domingo, 8 de abril de 2018

ESTREMOZ - Cruz da Igreja de Santa Maria


1 - Igreja Paroquial de Santa Maria no início do séc. XX. No topo da fachada e em
posição central é visível a cruz em mármore. Imagem de um bilhete-postal ilustrado,
edição Faustino António Martins (Lisboa), com o número 1204. No verso a data do
carimbo de expedição dos correios é de 1904. Arquivo do autor.

A cruz como sinal sagrado e objecto de culto
O passado domingo foi Páscoa, festividade religiosa em que os cristãos celebram a Ressurreição de Jesus Cristo depois da sua morte por crucificação, que ocorreu na “Sexta-Feira Santa” (sexta-feira antes do Domingo de Páscoa), data em que é evocado o julgamento, paixão, crucificação, morte e sepultura de Jesus, através de diversos cerimónias religiosas.
Segundo os Evangelhos, Jesus foi condenado a morrer na cruz numa sexta-feira e o responsável pela sentença foi Pôncio Pilatos, prefeito da província romana da Judeia entre os anos 26 e 36 d.C. apesar de não ter encontrado nele nenhuma culpa. Todavia os líderes judeus queriam a sua morte, por considerarem blasfémia Jesus dizer-se filho do Messias. Vejamos o que nos dizem os Evangelhos.
Jesus foi preso no Jardim de Getsémani (Marcos 14:43-52) e foi submetido a seis julgamentos – três por líderes judeus e três pelos romanos [João (18:12-14), Marcos (14:53-65), Marcos (15:1), Lucas (23:6-12), Marcos (15:6-15)].
Pilatos tentou negociar com os líderes judeus ao permitir que flagelassem Jesus, mas eles rejeitaram a proposta por não os satisfazer e pressionaram Pilatos a condená-lo à morte. Pilatos entregou-lhes então Jesus a fim de ser crucificado tal como eles pretendiam (Lucas 23:1-25). Os soldados escarneceram Jesus e vestiram-lhe um manto escarlate e impuseram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos (Mateus 27:28-31).
Jesus veio a ser crucificado num lugar chamado Gólgota, que quer dizer “Lugar da Caveira”. Por cima da sua cabeça puseram uma tabuleta com o motivo da sua condenação: “JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS” [João (19,19), Lucas (23,38)]. Na ocasião foram também crucificados dois ladrões, um à direita e outro à esquerda de Jesus. (Mateus 27:33-38). A escuridão cobriu então o céu durante três horas (Lucas 23:44), até que Jesus deu um forte grito: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Dizendo isto, expirou. (Lucas 23:46). Os relatos evangélicos mostram que Jesus entregou livremente a vida a Deus pela redenção da humanidade.
O sentido espiritual da cruz indicado pelo próprio Jesus (Mateus 10:38), fez com que ela passasse a ser sinal sagrado e objecto de culto.
Igreja Paroquial de Santa Maria
A Igreja Paroquial de Santa Maria de Estremoz terá sido projectada pelo arquitecto Miguel de Arruda (15??-1563). As obras tiveram início em 1560, a custas de El-Rei D. Sebastião (1554-1578) e do Cardeal Infante D. Henrique (1512-1580), arcebispo de Évora. Só ficaram concluídas no século XVII. A Igreja sofreu consideráveis estragos no pavoroso incêndio dos Armazéns de Guerra, ocorrido a 17 de Agosto de 1698.
A fotografia mais antiga da Igreja que conheço e tenho no meu arquivo, não a reproduzo aqui por falta de nitidez. Data de 1891 e é do fotógrafo C. J. Walowski, que de acordo com o jornal  “O ESTREMOCENSE”, dirigido por Rodam Tavares, trabalhou em Estremoz entre Fevereiro e Maio daquele ano. Nessa fotografia é visível uma cruz no topo da fachada e em posição central. A mesma cruz é visível num bilhete-postal ilustrado, edição Faustino António Martins (Lisboa), do início do séc. XX (Fig. 1). Uma imagem da recuperação da fachada principal ocorrida no período 1967-1970, mostra igualmente a mesma cruz em mármore, exactamente na mesma posição (Fig. 2). Todavia, mesmo antes de no séc. passado, depois do 25 de Abril, ter sido colocada uma antena de telecomunicações no telhado, a cruz agora mutilada encontrava-se inexplicavelmente deslocada para a esquerda da sua primitiva posição central (Fig. 3). Em fotografia de 2008 é visível a cruz mutilada e deslocada para a esquerda da primitiva posição central, tendo à sua direita uma abominável e inestética antena de telecomunicações (Fig. 4), a poluir visualmente o espaço e a deslustrar um edifício que pela sua função deve ter um aspecto imaculado. Em fotografia actual, já não figura a antena de telecomunicações, que foi recentemente removida. Mas lá está a cruz mutilada desviada para a esquerda da sua posição inicial (Fig. 5).
Devolver a dignidade ao templo
Com a remoção da antipática antena de telecomunicações, o aspecto frontal da Igreja Matriz saiu melhorado. Talvez não fosse difícil devolvê-lo à sua dignidade passada, repondo uma réplica da primitiva cruz na sua ancestral localização. Seria ouro sobre azul. Bastaria uma cadeia trinitária de pessoas de boa vontade: um industrial de mármores que doasse a pedra, um canteiro que esculpisse a cruz e um pedreiro que a assentasse no local original, a sinalizar que aquele local é um local de culto. Creio que o Pároco e os paroquianos agradeceriam. É caso para dizer:
- Mãos à obra, irmãos! 
Cronista do E, defensor do património e tudo.
(Texto publicado no jornal E nº 197, de 05-04-2018) 

2 - Igreja Paroquial de Santa Maria – Recuperação da fachada principal ocorrida no
período 1967-1970 em que decorreram as obras de adaptação do Castelo de
Estremoz a Pousada da Rainha Santa Isabel. No topo da fachada e em posição
central é visível a cruz em mármore. Fotografia do SIPA – Sistema de Informação
para o Património Arquitectónico, recolhida no website da Direcção-geral do
Património Cultural. (http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/).
3 - Igreja Paroquial de Santa Maria - Fachada principal e cobertura exterior em
telhado de quatro águas. Ainda não tinha sido colocada uma antena de
telecomunicações no telhado, mas a cruz em mármore já tinha sido
inexplicavelmente deslocada para a esquerda da sua primitiva posição central
Fotografia recolhida no website da Direcção-geral do Património Cultural (http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/).
4 - Igreja Paroquial de Santa Maria em 2008. No topo da fachada e deslocada
para a esquerda da posição central é visível a cruz em mármore. Próximo da
posição central e à direita, é visível uma antena de telecomunicações.
Fotografia de João Simas, datada de 1908 e recolhida no blogue RUA DE
ALCONCHEL (http://ruadealconxel.blogspot.pt).
5 - Igreja Paroquial de Santa Maria em 2018. No topo da fachada e deslocada
para a esquerda da posição central é visível a cruz em mármore. A antena de
telecomunicações já foi retirada. Do lado direito estão pousados pombos cujos
dejectos provocaram o entupimento de algerozes e estiveram na origem de te
chovido em Santa Maria (Vide jornal E nº 195, de 08-03-2018). Fotografia de
Hugo Silva.

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