terça-feira, 12 de outubro de 2010

A candeia na literatura oral


INTERIOR - COZINHA COM VELHA E CÃO (1909) - Alfredo Roque Gameiro (1964-1935). Aguarela
sobre papel (54 x 73 cm). Colecção particular. São visíveis duas candeias: uma à esquerda
da estanheira e outra na chaminé, à direita.

A candeia (do latim “candela”) era um utensílio doméstico rústico usado na iluminação, ainda em meados do século passado. É constituído por um recipiente, geralmente em barro, ferro ou folha-de-flandres com um bico, por onde sai uma torcida (pavio) alimentada pelo óleo combustível contido no recipiente, o qual possui ainda um gancho para suspensão nas paredes.
As primeiras candeias terão surgido no neolítico [8]. O material com que foram manufacturadas e os óleos combustíveis estiveram sempre em relação directa com o meio, assim como a sua forma e tipologia procuraram dar resposta às necessidades dos utilizadores [9].
Existem referências bíblicas à utilização da candeia, como por exemplo:
- “E disse-lhes: Vem porventura a candeia para se meter debaixo do alqueire, ou debaixo da cama? não vem antes para se colocar no velador?” (Marcos 4:21)
É abundante o adagiário português referente à candeia:

- “A alegria que se esconde é candeia apagada.“
- “A candeia a espirrar, e as nuvens a chorar.“
- “A candeia que vai à frente alumia duas vezes.“
- “A candeia que vai à frente é a primeira que alumia.“
- “A candeia que vai à frente é a que alumia melhor.“
- “A candeia, debaixo do alqueire, não comunica a sua luz.“
- “À luz da candeia faz tua meia.“
- “À luz da candeia, não há mulher feia.“
- “À luz da candeia, nem mulher nem teia.“
- “A mulher e a seda, de noite à candeia.“[2]
- “Abafou-me na almotolia, de noite, a candeia.“
- “Alegria certa, candeia morta.“
- “Alegria secreta, candeia morta.“
- “Candeia que vai à frente, alumia duas vezes.“
- “Candeia que vai adiante, alumia duas vezes.“
- “Casa sem homem, nem a candeia dá luz.“
- “Da pequena candeia, grande fogueira“. [2]
- “De pequena candeia, grande fogueira.“
- “Meia vida é a candeia, e o vinho é outra meia.“ [2]
 - “Meia vida é a candeia.“
- “Não há santidade sem candeia.“ [2]
- “Nem bois à noite, nem mulher à candeia.“
- “Nem mulher nem teia, à luz da candeia.“
- “O ignorante e a candeia, a si queima e a outros alumeia.“
- “O ignorante e a candeia, a uns queima e a outros alumeia.“
- “O ouro, a donzela e a teia, à candeia.“
- “O que se vê não precisa candeia.“
- “O trigo e a teia, à candeia.“ [2]

O cancioneiro popular também assinala a presença da candeia, uma vezes em termos da sua utilização:

“Candeias tenho no monte,
candeias na aldeia tenho,
candeias tenho defronte,
com candeias vou e venho." [6]

“Esta casa está bem feita,
E a madeira bem polida.
A candeia por estar alta,
A dona por ser bonita.“ [1]
         (Quintos)

“Aqui dentro d’esta casa
‘Stá uma candeia accêsa.
Quanto dás a quem a apague
Com dois beijos á franceza?” [5]

Porém, outras vezes é referida em termos da sua não utilização:

“Quem quiser ôvir cantar,
Vá ás grades da cadeia,
Ovirá cantar os presos,
Ás escuras, sem candeia.“ [5]

A candeia é ainda referida em contexto de paixão amorosa:

“Meu coração é candeia,
Azeite o teu coração,
os teus olhos são torcidas
que nunca criam morrão.“ [6]

“A candeia por estar alta,
não deixa de alumiar,
meu amor por estar lá longe
não deixa de m’alembrar.“ [6]

“Dei um nó na fita verde,
desatei-o à candeia,
já hoje vi meu amor,
já posso passar sem ceia." [6]

Existem múltiplas superstições populares relativas à candeia:

