sábado, 6 de junho de 2015

27 - José Moreira, o inovador

 Amazona
José Moreira (1926-1991)
Colecção particular


José  Marcelino Moreira (1926-1991), de alcunha “Zé do Telhado”, era discípulo de Ti Ana das Peles [Ana Rita da Silva (1870-1945)]. No quintal da sua residência, na Rua do Nine, nº 12, em Estremoz, tinha a oficina e o forno por ele próprio construído. Era ele quem procurava e cavava o barro, que depois preparava, visando a confecção de imagens. Estas eram por si executadas, mas a pintura e o acabamento pertenciam a sua mulher, Josefina Augusta Ferreira (1922- ). 
José Moreira tinha uma maneira peculiar de observar o mundo e de o interpretar, tendo-nos legado traços de identidade pessoal nas peças que manufacturava, as quais são marcas indeléveis que o permitem identificar como autor.
O olhar das figuras antropomórficas, é semelhante ao das imagens de Mariano da Conceição, com sobrancelhas e pestanas paralelas, sendo estas últimas tangentes às meninas do olho. Todavia estas são maiores que no figurado de Mariano, o que torna o olhar mais expressivo.
Nas figuras zoomórficas, os cavalos têm uma cabeça maior que as dos cavalos de Mariano da Conceição e de Sabina Santos. Têm um olhar mais vivo, as narinas e a boca estão mais bem definidas e os focinhos dos equídeos estão arrebitados, como que procurando afastar-se do pescoço. A crina do pescoço está não só representada por incisões no mesmo, como através de pintura na fronte e na nuca, pendendo para o lado esquerdo. E, ao contrário do que se passa nos ginetes de Mariano da Conceição e de Sabina Santos, a crina da cauda, pintada de preto, quase que roça o chão e está inclinada para o lado esquerdo, dando uma certa sensação de movimento. Em termos de comportamento animal, isto é sinónimo de insatisfação, tal como as narinas dilatadas são indício de atenção. Por outro lado, nas figuras a cavalo de José Moreira (amazona, cavaleiro, frade a cavalo, lanceiro, lanceiro com bandeira), a base é verde, enquanto que nas de Mariano e de Sabina e de acordo com a tradição, a base que representa o chão, é verde, pintalgada de branco, amarelo e zarcão, numa alegoria a um chão atapetado por erva e tufos coloridos de flores silvestres. Todavia, quando José Moreira utiliza noutras figuras, esta forma de decoração da base, as pintas são maiores e mais próximas que nos bonecos de Mariano da Conceição e de Sabina Santos.
Nas figuras masculinas, personagens das fainas agro-pastoris, ao contrário do que se passa no figurado de Sabina Santos, o chapéu é sempre um chapéu aguadeiro, tal como nos correspondentes exemplares de Mariano da Conceição, ainda que por vezes de dimensões maiores.
No figurado de Estremoz existem imagens que ilustram o uso do barrete no Alentejo. Caso de espécimens como “Pastor das migas” e “Matança”. Todos os barristas do século XX e XXI cobriram a cabeça desses exemplares com o tradicional barrete. Porém, José Moreira, irreverente e inovador, nelas substituiu o barrete pelo tradicional chapéu aguadeiro.


segunda-feira, 1 de junho de 2015

O Dia da Espiga (2ª edição)

Esta é a 2ª edição do post, cuja 1ª edição, datada de 6 de Março de 2010, foi agora ampliada com diversas referências de literatura oral: adagiário português (4), superstições populares (6) e cancioneiro popular (1). Foram igualmente adicionadas, novas fontes bibliográficas (3).

Bilhete-postal ilustrado dos anos 20 do século XX,
reproduzindo ilustração de A. Rey Colaço.

