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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Adagiário do frio


Mulher da azeitona de Estremoz. Ilustração de Cesar Abbott.
Bilhete-postal ilustrado edição Centro de Novidades (Porto, 1942).

O QUE É O FRIO
O Inverno é caracterizado por baixas temperaturas, responsáveis por sentirmos frio. Este é uma sensação fisiológica contrária à sensação de calor e está associado às baixas temperaturas.
É sabido da Física que pelo “Princípio Fundamental da Calorimetria”, “Quando se põem em contacto dois corpos a temperaturas diferentes, o mais quente arrefece e o mais frio aquece, até ficarem ambos à mesma temperatura”. Por isso no Inverno, como o meio ambiente está a uma temperatura inferior à do nosso corpo, este tende a perder calor por irradiação a favor do meio ambiente, o que se traduz num abaixamento da temperatura do nosso corpo. Por isso sentimos frio. No Verão é exactamente o contrário, pois o meio ambiente está a uma temperatura superior à do nosso corpo, pelo que tende a perder calor por irradiação a favor do nosso corpo, pelo que a temperatura deste aumenta. Daí sentirmos calor.

TRAJE POPULAR ALENTEJANO
Para nos protegermos do frio usamos vestuário, que funciona como barreira à perda de calor corporal, por isolamento térmico. O traje popular alentejano assegurava sabiamente esse isolamento.
O camponês alentejano usava barrete na cabeça que lhe protegia as orelhas do frio, ao contrário do chapéu. Usava ainda pelico ou samarra de pele de borrego ou de ovelha e por baixo destes, sucessivamente colete, camisola e camisa. Uma cinta cingia a cintura. Nas pernas, safões de pele de ovelha ou de borrego. Por baixo, sucessivamente calças de saragoça forte e ceroulas de flanela. Podia ainda cobrir-se ou transportar ao ombro uma espessa, pesada e quente manta alentejana, fabricada em centros com tradições tecelãs (Reguengos de Monsaraz, Mértola, Castro Verde, Grândola, Almodôvar e Serpa.). Nos pés, sapatos grossos de atanado com polainas ou botas caneleiras ou joelheiras e por baixo destas, grossas meias de lã. Assim trajavam pastores e ganhões durante a jorna (lavrar, charruar, cavar, podar). Terminada esta e em certas circunstâncias podiam usar capote de saragoça ou de burel.

Maioral e ajuda, figuras da pastorícia alentejana, no início do séc. XX.
Bilhete-postal ilustrado edição Malva (Lisboa).

Pastor alentejano.
Aguarela de Alberto de Souza (1880-1961), pintada em 1935. 

Pastor (Início do séc. XX).
Bilhete-postal ilustrado edição de Faustino António Martins (Lisboa). 

Um campónio alemtejano em dia de festa.
Bilhete-postal ilustrado edição Costa (Lisboa).

As camponesas alentejanas que participavam na apanha da azeitona e na monda, usavam uma saia forte, atada em forma de calças, a fim de facilitar o trabalho. Nas pernas, grossas meias de lã e nos pés sapatos fortes de atanado. No tronco, para além da roupa interior, camisa, blusa de malha e xaile. Nos braços, mangueiras de um tecido barato, visando proteger as mangas da blusa durante o trabalho. A cabeça era protegida por um lenço, atado atrás. Por cima do lenço usavam um chapéu de feltro.

ADAGIÁRIO DO FRIO
É diversificado e vasto o adagiário português, onde é utilizada explicitamente a palavra frio. Até à presente data recolhemos 100 adágios sobre o frio, os quais foram sistematizados, conforme adiante se indica.
  