- “É mau agoiro estalar três vezes a luz do azeite.” [3]
- ”Quando a candeia espirra, ou lume estala, é sinal de presente em casa.” [3]
- “Afirma-se em Óbidos que quando cai o morrão da candeia é sinal de presente. Semelhante superstição existe em Cinfães, onde, no entanto, se acrescenta que se se falar nisso o presente já não vem".” [8]
- “O morrão da candeia pode ainda anunciar outros acontecimentos: quando está muito grosso e florido, haverá cadeias para os donos da casa (Carviçais, Moncorvo); quando cheira mal, morre gente dentro em breve (idem).” [8]
- “Não se devem apagar os morrões, que caem acesos no chão, porque estão alumiando as almas do purgatório.” [3]
- “Se a candeia cai e entorna o azeite, é agoiro de coisa má, como igualmente dá azar despedir-se alguém de uma pessoa beijando-a com luz na mão: geralmente morre a mais velha (Lisboa). Não é bom pôr a luz acesa (candeia, candeeiro) no chão; afirma-se em Lisboa que breve entrará a Justiça nessa casa.” [8]
- “Quando uma pessoa se vai deitar, não deve pôr a luz no chão, porque aparecem as almas.” [3]
- “Por toda a Estremadura se diz que não é bom beber vinho à noite com luz na mão. Em Carviçais, Moncorvo, especifica-se que quem o fizer perderá o juízo.” [8]

Também são conhecidas algumas imagens metafóricas, usadas na gíria portuguesa:

“Estar com a candeia na mão = Estar a morrer”
“Estar com a candeia às avessas = Estar zangado”

É de resto conhecida uma lengalenga que fala de candeias:

As refeições

“Que é o almoço?
Cascas de tremoço.
Que é o jantar?
Bordas de alguidar.
Que é a ceia?
Morrões de candeia.”

A vastidão desta recolha em relação a um tema tão restrito como é a “candeia” é por si só revelador da riqueza da nossa literatura oral, um filão com potencial que urge explorar, abem da nossa cultura popular.

Publicado inicialmente em 12 de Outubro de 2010

[1] – DELGADO, Manuel Joaquim Delgado. Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo. Vol. I. Instituto Nacional de Investigação Científica. Lisboa, 1980.
[2] – DELICADO, António. Adagios portuguezes reduzidos a lugares communs / pello lecenciado Antonio Delicado, Prior da Parrochial Igreja de Nossa Senhora da charidade, termo da cidade de Euora. Officina de Domingos Lopes Rosa. Lisboa, 1651.
[3] - PEDROSO, Consiglieri. Contribuições para uma Mitologia Popular Portuguesa e Outros Escritos Etnográficos. Publicações D. Quixote. Lisboa, 1988.
[4] – PEIXOTO, Rocha. ETHNOGRAPHIA PORTUGUESA/ILLUMINAÇÃO POPULAR. Imprensa Portuguesa. Porto, 1905.
[5] - PIRES, A. Thomaz. Cantos Populares Portugueses, vol. IV. Typographia e Stereotypia Progresso. Elvas, 1910.
[6] - SANTOS, Victor. Cancioneiro Alentejano – Poesia Popular. Livraria Portugal, Lisboa, 1959.
[7] - VASCONCELLOS, J. Leite de. Cancioneiro Popular Português. Volume III. Acta Universitatis Conimbrigensis. Coimbra,1983.
[8] - VASCONCELLOS, J. Leite de. Etnografia Portuguesa. Volume V. Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Lisboa, 1982.
[9] - VASCONCELLOS, J. Leite de. As Religiões da Lusitânia. Volume I. Imprensa Nacional, 1897.

LAREIRA-ESTREMOZ - Bilhete-postal ilustrado da 3ª Série de
"A EDITORA", reproduzindo desenho a tinta da China aguarelada
de Alberto de Souza (1880-1961), executado no início do século XX.
À esquerda, junto à cortina, está uma candeia suspensa da chaminé.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A bandeira nacional


PORTUGAL NA GUERRA - Bilhete-postal ilustrado com aguarela de
Alfredo Roque Gameiro (1864-1935). Edição da firma Paulo Guedes
e Saraiva,de Lisboa (1921). Selado na Casa da Moeda com selo
impresso de 6 C, rosa escuro, tipo Ceres.

