Xexé (1921). Ilustração de Leal da Câmara (1876-1948). Capa da revista “ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA”, nº 781 de 5 de Fevereiro de 1921
Uma figura característica do Carnaval doutros tempos, pelo menos até ao primeiro quartel do século XX, era o “xexé”, caricatura do Portugal miguelista, caído em desgraça. O personagem foi retratado entre outros por José Malhoa (1895), Rafael Bordalo Pinheiro (1903), Augusto Bobone (antes de 1910) e Leal da Câmara (1921). O xéxé trajava uma casaca de seda colorida, calção e meia branca, sapatos de fivela, cabeleira de estopa, punhos de renda e um enorme chapéu bicorne, à moda de finais do séc. XVIII - séc XIX. Usava muitas vezes lunetas, andava armado com um grande facalhão de madeira e um cacete adornado com um chavelho. De acordo com o “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa” [2], “Xexé” é um substantivo masculino que designa “Personagem carnavalesco típico, caracterizado como um velho ridículo e senil”. Para este dicionário, o termo terá sido utilizado pela primeira vez no “Dicionário Contemporâneo de Língua Portuguesa”, de Caldas Aulete. Como refere a “Gíria Portugueza” [1], “Chéché” é um termo popular que designa “Mascarado repelente e ridículo, em Lisboa, que importuna os transeuntes pedindo “dez reisinhos p’r’o velho””. De acordo com o “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa” [2], “Xexé” é também um substantivo e adjectivo com os dois géneros, aplicável a “quem está desprovido de lucidez em decorrência de idade avançada”, sendo sinónimo de ”senil”, “caduco” e “gagá”. É ainda aplicável “àqueles que possuem comportamento ridículo ou estúpido”. Julgo que é neste último sentido, que o termo seja aplicável aos responsáveis políticos ao mais alto grau que:
- Se queixam-se que as suas reformas chorudas não chegam para as despesas pessoais;
- Chamam “piegas” àqueles que civicamente protestam pela dureza das condições de vida que lhes estão a ser impostas;
- Mandam os licenciados, mestres e doutores emigrarem, por cá não arranjarem emprego;
- Chamam “piegas” àqueles que civicamente protestam pela dureza das condições de vida que lhes estão a ser impostas;
- Mandam os licenciados, mestres e doutores emigrarem, por cá não arranjarem emprego;
- Mandam os militares sair das fileiras, quando estes protestam civicamente;
- Reformados da política, nos sugam dinheiro diariamente com as suas benesses vitalícias.
Perante um panorama sombrio deste quilate, apenas uma atitude é possível: o direito à indignação, acompanhado da legítima conclusão de que somos governados por “xéxés”. É caso para bradar bem alto:
- Reformados da política, nos sugam dinheiro diariamente com as suas benesses vitalícias.
Perante um panorama sombrio deste quilate, apenas uma atitude é possível: o direito à indignação, acompanhado da legítima conclusão de que somos governados por “xéxés”. É caso para bradar bem alto:
- ACABEMOS COM ESTE CARNAVAL!
Publicado inicialmente a 15 de Dezembro de 2012
BIBLIOGRAFIA
[1] - BESSA, Alberto. A Gíria Portugueza. Gomes de Carvalho - Editor. Lisboa, 1901.
[2] – HOUAISS, António et al. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Círculo de Leitores. Lisboa, 2003.
Xexé (1895). José Malhoa (1855-1933). Óleo sobre tela (27,4 x 47,4 cm ).
Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Lisboa.
Xexé (1898), desfilando na Praça D. Pedro IV, em Lisboa. Fotógrafo não identificado.
Negativo de gelatina e prata em vidro (9 x 12 cm ). Arquivo Fotográfico da Câmara
Municipal de Lisboa.
Xexé (1903). Ilustração de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905). Capa da revista “A PARÓDIA”,
nº5 de 18 de Fevereiro de 1903.
Xexé (anterior a 1910), desfilando na Avenida da Liberdade, em Lisboa. Augusto Bobone
(1852-1910). Negativo de gelatina e prata em vidro (9 x 12 cm ). Arquivo Fotográfico da
Câmara Municipal de Lisboa.