De acordo com o calendário litúrgico cristão, na Quinta-Feira de Ascensão comemora-se a ascensão de Cristo Salvador ao Céu, após ter sido crucificado e ter ressuscitado. Esta data móvel encerra um ciclo de quarenta dias após a Páscoa. Lá diz o adágio: "Da Páscoa à Ascensão, 40 dias vão."
Na Quinta-Feira de Ascensão celebra-se igualmente o Dia da Espiga. Era tradição e igualmente superstição [2], as pessoas irem para o campo neste dia, para apanhar a espiga de trigo e outras plantas e flores silvestres. Faziam um ramo que incluía pés de trigo e/ou centeio, cevada, aveia, um ramo florido de oliveira, papoilas e margaridas.
O ramo tinha um valor simbólico. Simbolizava a fecundidade da terra e a alegria de viver. As espigas simbolizavam o pão e a abundância, as papoilas o amor e a vida, o ramo de oliveira a paz e as margaridas o ouro, a prata e o dinheiro.
Nalguns locais, o ritual da colheita da espiga era muito preciso. Na 5ª Feira de Ascensão, devia ir-se ao campo, do meio-dia para a uma hora, colher flores de oliveira, espigas de trigo e flores amarelas e brancas, tudo em número de cinco. Deviam rezar-se igualmente cinco Padres-Nossos, cinco Ave Marias e cinco Gloria Patres, para que durante o ano, houvesse sempre em casa, azeite, ouro e prata. [6]
De acordo com a tradição, o ramo devia ser pendurado dentro de casa, na parede da cozinha ou da sala, aí se conservando durante um ano, até ser substituído pelo ramo do ano seguinte. Havia a crença que o ramo funcionava como um poderoso amuleto que trazia a abundância, a alegria, a saúde e a sorte. Lá diz o adágio: "Quem tem trigo da Ascensão, todo o ano terá pão." E porquê? Porque se acredita naquilo que diz o cancioneiro popular alentejano:

"Tudo vai colher ao campo
Quinta-feira d'Ascensão,
trigo, papoila, oliveira.
p'ra que Deus dê paz e pão." [4]

"Quinta-feira de Ascensão
As flores têm virtudes,
Quis amar teu coração,
Fiz empenho mas não pude." (Évora) [3]

Estava de resto, arreigada a superstição de que era bom colher certas flores e plantas medicinais na Quinta-Feira de Ascensão, antes do nascer do Sol. [2] Existia igualmente a crença de que os ovos postos pelas galinhas, entre o meio-dia e a uma hora da Quinta-Feira de Ascensão, nunca apodrecem e têm a virtude de curar doenças e suprimir dores. [2] Acreditava-se também que o queijo feito na Quinta-Feira de Ascensão era medicamento eficaz contra as sezões. [1] Existia ainda o convencimento de que o vento que na Quinta-feira de Ascensão, soprasse à uma hora da tarde, era o que sopraria durante todo o ano. Existia finalmente a convicção de que era bom comer carne na Quinta-Feira de Ascensão, de acordo com adágio:

“Em Quinta-Feira de Ascensão,
Quem não come carne
Não tem coração;
Ou de ave de pena,
Ou de rês pequena.” [2]

A origem festiva do Dia da Espiga, coincidente com a Quinta-Feira da Ascensão, é muito anterior à era cristã. Na verdade, este dia é um sucessor claro de rituais pagãos, praticados durante séculos, por todo o mundo mediterrâneo, em que grandiosos festivais de cantares e danças, celebravam a Primavera e consagravam a natureza. Neles se exortava o eclodir da vida vegetal e animal, após a letargia dos meses frios, bem como a esperança nas novas colheitas. O Dia da Espiga era assim como que uma bênção aos primeiros frutos e marcava o início da época das colheitas.
A Igreja, à semelhança do que fez com outras ancestrais festas pagãs, cristianizou o Dia da Espiga. A data atravessa assim os tempos com uma dupla significação:
- como Quinta-feira de Ascensão, para os cristãos, assinalando, a ascensão de Jesus ao Céu, ao fim de 40 dias;
- como Dia da Espiga, traduzindo aspectos e crenças não religiosos, mas exclusivos da esfera agrícola e familiar.

Bilhete-postal ilustrado do 2º quartel do século XIX, edição A.V.L. (Lisboa),
reproduzindo aguarela de Alfredo Moraes (1872-1971).