O modelo da actual Bandeira Nacional, símbolo da soberania da República, da independência, da unidade e integridade de Portugal é o adoptado pela República instaurada pela Revolução de 5 de Outubro de 1910.
Foi aprovado por decreto da Assembleia Nacional Constituinte datado de 19 de Junho de 1911, publicado no Diário do Governo n.º 141 de 20 do mesmo mês, após ser seleccionado, entre várias propostas, o duma comissão cujos membros incluíam Columbano Bordalo Pinheiro, João Chagas e Abel Botelho.
O teor do decreto então aprovado é o seguinte:
"1.º A Bandeira Nacional é bipartida verticalmente em duas côres fundamentaes, verde escuro e escarlate, ficando o verde do lado da tralha. Ao centro, e sobreposto à união das duas côres, terá o escudo das Armas Nacionaes, orlado de branco e assentando sobre a esfera armilar manuelina, em amarello e avivada de negro. As dimensões e mais pormenores de desenho, especialização e decoração da bandeira são os do parecer da commissão nomeada por decreto de 15 de Outubro de 1910, que serão immediatamente publicados no Diário do Govêrno.
2.º O hymno nacional é A Portuguesa”.
Este decreto teve a sua regulamentação adequada, publicada no Diário do Governo n.º 150 (decreto de 30 de Junho de 1911), a qual veio dispor que:
"Em cumprimento do decreto da Assembleia Nacional Constituinte, de 19 do corrente mês de junho, se publica, para ter a devida execução, o seguinte:
Artigo l.º A Bandeira Nacional é bi-partida verticalmente em duas cores fundamentaes, verde-escuro e escarlate, ficando o verde do lado da tralha. Ao centro, e sobrepoato á união das duas côres, terá o escudo das Armas Nacionaes, orlado dó branco e assentando sobre a esfera armillar manuelina, em amarello e avivada de negro.
Art. 2.° O comprimento da bandeira será de vez e meia a altura da tralha. A divisória entre as duas cores fundamentaes deve ser feita do modo que fiquem dois quintos do comprimento total occupados pelo verde, e os três quintos restantes pelo vermelho, O emblema central occupará metade da altura da tralha, ficando equidistante das orlas superior e inferior.
Art. 3.° Nas bandeiras das differentes unidades militares, que serão talhadas em seda, a esfera armillar, em ouro, será rodeada por duas vergonteas de loureiro, tambem em ouro, cujas hastes se cruzam na parte inferior da esfera, ligados por lanço branco, onde, como legenda immortal, se inscreverá o verso camoneano: Esta é a ditosa pátria minha amada.
Altura d’esta bandeira — 1m,20.
Comprimento — 1m,30.
Diâmetro exterior da esfera — 0m,40.
Distancia entre o diâmetro da esfera e a orla superior da bandeira — 0m,35.
Distancia entro o diâmetro da esfera e a orla inferior da bandeira — 0m,45.
Art. 4.° A orla do jack será verde e do largura iguala um oitavo da tralha. O escudo e a esfera armillar assentarão sobro o pano central, escarlate, ficando equidistante das orlas superior e inferior. A altura do emblema central será de três sétimos da tralha. O comprimento do jack será igual ao da tralha. As flâmulas ser5o verdes e vermelhas.
Art. 5.° Nos sellos, moedas e mais emblemas officiaes, a esfera armilar será sempre rodeada pelas duas vergonteas de louro, com as hastes ligadas por um laço, conforme o desenho adoptado para as bandeiras regimentaes.”
Como a legislação sobre o uso da bandeira se encontrava dispersa e incompleta, mais recentemente o Decreto-lei n.º 150/87 de 30 de Março veio estabelecer as regras sobre as quais se rege o uso da bandeira.

Modelo da actual Bandeira Nacional.

