terça-feira, 25 de dezembro de 2012

A gestação das palavras

We are made of words. Imagem de Anairb Black. 

As palavras que recebemos, as palavras que gritamos ou lavramos, são palavras que traduzem o que nos vai na alma. Todavia, para além delas, há palavras ainda não criadas pelo laboratório do pensamento e por isso indisponíveis no arsenal da memória. Daí que não possam brotar límpidas e inteligíveis no nosso cardápio linguístico. Fazem-nos falta para traduzir uma ideia, transmitir uma emoção ou revelar um sentimento. Porém ainda não existem. São como que Adão e Eva, antes do “Auto da Criação do Mundo”. Contudo, as ideias, as emoções e os sentimentos, ainda que órfãos de palavras descritoras, permanecem perenes, à procura das palavras libertadoras, que lhes permitam emergir do limbo em que se encontram. Quando tal acontecer, ocorrerá uma mudança de paradigma, em que a alquimia das palavras escritas ou faladas, gerará a infinitude do tudo a partir da vaziez do quase-nada.  

8 comentários:

  1. È verdade quantas vezes a conte se estar mos a sentir sentimentos,que não há palavras no dicionário que possam exprimir tudo o que sentimos ,é mais provável os olhos falarem do que a nossa boca.Tenho fé que chegará o dia em que não será preciso falar ,com palavras ,mas só a mente nos fará vibrar , e compreender Obrigada pelos seus escritos .DESEJO LHE um bom ano

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    1. Olívia:

      Obrigado pelo seu comentário.
      Um bom Ano Novo para si e todos os seus.
      Os meus cumprimentos

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  2. Que bom seria que isso um dia pudesse ser uma realidade. As pessoas estariam mais protegidas de algumas palavras que por vezes mal interpretadas dão tantas vezes em conflitos. Não acredito que isso algum dia possa vir a acontecer. Os povos são milenares e ainda hoje não se conseguem entender através da fala, quanto mais através do pensamento. É bom sonhar, enquanto sonhamos podemos regozijar-nos porque é sinal de que estamos vivos.

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    1. Amigo Fonseca:
      Obrigado pelo seu comentário.
      De facto, é bom sonhar. O Poeta António Gedeão 1906-1997)na parte final do poema PEDRA FILOSOFAL, diz-nos que:

      "Eles não sabem, nem sonham,
      que o sonho comanda a vida,
      que sempre que um homem sonha
      o mundo pula e avança
      como bola colorida
      entre as mãos de uma criança."

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  3. para que isso acontecesse era preciso que as palavras largassem o seu lastro corpóreo e passassem a pertencer ao éter e isso pertence a outras linguagens ou ao reinventar da linguagem, uma espécie de pós-poesia

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    1. Reafirmo a minha inabalável convicção de que há palavras ainda não geradas pelo motor do pensamento e que como tal são potencialmente uma pré-poesia ou uma pré-prosa.

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  4. ...Belíssima reflexão sobre a linguagem falada " herdada"... "Todavia, para além delas, há palavras ainda não criadas pelo laboratório do pensamento e por isso indisponíveis no arsenal da memória".... Embora não seja de todo perita na matéria, sempre me preocupou ... e se a função da palavra é uma parte da representação do pensamento humano o que impede a cada um de nós nas nossas vivências em aumentar o " cardápio?"
    Conceição

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  5. Conceição:
    Eu também não sou perito na matéria. Como diria o José Fanha:

    "Eu sou português aqui
    o português sem mestre
    mas com jeito"

    Significa isto que sou um "homem dos sete instrumentos",
    "mestre de tudo e oficial de nada". Falo sempre com um misto de razão e de coração, com as emoções sempre à flor da pele.
    Nessa qualidade creio que há pré-palavras que o pensamento alquimicamente arquitectou e que se transmutarão em palavras, sempre que a insuficiência das mesmas e o acumular de contradições, sejam capazes de forçar a dar o salto e gerar uma mudança de paradigma.

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