O Quarto Estado (1901). Giuseppe Pellizza da
Volpedo (1868-1907). Óleo sobre tela
(293 x 545 cm ). Civica Galleria d'Arte
Moderna, Milano.
Na
passagem do 84º aniversário do nascimento do compositor, poeta e cantor de
intervenção Zeca Afonso (1929-1987) (1), as letras das suas músicas e os seus
poemas continuam actuais quando nos relatam o seu percurso de vida e a sua
incessante tentativa de transformar o mundo.
Já
na fase final sua vida escreveu: "Admito que a revolução seja uma utopia,
mas no meu dia a dia procuro comportar-me como se ela fosse tangível. Continuo
a pensar que devemos lutar onde exista opressão, seja a que nível for".
A
proximidade de eleições autárquicas e do necessário período de esclarecimento
cívico e de reflexão, leva-nos a recorrer à força e à intemporalidade das
palavras de Zeca Afonso.
É
preciso, imperioso e urgente mobilizar consciências e apontar-lhes o
caminho:
Amigo
Maior
que o pensamento
Por
essa estrada amigo vem
Não
percas tempo que o vento
É
meu amigo também (2)
Há
um caminho a percorrer, uma sementeira a efectuar:
Falta
ao caminheiro
Dentro da algibeira
Um grão de semente
De outra sementeira (3)
Dentro da algibeira
Um grão de semente
De outra sementeira (3)
Queremos
cidades mais livres, mais solidárias e mais fraternas:
Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo, mas irmão
Capital da alegria (4)
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo, mas irmão
Capital da alegria (4)
Não
se fiem naqueles que nos têm enganado:
Quem
diz que é pela rainha
Nem
precisa de mais nada
Embora
seja ladrão
Pode
roubar à vontade
Todos
lhe apertam a mão
É
homem de sociedade
Acima
da pobre gente
Subiu quem tem bons padrinhos
De colarinhos gomados
Perfumando os ministérios
É dono dos homens sérios
Ninguém lhe vai aos costados (5)
Subiu quem tem bons padrinhos
De colarinhos gomados
Perfumando os ministérios
É dono dos homens sérios
Ninguém lhe vai aos costados (5)
Essa
gente tem um apetite insaciável:
Se
alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada (6)
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada (6)
Temos
que nos mobilizar e ser determinados:
Aqui
te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas duma nação (7)
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas duma nação (7)
O
nosso esforço terá os seus frutos:
Em
novas coutadas
Junto
de uma hera
Nascem
flores vermelhas
Pela
Primavera (8)
Havemos
de vencer:
O
povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade (9)
Dentro de ti, ó cidade (9)
(1)
- A 2 de Agosto de 1929 nasce na Freguesia de Glória, em Aveiro, José Manuel
Cerqueira Afonso dos Santos, mais conhecido por Zeca Afonso.
(2)
- Excerto de “Traz outro amigo também”
(3)
- Excerto de “Por Aquele Caminho”
(4)
- Excerto de “Utopia”
(5)
- Excerto de “Quem diz que é pela rainha”
(6)
- Excerto de “Vampiros”
(7)
- Excerto de “A Morte saiu à rua”
(8)
- Excerto de “Que amor não me engana”
(9)
- Excerto de “Grândola Vila Morena”
Obrigada Hernâni por este alerta ...as palavras do Zeca Afonso são intemporais...Hoje dei por mim a pensar, neste contexto de um mundo globalizado,( e da nossa dramática situação)que precisávamos -me de uma nova "Revolução Francesa"mas não consegui localizar onde poderia ocorrer.... Mas este seu desafio, para "o pensar" no agir local, pode tornar -se num importante despertar das consciências , de que enquanto actores sociais , estão no palco e a partir de aí .... quem sabe , decidir de modo determinante " Eu tenho uma palavra no GOVERNO DESTA CIDADE.
ResponderEliminarIdentifico-me com o seu pensamento.
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Os meus cumprimentos.
Peço desculpa pelo anonimato, não era de todo o que pretendia ,devo assumir que não sou de tudo "perita" na utilização desta nova tecnologia... O que diria Freud pela omissão do meu nome! Sou a Conceição.... Mais precisamente Maria da Conceição Lima Anjo ... Para alguns A Lima ANJO , E para outros a Bibi ...e ainda a Maria ...Aprendi , não só a lidar com tudo isso, como também a divertir-me!... (não sem custos na auto - análise... mas cheguei à situação de achar divertido) Obrigada por se identificar com o meu pensamento...
ResponderEliminarConceição:
EliminarEu é que lhe agradeço o seu comentário.
Obrigado.
Boa tarde Hernâni,
ResponderEliminarO povo não sabe fazer uso da força que tem!
Nenhum governo em parte alguma pode/deve governar contra um povo!
O povo tem de exigir democracia directa e não continuar a passar cheques em branco aos ladrões/corruptos do costume!
Estes politicos devem prestar contas em Tribunal tipo Nuremberga e aí serem condenados pelo prejuizo que causaram ao povo português!
Abraço
Abilio
Abílio:
EliminarNem mais.
Um abraço.
Modeso Vitória - Altura
ResponderEliminarProf. Hernâni Matos, estou agradecido pela variedade de temas, com bastante interesse, que coloca à disposição dos vossos seguidores, assim como os 118 filmes. Confesso que por várias razões só consigo seguir alguns assunto, e referente aos filmes ainda não vi nenhum, no entanto, julgo que outras pessoas terão beneficiado da vossa prestável colaboração,(dedicando o seu precioso tempo e conhecimento ao serviço do outro).
Desculpe de não abordar os temas nas respectivas rubricas, mas penso que dá para compreender.
Também sou contra ao anonimato, pois aquele que elogia ou crítica bem intencionado não necessita de se regfugiar no anonimato.
Estou de acordo com o Sr. Abílio Pires, penso que o motivo pelo qual os portugueses participam tão pouco na vida coletiva do nosso maravilhoso país, tem explicação e o Sr. Prof. Hernâni, se quiser abordar esse tema, o que julgo de bastante interesse, poderá dar um bom contributo. Não era só- Guerra Junqueiro que tinha razão, podemos falar, por exemplo, também de Miguel Torga.
Sr. prof. Hernâni, penso que o tema religioso deveria ser melhor esclarecido, pois tenho ficado com alguma duvida com a sua linha de pensamento neste assunto. O sr. diz: "Não acredito nem em Deus nem no Diabo, nem no céu nem no Inferno", no entanto,tem-lhe dado bastante cobertura, e em muitas das suas frases deixam transparecer a apologia do mesmo.
um abraço
Precisamos de muitos Zecas.
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