canção “Grândola, Vila Morena", utilizada como senha pelo MFA
se transformou em símbolo da revolução de Abril.
Tive o privilégio de conviver pela primeira vez com o Zeca Afonso (1929-1987) no contexto da luta académica contra o fascismo, que uniu as Academias de Lisboa, Coimbra e Porto. Nessas circunstâncias, salvo erro em 1967, viajei no mesmo autocarro que o Zeca, quando o Movimento Associativo da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no qual me integrava, foi até Coimbra partilhar experiências de luta com os camaradas de lá. Viria a ser uma memorável jornada de luta, com a PIDE a vigiar-nos no Choupal, no decurso dum almoço improvisado e com a malta a cantar:
A pulga salta,
A pulga pica,
Ora vai-te embora,
Ora vai-te embora,
Oh pulga fascista!
Antes disso e devido à minha disponibilidade e solidariedade militantes, fui encarregado pelo Movimento de realizar no autocarro uma recolha de fundos a favor do Zeca. Este, expulso do ensino e impedido de leccionar, sobrevivia com dificuldade, graças a algumas explicações que lá conseguia dar. Lá fui de lugar em lugar, com a minha boina basca e cada um lá contribuiu com as magras moedas possíveis, para dar uma ajuda ao Zeca. A solidariedade não se ensina, partilha-se.
Depois disso e depois das “portas que Abril abriu”, encontrámo-nos numa sessão de solidariedade com a Reforma Agrária na qual marcámos presença, cada um à sua maneira. Trocámos um abraço caloroso, ainda que breve, já que o Zeca tinha de cantar e isso era o mais importante, pois ele era o catalizador para a acção.
Algumas histórias ficaram por relembrar, porque um homem não tem tempo de falar de tudo. Dalgumas delas pode-se falar depois, como é o caso da canção “Grândola, Vila Morena", pertencente ao álbum "Cantigas de Maio", editado em 1971. A canção transmitida pela Rádio Renascença, a emissora católica portuguesa, às zero horas e vinte minutos do dia 25 de Abril de 1974, como segunda senha pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), confirmou o início do golpe de estado militar que derrubou a ditadura e instaurou a democracia em Portugal. Como tal, transformou-se em símbolo da revolução de Abril.
Na actualidade, é entoada como forma de protesto contra as políticas económicas do governo e da troika, sendo importante que todos assumamos esta canção como símbolo da luta por um mundo melhor, com justiça social, trabalho e esperança no amanhã.
Mais que nunca é preciso relembrar Abril e apontá-lo às novas gerações como um caminho a seguir. Foi o que aconteceu na passada noite de 24 de Abril quando a Academia Sénior de Estremoz comemorou Abril com cravos, poemas e canções na Biblioteca Municipal desta cidade. Foi bonito e daqui se felicita a iniciativa da Academia. Ali não havia quem nunca tenha gostado de cravos. Todavia havia quem os tenha usado ao peito e tenha fugido deles como o diabo da cruz. O mesmo aconteceu com “Grândola Vila Morena”, que duma forma torta, alguém “de direito” entendeu que não devia ser ali cantada, por que era uma canção contra o Governo. Fez o seu papel e com isso negou a própria essência do que ali tinha acontecido. Descontentes com tal atitude, muitos dos presentes dirigiram-se para o exterior da Biblioteca, onde cantaram “Grândola, Vila Morena” três vezes seguidas. Eu por mim, ainda lá estava, até que a voz me doesse.
25 DE ABRIL SEMPRE!
Bom dia Hernâni,
ResponderEliminarEm relação a GRÂNDOLA VILA MORENA, penso que é um hino que ficará na História Mundial, e como tal já foi aceite, tendo sido ouvida em vários pontos do globo!
Por aqui se pode ver o alcance e o conteúdo de um hino que consegue mexer com tanta gente, com cultura e educação bem distinta.
A GRÂNDOLA VILA MORENA para mim é um grito de raiva que significa basta aos governantes que governam para minorias; é um grito de revolta dos espezinhados pelos mesmos!
GRÂNDOLA VILA MORENA foi mais um êxito do nosso grande lutador José Afonso, que conseguiu pôr num testo o que ia na sua alma e do povo português.
Passados 40 anos não esperava que houvesse necessidade de voltar a ouvi-la pelos mesmas razões, mas infelizmente os nossos governantes precisam de a ouvir para recordarem que só pode ouvir democracia em Portugal quando eles governarem para todos nós, e que os destinos do nosso povo devem ser tomados pelo mesmo, e não pelo capital, e grandes monopólios!
O nosso povo perdeu a capacidade de lutar pelo que é seu, pelo que foi ganho com o seu suor, hoje em dia vê-se com frequência jovens sem qualquer futuro, preferirem divertirem-se do que irem para a luta; outros preferem ir para a praia em vez de obrigarem o governo a recuar.
Temos de ter sempre presente que nada é servido em bandeja! Queres, luta!
Um bom fim de semana.
Abraço
Abilio Pires
Abílio:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
A luta continua. Não nos podemos render.
Um abraço para si, também.
Gostei imenso. Há que relembrar e voltar a ensinar o verdadeiro sentido de certas ações. Bem aja.
ResponderEliminarAna:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Concordo inteiramente consigo.
Os meus cumprimentos.
Real e bonito tema. Relembrar nunca é demais. Obrigada. Abraço
EliminarLina:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Os meus cumprimentos.
Parabéns Hernâni. Tornou -se um imperativo cantar a " Grândola...." até que a voz nos doa ... Apontar Abril às novas gerações mas também dar -lhes a conhecer o que foram as lutas estudantis dos anos 60 para que reganhem a esperança e não desistam de lutar e.... que o medo é paralisante da acção.
ResponderEliminarObrigada por este ad memoriam
Obrigado pelo seu comentário.
EliminarQue a voz nunca nos doa.
É preciso continuar Abril.
A luta continua!
Boa tarde Hernâni Matos:
ResponderEliminarSim, 25 de Abril, sempre. O meu nome está gravado na pedra aí em Grandola.
Abraço,
Jorge Golias
Jorge:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
O 25 de Abril deve ser sempre um farol e um referencial.
Um abraço para si, também.
Sempre, amigo Hernâni, até que a voz nos doa ! Obrigada por estas recordações e pela sua militância! Um abraço, se me permite !
ResponderEliminarmfernanda
Fernanda:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Um abraço para si, também.
25 de Abril Sempre!
E sempre bom e importante defender o dever de memoria e você fa-lo de maneira exemplar.Obrigado pelo seu belissimo comentario. 25 de Abril Sempre mas a reconquistar de forma mais consequente.
ResponderEliminarUm grande abraço.
Antonio Barbosa Topa
António:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Concordo consigo.
Um grande abraço para si,também.