quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Mitologia Popular do Natal


Bento Coelho da Silveira (1620-1708). Adoração dos Pastores.

A presente colectânea de superstições e tradições populares sobre o Natal, recolhidas de três fontes bibliográficas distintas, cujos autores as recolheram da tradição oral, mostra novamente a riqueza da Mitologia Popular Portuguesa:
- Cerca de um mês antes do Natal, lançam trigo ou cizirão num pequeno recipiente, o qual vai sendo continuamente borrifado com água. São as searinhas do Menino Jesus, utilizadas posteriormente na decoração dos presépios (Elvas). [3]
- A construção ou reparação do lar deve ser efectuada na noite de Natal. [1]
- À meia-noite do dia de Natal deve sair-se para o campo e colher arruda, alecrim, salva e erva-terrestre. A arruda frita-se em azeite para usar nas fricções e das outras plantas faz-se chá para beber quando se está doente. [1]
- A rosa de Jericó desabrocha na noite de Natal, conservando-se aberta até ao dia da Purificação. [1]
- À rosa de Jericó é atribuída a virtude de facilitar o nascimento das crianças. Para tal, a rosa é lançada numa tigela com água e à medida que vai abrindo, o parto é facilitado. A planta é vendida pelos judeus ambulantes, sendo boa para a enxaqueca quando se aspira o aroma que exala ao abrir-se. C$olocada num oratório na noite de Natal, encontra-se aberta pela manhã. (Elvas). [2]
- Na noite de Natal percorrem as ruas, ao som da ronca e em grandes cantorias. (Elvas). [3]
- Quando canta na noite de Natal, o galo diz: “Jesus é Cristo.” (Elvas). [2]
- Na noite de Natal, os rapazes costumam assar muitas pinhas, costumando guardar os cascos das que são mansas, meio-queimadas, para serem incendiadas por altura de trovoadas, a fim destas passarem. (Barcelos). [2]
- Havendo luar na noite de Natal, é sinal de no próximo ano haver muito leite. [2]
- Devem-se comer cinco bagos de uva quando a hóstia é erguida na missa da noite de Natal, a fim de evitar dores de cabeça. [3]
- Uvas comidas seguidamente à meia-noite de Natal, livram de sezões (Évora). [1], [2]
- É bom ficar a mesa posta no fim da ceia de Natal, que é para os Apóstolos virem comer. (Barcelos). [2]
- Ao meio-dia do dia de Santa Bárbara devem deitar-se algumas galinhas para tirarem na noite de Natal. Todo o galo nascido nessa noite, cantará sempre à meia-noite. [1]
- As pessoas nascidas no dia de Natal ou de Ano Bom são muito felizes. [1]
- As pessoas nascidas no dia de Natal vivem muito tempo. [1]
- O cepo da fogueira do Natal e os cotos de velas usadas nessa época, têm grandes virtudes contra as coisas más. [1]
- O vento que sopra à meia-noite do dia de Natal, não muda de direcção até ao dia de São João. [1]
- Para curar uma pessoa de ataques epilépticos, esta deve ser medida com uma cana, a qual na noite de Natal deve ser colocada por detrás do altar do Menino Jesus. [1]
- No presépio, a mula espalhava o feno e a vaca juntava-o. Daí a maldição de Nossa Senhora à mula: —"Não parirás! — prometendo à vaca que a carne dela seria a que sustentaria mais (Elvas). [2], [3]

BIBLIOGRAFIA
[1] - PEDROSO, Consiglieri. “Supertições Populares”, O Positivismo: revista de Filosofia, Vol. III e IV. Porto, 1981-1882.
[2] - PIRES, THOMAZ A. A noite de Natal, o Anno Bom e os Santos Reis (2ª edição). António José Torres de Carvalho. Elvas, 1923.
[3] – PIRES, THOMAZ A. Tradições Populares Transtaganas. Tipographia Moderna. Elvas, 1927.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 22 de Dezembro de 2010

