quinta-feira, 9 de junho de 2022

Mercado das Velharias de Estremoz - Crónica duma morte previsível

 

Mercado das Velharias de Estremoz na actualidade. Fotografia reproduzida
com a devida vénia do Facebook do Município de Estremoz.  

O Mercado das Velharias em Estremoz é, seguramente, um dos ex-líbris da nossa cidade transtagana, pela popularidade de que goza, já que ao longo dos anos tem sabido atrair elevado número de compradores e vendedores, de aquém e além-fronteiras. Paralelamente, tem sido divulgado por jornalistas e escritores, mídia audiovisuais, influenciadores digitais, publicitários e agentes de marketing. Tornou-se também um ponto de passagem inescapável dos colunáveis que nos fins de semana povoam os montes do termo de Estremoz.
A idade que tenho, permite-me ter conhecido o despontar do Mercado das Velharias, acompanhar o seu crescimento e desenvolvimento, bem como ter conhecido a maioria dos personagens (vendedores e compradores) que, semanalmente, naquele palco de negócio, desempenham instintivamente o papel que lhes compete. Por ali se fazem negócios da China, se compram pechinchas ou se enfia o barrete, quando se é otário. Por ali se encontram amigos que vêm ao mesmo e se sedimentam amizades que perduram para o resto da vida. Vir ao sábado a Estremoz e não ir ao Mercado das Velharias, assume a dimensão dum sacrilégio.
O Mercado das Velharias é uma componente de peso do Mercado de Sábado, que ainda tem como componentes, o Mercado das Hortaliças, o Mercado das Galinhas e o Mercado do Artesanato. Eles integram um todo cujas partes interactuam entre si e que no conjunto constituem um factor de dinamização da vida comercial e social sabadeiras.
O vigor revelado pelo Mercado das Velharias resulta de na sua génese, ter sido uma criação autónoma dos vendedores e não o resultado da planificação de qualquer edil local, cujo pensamento lhe tenha dado para ali. Arrancou com apenas um vendedor, ao qual se foram juntando outros e o resultado foi o Mercado pujante que se conheceu até há bem pouco tempo. A Câmara, desde sempre se limitou a receber a taxa dos terrados e quanto ao resto, salve-se quem puder.
Recentemente, a requalificação do espaço público do Rossio, exigiu a deslocalização das diversas componentes do Mercado de Sábado. Estas espraiaram-se e diluíram-se ao longo dos 4 lados do quadrilátero que é o Rossio, quebrando os elos simbióticos existentes entre elas e enfraquecendo as dinâmicas individuais. No caso do Mercado das Velharias, é bem visível o resultado da sua deslocalização. A frequência de potenciais compradores diminuiu, o que teve reflexo imediato nas vendas. Já houve vendedores que “bateram a asa” e foram “pregar para outra freguesia”, porque a deslocação a Estremoz “não dá para o gasóleo”. E isto só agora começou. A duração previsível das obras é de 6 meses, se alguém não as “deixar para as calendas gregas”. Que medidas pode tomar o Município para combater e minimizar esta tendência? Ao contrário do que é habitual, não tenho resposta alguma à questão que eu próprio formulei. E o Município, terá resposta?

Publicado no jornal E - nº 291 - 9 de Junho de 2022

2 comentários:

  1. Subscrevo integralmente o que o Professor descreveu !

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    1. Parece ser consensual que a coisa está a ficar negra. Todavia, alguns dizem que não. É caso para dizer "Não há maior cego que aquele que não quer ver".

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