A Bandeira de Portugal tem um significado republicano e nacionalista. Na perspectiva da Comissão encarregada da sua criação, podemos sistematizar, de uma forma simplificada, o simbolismo dos vários elementos da bandeira:

Publicado inicialmente em 7 de Outubro de 2010.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A Portuguesa

Por ocasião do Ultimato Inglês de 1890, Henrique Lopes de Mendonça (1856-1931)  escreveu, com música de Alfredo Keil (1850-1907), “A Portuguesa”, marcha fremente e empolgante, de intensa expressão patriótica que se tornou um sucesso e se popularizou em todo o país, por interpretar fielmente o sentimento patriótico de revolta contra o ultimato que a Inglaterra, em termos altivos e vexatórios, impusera a Portugal.

Versão inicial da letra e música de “A Portugueza”.

De salientar que a proclamação "contra os canhões, marchar, marchar", presente no refrão, é uma versão rectificada da letra original na qual se apregoava "contra os bretões, marchar, marchar", uma vez que o hino tinha sido produzido para reagir ao ultraje inglês.
Todavia, a marcha que fora concebida para unir os portugueses em torno de um sentimento comum, foi cantada pelos revolucionários de 31 de Janeiro de 1891, pelo que a partir daí a Monarquia proibiu a sua execução em actos oficiais e solenes.

31 de Janeiro, proclamação da República no Porto - 1891. A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
DAS JANELLAS DA CAMARA MUNICIPAL. Gravura de Bertrand Dete in in A Ilustração,
Paris 1891, vol. 3, p. 73.

Quando da implantação da República em 1910 "A Portuguesa" emerge espontaneamente de novo, sendo tocada e cantada nas ruas de Lisboa, tornando-se na sua versão completa, um consagrado símbolo nacional. A Assembleia Constituinte de 19 de Junho de 1911, que aprovou a Bandeira Nacional, proclamou "A Portuguesa" como Hino Nacional.

 Versão actual da letra e música de “A Portuguesa”.

Em 1956, constatando-se a existência de algumas variantes do Hino, não só em termos melódicos como nas instrumentações, especialmente para banda, o Governo nomeou uma comissão encarregada de estudar a versão oficial de "A Portuguesa", a qual elaborou uma proposta que seria aprovada através da resolução do Conselho de Ministros publicada no Diário do Governo, 1ª série, nº 199, de 4-9-1957. Esta versão oficial é a que está actualmente em vigor. A letra foi simplificada, tendo sido elaborada a versão para grande orquestra sinfónica, da autoria de Frederico de Freitas, e, a partir desta, a versão para grande banda marcial, pelo major Lourenço Alves Ribeiro.

Publicado em 6 de Outubro de 2010

domingo, 3 de outubro de 2010

A revolução do 5 de Outubro de 1910 e a mudança de paradigma


Fig. 1 - Proclamação da República Portuguesa. Estampa de autor desconhecido 1910.

O derrube da Monarquia a 5 de Outubro de 1910 foi fruto da acção doutrinária e política do Partido Republicano Português, criado em 1876 e cujo objectivo essencial foi desde o princípio, a substituição do regime.
As questões ideológicas não eram primordiais na estratégia dos republicanos, uma vez que para a maioria dos seus simpatizantes, bastava ser contra a Monarquia, a Igreja e a corrupção política dos partidos tradicionais.
Determinados eventos como as Comemorações do Tri-Centenário da Morte de Camões (1880) (Fig. 2) e o Ultimatum inglês (1890) (fig.3) foram aproveitados pela propaganda republicana, que se procurou identificar com os sentimentos nacionais e as aspirações das massas populares. O Partido Republicano alcançou então enorme popularidade.
Na noite de 3 para 4 de Outubro de 1910, eclodiu em Lisboa um Movimento Revolucionário, impulsionado pelo Partido Republicano e apoiado pela Marinha de Guerra e por forças do Exército. Após dois dias de combate (Fig.4 a fig.19), o Movimento Revolucionário triunfa devido à incapacidade de resposta do Governo, que não conseguiu reunir tropas que dominassem os cerca de duzentos revolucionários que na Rotunda resistiam de armas na mão. Ao Governo monárquico não resta outra saída senão demitir-se. A família real abandona o país. A República é proclamada na manhã de 5 de Outubro, das janelas da Câmara Municipal de Lisboa (Fig. 20 a fig. 23) e é constituído imediatamente um Governo Provisório (Fig. 25), presidido pelo Dr. Teófilo Braga, que assume como tarefa fundamental uma mudança radical nas instituições vigentes. [1]
Com a queda da Monarquia a 5 de Outubro de 1910, há uma mudança de paradigma. Uma Monarquia com oito séculos é substituída por uma República que tomou o poder nas ruas de Lisboa e depois de o proclamar às varandas da Câmara Municipal, o transmitiu para a província à velocidade do telégrafo.
As instituições e símbolos monárquicos (Rei, Cortes, Bandeira Monárquica e Hino da Carta) são proscritos e substituídos pelas instituições e símbolos republicanos (Presidente da República, Congresso da República, Bandeira Republicana e A Portuguesa), o mesmo se passando com a moeda e as fórmulas de franquia postais.