Existem indícios do frio:
- Quando a candeia chora, está o frio fora; quando ri está o feio para vir.
O frio tem determinadas consequências:
- A chuva e o frio metem a lebre a caminho. (1)
- A fome e o frio metem um homem em casa do inimigo. (2)
- A fome e o frio nunca criaram infante.
- A fome e o frio obrigou-o a fazer as pazes com o tio.
- Dá-lhes frio e sequidão que as terras te gearão
- Fome e frio fazem o gado galego. (3)
- Frio e fome não fazem bom cabelo.
- Frio, focinho e bico, não fazem ninguém rico.
- Manhã fria traz bom dia.
- Norte frio, água no rio.
- Um dia frio e outro quente, põem o homem doente. (4)
Nem tudo é consequência do frio:
- Frio não quebra osso e chuva não quebra costela.
O frio pode ser um mal menor:
- Antes frio e geada que chuva porfiada.
- Não temam o frio nem a geada, mas a chuva porfiada. (5)
O frio pode ser superado:
- Quem tem brio não tem frio.
- Frio a valer, trabalhar para aquecer.
- Quem não anda por frio e por sol não faz seu prol.
O frio pode ser uma livre opção:
- Pai com frio, filho com cobertor.
Existem relações do frio com o calor:
- O que tapa o frio tapa o calor.
- Calma em tempo frio traz molhado. (6)
-  Calor em tempo frio, chuva por castigo. (7)
O frio é medido fisiologicamente por órgãos anatómicos animais ou humanos:
- Frio como nariz de cão. (8)
O frio está indissociavelmente relacionado com o vestuário:
- A cada qual dá Deus o frio conforme o vestido. (9)
- Cada um sente o frio, conforme a coberta. (10)
- Dá Deus roupa segundo o frio.
A sanidade exige o equilíbrio entre o frio e o calor:
- A saúde é a justa medida entre o calor e o frio.
O frio pode gerar o ruído:
- O bácoro, a fome e o frio, fazem grande ruído.
- Porcos com frio e homens com vinho fazem grande ruído.
O frio está patente no adagiário dos meses:
- Bom tempo no Janeiro e mau no estio, bom ano de fome, mau ano de frio.
- Chuva em Janeiro e não frio, dá riqueza no estio. (11)
- Janeiro frio e molhado não é bom para o gado.
- Janeiro frio e molhado, enche a tulha e farta o gado.
- Janeiro frio ou temperado, passa-o enroupado. (12)
- Janeiro geoso, Fevereiro nevoso. Março frio e ventoso, Abril chuvoso e Maio pardo, fazem um ano abundoso.
- Em Fevereiro neve e frio, é de esperar calor no estio.
- Em Fevereiro, frio ou quente, chova sempre.
- Fevereiro, fêveras de frio e não de linho. (13)
- Abril frio e molhado, enche o celeiro e o gado. (14)
- Abril frio, pão e vinho. (15)
- Frio de Abril as pedras vai ferir. (16)
- Maio frio e Junho quente fazem o lavrador valente.
- Maio frio e Junho quente: bom pão, vinho valente. (17)
- Maio frio e ventoso, faz o ano formoso.
- Em Junho, frio como punho.
- Agosto, frio em rosto. (18)
- Em Agosto passa o frio pelo rosto.
- Ande o frio onde andar, no Natal cá vem parar. (19)
- Ande o Natal por onde andar, que ele o frio há-de ir buscar.
- Dezembro com Junho ao desafio, traz Janeiro frio.
- Dezembro frio, calor no estilo.
- Em Dezembro treme de frio cada membro. (20)
O frio pode constituir uma qualidade:
- A água é fria, mas mais é quem com ela convida.
- A faneca, com três efes: fresca, fria e frita.
Há actos que devem ser praticados a frio:
- A vingança é um prato que se come frio.
- O caldo quente e a injúria em frio.

.....................

