sábado, 10 de dezembro de 2011

A Caça


CENAS DE CAÇA (1670).
Pormenor de painel de azulejos (158 x 286cm), fabrico de Lisboa.
 Museu de Lamego.

 
A necessidade de sobreviver levou o homem primitivo a caçar, isto é, a perseguir outras espécies animais, com a finalidade de os abater e consumir na alimentação. Provavelmente o homem terá começado por caçar sem armas, às quais terá começado a recorrer em certo estágio da sua evolução. E naturalmente com a evolução do homem, vão evoluindo igualmente as armas usadas na caça. Estas classificam-se em:
- Armas de arremesso de mão: o dardo, a azagaia e o arpão.
- Armarremesso de engenho: as de  a funda, o arco, a besta e a zarabatana.
- Armas de choque: o cajado, a moca, o machado, o punhal, a faca, a espada, o sabre e a lança.
- Armas de choque e arremesso de mão: o machado, o punhal e a lança.
- Armas de fogo: mosquete de pederneira, espingarda, pistola, revólver, etc.
Na caça, o homem pode também utilizar armadilhas diversas, tais como gaiolas, laços e redes. Pode igualmente ser auxiliado pelo cavalo em quer se faz transportar ou por animais como o cão e o furão, assim como por aves de rapina como o falcão e o açor, usados na caça de altanaria.
A caça é um tema que tem sido profusamente abordado na arte. Começando na arte rupestre e marcando presença assinalável nas iluminuras dos livros de horas medievais e renascentistas, a caça é um tema que foi também bastante retratado nos painéis azulejares portugueses de composição figurativa do século XVIII, com os quais ilustramos o presente post. Nesses painéis os caçadores trajam à moda do século, destacando-se o uso do chapéu tricórnio. A caça é efectuada a pé ou a cavalo, com recurso a lança ou mosquete de pederneira e o auxílio de cães.
O contexto da caça nos séculos XVII-XVIII está registado no adagiário português referido por autores das época, em alguma da bibliografia indicada ([1], [2], [4]), com o qual termino o presente post:
- A galgo velho deita-lhe a lebre e não coelho.
- A lebre é de quem a levanta e o coelho de quem o mata.
- A pássaro dormente, tarde entra o cevo no ventre.
- À porta de caçador, nunca grande monturo.
- Andar com furão morto à caça.
- Aquela ave é má, que em seu ninho suja.
- As folósas querem dar nos grous.
- Às vezes, corre mais o Demo que a lebre.
- Bem sabe a rola em que mão pousa.
- Bom cão de caça, até à morte dá ao rabo.
- Caça, guerra e amores, por um prazer muitas dores.
- Caçar e comer, começo quer.
- Cão azeiteiro, nunca bom coelheiro.
- Com este cajado mataste já outro coelho.
- De casta lhe vem ao galgo ter o rabo longo.
- De má mata, nunca boa caça.
- Do gavião maneiro se faz o çafaro; e do çafaro o maneiro, segundo a têmpora do cetreiro.
- Em Dezembro, a uma lebre galgos cento.
- Em Janeiro, nem galgo lebreiro, nem açor perdigueiro.
- Galgo, comprá-lo e não creá-Io.
- Galgo, que muitas lebres levanta, nenhuma mata.
- Gavião temporão, Santa Marinha na mão.
- Inda que a garça voe alta, o falcão a mata.
- Ir à guerra, nem caçar, não se deve aconselhar.
- Levantas a lebre, para que outrem medre.
- Mal haja o caçador doido, que gasta a vida com um pássaro.
- Mentiras de caçadores são as maiores.
- Metes os cães à moita, arredaste-a fora.
- Não cava de coração, senão o dono do furão.
- Não crie cão quem lhe não sobeje pão.
- Não é regra certa, caçar com besta.
- Não levantes lebre, que outrem leve.
- Nem de cada malha peixe, nem de cada mata feixe.
- Nunca bom gavião de francelho, que vem à mão.
- O açor e o falcão, na mão.
- O galgo, à larga, lebre mata.
- Porfia mata caça.
- Porfia mata veado, e não besteiro cansado.
- Quando o lobo vai por seu pé, não come o que quer.
- Quem pássaro há-de tomar, não o há-de enxotar.
- Quem quiser caça, vá á praça.
- Se assim corres como bebes, vamo-nos às lebres.
- Se caçares, não te gabes; e, se não caçares, não te enfades.
- Se esta cotovia mato, três me faltam para quatro.
- Sede de caçador, e fome de pescador.
- Tenho-te no laço, pombo torcaz.

