No tempo da outra senhora
No tempo da outra senhora, a teia de interesses
urdida pela aranha salazarista, obrigava quem se candidatasse a integrar a
função pública, a ser forçado a subscrever um documento com assinatura reconhecida,
no qual se expressava: “Declaro por minha honra que estou integrado na ordem
social estabelecida pela Constituição Política de 1933, com activo repúdio do
comunismo e de todas as ideias subversivas”. Estava-se no regime de partido
único que através da castração política, exigia fidelidade canina e obediência
cega ao então suposto bem amado chefe e dono disto tudo.
“Brados
do Alentejo” e “E”
Entre nós, nesta terra transtagana, existem dois jornais
locais: o “Brados do Alentejo” e o “E”, cada um deles à sua maneira, ao serviço
de Estremoz e do seu termo. São jornais plurais, não só pelo que está
consignado nos respectivos estatutos editoriais, mas também pela prática
salutar de a um jornalismo factual e noticioso, acrescerem um jornalismo de
análise e de opinião, subscrito com o nome dos seus autores, o qual chancela
indelevelmente aquilo que pensam, acreditam, defendem e propõem.
A matriz pluralista de cada um dos jornais está na
origem da sua bateria de colaboradores se espraiar por um espectro largo de visões
do mundo e da vida, que vão do CDS ao BE, passando pelo PSD, PS e PCP,
englobando também aqueles que não se revêem em nenhuma destas opções do
catálogo ideológico.
Um desses jornais, o “E”, inclui uma página onde em
cada número e sob a epígrafe “Parlamento”, os representantes das várias áreas
ideológicas respondem a uma questão de índole local ou nacional, formulada por
um deles, situação na qual se vão sucessivamente revezando. Neste “Parlamento”
é notória a ausência de quem quer que seja que dê a cara pela associação local MIETZ.
Não porque ali e o mesmo acontece no outro jornal, se ostracize esta Associação,
mas simplesmente por que esta decidiu não participar no “campeonato”, não se
sabe se por não ter argumentos sólidos ou se por excesso de auto-estima, não se
querer confrontar com os outros, ao atribuir-se a si próprio o estatuto de
pertencer a um escalão superior, no qual é como que um partido único.
Quem
não é por nós, é contra nós
E vá daí, o Presidente da associação local MIETZ
proclama que os “Brados do Alentejo” e o “E” são boletins do Partido
Socialista. Trata-se de uma forma redutora de catalogar um jornalismo livre e
independente que recusa algemas, mordaças e vendas, que se as aceitasse, o reduziriam
à condição dócil de ser “a voz do dono”. Honra e glória, pois, aos dois jornais
locais que, cada um deles à sua maneira, se comportam como os irredutíveis
Astérix e Óbélix, na Gália ocupada pelo usurpador romano.
Navegar
é preciso
Os “Brados do Alentejo” e o “E” são jornais
pluralistas nesta terra transtagana, na qual alguém sonhou, sem todavia o
conseguir, impor a “lei da rolha” e o “delito de opinião”.
Se os “Brados do Alentejo” e o “E” são boletins do
Partido Socialista, todos os seus colaboradores, repórteres e cronistas, do BE
ao CDS, estão na mesma nau. Somos todos “socialistas”, não necessariamente à António
Costa ou à Catarina Martins, mas também à Jerónimo de Sousa, à Rui Rio ou à Assunção
Cristas. No mesmo mar navegamos, à procura de bom porto.
Cronista do
“Jornal E” e dos “Brados do Alentejo”
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