Pastor das migas.
Sabina Santos (1921-2005).
Colecção particular.
Marca de identidade de autor. Legenda “OLARIA ALFACINHA / ESTREMOZ“,
inscrita numa coroa circular de 2,3 cm e 1,4 cm de diâmetro, com a palavra
“PORTUGAL”, ao centro. Dupla impressão da marca estampada.
Uma das peças mais emblemáticas do figurado de
Estremoz é o pastor das migas, uma vez que reúne em si, múltiplos traços de
identidade cultural alentejana: - O TRAJE: pelico de pele de borrego ou de
ovelha, calça de saragoça ou burel, botas de cabedal, camisa fechada em cima
por um par de botões cor de latão e chapéu aguadeiro; - A ARTE POPULAR: tarro
de cortiça que permite guardar e transportar alimentos que se conservam a uma
temperatura próxima da atingida na sua confecção, decorridas algumas horas sobre
terem saído do lume; - A GASTRONOMIA: migas cozinhadas com pão duro e que
integram o rico património gastronómico alentejano, todo ele feito de sabores e
de saberes determinados pelas condicionantes regionais e pelos contextos
sociológicos de vida; - A FLORA: Sobreiro ou azinheira que serve de encosto e
dá sombra, integrando o montado de sobro ou de azinho, ecossistema onde
engordam varas de porcos pretos de raça alentejana e pastam rebanhos de ovinos
e de caprinos.
Na base, a figura ostenta uma marca de identidade
de autor, estampada com a legenda “OLARIA ALFACINHA / ESTREMOZ“, inscrita numa
coroa circular de 2,3 cm
e 1,4 cm
de diâmetro, com a palavra “PORTUGAL”, ao centro. Trata-se de uma marca já
identificada no texto “Medalhas de barro de Estremoz”, publicado por mim no
blogue “Do Tempo da Outra Senhora”, em 12 de Novembro de 2012. O timbre aparece
também em cantarinhas e pucarinhos enfeitados, que eram produzidos na roda na
Olaria Alfacinha e decorados por Maria José Cartaxo.
A peça que é objecto da presente crónica integrava
um conjunto de figuras por mim adquiridas a uma antiga empregada da Loja de Artigos Regionais da Olaria Alfacinha,
situada no Largo da República, nº 30, em Estremoz. Os
exemplares daquela colecção tinham como elo comum, o serem todos eles
confeccionados por Sabina Santos, de quem a funcionária era admiradora.
Creio estar em presença de um boneco cuja temporalidade remonta ao início
da actividade de Sabina, após a morte prematura de seu irmão Mariano da
Conceição, em 1959. Em abono desta tese, o facto de a decoração do rosto ser
semelhante à de Mariano, cujas criações serviram de modelo a Sabina.
Exceptua-se o cabelo, o qual na peça homóloga de Mariano tem um corte mais
vincadamente masculino, com suíças. De resto, possuo da barrista dois
exemplares da mesma figura, com marcas distintas da referida e que revelam
maior aperfeiçoamento técnico e libertação da influência de Mariano.
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