Actualmente poucas são as pessoas que ainda se deslocam ao campo na Quinta-Feira da Ascensão para apanhar o ramo da espiga. Mas aquelas que vão, têm dificuldade em constituir o ramo, sobretudo pela dificuldade em recolher pés de cereal, raros a partir do momento em que os nossos agricultores receberam dinheiro de Bruxelas para deixar de cultivar. Apesar de tudo, há quem consiga cumprir a tradição. E há também quem faça negócio com a tradição, colhendo e vendendo ramos de espiga na cidade. Apesar do mercantilismo deste biscate em tempo de crise, é um contributo para a preservação da tradição. Actualmente, também são poucas as pessoas que se deslocam à Igreja para participar nos deveres religiosos inerentes à data. Todavia, houve tempos em que a data, das mais festivas do ano, era repleta de cerimónias sagradas e profanas, que chegavam a implicar a paralisação laboral. Existia mesmo a crença que em Quinta-Feira de Ascensão, os passarinhos não vão aos ninhos. [1] Daí também o adágio: “No Dia da Ascensão nem os passarinhos bolem nos ninhos”, o que está de acordo com o cancioneiro popular:

“Se os passarinhos soubessem
Quando é dia d'Ascensão,
Nem subiam ao seu ninho,
Nem punham o pé no chão.” [5]

Existia igualmente a crença de que na Quinta-Feira de Ascensão, os pássaros não iam ao ninho desde o meio-dia até à uma hora, que era o período de orações nas festas da Igreja. Consta, que antigamente, finalizadas essas orações, era costume soltarem-se passarinhos do coro e das tribunas, e espargirem-se flores desfolhadas sobre os fiéis. [6]
Por vezes chove na Quinta-feira de Ascensão, o que originou a convicção de que em chovendo na tarde de Quinta-Feira de Ascensão, as nozes apodrecem e os frutos sairão pecos. [6] O adagiário, regista, de resto a crença de que “Água d'Ascensão, tira o vinho e dá o pão”, assim como “Chuvinha da Ascensão, dá palhinha e dá pão” e também “Quinta-feira da Ascensão, coalha a amêndoa e o pinhão”.

BIBLIOGRAFIA
[1] - CHAVES, Luís. Páginas Folclóricas - I : A Canção do Trabalho. Separata do vol. XXVI da "Revista Lusitana". Imprensa Portuguesa. Porto, 1927.
[2] - CONSIGLIERI PEDROSO, "Superstições Populares”, “O Positivismo: revista de Filosofia, Vol. III. Porto, 1881.
[3] – LEITE DE VASCONCELLOS, J. Leite. Cancioneiro Popular Português, vol. III. Acta Universitatis Conimbrigensis. Coimbra, 1983.
[4] – SANTOS, Vítor. Cancioneiro Alentejano - Poesia Popular. Livraria Portugal. Lisboa, 1959.
[5] - THOMAZ PIRES, A. Cantos Populares Portugueses, vol. I. Typographia Progesso. Elvas, 1902.
[6] - THOMAZ PIRES, A. Tradições Populares Transtaganas. Tipographia Moderna. Elvas, 1927.

Publicado inicialmente a 1 de Junho de 2015

quarta-feira, 27 de maio de 2015

As fontes

Fonte do Hospital de São João de Deus. Foto Tony (cerca de 1960).

Estremoz é uma cidade de serviços e tem necessidade de Turismo, como de pão para a boca. Consciente disso, o Município vem procedendo, desde o mês de Abril, à pintura e conservação de vários edifícios no Largo D. Dinis, para conservação do Património Cultural e para garantir que os turistas levem de Estremoz a melhor das imagens.
Na parte baixa da cidade, igualmente visitada pelos turistas, existe também Património Cultural, entre o qual as fontes: - FONTE DAS BICAS, construída em data desconhecida do séc. XVI e que teve contíguo um tanque de lavagem, que o Município de 1905 transferiu para o Lavadouro Público; - FONTE DO HOSPITAL DE SÃO JOÃO DE DEUS, mandada construir pela Câmara de 1834, no muro contíguo à ermida de São Brás e que a edilidade de 1901 ordenou que fosse removida para o local onde actualmente se encontra; - FONTE DO ESPÍRITO SANTO mandada construir pelo Senado de 1834 e que chegou a ter chafariz para animais de carga e sela. Nos anos sessenta do século passado, o chafariz foi sacrificado ao pseudo progresso, já que foi arrancado a fim de facilitar a circulação automóvel; - A FONTE DOS CURRAIS, situada na Rua Brito Capelo (antiga Rua dos Currais) e que foi mandada construir pela Câmara Municipal em 1907.
Sendo Estremoz tão rica em água, não se percebe a razão porque não corre água nas fontes de Estremoz. É que sendo as centenárias fontes um pólo de atracção turística, com água a jorrar das suas bicas, Estremoz teria mais encanto, como todos nós pretendemos. Que responda quem souber. Até lá, apetece parafrasear o fado de António Mourão: “Oh tempo volta para trás, dá-me tudo o que eu perdi!”.
 Hernâni Matos



Fonte do Espírito Santo. Foto de Rogério de Carvalho (cerca de 1940).
Fonte das Bicas. Foto de Rogério de Carvalho (cerca de 1940).