[1] – De acordo com a Revista “O Occidente”, nº 1144 e 1145 de 20 de Outubro de 1910, era o seguinte, O PROGRAMA Do GOVERNO: “Desenvolver a instrução; assegurar a defeza nacional, procurando colocar Portugal em condições de verdadeiro e sério aliado com a Inglaterra; desenvolver as colónias sob a base do self-gouvernement; conceder plena autonomia ao poder judicial; criar o sufrágio universal e livre, assegurar o crédito público; desenvolver a economia nacional; estabelecer o equilíbrio do orçamento; fazer respeitar todas as liberdades necessarias, expulsar frades e freiras em harmonia com as nossas seculares leis liberaes; instituir a assistencia social, decretar a separação da egreja do estado; remodelar os impostos.”
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Publicado inicialmente a 3 de Outubro de 2010  


Fig. 2 -  Festas do Tri-Centenário da Morte de Camões – Chegada do Cortejo
Cívico à Praça Luís de Camões (Desenho de Casanova -  Revista “O Occidente”,
nº 61 de 8 de Julho de 1880).

Fig. 3 - Manifestação patriótica em Lisboa, de repúdio pelo Ultimatum inglês, junto
ao monumento aos Restauradores (Desenho de L. Freire – Revista “O Occidente”,
nº 399 de 21 de Janeiro de 1890).

Fig. 4 - A Avenida da Liberdade, palco da Revolução (Fotografia reproduzida na Revista
“O Occidente”, nº 1144 e 1145 de 20 de Outubro de 1910).

Fig. 5 - Um aspecto do acampamento revolucionário, no alto da Avenida da Liberdade
(Cliché da “Mala da Europa”, reproduzido na Revista “O Occidente”, nº 1144 e 1145
de 20 de Outubro de 1910).

Fig. 6 - No acampamento revolucionário, o povo armado, nas barricadas que levantou
(Fotografias reproduzidas na Revista “O Occidente”, nº 1144 e 1145 de 20 de Outubro de 1910).

Fig. 7 - O acampamento revolucionário, povo, soldados de Infantaria 16 e Artilharia 1,
fazendo pontarias (Fotografias reproduzidas na Revista “O Occidente”, nº 1144 e 1145
de 20 de Outubro de 1910).

Fig. 8 - Revolucionários do 5 de Outubro entrincheirados na Rotunda (Fotografia de
Anselmo Franco – Arquivo Fotográfico do Arquivo Municipal de Lisboa).

Fig. 9 - No acampamento revolucionário, alguns momentos de armistício (Instantâneos
de Joshua Benoliel, reproduzidos na Revista “O Occidente”, nº 1144 e 1145 de 20 de
Outubro de 1910).

Fig. 10 - Revolucionários triunfantes hasteando a bandeira da República no seu
acampamento na avenida da Liberdade (Fotografia reproduzida na Revista
“O Occidente”, nº 1144 e 1145 de 20 de Outubro de 1910).

Fig. 11 - Revolucionários na Rotunda (Fotografia de Joshua Benoliel – Arquivo PCD).