(1) Variante:
- A fome e o frio faz vir a lebre ao caminho.
(2) Variantes:
- Fome e frio entregam o homem ao seu inimigo.
- A fome e o frio fazem o homem acolher-se à casa do inimigo.
- Fome e frio metem a pessoa com seu inimigo.
- Fome e frio te fará meter com teu inimigo.
(3) Variantes:
- A fome e o frio fazem o gado galego.
- Fome, frio e mau trato, fazem o gado galego.
- O frio e a fome fazem o gado galego.
(4) Variantes:
- Dia frio e dia quente, fazem andar o homem doente.
- Dia frio e outro quente, faz o homem doente.
(5) Variante:
- Não hei medo ao frio nem à geada, senão á chuva porfiada.
(6) Variante:
- Calma em tempo frio traz molhado; frio em tempo molhado, traz resfriado.
(7) Variante:
- Calor em tempo frio, trá-lo molhado.
(8) Variantes:
- Calcanhar de homem, cu de mulher e focinho de cão, nunca sentem o Verão.
- Calcanhar de homem, cu de mulher e nariz de cão, três coisas frias são.
- Cu de mulher e nariz de cão, nunca conheceram Verão.
- Há duas coisas que não conhecem Verão: rabo de mulher e focinho de cão.
- Nariz de cão, cu de mulher e mãos de barbeiro, frios como gelo.
- Nariz de cão e cu de gente, nunca está quente.
- Nariz de cão e cu de mulher estão sempre frios.
(9) Variantes:
- A cada um dá Deus o frio conforme a roupa, mas mais a quem tem pouca.
- A cada qual dá Deus o frio conforme a roupa.
- A cada qual dá Deus o frio conforme anda vestido.
- Dá Deus o frio conforme a roupa.
- Deus dá o frio conforme a roupa.
(10) Variante:
- Cada um sente o frio, como anda vestido.
(11) Variante:
- Chuva de Janeiro e não frio, vai dar riqueza ao estio.
(12) Variante:
- Janeiro frio ou temperado, não deixa de ir enroupado.
(13) Variante:
- Em Fevereiro, febras de frio e não de linho.
- Em Fevereiro, fibras de frio e não de linho.
(14) Variante:
- Abril frio e molhado, enche celeiro e farta o gado.
(15) Variantes:
- Abril frio, traz pão e vinho.
- Abril frio, ano de pão e vinho.
(16) Variante:
- Frio de Abril, nas pedras vá ferir.
(17) Variante:
- Maio frio, Junho quente, bom pão, vinho valente.
(18) Variante:
- Agosto, frio no rosto.
(19) Variantes:
- Ande o frio por onde andar que o Natal o irá buscar.
- Ande o frio por onde andar, ao Natal há-de vir parar.
- Ande o frio por onde andar, no Natal cá vem parar.
- Ande o frio por onde andar, o Natal o vai buscar.
- Ande o frio por onde andar, pelo Natal cá vem parar.
- Ande o frio por onde andar, pelo Natal há-de chegar.
(20) Variante:
- Em Dezembro treme o frio em cada membro.
(21) Variante:
- O caldo em quente, a injúria em frio.

Texto publicado inicialmente em 25 de Outubro de 2012

sábado, 23 de junho de 2012

Alavanca interfixa

CRIANÇAS NO BALOIÇO (séc. XVIII). Painel de azulejos portugueses no Museu do Açude
(Rio de Janeiro), antiga residência de Verão de Raymundo Ottoni de Castro Maya (1894-1968), empresário, mecenas coleccionador que deixou um legado de 22.000 obras de arte.

A figura mostra duas crianças a brincarem num baloiço constituído por um tronco apoiado no tronco de outra árvore abatida. A brincadeira consiste em andarem alternadamente para cima e para baixo, graças ao impulso que cada um delas alternadamente imprime.
Quando a criança da esquerda dá um impulso com os pés, é ela que sobe, enquanto que a criança da direita, desce. Quando esta bate com os pés no chão, dá um impulso que a faz subir, ao mesmo tempo que a criança da esquerda desce e assim sucessivamente até a brincadeira acabar.
Para a brincadeira resultar, quando estão parados, o tronco onde estão sentados tem que estar em equilíbrio. Se eles tiverem o mesmo peso,têm que se sentar à mesma distância do ponto de apoio (fulcro) do tronco onde estão sentados. Caso contrário, aquele que for mais pesado tem que ficar mais próximo do ponto de apoio, ao passo que o que for mais leve tem que ficar mais afastado desse ponto.
O “baloiço” constitui um exemplo daquilo que em Física se chama “alavanca interfixa”, a qual está esquematizada na figura seguinte:


Na figura estão esquematizados os pesos das crianças e as respectivas distâncias ao fulcro. A condição de equilíbrio da alavanca interfixa é:


Por outras palavras: os pesos das crianças são inversamente proporcionais às distâncias a que estas estão sentadas relativamente ao fulcro, o que está de acordo com a análise do movimento expressa na imagem do painel azulejar aqui mostrado.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Arco-Íris


Políptico do Julgamento Final (1448-1451).
Rogier van der Weyden (c. 1399-1464).
Óleo sobre tela (215 × 560 cm).
Hôtel-Dieu of Beaune, France.

