quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Gíria portuguesa ilustrada - 1

Ao longo do tempo tem aumentado o acervo daquilo que vulgarmente é designado por "frases feitas", "locuções populares", "expressões idiomáticas", "calão" ou "gíria".  A vastidão do seu conjunto muito tem contribuído para o reforço da chamada "literatura oral".
Sem preocupações metodológicas, começaremos hoje a abordar alguns desses termos da gíria portuguesa, ao mesmo tempo que os procuraremos ilustrar com a imagem julgada adequada. 

 A terra lhe seja leve = Referência a alguém que morreu
Enterro de camponês - Gravura do artista plástico brasileiro Abelardo da Hora (1924-  ).

Alma do padeiro = A parte oca do pão
Pão alentejano - Selo de 0,80 € emitido pelos correios portugueses
em 2010 e que integra a série “Pão Tradicional Português".

Às carradas = Em grande quantidade
Carros de bois alentejanos com trigo para a eira.
Cliché de bilhete-postal ilustrado do início do século XX 
(Edição de Faustino António Martins – Lisboa).


Às mijinhas = Em pequenas quantidades
Criança a urinar para o pneu dum automóvel.

Até ao lavar das cestas é vindima == Até ao fim as coisas podem modificar-se
Vindima - Estação da CP do Pinhão. Painel que integra um conjunto de 24 painéis de azulejos, ligados à temática do vinho do Porto. Obra do pintor ceramista João Oliveira, datada de 1937 e produzida na Fábrica Aleluia, de Aveiro.
Até chegar a mulher da fava rica == Referência a algo que demora muito
Vendedora ambulante de fava rica - Fotografia de autor não identificado, com negativo de gelatina e prata em vidro (9 x 12 cm) - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa.
Até lá, muita água passará debaixo da ponte =
= Muita coisa poderá acontecer até que se verifique determinado facto.
Bilhete-postal ilustrado publicitário do vinho do Porto “Adriano Ramos Pinto, do início do séc. XX.
Com punhos de renda = Delicadamente
Retrato de Carlos III de Espanha (1716-1788) aos onze anos (1727). Obra do pintor francês JEAN RANC (1674, 1735), existente no Museu do Prado (Madrid).

De braços cruzados = Inactivo
Cena de "Braços cruzados máquinas paradas", documentário de 1978, que acompanha a pioneira onda grevista de 1978 nas fábricas metalúrgicas de São Paulo (Brasil).


BIBLIOGRAFIA

[1] - BESSA, Alberto. A Gíria Portugueza. Gomes de Carvalho- Editor. Lisboa, 1901.
[2] – LAPA. Albino. Dicionário de Calão. Edição do Autor. Lisboa, 1959.
[3] – NOBRE, Eduardo. Dicionário de Calão. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1986.
[4] – PRAÇA, Afonso. Novo Dicionário de Calão. Editorial Notícias. Lisboa, 2001.
[5] – SANTOS, António Nogueira. Novos dicionários de expressões idiomáticas. Edições João Sá da Costa. Lisboa, 1990.
[6] – SIMÕES, Guilherme Augusto. Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1993.

4 comentários:

  1. Amigo Matos,
    Peço desculpa, mas não podemos falar de gíria portuguesa, pela simples razão de que não há uma gíria portuguesa. Em Portugal há gírias: a dos padeiros, as dos pastores, as dos prestamistas, as dos ladrões, etc. Define-se como o modo de falar de certos grupos.
    Calão, sim, podemos falar de um calão português, ou seja, de um conjunto de palavras ou expressões, normalmente grosseiras, mas que toda a comunidade entende.
    Podemos ainda falar das metalinguagens, ou seja, dos termos ligados a determinada área do conhecimento: gíria pertence à metalinguagem da linguística, compasso à metalinguagem da música, etc.
    Espero que veja nisto apenas uma precisão e não uma crítica. Bom fim-de-semana. Abraço.

    Manuel da Mata

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  2. Muito interessante esta " Gíria Portuguesa Ilustrada - 1" - A sua diversidade de temas e a escolha dos mesmos. Mostrar aos mais novos como se ia às falas do quotidiano com outros dizeres
    Abraço amigo

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  3. Obrigado Hernani por mais esta achega àcultura portuguesa. Com gíria ou sem ela, a mensagem passa muito bem. Abraço

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  4. A giria era delicada e com certo recato na forma de se dizer. Actualmente foi substituida pelo calão. É bom recordar e ao mesmo tempo mostrar, aos mais novos como se lidava com as situações mais anómalas. Mais uma vez agradeço pela sua forma de mostrar estas relíquias.
    Rosa Casquinha

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