Irmãs Flores. Fotografia cedida por cortesia de Sul Ibérico.
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Foi inaugurada no passado sábado, dia 17 de Junho, na Galeria Municipal Dom Dinis, a exposição "Irmãs Flores, 50 anos em 50 Bonecos", que ali ficará patente ao público até ao próximo dia 2 de Setembro. O certame, organizado pelo Museu Municipal de Estremoz, visa proporcionar uma visão retrospectiva de 50 anos de carreira daquelas barristas, ilustrada através de 50 Bonecos de sua produção.
Acto inaugural
Ao acto inaugural compareceram cerca de 4 dezenas de pessoas, entre familiares, amigos e admiradores, que com a sua presença quiseram testemunhar o elevado apreço que nutrem pelas Irmãs Flores e pelo trabalho por elas desenvolvido ao longo da sua carreira.
A cerimónia foi presidida pelo Presidente do Município, José Sadio, que se encontrava acompanhado da Vice-Presidente, Sónia Caldeira. Na oportunidade, elogiou o trabalho desenvolvido pelas Irmãs Flores e o contributo dado ao longo destes anos todos, visando a divulgação, valorização e salvaguarda do Boneco de Estremoz e que permitiu que a sua produção fosse proclamada pela UNESCO em 2017, como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Anteriormente usara da palavra, Isabel Borda d’Água, Directora do Museu Municipal de Estremoz. No final, usaram da palavra, Perpétua e Maria Inácia Fonseca, que agradeceram, relembrando esta última todo o apoio e incentivo recebidos de Mestra Sabina Santos e do Professor Joaquim Vermelho, cuja evocação fez com saudade e aos quais foi dedicada a exposição. Seguiu-se uma visita guiada à mesma. Ali foi possível apreciar e ouvir comentar pelas Irmãs Flores, trabalhos de toda uma vida dedicada com paixão e emoção aos Boneco de Estremoz. Ali havia Bonecos de todas as tipologias: Presépios, imagens devocionais, figuras da faina agro-pastoril, figuras da realidade local, figuras do quotidiano doméstico, figuras de negros, figuras alegóricas e figuras de assobio. Presentes também exemplares de olaria enfeitada.
Na exposição chamavam especialmente a atenção duas peças. Uma delas, uma espectacular cantarinha enfeitada com 2 sargentos no jardim e arcos com flores, foi trabalho realizado a 8 mãos. Ilídio Fonseca, irmãos das Irmãs flores, modelou a cantarinha na roda de oleiro, Maria Inácia Fonseca modelou os folhos e os Bonecos, Perpétua Fonseca pintou tudo e Mestra Sabina Santos fez a decoração. A outra peça, é uma magnífica imagem de Nossa Senhora da Conceição, feita a 6 mãos, pelas Irmãs Flores e seu sobrinho, Ricardo Fonseca, igualmente prestigiado barrista.
A consagração de uma carreira
Os 50 anos de carreira das Irmãs Flores ocorreram em Novembro passado, tendo a Câmara Municipal de Estremoz, na sessão ordinária de 16 de Novembro, aprovado por unanimidade um louvor, no qual expressa “reconhecimento e gratidão pelos seus 50 anos de dedicação efetiva ao Boneco de Estremoz, pelo apuro técnico e estético do seu trabalho e pela disponibilidade que sempre demonstraram na salvaguarda e valorização desta arte multisecular.” O louvor foi completado pela entrega de uma placa a assinalar os seus 50 anos de carreira, com que foram distinguidas pelo Município de Estremoz, cerimónia que em Abril passado, marcou o acto inaugural da FIAPE 2023.
Exposições recentes
É notável a actividade exposicional suscitada pelo trabalho das Irmãs Flores. Só no séc. XXI e em Estremoz, anteriormente à presente exposição "IRMÃS FLORES, 50 ANOS EM 50 BONECOS"(2023), participaram nas seguintes exposições individuais: - O TRAJE POPULAR PORTUGUÊS (2007), Centro Cultural Dr. Marques Crespo, organização da Associação Filatélica Alentejana; - BONECOS DA GASTRONOMIA (2009), XVII Cozinha dos Ganhões, organização da Associação Filatélica Alentejana; - ALENTEJO DO PASSADO (2011), Centro Cultural Dr. Marques Crespo, organização da Associação Filatélica Alentejana; - FIGURADO DE IRMÃS FLORES NA COLEÇÃO DE ANTÓNIO GRANGER RODRIGUES (2022), Galeria Municipal Dom Dinis, organização do Museu Municipal de Estremoz.
Notas finais
Maria Inácia e Perpétua são discípulas de Mestra Sabina Santos (1921-2005), com quem começaram a trabalhar a Maria Inácia em 1972 e a Perpétua em 1975.
Após a aposentação de Mestra Sabina Santos em 1988, criaram então a sua própria oficina-ateliê, primeiro na Rua das Meiras, 8 e daí transitaram, em 1999, para o Largo da República, 16. Aqui se mantiveram até 2010, ano em que se fixaram no Largo da República, 31-32, sempre na procura de melhores condições de trabalho e de atendimento do público.
Ao longo da sua carreira, o trabalho das Irmãs Flores desenvolveu-se em dois planos distintos, mas necessariamente convergentes. Por um lado, a produção daquilo que se convencionou chamar “Bonecos da tradição”, que são aquelas figuras das várias tipologias que são geralmente manufacturadas por todos os barristas. Por outro lado, a produção de “Bonecos da Inovação”, que são figuras que até então não existiam nas diversas tipologias de Bonecos de Estremoz e que tornam a barrística popular estremocense mais vasta e rica. Nalguns casos, a execução de figuras mais complexas e morosas, levou mesmo a que tenha existido uma autêntica mudança de paradigma. Em qualquer dos casos, o trabalho das Irmãs Flores tem-se pautado sempre por uma estrita fidelidade ao modo de produção e à estética do Boneco de Estremoz, naturalmente que com um estilo e um cromatismo muito próprios.
A comunidade estremocense revê-se na elevada qualidade artística do trabalho das Irmãs Flores, as quais pela já sua longa carreira, são muito justamente consideradas embaixatrizes da nossa barrística. Daí estar em consonância e aplaudir o voto de louvor que lhes foi atribuído pelo Município.
Publicado no jornal E nº 315, de 22 de Junho de 2023
O acto inaugural da exposição. Fotografia de Miguel Belfo
- CME.
Um aspecto parcial da exposição. Fotografia de Miguel Belfo - CME.
Cantarinha enfeitada, uma das peças em destaque na exposição.
Nossa Senhora da Conceição. Outra das peças em destaque na exposição.
Selecção de recortes de imprensa alusivos ao trabalho das irmãs Flores.
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