Iconografia do arco-íris
O "arco-irís” foi desde tempos remotos um tema abordado pelos grandes nomes da pintura universal, dos quais destacamos, associados por épocas/correntes da pintura:
- RENASCENÇA: Rogier van der Weyden (c. 1399-1464), flamengo; Michel Wolgemut (1434 - 1519), Wilhelm Pleydenwurff. (c. 1460-1494), Albrecht Dürer (1471–1528), todos eles alemães.
- BARROCO: Pieter Pauwel Rubens (1577-1640), flamengo; Pieter Pauwel Rubens (1577-1640), flamengo; Pieter Pauwel Rubens (1577-1640), flamengo; Jan Siberechts (1627-c.1703), flamengo; Autor desconhecido (c. 1714); Joseph Wright (1734-1797), inglês.
- RÓCÓCÓ: Jacob Cats (1741-1799), holandês.
- ROMANTIISMO: Joseph Anton Koch (1768-1839), austríaco; Joseph Anton Koch (1768-1839), austríaco; Joseph Mallord William Turner (1775-1851), ingles; John Constable (1776–1837), inglês;
- NEOCLASSICISMO: Pierre-Narcisse Guérin (1774-1833), francês.
- REALISMO: Károly Markó, o Velho (1822-1891), húngaro; John Everett Millais (1829–1896), inglês.
Trata-se em geral de paisagens onde se observam condições propícias à produção de arco-íris ou então cenas religiosas que têm a ver com o Julgamento Final ou o Dilúvio (Génesis, 9).

Ilustração da Crónica de Nuremberg (1493).
Ilustradores: Michel Wolgemut (1434 - 1519),
 Wilhelm Pleydenwurff. (c. 1460-1494).
Texto: Hartmann Schedel (1440 - 1514). 
Melancolia Imaginativa (1514).
Albrecht Dürer (1471–1528).
Gravura com placa de cobre.
British Library, London. 
Paisagem com Arco-Íris (1632-35).
Pieter Pauwel Rubens (1577-1640).
Óleo sobre tela (86x130 cm).
The Hermitage, St. Petersburg. 
Paisagem com Arco-Íris (c. 1636).
Pieter Pauwel Rubens (1577-1640).
Óleo sobre painel.
Alte Pinakothek, Munich. 
Paisagem com Arco-Íris (c. 1638).
Pieter Pauwel Rubens (1577-1640).
Óleo sobre painel (136x236 cm).
Wallace Collection, London. 
Paisagem com Arco-Íris, Henley-on-Thames (c. 1690).
Jan Siberechts (1627-c. 1703).
Óleo sobre tela (82,5x103 cm).
Tate Gallery, London. 
 Santelmo Socorrendo os Náufragos (c. 1714).
Autor desconhecido.
Óleo sobre tela.
Capela do Palácio do Corpo Santo, em Setúbal.
Paisagem com Arco-Íris (c. 1795).
Joseph Wright (1734-1797).
Óleo sobre tela (81x107 cm).
Derby Museum and Art Gallery, Derby. 
Paisagem de Outono com Arco-Íris (1779).
Jacob Cats (1741-1799).
Aguarela e caneta (334x415 mm).
Rijksmuseum, Amsterdam. 
Paisagem Heróica com Arco-Íris (1815).
Joseph Anton Koch (1768-1839).
Óleo sobre tela (188x171 cm).
Neue Pinakothek, Munich. 
Joseph Mallord William Turner (1775 1851).
Castelo Arundel no Rio Arun, com um arco-Íris (c. 1824-5).
Aguarela sobre papel (161x230 mm).
Collection Tate, England. 
Catedral de Salisbúria vista dos prados (1831).
John Constable (1776–1837).
Oil on canvas (151,8 cm×189,9 cm).
National Gallery, London. 
Paisagem Italiana com Viaduto e Arco-Íris (1838).
Károly Markó, o Velho (1822-1891).
Óleo sobre tela (75x100 cm).
Colecção privada. 
Heidelberg com um Arco-Íris (c. 1841).
Joseph Mallord William Turner (1775 1851).
Aguarela sobre papel (311x521 mm).
Colecção privada. 
A Rapariga Cega (1856).
John Everett Millais (1829–1896).
Óleo sobre tela.
Birmingham Museum and Art Gallery