BIBLIOGRAFIA
[1] - BLUTEAU, Raphael. Vocabulario Portuguez e Latino. Vol. I a X. Officina de Pascoal da Sylva. Coimbra, 1712-1728.
[2] - DELICADO, António. Adagios portuguezes reduzidos a lugares communs / pello lecenciado Antonio Delicado, Prior da Parrochial Igreja de Nossa Senhora da charidade, termo da cidade de Euora. Officina de Domingos Lopes Rosa. Lisboa, 1651.
[3] - EDITORIAL ENCICLOPÉDIA. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Editorial Enciclopédia, Limitada. Lisboa, s/d.
[4] - ROLAND, Francisco. ADAGIOS, PROVERBIOS, RIFÃOS E ANEXINS DA LINGUA PORTUGUEZA. Tirados dos melhores Autores Nacionais, e recopilados por ordem Alfabética por F.R.I.L.E.L. Typographia Rollandiana. Lisboa, 1780.
Publicado inicialmente em 10 de Dezembro de 2011

CENA DE CAÇA (1670).
Painel de azulejos (154 x 286cm), fabrico de Lisboa.
Museu de Lamego.

CENA DE CAÇA (1670).
Pormenor da metade esquerda de painel de azulejos (154 x 286cm), fabrico de Lisboa.
Museu de Lamego. 

CENA DE CAÇA (1670).
 Pormenor da metade direita de painel de azulejos (154 x 286cm), fabrico de Lisboa.
 Museu de Lamego. 

CENA DE CAÇA (1670-75).
Painel de azulejos (166 x 517 cm), fabrico de Lisboa.
Museu Nacional do Azulejo. 

CAÇA AO LEOPARDO (3º quartel do séc. XVII).
 Painel de azulejos (150 x 189,5 cm), fabrico de Lisboa.
Museu Nacional do Azulejo, Lisboa. 

FRONTAL DE ALTAR / EMBLEMA CARMELITA E CENA DE CAÇA (c. 1670).
Painel de azulejos (95 x 156 cm), fabrico de Lisboa.
 Museu Nacional de Machado de Castro. 

CENA DE CAÇA (c. 1680).
Pormenor central de painel de azulejos (166 x 517 cm), fabrico de Lisboa.
 Museu Nacional do Azulejo, Lisboa. 

CENA DE CAÇA (1750 – 1760).
Painel de azulejos/silhar (83 x 167,5 cm), fabrico da Real Fábrica de Louça (Rato?), Lisboa.
Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.

CENA DE CAÇA (séc. XVIII).
Painel de azulejos da Igreja de São José dos Carpinteiros, Lisboa.

CENA DE CAÇA (séc. XVIII).
Painel de azulejos da Igreja de São José dos Carpinteiros, Lisboa.

CENA DE CAÇA (séc. XVIII).
Painel de azulejos da Igreja de São José dos Carpinteiros, Lisboa.

CENA DE CAÇA (séc. XVIII).
Painel de azulejos. Igreja de Vilar de Frades, Barcelos. 

CENA DE CAÇA (séc. XVIII).
Painel de azulejos, Palácio Biscainhos, Braga. 

CENA DE CAÇA (séc. XVIII).
Painel de azulejos, Sé, Porto. 

CENA DE CAÇA (Séc. XVIII).
Painel de azulejos nos claustros do Mosteiro de S. Vicente de Fora, Lisboa.

CENA DE CAÇA (séc. XVIII). Painel de azulejos.
Convento de Nossa Senhora da Conceição dos Congregados de S. Filipe Nery,
actual edifício dos Paços do Concelho de Estremoz.

 CENA DE CAÇA (séc. XVIII).
 Painel de azulejos da Igreja da Ordem Terceira Secular de São Francisco da Bahia.

CENA DE CAÇA (séc. XVIII).
 Painel de azulejos do Palácio do Marquês de Marialva, Lisboa.
 Museu do Açude, Rio de Janeiro. 

 CENA DE CAÇA (séc. XVIII).
 Painel de azulejos da Capela Dourada, Recife.