Fonte dos Currais. Foto de autor e data desconhecidos.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

II Encontro de poetas populares de Arcos

Um aspecto do almoço de convívio no recinto da Festa

O Sporting Clube Arcoense, em parceria com a Associação Filatélica Alentejana, promoveu no passado dia 24 de Maio, o II Encontro de Poetas Populares de Arcos. O evento teve lugar a partir das 16 horas, na sede do clube arcoense, no decurso das Festas em Honra de São Sebastião.
Desde sempre o povo produziu poesia, sobretudo em contexto de trabalho, os ganhões em tarefas de grupo, cíclicas e sazonais, como as ceifas e a azeitona e, os pastores na solidão da sua vida de nómadas. E criaram sobretudo décimas e quadras que registaram no livro vivo da sua memória, pois muitos nem sequer sabiam ler. A maior parte dessas composições tornaram-se anónimas e transmitindo-se oralmente de geração em geração, passaram a ser parte integrante da nossa memória colectiva e da nossa identidade cultural, a qual urge preservar e transmitir às gerações mais novas.
A poesia popular aborda múltiplos contextos: o amor, o casamento, os filhos, a vida familiar, o trabalho, o lugar do homem no Universo, a religião, as festividades, a sátira, a crítica social e política, etc.
Os poetas populares ali presentes foram convidados a apresentar no Encontro, duas décimas com mote livre. Foram eles: Manuel Gomes (Arcos), Constantina Babau (Estremoz), José Banha (Estremoz), Mateus Maçaneiro (Estremoz), Aurélio Buinho (Cano - natural de S. Bento do Cortiço), Joaquim Gavião (Cuba - natural de S. Bento do Ameixial), Altino Carriço (Rio de Moinhos), José Miranda (Rio de Moinhos), Maria Lisete Martinho (Vila Viçosa), José Venâncio (Vila Viçosa), João Capacete (Bencatel), Porfírio Alexandre (Bencatel), José Patacho (Alandroal).
Cada um deles tem a sua própria experiência de vida e a sua maneira própria de ver o mundo e as coisas. A sua presença ali foi reveladora de que a Poesia Popular está bem e se recomenda.


Outro aspecto do almoço de convívio no recinto da Festa

quinta-feira, 21 de maio de 2015

26 – Santa Bárbara


Santa Bárbara. Sabina Santos (1921-2005). Colecção particular.

Diz a lenda que Santa Bárbara nasceu e viveu no final do séc. III, na cidade de Nicomédia, na actual Turquia. Era uma jovem muito bela. Dióscoro, seu pai, era um pagão rico que a desejava proteger dos pretendentes. Por isso encerrou-a numa torre, onde mandou abrir duas janelas, mas entretanto teve que viajar. Quando regressou, a filha tinha-­se feito baptizar e mandara rasgar uma terceira janela, em honra à Santíssima Trindade. O pai ficou irado, pelo que ela teve de fugir, abrindo-se os rochedos para que ela passasse. Descoberta, foi capturada pelo progenitor e levada a tribunal. Aí foi condenada a ser exibida nua por todo o país e padeceu toda sorte de suplícios, acabando por ser executada pelo próprio pai, que a degolou com uma espada. Logo após a sua morte, um raio fulminou o filicida.
Santa Bárbara é Protectora contra relâmpagos e tempestades, bem como Padroeira de artilheiros, mineiros, geólogos, engenheiros militares, armeiros e de todos aqueles que trabalham com o fogo. É igualmente Padroeira de profissões relacionadas com torres e a sua construção (cabouqueiros, pedreiros, arquitectos) e ao seu uso como prisão (presidiários e guardas de prisão).
Os atributos de Santa Bárbara são numa mão (geralmente a direita) a palma do martírio e na outra a torre com três janelas onde o pai a encerrou. A torre pode aparecer também a seus pés e pode segurar a espada com que foi degolada ou segurar o cálice com a hóstia.
Santa Bárbara, cuja festa litúrgica ocorre a 4 de Dezembro, tem considerável presença na tradição oral portuguesa. A nível de adágios: “Só se lembra(m) de Santa Bárbara, quando faz trovões". Está igualmente presente no cancioneiro popular de Angra do Heroísmo:

“Ò Senhora Santa Barba,
Senhora dos corações,
Ninguém se lembra dela
Senão quando faz trevões”.