O arco-íris na Mitologia e na Bíblia
Na Mitologia Greco-Latina, o arco-íris era considerado o rasto deixado pela deusa Íris, que era a mensageira dos deuses e, em particular, de Zeus e de Hera. Tinha por função estabelecer a ligação entre a Terra e o Céu, entre os deuses e os homens.
Morfeu e Íris (1811).
Pierre-Narcisse Guérin (1774-1833).
Óleo sobre tela (251x178 cm).
The Hermitage, St. Petersburg.
De acordo com a tradição bíblica, o arco-íris foi apelidado por Deus como "arco-da-aliança". No décimo sétimo dia do sétimo mês, após o Dilúvio, a arca de Noé encalhou sobre os montes de Ararat (Génesis 8,4) e Deus anunciou que nunca mais iria inundar a Terra e depois de chover, o seu arco apareceria nas nuvens e esse seria o símbolo da aliança estabelecida entre Ele todas as criaturas que estão na Terra. De acordo com Génesis, 9:
8. Disse também Deus a Noé e a seus filhos:
9. “Vou fazer uma aliança convosco e com vossa posteridade,
10. assim como com todos os seres vivos que estão convosco: as aves, os animais domésticos, todos os animais selvagens que estão convosco, desde todos aqueles que saíram da arca até todo animal da terra.
11. Faço esta aliança convosco: nenhuma criatura será destruída pelas águas do dilúvio, e não haverá mais dilúvio para devastar a terra.”
12. Deus disse: “Eis o sinal da aliança que eu faço convosco e com todos os seres vivos que vos cercam, por todas as gerações futuras:
13. Ponho o meu arco nas nuvens, para que ele seja o sinal da aliança entre mim e a terra.
14. Quando eu tiver coberto o céu de nuvens por cima da terra, o meu arco aparecerá nas nuvens,
15. e me lembrarei da aliança que fiz convosco e com todo ser vivo de toda espécie, e as águas não causarão mais dilúvio que extermine toda criatura.
16. Quando eu vir o arco nas nuvens, eu me lembrarei da aliança eterna estabelecida entre Deus e todos os seres vivos de toda espécie que estão sobre a terra.”
17. Dirigindo-se a Noé, Deus acrescentou: “Este é o sinal da aliança que faço entre mim e todas as criaturas que estão na terra.”

Paisagem com as ofertas de Noé (c. 1803).
Joseph Anton Koch (1768-1839).
Óleo sobre tela (86×116 cm).
Städelsches Kunstinstitut und Städtische Galerie, Frankfurt am Main.

A Física do arco-íris
O arco-íris é um fenómeno óptico causado pela dispersão da luz do Sol que sofre refracção nas gotas de chuva, que são aproximadamente esféricas ou então próximo de quedas de água. A luz sofre uma refracção inicial quando penetra na superfície da gota de chuva, aproximando-se da normal ao ponto de incidência, uma vez que passa dum meio opticamente menos denso (ar) para um meio opticamente mais denso (água). Dentro da gota, a luz sofre reflexão interna total, voltando agora a sofrer nova refracção ao sair da gota. Como a luz transita agora dum meio opticamente mais denso (água) para um meio opticamente menos denso (ar), a luz afasta-se da normal ao ponto de emergência. O resultado final é que a luz branca do sol, que é uma luz composta de luz de diferentes cores (comprimentos de onda ou frequências), ao emergir das gotas aparece decomposta num espectro de sete cores: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. A luz violeta é mais desviada que a luz vermelha, mas é esta que aparece mais alta no ceu e constitui a cor mais externa do arco-íris.

Mecanismo de dispersão da luz do sol numa gota de águ
(Imagem retirada da Wikipédia)

O arco-íris não existe num local determinado do céu. Trata-se de uma ilusão de óptica cuja posição aparente depende da posição do observador. Ainda que todas as gotas de chuva refractem e reflictam a luz do sol de igual maneira, apenas a luz de algumas chega até o olho do observador. Estas gotas são compreendidas como o arco-íris para aquele observador. A sua posição é sempre na direcção oposta do Sol em relação ao observador, sendo o seu interior uma imagem aumentada do Sol, ligeiramente menos brilhante que o exterior. Quanto ao arco em si, ele é centrado na sombra do observador, aparecendo num um ângulo de aproximadamente 40°– 42° com a linha entre a cabeça do observador e sua sombra Por isso, se o Sol está mais alto que 42°, o arco-íris fica abaixo do horizonte e não pode ser visto, a menos que o observador esteja no topo de uma montanha ou num aeroplano. Neste último é possível ver o círculo completo do arco-íris, centrado na sombra do avião.
Os arco-íris podem ser visualizados com diferentes tamanhos porque, o que depende do ângulo de visão. Se perto do arco-íris existirem objectos longínquos, como montanhas, o arco-íris parecerá maior. Se pelo contrário, estiver perto de objectos mais próximos, parecerá menor.
Por vezes, um segundo arco-íris mais fraco é visto no exterior do arco-íris principal, o que é devido a uma dupla reflexão da luz do sol nas gotas de chuva, aparecendo num ângulo de 50°–53°. Devido a esta reflexão extra, as cores do arco passam a ter posições invertidas em relação às do arco-íris principal, com o azul no lado exterior e o vermelho no interior.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O homem primitivo e a conquista do cosmos