 CENA DE CAÇA (1881).
 Azulejo (12 x 33 cm) da autoria de D. Fernando de Sax Coburgo.
 Palácio Nacional de Mafra.

 CENA DE CAÇA (1881).
Azulejo (12 x 33 cm) da autoria de D. Fernando de Sax Coburgo.
Palácio Nacional de Mafra.

CENA DE CAÇA (1881).
Azulejo (12 x 33 cm) da autoria de D. Fernando de Sax Coburgo.
Palácio Nacional de Mafra.

CENA DE CAÇA (1881).
Azulejo (12 x 33 cm) da autoria de D. Fernando de Sax Coburgo.
Palácio Nacional de Mafra.

domingo, 4 de dezembro de 2011

O frio

A "MONA LISA" COM FRIO.
Imagem recolhida em http://www.freakingnews.com

Hoje na minha cidade natal, que é Estremoz, esteve aquilo a que um friorento como eu, já apelida de dia frio. Uma temperatura mínima de 4º C e uma máxima de 15º C. Por isso fiquei em casa, de roda dos meus escritos e escolhi o frio como tema deste post.
Uma breve revisão do adagiário português do frio, levou-me a concordar com a sentença de que “Quem tem brio não tem frio”, bem como “Frio a valer, trabalhar para aquecer”. Mas será que é verdade que “Calcanhar de homem, cu de mulher e nariz de cão, três coisas frias são”?
Que pensa o leitor?

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O Alentejo na Pintura Portuguesa

O Alentejo é uma região com uma identidade cultural própria, como o atesta a sua paisagem específica, o carácter do povo alentejano, o trajo popular, a gastronomia, a arte popular, o cancioneiro popular, o cante, a casa tradicional, etc.
Essas marcas identitárias estão devidamente registadas na pintura portuguesa, como em parte o demonstra, a selecção de obras que efectuei de pintores como José Malhoa (1855-1933), Silva Porto (1850-1893), D. Carlos I de Bragança (1863-1908), Alberto de Souza (1880-1961), Dórdio Gomes (1890-1976), Bernardo Marques (1898-1962), Jaime Martins Barata (1899-1970), Roberto Nobre (1903-1969), Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957), Cândido Teles (1921-1999), Júlio Pomar (1926-  ).  Na triagem efectuada, limitei-me a um período que medeia entre 1885 e 1967, por considerar ser aquele que é etnograficamente mais rico. Para além disso, julgo ser uma amostragem suficientemente diversificada e representativa do que melhor se pintou sobre o Alentejo.



A SESTA DOS CEIFEIROS (1885)
José Malhoa (1855-1933)
Óleo sobre tela (95 x 132 cm)
Colecção particular
 GUARDANDO O REBANHO (1893)
Silva Porto (1850-1893)
Óleo sobre tela (160 × 200 cm)
Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto
COLHEITA - CEIFEIRAS (c/ 1893)
Silva Porto (1850-1893)
Óleo sobre tela (905 x 1203 cm)
Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto
ESPANTANDO OS PARDAIS DA SEARA (1904)
José Malhoa (1855–1933) 
Óleo sobre tela (44x53 cm)
Colecção particular
 
O SOBREIRO (1905)
D. Carlos I de Bragança (1863-1908)
Pastel sobre cartão (177 x 91 cm)
Palácio Ducal de Vila Viçosa
 