Fig. 12 - Mulheres presentes nas barricadas da Rotunda (Fotografia de Joshua Benoliel –
- Arquivo PCD).

Fig. 13 - Mulheres presentes nas barricadas da Rotunda (Fotografia de autor não identificado,
provavelmente  Joshua Benoliel).

Fig. 14 - Lado a lado, civis e militares nas barricadas da Rotunda (Fotografia de Joshua
Benoliel – Arquivo PCD).

Fig. 15 - Os marinheiros que desembarcaram dos navios de guerra, passando no Rocio,
dirigem-se para o acampamento da Revolução na Avenida da Liberdade (Fotografia da
Revista “O Occidente”, nº 1144 e 1145 de 20 de Outubro de 1910).

Fig. 16 - Manifestação entusiástica de apoio à revolução republicana por parte de
populares e de soldados da Guarda Fiscal que empunham a bandeira republicana.
(Fotografia de Joshua Benoliel – Arquivo Fotográfico do Arquivo Municipal de Lisboa).

Fig. 17 - O quartel-general dos revolucionários instalado na casa
do Sr. Costa Lopes na Avenida da Liberdade (Fotografia reproduzida
na Revista “O Occidente”, nº 1144 e 1145 de 20 de Outubro de 1910).

Fig. 18 - No Largo das duas Igrejas. Os revolucionários percorrem em trens
as ruas de Lisboa (Fotografia reproduzida na Revista “O Occidente”,
nº 1144 e 1145 de 20 de Outubro de 1910).

Fig. 19 - No Rocio – Os revolucionários saúdam o povo de Lisboa que os aclama
(Fotografia do Estúdio Mário Novais - Arquivo Fotográfico do Arquivo Municipal
de Lisboa).

Fig. 20 - O povo em frente à Câmara Municipal de Lisboa durante a proclamação da
República (Fotografia de Joshua Benoliel – Arquivo Fotográfico do Arquivo Municipal
de Lisboa).

Fig. 21 - O povo em frente à Câmara Municipal de Lisboa aclama a proclamação da
República (Fotografia de Joshua Benoliel – Arquivo Fotográfico do Arquivo Municipal
de Lisboa).

Fig. 22 - O Governador Civil, Eusébio Leão, à varanda da Câmara Municipal de Lisboa, após a proclamação
da República, aconselha comedimento nos ânimos populares (Fotografia de Joshua Benoliel – Arquivo
Fotográfico do Arquivo Municipal de Lisboa).

Fig. 23 - Inocêncio Camacho, à varanda da Câmara Municipal de Lisboa, após a proclamação da República,
lê os nomes dos membros do Governo Provisório (Fotografia de Joshua Benoliel – Arquivo Fotográfico do
Arquivo Municipal de Lisboa).

Fig. 24 - Depois da revolução, recolhendo as armas (Fotografia reproduzida na Revista “O Occidente”,
nº 1144 e 1145 de 20 de Outubro de 1910).


Fig. 25 - Bilhete-postal humorístico da época com o GOVERNO PROVISÓRIO DA REPÚBLICA. Da esquerda
para a direita: BRITO CAMACHO (Ministro do Fomento), AMARO JUSTINIANO DE AZEVEDO GOMES
(MINISTRO DA MARINHA E DO ULTRAMAR), ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA (Ministro do Interior), TEÓFILO
BRAGA  (Presidente do Conselho de Ministros), ANTÓNIO XAVIER CORREIA BARRETO (Ministro da Guerra),
BERNARDIM MACHADO (Ministro dos Negócios Estrangeiros), AFONSO COSTA (Ministro da Justiça e Cultos),
JOSÉ RELVAS (Ministro das Finanças).

