulher muito gorda [2]
Bilhete-postal ilustrado de fabrico alemão, dos prímórdios do séc. XX.

Dar corda aos sapatos = Fugir [4]
FUGA PARA O EGIPTO – Painel de azulejos da autoria de Policarpo de Oliveira Bernardes, c. 1730. Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.

Escrivão de penna grande = Varredor das ruas [1]
Varredor da Câmara Muncipal de Lisboa limpando a rua de S. José (1900) - Fotografia de autor não identificado. Suporte: Negativo de gelatina e prata em vidro (9x12 cm). Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa.

Galego = Escravo do trabalho [5]
Galegos (s/data) – Fotografia (9x12 cm) de Ferreira da Cunha(1901-1970), obtida numa rua de Lisboa.

Mais que as mães = Grande quantidade [ 3]
O QUARTO ESTADO (1901)
Giuseppe Pellizza da Volpedo (1868-1907)
Óleo sobre tela (293 x 545 cm)
Galeria Cívica de Arte Moderna (Milão)

Dar banho à minhoca = Pescar [8]
CRIANÇAS A PESCAR (1882)
Illarion Pryanishnikov (1840–1894)

Pé d’alferes = Namoro [1]
Bilhete-postal ilustrado de fabrico alemão, dos prímórdios do séc. XX.

Palminho de cara = Cara bonita [8]
CONVERSA COM O VIZINHO (1932)
José Malhoa (1855-1933)
Óleo sobre tela
31x27,5 cm
Museu José Malhoa, Caldas da Rainha

BIBLIOGRAFIA

[1] - BESSA, Alberto. A Gíria Portugueza. Gomes de Carvalho- Editor. Lisboa, 1901.
[2] – LAPA. Albino. Dicionário de Calão. Edição do Autor. Lisboa, 1959.
[3] – LOPES, Alberto Augusto. Termos de Calão e Gíria Portuguesa. 1938.
[4] –NEVES, Orlando. Dicionário de Expressões Correntes. Editorial Notícias. Lisboa, 1998.
[5] – NOBRE, Eduardo. Dicionário de Calão. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1986.
[6] – PRAÇA, Afonso. Novo Dicionário de Calão. Editorial Notícias. Lisboa, 2001.
[7] – SANTOS, António Nogueira. Novos dicionários de expressões idiomáticas. Edições João Sá da Costa. Lisboa, 1990.
[8] – SIMÕES, Guilherme Augusto. Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1993.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Arte Popular Alentejana - O dançarino



Os rituais animistas das sociedades primitivas utilizavam fantoches, que eram considerados objectos sagrados e personagens intermediárias entre essas sociedades primitivas e os seus deuses. O fantoche conferia poder divino ao personagem, pelo que a sua manipulação estava reservada exclusivamente aos iniciados que iriam participar na cerimónia com uma dramaturgia simbólica.
Em todas as civilizações, os fantoches têm desempenhado os seus papéis, a sua tipologia tem evoluído e os reportórios têm sido alterados e aumentados.
Não se deixando nunca fixar no seu passado, os fantoches têm uma grande história. Porém, uma coisa mantiveram sempre, o ritual da alegria colectiva, os espectáculos de rua, nos adros das igrejas, nas feiras, nos jardins, nas praias, nos pátios, nas tabernas.
O dançarino, brinquedo popular alentejano destinado a animar grupos de pessoas ao serão ou em festas, pode ser englobado na categoria dos fantoches. O que apresentamos foi comprado no mercado das velharias em Estremoz e passamos de imediato a descrevê-lo.
5,5 x 2 x 21 cm. Tronco de cortiça. Cabeça e membros articulados em madeira de oliveira, que é a que melhor som produz sobre a base que funciona como piso de dança. Boa expressão facial. Cor do vestuário evocando as cores, verde e rubra da bandeira republicana.
Manipulação horizontal ao nível do manipulador, o qual segura uma vara de madeira que encaixa pela retaguarda no orifício do centro do peito. O manipulador senta-se em cima duma tábua que fica com uma das extremidades livres e assenta os pés do fantoche em cima da tábua. Seguidamente imprime pancadas na tábua com o ritmo desejado, o que a faz vibrar e saltitar o boneco.
Nos montes alentejanos, a manipulação era feita pelo chefe da família para entreter os filhos pequenos, o que acontecia quando regressava do trabalho ou ao serão, à luz da candeia ou do candeeiro a petróleo.
Era uma das maneiras de encurtar as noites no tempo em que se seroava e as mulheres faziam malha ou arranjavam a roupa e alguém evocava os antepassados falecidos ou os familiares ausentes. Era o tempo da tradição oral, em que os serões eram usados para passar aos mais novos o testemunho do património cultural oral colectivo: histórias, adivinhas, lenga-lengas, provérbios, superstições, rezas e benzeduras, canções, etc. Havia tempo para os pais falarem com os filhos. A educação era feita no seio da família e o pai e a mãe tidos como modelos a seguir.
Lembro-me de nos anos 50 do século passado ter visto numa taberna em Estremoz, um popular que ao mesmo tempo que numa gaita-de-beiços trauteava um fandango, punha um fantoche destes a dançar a música que tocava. Depois da actuação, havia sempre alguém que lhe pagava um copo.