HOMEM PRIMITIVO
Imagem recolhida de:

O nascimento da Geometria
Nos primórdios do tempo, o homem primitivo terá verificado que ao assentar a lança no solo brando ou na neve, ficava gravada uma marca que aumentava de tamanho, se no seu movimento arrastasse a lança. Deste modo, terá mentalmente elaborado as noções daquilo a que hoje chamamos ponto e linha. Daqui até à distinção entre linha recta e linha curva foi um passo, já que não lhe terá sido difícil reconhecer que as marcas gravadas nem sempre eram iguais, pois umas vezes andava a direito e outras não. Terá também reconhecido que a linha curva se poderia fechar sobre si própria, assim como a curvatura poderia ser variável ou sempre igual. Assim terá chegado à noção daquilo a que se viria a chamar circunferência. Estas noções empíricas de ponto, linha recta, linha curva e circunferência, constituiriam as bases materiais da Geometria, que terá encontrado em Euclides de Alexandria (360 a.C. - 295 a.C.), um dos seus mais altos expoentes na antiguidade clássica.

O nascimento da Mecânica
Por outro lado, a observação do movimento de calhaus rolados nos cursos de água, terá levado o homem primitivo a associar a facilidade de movimento destes calhaus ao facto de terem curvatura e serem desprovidos de saliências e reentrâncias. Daí até ao transporte de carga sobre troncos roliços foi novamente um passo. Estava assim descoberta a roda e com ela, as bases materiais da Mecânica, que na antiguidade clássica teve grande incremento graças ao trabalho de sábios como Arquimedes de Siracusa (287-212 a.C.).

Na terra e na água
O nascimento da Geometria e da Mecânica estão indissociavelmente ligados à necessidade de movimento e de transporte de carga pelo homem primitivo. Assim terão nascido os primeiros caminhos, antepassados remotos das redes de estrada e de caminhos-de-ferro.
O mesmo se terá passado relativamente ao movimento e transporte de carga nos cursos de água e nos lagos, em trajectos curtos, percursores das grandes rotas marítimas das descobertas de quinhentos.

O sonho de Ícaro
Subjugado pelas condições de extrema dureza da sua vida material, o homem primitivo terá decerto alimentado o sonho de voar como as aves que o rodeavam. Todavia, o chamado sonho de Ícaro, é do domínio da mitologia grega. Segundo esta, Ícaro era filho de Dédalo, o construtor do labirinto de Creta onde o rei Minos aprisionava o Minotauro, criatura híbrida, misto de homem e de touro. Caídos em desgraça, Ícaro e Dédalo, foram aprisionados numa torre por ordem do Rei Minos. Apesar de se conseguirem libertar da prisão, não conseguiam sair da ilha de barco, devido à estreita vigilância que o monarca exercia sobre os barcos. Dédalo construiu então asas artificiais para si e para seu filho, confeccionadas com penas de gaivotas e mel de abelhas. Antes de fugirem, Dédalo advertiu Ícaro para não voasse perto do sol, para a cera das asas não derreter, nem muito perto do mar, porque a espuma das ondas poderia tornar as asas mais pesadas. Todavia, Ícaro não atendeu os conselhos paternos e querendo realizar o sonho de voar próximo do sol, viu as suas asas desfazerem-se, despenhando-se no mar Egeu, enquanto seu pai, pesaroso com o sucedido, vou para a costa, onde chegou a salvo. O mito de Ícaro aborda temas como o efeito nefasto que pode ter um conselho, bem como o desejo de homem querer ir sempre mais longe, correndo o risco de se encontrar face à sua condição de simples ser humano.

