domingo, 19 de agosto de 2012

Diálogo com a imagem


Quando se fazem 66 anos, o dobro da idade com que morreu Jesus Cristo, o triplo da idade da máxima pujança juvenil, o sêxtuplo da idade de entrada na juventude, é altura de fazer um balanço da nossa vida. É olharmo-nos ao espelho, mais por dentro que por fora e dialogar com a nossa imagem:
P - O que fizeste até agora, mereceu a pena?
R - Claro que sim. “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.” (1).
P - Podias ter feito melhor?
R - Procuro sempre fazer o melhor, o que não significa que o consiga. Assimptoticamente procuro a perfeição. “Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos, se a tivéssemos. O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito.” (1). De facto, "Não há nada totalmente perfeito." (2). "Se o homem fosse perfeito, seria Deus." (3).
P – Pensas então deitar-te à sombra da bananeira para gozares os juros das coisas que já fizeste?
R – Nunca. Não seria uma atitude inteligente. “Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?" (1). Terei de continuar a trabalhar com persistência e disciplina. “A Persistência é o melhor caminho para o êxito.” (4) e “A disciplina é a mãe do êxito.” (5). “Nas coisas árduas cresce a glória dos homens.” (6).
P – Qual então o caminho que pensas seguir?
R – Fazer o que está por fazer e precisa de ser feito. “É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer.” (7). “Com organização e tempo, acha-se o segredo de fazer tudo e bem feito.” (8). “Depressa e bem não faz ninguém.” (6). “Não basta fazer coisas boas - é preciso fazê-las bem.” (9). “Muitas vezes erra não apenas quem faz, mas também quem deixa de fazer alguma coisa.” (10).
P – Que farás então?
R – O mesmo que até aqui. Vou meter novamente mãos à obra. “As obras mostram quem cada um é.” (6). “O prazer no trabalho aperfeiçoa a obra.” (7). “Obra apressada, obra estragada.” (6).
P - Porquê?
R – “Porque o tempo não é elástico.” (6). “O tempo vai e não volta.” (6).
P - De que precisas então?
R – De mais anos de vida, um de cada vez. “A vida, a quem não pesa, não cansa.” (6). “Para quê preocuparmo-nos com a morte? A vida tem tantos problemas que temos de resolver primeiro.” (11). “O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela.” (1). E sobretudo, há que aceitar desafios. “Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” (12).
P - Não queres então ficar por aqui?
R – É claro que não. “Antiguidade é um posto e posto é galão.” (6). Ora eu não dou para enfeite…
P – Mas estás cheio de cabelos brancos, de rugas e olheiras…
R – Eu sei que “O mundo julga pelas aparências.” (6). Todavia, “Nem tudo o que luz é ouro.” (6), “Nem tudo o que é feio é mau.” (6), “Nem sempre o que parece, é.” (6). Costumo dizer que “Não vos fieis em aparências.” (6) e “Não se pode julgar um livro pela capa.”.
P – Fazes bem em pensar assim. Eu penso o mesmo.
R – Por isso amarei, divertir-me-ei e criarei durante todo o meu tempo, já que “O tempo é ligeiro e não há barranco que o detenha.” (6). Assim, procurarei o meu caminho para a felicidade, na convicção de que “A felicidade não se encontra nos bens exteriores.” (7) e de que “Só há um caminho para a felicidade. Não nos preocuparmos com coisas que ultrapassam o poder da nossa vontade.” (13).

(1) – Fernando Pessoa (1888-1935), poeta e escritor português.
(2) – Horácio (65 a.C. - 8 a.C.), poeta e filósofo romano.
(3) – Voltaire (1694 - 1778), escritor e filósofo francês.
(4) – Charles Chaplin (1889 – 1977), comediante inglês.
(5) – Ésquilo (525/524 a.C. - 456/455 a.C.), dramaturgo grego.
(6) – Adágio português.
(7) – Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.), filósofo grego.
(8) – Pitágoras (571/570 a.C. - 497/496 a.C.), filósofo e matemático grego.
(9) – Santo Agostinho (354 - 430).
(10) – Marco Aurélio (121 - 180), imperador romano.
(11) – Confúcio (551 a.C. - 479 a.C.), filósofo chinês.
(12) – Sócrates (469 a.C. - 399 a.C.), filósofo grego.
(13) – Epicuro (341 a.C. – 271/270 a.C,), filósofo grego.

9 comentários:

  1. Caro Amigo
    Antes de mais os meus parabéns pela idade, o aniversário e o excelente artigo. Em segundo lugar que nunca deixes por muitos e bons anos de dialogar com a tua imagem, com o discernimento e a jovialidade com que agora o fizeste.
    Um grande abraço

    ResponderEliminar
  2. Um “diálogo” tão introspectivo num dia de aniversário! Realmente cada dia de vida vivido retira um dia à vida para viver. É uma verdade digna de Lapalisse em que eu nunca havia mergulhado! E que bem aplicada a linguagem do adágio popular e dos grandes filósofos invocada pela “imagem”! Sendo assim, espero que cada dia tenha realmente 24 horas de vida a gastar, 1440 minutos e 86 400 segundos. Todos vividos com saúde, bem-estar, sonhos, trabalho, êxito ...e, sobretudo rodeado dos afectos dos familiares mais chegados e dos amigos, onde me incluo. Muitos parabéns. Sou fã dos temas e da forma como os abordas...És o máximo! Georgina

    ResponderEliminar
  3. Georgina:
    Muito obrigado pelo teu comentário tão afectuoso.
    Um beijinho para ti.

    ResponderEliminar
  4. Muitos parabéns professor e que essa força de viver acrescente muitos dias à sua vida! Bem haja.

    ResponderEliminar
  5. Obrigado, Clarinda.
    Um abraço para si
    Obrigado sou eu, pelo seu estimulante comentário.

    ResponderEliminar
  6. Amigo Henâni,

    Obrigado e parabéns (a dobrar) pela efeméride vivida e pelo naco gostoso de prosa tecida a preceito.
    Foi bom, após alguns dias fora do escritório, e ao fazer a limpeza de emails acumulados, beber este café estimulante para a manhã de trabalho que continua.
    Henâni, continua também, porque fazes falta e há caminho a trilhar. E o caminho desta vida também se faz caminhando...

    Abraço,

    J.D.Martins

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Amigo Martins:
      Obrigado pelas suas palavras. De facto, como disse o grande poeta sevilhano António Machado, não existe caminho, o caminho faz-se caminhando.
      Um abraço para si e para a Julieta.

      Eliminar