1 - Igreja Paroquial de
Santa Maria no início do séc. XX. No topo da fachada e em
posição central é visível a
cruz em mármore. Imagem de um bilhete-postal ilustrado,
edição Faustino António Martins
(Lisboa), com o número 1204. No verso a data do
carimbo de expedição dos
correios é de 1904. Arquivo do autor.
A cruz como sinal sagrado e objecto de culto
O passado domingo foi Páscoa, festividade religiosa
em que os
cristãos celebram a Ressurreição de Jesus Cristo depois da sua morte por
crucificação, que ocorreu na “Sexta-Feira Santa” (sexta-feira antes do Domingo
de Páscoa), data em que é evocado o julgamento, paixão, crucificação, morte e
sepultura de Jesus, através de diversos cerimónias religiosas.
Segundo os Evangelhos, Jesus foi condenado a morrer
na cruz numa sexta-feira e o responsável pela sentença foi Pôncio Pilatos,
prefeito da província romana da Judeia entre os anos 26 e 36 d.C. apesar de não
ter encontrado nele nenhuma culpa. Todavia os líderes judeus queriam a sua
morte, por considerarem blasfémia Jesus dizer-se filho do Messias. Vejamos o
que nos dizem os Evangelhos.
Jesus foi preso no Jardim de Getsémani (Marcos
14:43-52) e foi submetido a seis julgamentos – três por líderes judeus e três
pelos romanos [João (18:12-14), Marcos (14:53-65), Marcos (15:1), Lucas
(23:6-12), Marcos (15:6-15)].
Pilatos tentou negociar com os líderes judeus ao
permitir que flagelassem Jesus, mas eles rejeitaram a proposta por não os
satisfazer e pressionaram Pilatos a condená-lo à morte. Pilatos entregou-lhes
então Jesus a fim de ser crucificado tal como eles pretendiam (Lucas 23:1-25).
Os soldados escarneceram Jesus e vestiram-lhe um manto escarlate e
impuseram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos (Mateus 27:28-31).
Jesus veio a ser crucificado num lugar chamado
Gólgota, que quer dizer “Lugar da Caveira”. Por cima da sua cabeça puseram uma
tabuleta com o motivo da sua condenação: “JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS”
[João (19,19), Lucas (23,38)]. Na ocasião foram também crucificados dois
ladrões, um à direita e outro à esquerda de Jesus. (Mateus 27:33-38). A
escuridão cobriu então o céu durante três horas (Lucas 23:44), até que Jesus
deu um forte grito: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Dizendo isto,
expirou. (Lucas 23:46). Os relatos evangélicos mostram que Jesus entregou
livremente a vida a Deus pela redenção da humanidade.
O sentido espiritual da cruz indicado pelo próprio
Jesus (Mateus 10:38), fez com que ela passasse a ser sinal sagrado e objecto de
culto.
Igreja Paroquial de Santa Maria
A Igreja Paroquial de Santa Maria de Estremoz terá
sido projectada pelo arquitecto Miguel de Arruda (15??-1563). As obras
tiveram início em 1560, a
custas de El-Rei D. Sebastião (1554-1578) e do Cardeal Infante D. Henrique (1512-1580),
arcebispo de Évora. Só ficaram concluídas no século XVII. A Igreja sofreu
consideráveis estragos no pavoroso incêndio dos Armazéns de Guerra, ocorrido a
17 de Agosto de 1698.
A fotografia mais antiga da Igreja que conheço e
tenho no meu arquivo, não a reproduzo aqui por falta de nitidez. Data de 1891 e
é do fotógrafo C. J. Walowski, que de acordo com o jornal “O
ESTREMOCENSE”, dirigido por Rodam Tavares, trabalhou em Estremoz entre Fevereiro
e Maio daquele ano. Nessa fotografia é visível uma cruz no topo da fachada e em
posição central. A mesma cruz é visível num bilhete-postal ilustrado, edição
Faustino António Martins (Lisboa), do início do séc. XX (Fig. 1). Uma imagem da
recuperação da fachada principal ocorrida no período 1967-1970, mostra
igualmente a mesma cruz em mármore, exactamente na mesma posição (Fig. 2).
Todavia, mesmo antes de no séc. passado, depois do 25 de Abril, ter sido colocada
uma antena de telecomunicações no telhado, a cruz agora mutilada encontrava-se
inexplicavelmente deslocada para a esquerda da sua primitiva posição central
(Fig. 3). Em fotografia de 2008 é visível a cruz mutilada e deslocada para a
esquerda da primitiva posição central, tendo à sua direita uma abominável e
inestética antena de telecomunicações (Fig. 4), a poluir visualmente o espaço e
a deslustrar um edifício que pela sua função deve ter um aspecto imaculado. Em fotografia
actual, já não figura a antena de telecomunicações, que foi recentemente
removida. Mas lá está a cruz mutilada desviada para a esquerda da sua posição
inicial (Fig. 5).
Devolver a dignidade ao templo
Com a remoção da antipática antena de
telecomunicações, o aspecto frontal da Igreja Matriz saiu melhorado. Talvez não
fosse difícil devolvê-lo à sua dignidade passada, repondo uma réplica da
primitiva cruz na sua ancestral localização. Seria ouro sobre azul. Bastaria
uma cadeia trinitária de pessoas de boa vontade: um industrial de mármores que
doasse a pedra, um canteiro que esculpisse a cruz e um pedreiro que a
assentasse no local original, a sinalizar que aquele local é um local de culto.
Creio que o Pároco e os paroquianos agradeceriam. É caso para dizer:
- Mãos à obra, irmãos!
- Mãos à obra, irmãos!
Cronista do E, defensor do património e tudo.
(Texto publicado no jornal E nº 197, de 05-04-2018)
(Texto publicado no jornal E nº 197, de 05-04-2018)
2 - Igreja Paroquial de
Santa Maria – Recuperação da fachada principal ocorrida no
período 1967-1970 em que
decorreram as obras de adaptação do Castelo de
Estremoz a Pousada da
Rainha Santa Isabel. No topo da fachada e em posição
central é visível a cruz em
mármore. Fotografia do SIPA – Sistema de Informação
para o Património
Arquitectónico, recolhida no website da Direcção-geral do
Património Cultural. (http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/).
3 - Igreja Paroquial de
Santa Maria - Fachada principal e cobertura exterior em
telhado de quatro águas. Ainda
não tinha sido colocada uma antena de
telecomunicações no
telhado, mas a cruz em mármore já tinha sido
inexplicavelmente deslocada
para a esquerda da sua primitiva posição central
Fotografia recolhida no
website da Direcção-geral do Património Cultural (http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/).
4 - Igreja Paroquial de
Santa Maria em 2008. No topo da fachada e deslocada
para a esquerda da posição
central é visível a cruz em mármore. Próximo da
posição central e à
direita, é visível uma antena de telecomunicações.
Fotografia de João Simas,
datada de 1908 e recolhida no blogue RUA DE
ALCONCHEL (http://ruadealconxel.blogspot.pt).
5
- Igreja Paroquial de Santa Maria em 2018. No topo da fachada e deslocada
para
a esquerda da posição central é visível a cruz em mármore. A antena de
telecomunicações
já foi retirada. Do lado direito estão pousados pombos cujos
dejectos
provocaram o entupimento de algerozes e estiveram na origem de te
chovido
em Santa Maria (Vide jornal E nº 195, de 08-03-2018). Fotografia de
Hugo
Silva.
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