A concretização do sonho de Ícaro
A concepção do balão de ar quente como meio de deslocação aérea deve-se ao padre brasileiro, Bartolomeu de Gusmão (1685-1724). A primeira demonstração com êxito do movimento ascensional de um balão de ar quente foi por ele realizada, utilizando um pequeno balão de papel pardo grosso, cheio de ar quente, produzido pelo fogo contido numa tigela de barro incrustada na base de um tabuleiro de madeira. A experiência decorreu com sucesso a 8 de Agosto de 1709, no Pátio da Casa da Índia, em Lisboa, na presença de D. João V, a rainha D. Maria Ana de Habsburgo, o Núncio Cardeal Conti, o Infante D. Francisco de Portugal, o Marquês de Fonte, fidalgos e damas da Corte. O balão subiu lentamente no ar e quando a chama se extinguiu, foi cair no Terreiro do Paço. O trabalho do padre Bartolomeu de Gusmão precedeu em 74 anos, as experiências com aeróstatos desenvolvidas pelos irmãos Montgolfier, Joseph Michel (1740-1810) e Étienne (1745-1799). Depois de várias experiências, no dia 21 de Novembro de 1783, perante o Rei Luís XVI a Rainha Maria Antonieta fizeram subir um balão de 32 m de circunferência , confeccionado em tela de linho e que foi enchido com fumo de uma fogueira de palha seca. O balão do qual estava suspenso um cesto, transportava dois tripulantes, Pilatre de Rozier e François Laurent, marquês de Arlandes, sobrevoou Paris e percorreu cerca de nove quilômetros em 25 minutos.
Em 23 de Outubro de 1906, o brasileiro Santos Dumont utilizando o seu famoso avião 14-Bis, efectuou em Paris, aquele que é considerado o primeiro voo bem sucedido de um avião, no qual percorreu uma distância de 221 metros.

Explorando o cosmos
Actualmente, as viagens cósmicas tripuladas ou não, só são possíveis, graças à acção de uma vasta equipa de cientistas e complexos cálculos de trajectórias, bem como devido à existência omnipresente de sofisticados mecanismos. Todavia, na génese de tudo isto está um contínuo acumular de saberes que entroncam nos arquétipos de natureza geométrica e mecânica do homem primitivo.


PARTIDA DE VASCO DA GAMA PARA A ÍNDIA EM 1497.
Aguarela de Alfredo Roque Gameiro (1864-1935).
 
A QUEDA DE ÍCARO (1636-1638)
Peter Paul Rubens (1577-1640)
Óleo sobre tela
Museu de Arte Antiga, Bruxelas. 
 EXPERIÊNCIA DE BARTOLOMEU DE GUSMÃO
Quadro de Bernardino de Sousa Pereira
Museu Paulista, São Paulo.
ASCENÇÃO CATIVA DE UM BALÃO MONGOLFIER
(JEAN-FRANÇOIS PILÂTRE DE ROZIER)
NOS JARDINS DA PAPELARIA RÉVEILLON,
A 19 DE OUTUBRO DE 1783.
Desenho de de Claude-Louis Desrais (1746-1816). 
 COSMOS
Imagem recolhida de:

segunda-feira, 14 de março de 2011

Do coice ao Cavalo-vapor

Churrião. Bilhete-postal ilustrado do início do século XX (Edição de Faustino António Martins, Lisboa).

Órfãos de pai e mãe, discípulos acidentais de Proust, procuramos angustiadamente o tempo perdido.
Foi na velha Albion, nos primórdios da Revolução Industrial, que os iniciáticos da energia elástica do vapor, deram o golpe de misericórdia na empregabilidade e ultrajaram a convicção libertária de que o Homem é o capital mais importante. Económica e sociologicamente estiveram na génese do capitalismo, das sequelas que se lhe seguiram, bem como de outros “ismos” que prosseguiram na sua peugada. Todavia e numa perspectiva cientifica de Arqueologia Industrial - é legítimo pensá-lo - foram arcaicos. Os seus arquétipos estavam limitados espaço-temporalmente à energia do cavalo, ao coice da mula e à teimosia do burro, o qual duma forma singular, sabe como ninguém dizer:
- “ Não. Não vou por aí”.
Para eles, a sua referência-mestra eram a energia e a potência dos motores de combustão a palha. Do coice e da tracção animal, assim se chegou ao Cavalo-vapor como unidade de potência.

domingo, 4 de julho de 2010

A Experiência dos Hemisférios de Magdeburgo


    Experiência dos Hemisférios de Magdeburgo – Azulejos Barrocos Joaninos (1744-1749) da
Aula de Física da Universidade do Espírito Santo (hoje sala 120 da Universidade de Évora)
e que atesta a preocupação dos jesuítas com a modernização do ensino científico.


