Fotografia recolhida em www.oribatejo.pt
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As touradas
Quando era miúdo, o meu avô Manuel Alturas,
ferroviário aposentado, republicano e amante da Festa Brava, levava-me aos
touros e comprava rebuçados que comíamos durante a corrida. Eu ficava encantado
com o ritual das cortesias e o evoluir elegante do ginete de Mestre João Branco
Núncio, a quem os mais velhos chamavam “O Califa de Alcácer”.
Quando ia às touradas usava calças de cós alto e
jaqueta que o meu pai, alfaiate de lavradores e de toureiros, confeccionara
para mim. Um pequeno chapéu à Mazantino completava os meus adereços. Desse
tempo, guardo como relíquia, a minúscula jaqueta que levava às touradas.
O cavalinho
de pau
Nos anos cinquenta do século passado, eram
frequentes, em Estremoz, o carro de tracção animal, os trens e as caleches, bem
como o próprio acto de montar a cavalo. Natural era, pois, que eu, habilitado
com as asas da minha imaginação, sonhasse em ser cavaleiro. E fazia-o,
brincando com o meu cavalinho de pau, o qual durante muito tempo foi a vassoura
de cabo alto, lá de casa.
Nas minhas cavalgadas, fazia como o “Califa de
Alcácer”. Por vezes mudava de montada e passava a cavalgar a cana de caiar.
Certo dia, a minha mãe, farta das minhas
traquinadas com os utensílios domésticos, acabou por me comprar um cavalinho de
pau, mesmo a sério, com cabeça de cavalo, crinas, arreios e tudo. E logo que o
estreei, como ele não dizia nada, com todo o meu contentamento fui eu próprio
que relinchei por ele, o que emprestou mais realismo à minha representação. E
sabem que mais? Quando montava o meu corcel, usava sempre um barrete feito de
papel de jornal, que o meu avô me ensinara a fazer numa tourada, quando me
esqueci de levar o meu chapéu à Mazantina.
O meu barrete de papel era um acessório importante.
Quando fazia de militar a cavalo, usava o barrete posto de trás para diante e
uma espada de madeira presa no cinto das calças. Já quando era cavaleiro
tauromáquico, punha o barrete de papel atravessado na cabeça e usava um pau a
fazer de farpa. Mas nada de usar jaqueta ou chapéu à Mazantina, porque isso era
só nos dias de festa.
As minhas representações equestres eram
diversificadas, iam do trote ao galope, passando pelo volteio. Nelas, na minha
imaginação, eu era sempre um garboso cavaleiro montado num puro-sangue de
Alter, que cavalgava horas a fio no Largo do Espírito Santo. Acontecia às vezes
que uma tourada ficava a meio do seu curso ou, o que era bem pior, não
conseguia concretizar uma carga de cavalaria. Sabem porquê? É que a minha mãe aparecia
à janela a gritar:
- “Hernâni anda para a mesa, que são horas de
comer!”
E eu não resistia à chamada, porque com tanta
cavalgada, já tinha a barriga a dar horas.
Aficionado de
gema
Como devem ter percebido, aprendi a gostar de
touradas como o meu avô e ainda hoje sou aficionado. Reconheço que as touradas
estão muito para além do mundo taurino: ganadeiros, campinos, forcadagem,
cavaleiros, toureiros, bandarilheiros, apoderados e empresários. É minha firme
convicção que as touradas estão na massa do sangue do Zé Povinho e integram a
Cultura Popular deste país. Daí que tal como os chocalhos de Alcáçovas devam
ser candidatadas a Património Cultural Imaterial da Humanidade. É caso para
dizer:
- MÃOS À OBRA!
Todavia, há por aí pessoas que não gostam de touradas
e que fazem campanha contra elas. Provavelmente irão atirar-se a mim, como gato
a bofe. Lembro-lhes que as touradas são um espectáculo legal e que ninguém é
obrigado a ir lá, tal como à missa ou ao futebol. O resto são filmes que se
passam na cabeça deles. O que vale é que como nos diz o rifoneiro popular:
- VOZES DE BURRO NÃO CHEGAM AO CÉU.
Fotografia recolhida em http://farpasblogue.blogspot.pt
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Fotografia recolhida em http://corridatouros.blogspot.pt/
Geralmente gosto de o ler. Esta crónica acho-a lamentável, para não dizer algo mais desagradável. Património cultural o sofrimento de um animal para gáudio de uns tantos??!! A última frase do texto, essa é bem elucidativa dos argumentos que os pretensos marialvas costumam esgrimir. Reflita sobre o assunto que talvez perceba o quão sem senso foi.
ResponderEliminarMadalena:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Os meus melhores cumprimentos.