A SESTA DOS CEIFEIROS (1909)
José Malhoa (1855–1933)
Óleo sobre tela (44x53 cm)
Colecção particular 
A SESTA DOS CEIFEIROS – ALENTEJO (1918)
Dórdio Gomes (1890-1976)
Óleo sobre tela (59x74 cm)
Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa 
 CEIFEIRO (1920)
Bernardo Marques (1898-1962)
Grafite e aguarela sobre papel (38 x 29 cm)
COSTUMES ALENTEJANOS (1923)
Jaime Martins Barata (1899-1970)
Aguarela sobre papel
Museu Grão Vasco, Viseu
Ilustração de Bernardo Marques (1898-1962)
 para a capa de “A Planície Heróica”(1927)
de Manuel Ribeiro (1878-1941) 
 CAMPONESA ALENTEJANA
Roberto Nobre (1903-1969)
Ilustração da capa do magazine "Civilização",
 número 17 de Novembro de 1929
MULHERES ALENTEJANAS OU MONDADEIRAS (1932)
Dórdio Gomes (1890-1976)
Óleo s/ tela.
Museu de José Malhoa. Caldas da Rainha 
CEIFEIROS (1934)
Cândido Teles (1921-1999)
Técnica mista (42 x35 cm)
Colecção Feverónia Mendonça, Lisboa 
CABEÇA DE CEIFEIRO ALENTEJANO (1941)
Dórdio Gomes (1890-1976)
Óleo sobre contraplacado (33 x 25 cm) 
PAISAGEM ALENTEJANA COM PASTOR OVELHAS E CÃO (1941)
Simão César Dórdio Gomes (1890-1976)
Óleo sobre tela (100x70 cm)
Colecção particular 
Ilustração de Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957)
para a capa de "Cerromaior" (1943)
de Manuel da Fonseca (1911-1993) 
O GADANHEIRO (1945)
Júlio Pomar (1926-   )
Óleo sobre tela (137 x 98 cm c/moldura)
Ilustração de Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957)
para a capa da revista Panorama,
número 27, de 1946 
Ilustração de Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957)
 para a capa de "Vila Adormecida" (1947)
de Antunes da Silva (1921-1997)
A CEIFA NO ALENTEJO
Alberto de Souza (1880-1961)
Aguarela sobre papel (14x20 cm) 
Ilustração de Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957)
para o livro “Alentejo não tem sombra”
de  Eduardo Teófilo
Portugália Editora, 1954 
CEIFEIRAS - ALENTEJO (1967)
Cândido Teles (1921-1999)
Óleo sobre aglomerado (82x125 cm)
Museu do Chiado - MNAC, Lisboa

terça-feira, 29 de novembro de 2011

O Natal na Azulejaria Portuguesa


Natividade ou Adoração dos Pastores (séc. XVI- c. 1580).
Painel de azulejos (500 x 465 cm) atribuído a Marçal de Matos.
Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.

Ao longo de mais de cinco séculos, o azulejo tem si usado em Portugal, como elemento associado à arquitectura, não só como revestimento de superfícies, mas também como elemento decorativo.
Pela sua riqueza cromática e pelo seu poder descritivo, o azulejo ilustra bem a mentalidade, o gosto e a história de cada época, sendo muito justamente considerado como uma das criações mais singulares da Cultura Portuguesa e um paradigma da nossa Identidade Cultural Nacional.
A temática do património azulejar português é diversificada e inclui, naturalmente, o tema “Natal”, objecto do presente post, ilustrado com imagens de painéis apresentados sensivelmente por ordem cronológica e legendados com a informação que nos foi possível recolher.

Publicado inicialmente a 29 de Novembro de 2011

Retábulo Nossa Senhora da Vida (c. 1580).
Painel de azulejos (500 x 465 cm), atribuído a Marçal de Matos, Lisboa.
Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.

Adoração dos Reis Magos (séc. XVII).
Painel de azulejos da Igreja Paroquial de Carcavelos.

A Natividade (séc. XVIII).
Painel de azulejos da Igreja de Arrentela, Seixal.

A Natividade (1720-22).
Painel de azulejos atribuídos ao pintor Manuel da Silva,
 fabricados na Olaria de Agostinho de Paiva, em Coimbra.
Claustro da Sé Catedral de Viseu.

Presépio e Adoração dos Reis Magos (Meados do séc . XVIII).
Painel de azulejos (174 cm x 280 cm) da Arquidiocese de Évora.

Adoração dos Reis Magos (séc. XVIII).
 Painel de azulejos da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, Salvador, Bahia.

A Adoração dos Magos (finais do séc. XVIII).
 Painel de azulejos (1520 mm x 1230 mm)
 da autoria de Francisco de Paula e Oliveira,
 produzido na Real Fábrica de Louça, ao Rato, em Lisboa.
Museu da Cidade, Lisboa.

Natividade (1746 - 1754). Painel de azulejos portugueses.
 Igreja Basílica do Senhor do Bonfim. São Salvador, Bahia. 

Adoração dos Reis Magos (1760-70).
Painel de azulejos (197,6 x 293 cm), fabrico de Lisboa.
Museu Nacional do Azulejo, Lisboa. 

Os Reis Magos (1945).
 Painel de azulejos (131,8 x 132 cm), da autoria de Jorge /Barradas,
 produzido na Fábrica Cerâmica Viúva Lamego.
 Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.