A EXPERIÊNCIA DOS HEMISFÉRIOS DE MAGDEBURGO
A experiência dos Hemisférios de Magdeburgo foi efectuada em 8 de Maio de 1654, em Magdeburgo (Alemanha), pelo burgomestre da cidade, o jurista e físico Otto Von Guericke (1602-1686), perante o Imperador Friedrich Wilhelm von Brandenburg (1620-1688) e a sua corte.

Otto von Guericke, gravura de Anselm van Hulle (1601-1674).

A experiência visava a separação de dois hemisférios de cobre, de 51 centímetros de diâmetro, unidos por contacto comum com um anel de couro, formando uma área fechada, da qual foi extraído o ar com recurso a uma bomba de vácuo, inventada pelo próprio Von Guericke. Em cada hemisfério existiam anéis para prender cabos ou correntes que eram puxados em sentidos opostos.
Os espectadores ficaram completamente surpreendidos ao verificar que diferentes grupos de homens, puxando com toda sua força em sentidos opostos, não conseguiram separar os hemisférios. O mesmo aconteceu com dois grupos de 8 cavalos puxando em sentidos opostos. Só depois dum grande esforço da parte dos cavalos, é que foi possível separar os hemisférios, o que só foi conseguido por não ser perfeito o vácuo alcançado através da rudimentar bomba de vácuo de Von Guerick. Em contrapartida, deixando entrar o ar para o interior dos hemisférios através duma torneira de admissão, era possível separar os hemisférios sem qualquer dificuldade.

Gravura de Gaspar Schott (1608 - 1666), executada em 1657, reproduzindo a experiência dos hemisférios de Magdeburgo, realizada em 1654. Publicada no livro de Otto Von Guericke “ Experimenta nova (ut vocantur) Magdeburgica de vacuo spatio”, editado em 1672.

A experiência seria repetida ainda no mesmo ano em Berlim, com 24 cavalos.
Com esta experiência Von Guerick demonstrou:
- a imensa força que a atmosfera podia exercer sobre os corpos;
- a existência de pressão atmosférica sobre os corpos;
- a existência do vazio.
A interpretação corrente do resultado experimental é a de que os hemisférios não se separam enquanto a pressão atmosférica for superior à pressão do ar no interior dos hemisférios. Uma vez conseguida a igualdade de pressões, através da entrada de ar, é fácil a separação dos hemisférios.
Com a sua experiência, Von Guerick pôs fim, de forma espectacular às ideias que vinham sendo defendidas desde Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) e segundo as quais a Natureza teria “horror ao vácuo”, preenchendo imediatamente, a todo custo, qualquer espaço que fosse deixado sem matéria.
A UNIVERSIDADE DE ÉVORA
A criação da Universidade de Évora data de 18 de Outubro de 1558, por Bula de Paulo IV e a abertura solene das aulas ocorreu no dia 1 de Novembro de 1559, sendo 1º Reitor o Padre Leão Henriques.
A Universidade de Évora foi suprimida em 1759 pelo Marquês de Pombal, quando da expulsão da Companhia de Jesus. No período que medeia entre 1841 e 1979, o edifício esteve ocupado pelo Liceu Nacional André de Gouveia. Após um hiato de 200 anos, ocorreu uma reestruturação em 1973, primeiro, como Instituto Universitário, e pelo Decreto de 14 de Dezembro de 1979, como Universidade de Évora.
Na Universidade de Évora cursaram, no período áureo, vultos da Cultura Humanística Universal como Luís de Molina, Sebastião Barradas, Francisco Suarez, Pedro da Fonseca, Manuel Álvares Baltazar Teles, Francisco da Fonseca, António Franco, S. Francisco de Borja, padre António Vieira, D. Afonso Mendes, Patriarca da Abissínia e o arcebispo de Braga D. José, filho de D. Pedro II.
Na volumosa construção trabalharam alguns dos maiores arquitectos quinhentistas: Afonso Alvares, Manuel Pires, Diogo de Torralva e Cristóvão de Torres.
Do seu conjunto monumental e artístico destacam-se silhares de azulejos historiados, de temática bíblica, mitológica, literário-poética (Virgílio, Platão, Arquimedes, Aristóteles), do Humanismo e das leis naturais, que revestem todas as aulas quinto-joaninas (1744-49).

Publicado inicialmente a 4 de Julho de 2010

BIBLIOGRAFIA
ESPANCA, Túlio. Évora – Arte e História. 2º edição. Câmara Municipal de Évora. Évora, 1987.
ESPANCA, Túlio. Évora – Encontro com a Cidade. Câmara Municipal de Évora. Évora, 1988.