E nós vivemos num país de xéxés... Até quando????
ResponderEliminarCreio que deva ser percorrido um caminho de profundo esclarecimento cívico, até ao próximo escrutínio eleitoral.
ResponderEliminarCondiçao "sinequa non"!!!!!!!!!!!!!!!!
EliminarBRAVO!
ResponderEliminarDr. Hernâni Matos,
É realmente urgente acabar com este Carnaval!
- Pôr fim aos privilégios da classe política que se tem revezado no incessante regabofe de usar o Estado em proveito próprio, privando-o de mais-valias que, com outros recursos do mesmo Estado, são canalizados para a banca e algum empresariado privado e que lhes garante empregos milionários;
- Privar a classe política que emergiu após o 25 de Abril de capacidade cívica - activa e passiva - cuja restituição só poderá ser obtida mediante recurso aos Tribunais, à semelhança do que foi feito relativamente aos indivíduos ligados ao regime anterior a 1974;
- Confiscar os bens e julgar todos os que tiveram intervenção ou beneficiaram dos conhecidos crimes contra o erário público.
Deste modo se pagará a dívida para que empurraram o Estado e se livrará o povo - que nada teve a ver com o regabofe - da miséria que por aí grassa galopantemente.
É a Revolução de que precisamos!
Bem haja!
Jorge:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Façamos então a revolução!
Bravo, amigo Hernâni ! É sempre um prazer lê-lo, mas hoje, além da parte pedagógica quanto aos xéxés antigos, tenho que o cumprimentar pela pedagogia cívica que usou para caracterizar os xéxés modernos... Parabéns e Obrigada
ResponderEliminarmfernanda
Fernanda:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
É que estão mesmo xéxés... Pensam que é o Povo que está errado e como não conseguem mudar o Povo, querem acabar com ele...
Subscrevo integralmente.
EliminarF.Oliveira
Obrigado, amigo.
EliminarOs meus cumprimentos.
Lembro-me bem de a minha avó me falar dos "Xéxés", em Lisboa. Agora andam por todo o lado e em qualquer altura do ano ...
ResponderEliminarTeresinha:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Tem razão e não há maneira de nos vermos livres deles...
OBRIGADA, UM BEM HAJA!!!
ResponderEliminarObrigado, sou eu.
EliminarVolte sempre a este blogue. Será bem-vinda.
Os meus cumprimentos.
Um grande obrigada pelo texto que escreveu, como todos os outros....
ResponderEliminarParabéns!
Mitita:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Congratula-me que tenha gostado do texto.
Os meus cumprimentos.
Excelente Caro Hernani Matos
ResponderEliminarVou surripiar
Cumprimentos
Rodrigo Henriques
Rodrigo:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Cumprimentos para si também.
O nosso País precisa de comentadores (não de comendadores) que critiquem os políticos, que têm a governação nas mãos, com imparcialidade e sem sectarismo de ESQUERDA ou de DIREITA, tal como V.Exa. defende com muita mestria, já que se torna muito fácil aquilatar o perfil do comentador quando pugna por mais Estado ou menos Estado, respectivamente quando prefere que tudo seja do ESTADO (empresas e trabalhadores inclusive), ou tudo seja dos PRIVADOS (empresas e trabalhadores) nada sendo do ESTADO, limitando-se Este apenas a regular democraticamente a sociedade civil e colectiva e a receber os impostos dos contribuintes singulares e colectivos.
ResponderEliminarPARABÉNS.
Obrigado pelo seu comentário.
EliminarEspero continuar a merecer o interesse da sua leitura.
Os meus cumprimentos.
Caro Hernâni : Como sempre um texto rigoroso na elucidação da figura carnavalesca e, fundamentalmente pela síntese !Como acabar com este carnaval! Que a sua voz nunca se cale!
ResponderEliminarConceição
Conceição:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
assim seja.
Os meus cumprimentos.
Desconhecia por completo, muito obrigada e livremo nos dos modernos xexes
ResponderEliminarTambém eu não quero os modernos xexés.
EliminarCumprimentos.