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Irmãs Flores - Bonequeiras de Estremoz

A literatura filatélica

O nosso fado de coleccionadores leva-nos a deambular por aqui e por ali, à procura dum objecto que não encontramos, qual alquimista que procura sem sucesso a pedra filosofal, qual cavaleiro que procura igualmente sem sucesso o Santo Graal, mas não é por isso que deixam de procurar.
Por vezes até encontramos, mas a magreza da carteira não nos permite alimentar veleidades de posse. Resta-nos então a possibilidade de registo com o olhar, qual chapa fotográfica que procura fixar através do brometo, a beleza dum objecto que nos encheu as medidas.
Muitas vezes no regresso do mercado de sábado, marcados pelo sucesso ou insucesso de alguma compra, somos conduzidos sem dar por isso, à oficina-loja das irmãs Flores, duas barristas nossas vizinhas, a quem visitamos amiúde no Largo da República, em Estremoz, fascinados pela magia emergente das suas mãos de barristas populares. Por vezes, quando damos por nós, estamos lá em plena semana, o que tem o triplo significado de que o sábado anterior passou há muito, que o próximo ainda vem longe e de que gostamos muito de falar com elas, enquanto assistimos à gestação e ao nascimento dos bonecos. Poderá, porventura, haver maior felicidade para um coleccionador que a possibilidade de com o olhar, poder ser cúmplice com os criadores no próprio acto de criação?
As irmãs Flores, Maria Inácia e Perpétua, de seus nomes, discípulas de mestra Sabina Santos, com ela aprenderam a nobre arte do barro e com ela aprenderam a respeitar o que de mais genuíno têm os bonecos de Estremoz, no que respeita a modelos e tipos característicos, formas, cores e tintas. Mas, também e simultaneamente criaram novos modelos e apostaram em novos tamanhos, que têm vindo a enriquecer a vastíssima galeria de modelos de bonecos de Estremoz. São de sua criação há muito, bonecos como “Senhora a ler”, “A filatelia”, "A literatura filatélica", “O farmacêutico”, “A gastronomia”, “A florista”, “O acabamento da ceifa”, “Cristo na cruz” ,“Camponês rico“, bem como novos de modelos de presépio. Naturalmente que continuam a executar modelos tradicionais, como “Primaveras”, “O amor é cego”, “Púcaros”, “Cantarinhas”, “Peraltas “, “Cavaleiros”, “Pastores”, “Ceifeiras”, “Negros floristas”, etc., pois a imaginária popular é vasta.
Os bonecos são fabricados por elementos: cabeças, troncos, pernas, braços, que depois são montados de modo a constituir os bonecos. Estes, tal como nós, nascem nus e só depois é que recebem vestidos, capas, safões, cabelos e chapéus. Todas as peças são afeiçoadas à mão, à excepção do rosto dos bonecos, que é feito com moldes e sempre assim foi, devido à dificuldade em o fazer manualmente. As ferramentas que utilizam para trabalhar o barro são a palheta ou teque (de madeira, plástico ou metal, que permite escavar o barro e dar-lhe forma), os furadores (para furar) e o batedor (para estender o barro (embora haja quem o faça com o rolo da maça).
Antes de serem cozidos, os bonecos têm de secar durante vários dias. Depois de cozidos, os bonecos levam um dia para arrefecer. Só então podem ser pintados. Nesta operação são utilizados pincéis finos de várias espessuras e tintas fabricadas com pigmentos minerais: vermelhão (vermelho), almagre (vermelho escuro), zarcão (cor de laranja), terra de sena (castanho), verde bandeira (verde), azul do ultramar (azul), alvaiade (branco) e pó de sapato (preto). As tintas são feitas misturando os pigmentos com água e cola de madeira, um pouco a olho, mas na quantidade adequada para que a tinta agarre bem ao barro e não salte quando se lhe põe verniz, uma vez que depois da pintura estar seca (o que é rápido), os bonecos são envernizados para fixar a tinta.
As irmãs Flores são continuadoras da arte das “boniqueiras”, mulheres referidas em acta do Município de Estremoz de 10 de Outubro de 1770, conforme investigação recente de Hugo Guerreiro. Dessas boniqueiras são as peças do século XVIII e século XIX que estão no Museu Municipal Prof. Joaquim Vermelho, em Estremoz.


Pastor a comer as migas

Coqueira

Cozinha dos ganhões

Mulher a fazer chouriços

Castanheira

Mulher a cozinhar
Primavera de arco

Senhora a ler

Lavradeira de Viana do Castelo