8 comentários:

  1. Bom dia Hernâni,
    como sabe muitas terras do inetrior do nosso país têm costumes ancestrais no que com o Natal se prendem.
    Por exemplo na minha aldeia natal, existe um uso muito antigo, que é queimar-se, no adro da igreja, um ou mais madeiros em honra do Menino Jesus. São vestigios das antigas festas pagãs.
    Os rapazes solteiros que nesse ano forem às sortes ou sejam, portanto, os recenseados em Janeiro, é que se encarregam do corte dos mdeiros e do seu transporte para o largo da igreja.
    Reunem-se todos, no dia 7 de Dezembro, véspera do dia da Imaculada Conceição, para distribuirem entre si as várias missões; um grupo é incumbidp de pedir as árvores que darão os madeiros; outro vai pedir serrotes e malhos; outro ainda encarrega-se de pedir as juntas de bois, e finalmente, um outro procura obter os carros onde os madeiros serão transportados.
    Hoje estes carros foram substituidos por tractores.
    Na noite de 7 para 8 lá vão os valentes moços, em ruidosa alegria, cortar o madeiro,
    A noite é, quase sempre, glacial, mas para aquecer os ânimos não falta a borracha de vinho e aguardente em abundãncia. Até de madrugada mant~em permanenetemente acesa uma enorme fogueira, que os aaquece também, e em volta da qual cantam, dançam e bebem. Com os madeiros carregados, chegam, ainda de noite, à entrada da povoação, estacionando na estrada próximo do poço do Arrabalde.
    Entretanto todos os rapazes vão a suas casas vestir o fato domingueiro, regressando já de dia com violas, bandolins e banjos. Enfeitam os carros e as juntas de bois, usando colchas, chailes, flores, fitas e laranjas, etc.
    Tanto o grupo musical como os cortadores dos madeiros empoleirados nos carros, dão entrada na povoação, precedidos de muita gente. Tocam canções em louvor do Menino Jesus, dando-lhe vivas e bem assim ao madeiro, às pessoas que o ofereceram e a quem emprestou a junta, o carro, etc. O espectáculo termina logo que os madeiros são descarregados no largo da igreja.
    No dia 24 pegam fogo ao madeiro, tornando-se curiosos o espectáculo em volta da vastissima fogueira. Os homens e os rapazes, munidos de varapaus e de mocas, batem nas tocas em chama e dão fortes pancadas nos madeiros, para atear a combustão.
    Durante toda a noite repetems-se estas cenas, porque o madeiro tem sempre companhia.
    A mocidade não de deita nesta noite, e, enquanto muitos homens e rapazes se aquecem no madeiro, outros percorrem as ruas da aldeia, entoando em coro, cantigas do Menino Jesus, tais como:

    De quem são as camisinhas
    Que além estão a fazer?
    -São do Menino Jesus
    Que já está para nascer.

    Etc, etc,

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    1. Abílio:
      Muito obrigado pelo seu excelente comentário e por ter partilhado connosco esta tradição da sua região.
      Bem haja!

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    2. Adorei ambas as descricoes mas, eu gostava de saber por curiosidade, onde fica essa aldeia com tao bonita tradicao?

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    3. Natália:
      Talvez o Abílio possa responder.
      Os meus cumprimentos.

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  2. Não à unanimidade quanto às figuras animais que estavam no estábulo de Belém na noite do parto de Jesus.Recentemente até o papa Bento XVI informou que o estábulo estava livre de quadrúpedes.

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    1. Juvenal:
      Obrigado pelo seu comentário.
      Trata-se de uma questão polémica e o papa veio agora atiçar o fogo, atirando ahas para a fogueira.

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  3. Obrigada pela partilha
    E Boas Festas!

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  4. Não tem de quê.
    Boas Festas para si, também.
    Os meus cumprimentos.

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