Existem também orações populares como esta:

“Santa Bárbara Bendita,
Que no céu está escrita
com papel e água benta,
nos livre desta tormenta”.

No que respeita a superstições populares, existia a crença de que as palmas e os ramos de alecrim, bentos na Procissão do Domingo de Ramos, afastavam as trovoadas. De resto, era hábito tocar os sinos durante as trovoadas, pois havia a crença popular de que o toque fazia afastar os raios e os trovões. Em Castedo do Douro, um dos sinos da Igreja até tem gravado o nome de Santa Bárbara. Actualmente, as orações e o toque de sinos foram substituídos por pára-raios, o que levou Guerra Junqueiro (1850-1923) a escrever:

“Pára-raios nas Igrejas,
É para mostrar aos ateus,
Que os crentes quando troveja,
Não têm confiança em Deus”.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente a 21 de Maio de 2015

terça-feira, 19 de maio de 2015

Aonde pára Santa Bárbara ?

Paiol de Santa Bárbara (1739). Fotografia inserida no II volume do Inventário
Artístico de Portugal – Distrito de Évora (concelhos de Arraiolos, Estremoz,
Montemor-o-Novo, Mora e Vendas Novas), da autoria de Túlio Espanca e
editado pela Academia Nacional de Belas Artes, em 1975. 

“Santa Bárbara Bendita, / Que no céu está escrita / com papel e água benta, / nos livre desta tormenta”. Esta uma das muitas orações populares da tradição oral portuguesa. Através dela se invoca o auxílio de Santa Bárbara, Protectora contra relâmpagos e tempestades, bem como Padroeira de artilheiros, mineiros, geólogos, bombeiros e de todos aqueles que trabalham com o fogo.
Santa Bárbara de Nicomédia, cuja festa litúrgica ocorre a 4 de Dezembro, tem em Estremoz, património arquitectónico militar não classificado, com o seu nome. Trata-se do Paiol de pólvora de Santa Bárbara. Construído entre 1736 e 1739, foi projectado pelo arquitecto e engenheiro militar Carlos Andreas, sendo o responsável pelas obras, o também arquitecto e engenheiro militar Eugénio dos Santos de Carvalho.
O paiol é antecedido por um portal barroco com frontispício de mármore, ostentando as armas de D. João V. Nele existe um nicho onde estava alojada uma escultura de Santa Bárbara, em mármore.
Disse que estava, uma vez que já não está. É que há alguns anos atrás, um comandante do RC3, temendo o roubo da imagem, ordenou a sua remoção do local e o seu transporte para o quartel, onde na sua óptica estaria mais segura. Acontece que como Santa Bárbara é Padroeira dos artilheiros, houve uma alta patente de visita àquele regimento, que entendeu que a imagem devia ser transferida para a Escola Prática de Artilharia (EPA), em Vendas Novas, o que se concretizou.  
Acontece que a Escola Prática de Artilharia foi desactivada em 2013, passando as suas funções para a então criada Escola das Armas, instalada nas antigas instalações da Escola Prática de Infantaria (EPI) e do Centro Militar de Educação Física e Desportos (CMEFD) em Mafra.
É natural que um cidadão como eu, investido do direito e dever constitucional de defesa do património, levante questões pertinentes, do tipo:
- Aonde pára Santa Bárbara?  
- Não deveria a imagem regressar a Estremoz, de onde nunca deveria ter saído? É que apesar de ser património militar, é património militar de Estremoz.
Gostaria que ter resposta a estas questões, o que decerto só poderá ser concretizado pelo Ministério da Defesa Nacional, através da abertura de um rigoroso inquérito que seja conclusivo e esclarecedor para a opinião pública. De resto, ser-me-ia grato com o regresso da escultura a Estremoz, poder dizer:
- Bom filho, à casa torna.