Galo. Álvaro Chalana
OS GALLOS
Sam o relogio do pobre
os gallos madrugadôres,
que ainda a noite nos cobre
já andam eles de amôres.
……………………………………….
Por isso os homens, rendidos
á vigilância dos gallos,
nos campanários erguidos
costumam sempre arvora-los-
António de Monforte in
Tronco reverdecido
Prólogo
O galo é um tema decorativo recorrente na cerâmica de Redondo, tal como o é na Barrística de Estremoz, na cerâmica de Barcelos ou das Caldas da Rainha, bem como na faiança portuguesa antiga. Creio que o peso que aquela ave tem na cultura popular, ajuda a perceber aquela recorrência.
Gastronomia
São conhecidos pratos como: Arroz de galo. Estufado de grão com galo caseiro. Galo à bordalesa. Galo ao vinho. Galo assado à moda da chanfana. Galo assado à moda de Barcelos. Galo assado no forno. Galo capão recheado no forno. Galo caseiro à minhota. Galo de cabidela. Galo estufado. Galo guisado. Galo no forno com laranja.
Adagiário
Dentre o adagiário alectório, respiguei os seguintes espécimenes: Aos afortunados até os galos lhe põem ovos. Galo branco não dá manhã certa. Galo capão é que sai cantando de galinha. Galo loiro dá agoiro. Galo pedrês, não o vendas nem o dês. Galo, quer-se novo. Gavião pega pinto, mas respeita galo. Moço e galo, um só ano. O bom galo não engorda. O galo canta só onde tem morada. O galo, no seu poleiro, é rei. Onde estão galos de fama, não têm pintos que fazer. Onde o galo canta, aí janta. Para doze galinhas basta um galo. Sem galos novos não nascem pintos. Tarde piaste para galo. Todo o galo tem o seu poleiro.
Gíria popular
Destaco as seguintes frases idiomáticas de cunho popular: - Cantar de galo = Assumir atitudes arrogantes por ocupar posição privilegiada; - Ficar para galo de S. Roque = Referência a mulher que não se casa; - Galo = Elevação na testa ou na cabeça produzida por pancada; - Galo = Gomo de laranja (Beira); - Galo = Indivíduo que não dá gorjeta ao barbeiro e ao engraxador; - Galo = Termo que exprime indiferentemente azar ou sorte; - Galo = Variedade de ameixa alentejana; - Galo de rinha = Galo de combate = Pessoa conflituosa = Pessoa brigona; - Galo doido = Homem volúvel = Tresloucado = Cabeça no ar; - Memória de galo = Fraca memória; - Missa do galo = Primeira missa do Natal, celebrada à meia-noite de 24 de Dezembro; - Outro galo cantaria = Expressão usada para sublinhar que, tendo-se verificado determinado facto, os resultados teriam sido muito diferentes; - Salgar o galo = Matar o bicho = Tomar bebida alcoólica pela primeira vez no dia;
Alcunhas alentejanas
No Alentejo, com base em particularidades dos indivíduos, são conhecidos epítetos como: - GALO - Alcunha outorgada a: - indivíduo muito vaidoso (Avis e Borba); - sujeito que anda metido com muitas mulheres (Odemira); - homem que se zangava com facilidade e gostava de se armar em galo (Évora); - alguém considerado muito aéreo (Aljustrel); - indivíduo que se levantava bastante cedo e sempre a cantar (Moura); - alguém que a herdou do avô (Moura); - sujeito que quando estava bêbado, tinha o hábito de gritar: "Olha o galo!" (Redondo); - sujeito que gosta muito de cantar (Estremoz); - indivíduo que está sempre a olhar para as mulheres (Grândola). - GALO BÊBADO - Epíteto atribuído a um indivíduo muito bêbado (Beja); - GALO BRANCO - Denominação aplicada a um sujeito que tem o cabelo branco (Cuba); - GALO CEGO - O visado vê mal (Moura); - GALO MALHADO - O pai do visado, quando este era pequeno, na sequência de um problema de saúde, ficou com manchas, passando a ser designado por "galo malhado", alcunha assumida pelo filho (Mértola). - GALO MARICAS - Alcunha atribuída a um indivíduo efeminado (Moura). - GALO PRETO - O visado, aparvalhado, um dia pôs um galo preto em cima da cabeça (Redondo).
