sábado, 16 de julho de 2011

A tradição da água das sete fontes

Estremoz - Fonte do Espírito Santo (1891). Fotografia de C.J. Walowski.



                                                                           À minha filha Catarina:

No Alentejo, como aliás noutras regiões do país, era tradição recolher água de sete fontes na manhã de S. João (24 de Junho), porque a água assim obtida, era uma água repleta de virtudes. Porquê sete fontes e não outro número qualquer? A resposta a esta questão, leva-nos a abordar, ainda que de relance, o simbolismo associado aos números.
O número um tem a ver com o poder supremo e absoluto, com a responsabilidade exclusiva e a lógica univalente. Para os pitagóricos, o número um, origem de todos os números, representa a razão, por ser imutável.
O número dois tem a ver com a partilha e a complementaridade de funções, com a lógica binária do sim ou não. Para os pitagóricos, o número dois representa a opinião ou o conflito, a oposição e a imobilidade momentânea, quando as forças são iguais.
Por sua vez, o número três representa a síntese espiritual, a resolução do conflito colocado pelo dualismo. Quanto ao número quatro representa a justiça, por ser um quadrado perfeito, o produto de dois factores iguais.
Já o número cinco representa o casamento, por ser a soma do primeiro número par (o número dois, considerado feminino) com o primeiro número ímpar (o número três, considerado masculino).
No que respeita ao número seis, este é considerado um número perfeito, por ser igual à soma dos seus divisores (um, dois e três).
Finalmente, porque a nossa análise ficará por aqui, para os pitagóricos, o número sete é um número sagrado, considerado mágico como todos os números ímpares. Resulta da união (soma) do ternário (três) com o quaternário (quatro). Simboliza a ordem completa, o período, o ciclo.
O número sete como união do número três com o número quatro, regista forte presença na Filosofia e Literatura sagrada desde a Antiguidade. O número três, representado geometricamente por um triângulo (A Santíssima Trindade) e o número quatro, representado por um quadrado (A matéria, isto é, os elementos do mundo físico: terra, água, ar e fogo). Daí que o número sete represente o espírito encarnado ou seja o espírito sustentado pela matéria.
Constatado o carácter mágico e sagrado do número sete, que representa a ordem completa, compreende-se a crença popular de que a água de sete fontes, estivesse dotada de virtudes.
À luz dos conhecimentos científicos actuais, sabe-se que a composição química de uma água, varia de fonte para fonte, podendo faltar numa, os sais minerais indispensáveis a um bom funcionamento do organismo, os quais, em contrapartida, podem existir noutra. Daí que a mistura da água de sete fontes, confira virtudes à água.

4 comentários:

  1. Muito interessante a explicação simbólica dos números na conjunção dos elementos Terra, Água,Ar e Fogo. Todos eles com um certo mistícismo gostei de saber, tudo tem uma razão de ser. Mais uma vez fico grata pela sua disponibilidade cívica em prole da cultura.
    Rosa Casquinha

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  2. Mais uma vez GOSTEI. Fico sempre curiosa de ler quando recebo as suas publicações pois aprendo sempre mais um pouco.
    Obrigada
    Vou partilhar

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  3. Vou deixar aqui um comentário que me foi enviado via mail aquando da partilha deste. O comentário é do meu irmão Jorge e apenas tem o intuito de acrescentar um pouco mais de "sabedoria".

    "Muito interessante, mas os pitagóricos aqui mencionados foram "beber" estes conceitos ao judaísmo. Aos hebreus antigos cuja numeralogia tinha um significado preciso e o número sete é fundamental na religião judaica. É desde logo o sábado , o sétimo dia, o dia em que o Senhor após a criação do Mundo descansou. E os sete primeiros números são importantes porque representam conforme a Bíblia, as diferentes fases da criação ( basta ler o Génisis). A criação da luz, a separação do dia das trevas, do ar, da água... etc, com todo o significado inerente.

    A numerologia ainda é fundamental no judaísmo, basta analisar a importância da Kabalah (Cabala), um cruzamento fascinante entre os números e as palavras, isto porque no alfabeto hebraico as letras representam igualmente números; por exemplo o aleph (primeira letra do alfabeto hebraico) é o número 1, o beta (segunda letra) o número dois e assim sucessivamente.

    A Kabalah é estudada há séculos e tem tratados sucessivamente analisados e comentados há mais de mil anos. Até há quem diga, seguramente por crendice, que pode servir para falar com os mortos."

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  4. O numero 3, para já este, porque o 5 e o 7 beem mais tarde. Queria apenas aflorar de modo muito superficial e apenas de passagem a relevancia do 3 na criação do homem - do corpo humano. No desenvolvimento do corpo humano o principio ternario esta sempre presente. Por exemplo na estrutura mão ,antebraço e braço, o elemento mals externo ( a mão ) é o primeiro a formar-se e a "sair" do tronco, seguindo-se o braço e por fim o antebraço, elemento intermédio.
    Muito do corpo humano desenvolve-se segundo esta regra ternária.

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