Publicado inicialmente em 12 de Dezembro de 2010

A manipulação pode envolver dois dançarinos postados frente a frente. Na figura,
manipulação por Rui Alves e Fotografia de Vítor Cid, obtida após o petisco de Páscoa,
em Estremoz.  Como diz o Rui, no final das "comidas e buídas" houve "balho".

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Gíria portuguesa ilustrada - 1

Ao longo do tempo tem aumentado o acervo daquilo que vulgarmente é designado por "frases feitas", "locuções populares", "expressões idiomáticas", "calão" ou "gíria".  A vastidão do seu conjunto muito tem contribuído para o reforço da chamada "literatura oral".
Sem preocupações metodológicas, começaremos hoje a abordar alguns desses termos da gíria portuguesa, ao mesmo tempo que os procuraremos ilustrar com a imagem julgada adequada. 

 A terra lhe seja leve = Referência a alguém que morreu
Enterro de camponês - Gravura do artista plástico brasileiro Abelardo da Hora (1924-  ).

Alma do padeiro = A parte oca do pão
Pão alentejano - Selo de 0,80 € emitido pelos correios portugueses
em 2010 e que integra a série “Pão Tradicional Português".

Às carradas = Em grande quantidade
Carros de bois alentejanos com trigo para a eira.
Cliché de bilhete-postal ilustrado do início do século XX 
(Edição de Faustino António Martins – Lisboa).


Às mijinhas = Em pequenas quantidades
Criança a urinar para o pneu dum automóvel.

Até ao lavar das cestas é vindima == Até ao fim as coisas podem modificar-se
Vindima - Estação da CP do Pinhão. Painel que integra um conjunto de 24 painéis de azulejos, ligados à temática do vinho do Porto. Obra do pintor ceramista João Oliveira, datada de 1937 e produzida na Fábrica Aleluia, de Aveiro.
Até chegar a mulher da fava rica == Referência a algo que demora muito
Vendedora ambulante de fava rica - Fotografia de autor não identificado, com negativo de gelatina e prata em vidro (9 x 12 cm) - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa.
Até lá, muita água passará debaixo da ponte =
= Muita coisa poderá acontecer até que se verifique determinado facto.
Bilhete-postal ilustrado publicitário do vinho do Porto “Adriano Ramos Pinto, do início do séc. XX.
Com punhos de renda = Delicadamente
Retrato de Carlos III de Espanha (1716-1788) aos onze anos (1727). Obra do pintor francês JEAN RANC (1674, 1735), existente no Museu do Prado (Madrid).

De braços cruzados = Inactivo
Cena de "Braços cruzados máquinas paradas", documentário de 1978, que acompanha a pioneira onda grevista de 1978 nas fábricas metalúrgicas de São Paulo (Brasil).


BIBLIOGRAFIA

[1] - BESSA, Alberto. A Gíria Portugueza. Gomes de Carvalho- Editor. Lisboa, 1901.
[2] – LAPA. Albino. Dicionário de Calão. Edição do Autor. Lisboa, 1959.
[3] – NOBRE, Eduardo. Dicionário de Calão. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1986.
[4] – PRAÇA, Afonso. Novo Dicionário de Calão. Editorial Notícias. Lisboa, 2001.
[5] – SANTOS, António Nogueira. Novos dicionários de expressões idiomáticas. Edições João Sá da Costa. Lisboa, 1990.
[6] – SIMÕES, Guilherme Augusto. Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1993.