Mitologia popular
Fazem parte do conjunto das crenças e superstições populares a seguintes: - O galo quando canta diz: “Jesus é Cristo.”; - Ao fim de sete anos de estar numa casa, o galo põe um ovo donde sai uma serpente. Se esta olha, primeiro o dono da casa, este morre. Se acontecer o contrário, é a serpente que morre; - Em chegando a velhos, os galos põem um ovo, do qual nasce um sardão, que mata o dono da casa; - Galo que canta como galinha, é mau agouro; - Se os galos e as galinhas cantam muito, é sinal de chuva; - Se um galo canta ao sol-posto, é sinal de morte; - Se os galos cantarem de noite, todas as coisas más se espalham; - É mau agouro um galo cantar antes da meia-noite. Lá diz o provérbio: “Galo que fora de horas canta / Cutelo na garganta.”; - Se os galos cantarem antes da meia-noite, é anúncio de mudança de tempo; - Se um galo canta antes da meia-noite, é sinal de navio à barra, ou que alguma filha foge de casa; - Se um galo canta quatro vezes antes da meia-noite, é sinal de morte; - O canto do galo à meia-noite faz dispersar a assembleia do Diabo e das Bruxas; - Uma pessoa que coma atrás duma porta, cristas de galo assadas, perde o medo; - O galo preto espanta as coisas ruins; - À meia-noite da noite de Natal, na igreja diz-se a missa do galo; - Nos telhados e mas torres das igrejas é hábito pôr um galo de ferro a fazer de catavento;
Epílogo
Creio que a recorrência do galo nos mais diversos domínios da cultura popular, ajuda a perceber o facto der ser igualmente um tema decorativo recorrente na cerâmica de Redondo.
BESSA, Alberto. A Gíria Portugueza. Gomes de Carvalho-Editor. Lisboa, 1901.
BÍVAR, Artur. Dicionário Geral e Analógico da Língua Portuguesa. 1948.
BLUTEAU, Raphael. Vocabulario Portuguez & Latino (10 vol.). Coimbra, 1712-1728.
CONSIGLIERI PEDROSO, “Supertições Populares”, O Positivismo: revista de Filosofia, Vol. III. Porto, 1881.
DELGADO, Manuel Joaquim Delgado. Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo. Vol. I. Instituto Nacional de Investigação Científica. Lisboa, 1980.
DELICADO, António. Adagios portuguezes reduzidos a lugares communs / pello lecenciado Antonio Delicado, Prior da Parrochial Igreja de Nossa Senhora da charidade, termo da cidade de Euora. Officina de Domingos Lopes Rosa. Lisboa, 1651.
FIGUEIREDO, Cândido de. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 1913.
FIGUEIREDO, Cândido de. Novo Dicionário de Língua Portuguesa. (2 vol.). Editora Portugal-Brasil Limitada, 1922.
LAPA. Albino. Dicionário de Calão. Edição do Autor. Lisboa, 1959.
LEITE DE VASCONCELLOS, José. Tradições Populares de Portugal. Livraria Portuense de Clavel e C.ª – Editores. Porto, 1882.
MARQUES DA COSTA, José Ricardo. O Livro dos Provérbios Portugueses. Editorial Presença. Lisboa, 1999.
MONFORTE, António de. Tronco reverdecido. Livraria Clássica Editora. Lisboa, 1910.
NEVES, Orlando. Dicionário de Expressões Correntes. Editorial Notícias, Lisboa, 1998.
NOBRE, Eduardo. Dicionário de Calão. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1986.
PIRES, A. Tomaz. Cantos Populares Portuguezes. Vol. II. Typographia Progresso. Elvas, 1905.
PRAÇA, Afonso. Novo Dicionário de Calão. Editorial Notícias. Lisboa, 2001.
SANTOS, António Nogueira. Novos dicionários de expressões idiomáticas. Edições João Sá da Costa. Lisboa, 1990.
SIMÕES, Guilherme Augusto. Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1993.
SOUSA. Luís de. Dizeres da Ilha da Madeira. Palavras e Locuções. Edição do autor. Funchal, 1950.
TAVARES DA SILVA, D. A. Esboço Dum Vocabulário Agrícola Regional. Separata dos Anais do Instituto Superior de Agronomia, Vol. XI. Lisboa, 1942.
THOMAZ PIRES, A. Tradições Populares Transtaganas. Tipographia Moderna. Elvas, 1927.
THOMAZ PIRES, A. Vocabulário alemtejano. Editor – António José Torres de Carvalho. Elvas, 1913.
NEVES, Orlando. Dicionário de Expressões Correntes. Editorial Notícias, Lisboa, 1998.
NOBRE, Eduardo. Dicionário de Calão. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1986.
PIRES, A. Tomaz. Cantos Populares Portuguezes. Vol. II. Typographia Progresso. Elvas, 1905.
PRAÇA, Afonso. Novo Dicionário de Calão. Editorial Notícias. Lisboa, 2001.
SANTOS, António Nogueira. Novos dicionários de expressões idiomáticas. Edições João Sá da Costa. Lisboa, 1990.
SIMÕES, Guilherme Augusto. Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1993.
SOUSA. Luís de. Dizeres da Ilha da Madeira. Palavras e Locuções. Edição do autor. Funchal, 1950.
TAVARES DA SILVA, D. A. Esboço Dum Vocabulário Agrícola Regional. Separata dos Anais do Instituto Superior de Agronomia, Vol. XI. Lisboa, 1942.
THOMAZ PIRES, A. Tradições Populares Transtaganas. Tipographia Moderna. Elvas, 1927.
THOMAZ PIRES, A. Vocabulário alemtejano. Editor – António José Torres de Carvalho. Elvas, 1913.
Galo. Ti Rita.
Galo. Olaria Cabeça.
Escola de Olaria de Redondo.
Galo. Xico Tarefa.
Recebi a informação sobre o barro enfeitado com ramo de pessegueiro. Agradeço
ResponderEliminar