terça-feira, 5 de abril de 2011

O cavalinho de pau




ESTREMOZ NOS ANOS CINQUENTA
Nasci em 1946, em Estremoz, no Largo do Espírito Santo, que é um largo que tem como referência a fonte do mesmo nome, a Torre das Couraças, o Convento dos Agostinhos que foi Fábrica de Cortiça dos Reynolds e dos Robinson, assim como o poeta Sebastião da Gama, que ali morou no segundo andar do número dois.
O alegrete, o espaço em torno da fonte e o adro, foram os terreiros primordiais da minha infância, os palcos primitivos onde desempenhei os primeiros papéis da minha vida, enquanto brincava, o que era, sem dúvida, a minha principal e mais importante tarefa de todos os dias.
Uma das minhas brincadeiras iniciais foi o cavalinho de pau, o que é natural, pois nos anos cinquenta do século passado, eram frequentes, em Estremoz, o carro de tracção animal, os trens e as caleches, bem como o próprio acto de montar a cavalo.
Os carros de tracção animal, puxados por uma ou duas bestas, eram o veículo usado diariamente no transporte de carga: azeitona para os lagares, trigo para a moagem, mercadorias da estação da CP ou da Camionagem para o comércio local, assim como pelos hortelões que das hortas e quintas dos arredores vinham vender vegetais e fruta ao mercado municipal.
Nos trens se faziam transportar por um cocheiro fardado, as famílias dos grandes proprietários rurais.
Pela cidade circulavam também cavalos, por vezes conduzidos a pé pelos seus tratadores, a fim de beberem água no chafariz do Lago do Gadanha. É que os grandes proprietários rurais tinham casa no campo, que acumulavam com casa na cidade. Esta, estava provida de cavalariça onde alojavam os animais, assim como os seus aprestos, a palha destinada à alimentação e para enxerga, assim como os trens e as caleches. Era também corrente na época, ver alguém dessas casas, passear a cavalo pelas ruas da cidade ou trotear e voltear no Rossio Marquês de Pombal, o qual funcionava assim como picadeiro público.

O REGIMENTO DE CAVALARIA 3
Desde 1875 que está instalado em Estremoz, o Regimento de Cavalaria 3. Do extenso e valioso historial do RC3, se destaca a heróica e brilhante vitória alcançada pelos seus cavaleiros, sobre o exército espanhol na Batalha de Fuente de Cantos, travada a 15 de Setembro de 1810, no decurso da Guerra Peninsular.
Os cavaleiros do RC3 quando regressavam ao Quartel após manobras realizadas no campo, iam com as suas montadas até ao Lago do Gadanha para se lavarem e refrescarem, descendo para lá por uma rampa que existiu do lado do Jardim, até cerca dos anos 50 do século passado, assim como outra, do lado oposto àquele. Mais tarde, essas rampas, que estavam vedadas com correntes, foram sacrificadas, porventura em nome do progresso. Nos anos sessenta e com o Lago já sem rampas, eram os pelotões regressados do treino de campo para a Guerra Colonial, que ali entravam cobertos de lama, para uma primeira lavagem de corpo, que não da alma. Nessa época era vulgar, ver oficiais a passear a cavalo pelas ruas da cidade. De resto, quando havia paradas militares no Rossio, a presença da Cavalaria era uma constante.

A GUARDA NACIONAL REPUBLICANA
Onde hoje é a Igreja dos Congregados, situava-se a incompleta Igreja do Convento da Congregação do Oratório de S. Filipe Nery, que como é sabido, ao contrário da Companhia de Jesus, era aberta “às luzes” trazidas pela revolução científica de Copérnico e Galileu. Esta, duma assentada, revogou o não só bíblico como aristotélico modelo geocêntrico do Universo, levando-nos a ver o Universo com outros olhos, que não os da divina revelação.
Ali estava instalado o Quartel da Guarda Nacional Republicana e nas coxias da hoje Igreja, estavam instaladas as cavalariças. Dali saiam os guardas, aos pares, para patrulhas a cavalo nas freguesias rurais.

AS TOURADAS
O meu avô Manuel Alturas, ferroviário aposentado, republicano e amante da Festa Brava, levava-me aos touros e comprava rebuçados que comíamos durante a corrida. Eu ficava encantado com o ritual das cortesias e o evoluir elegante do ginete de Mestre João Branco Núncio, a quem os mais velhos chamavam “O Califa de Alcácer”.
Quando ia às touradas usava calças de cós alto e jaqueta que o meu pai, alfaiate de lavradores e de toureiros, confeccionara para mim. Um pequeno chapéu à Mazantina completava os meus adereços. Desse tempo, guardo como relíquia, a minúscula jaqueta que levava às touradas.

O CIRCO
Em certas ocasiões, tais como a Feira de Maio ou a Feira de Santiago, vinham a Estremoz circos que montavam tendas no Rossio Marquês de Pombal. Os melhores circos traziam cavalos amestrados e, por vezes, equilibristas que em cima deles, desafiavam o impossível, fazendo coisas incríveis, para deleite de vista.

A VASSOURA
Do exposto se conclui que o cavalo era uma presença certa na minha vida diária. Natural era, pois, que eu, habilitado com as asas da minha imaginação, sonhasse em ser cavaleiro. E fazia-o, brincando com o meu cavalinho de pau, o qual durante muito tempo foi a vassoura de cabo alto, lá de casa.
Nas minhas cavalgadas, fazia como o “Califa de Alcácer”. Por vezes mudava de montada e passava a cavalgar a cana de caiar.
Certo dia, a minha mãe, farta das minhas traquinadas com os utensílios domésticos, acabou por me comprar um cavalinho de pau, mesmo a sério, com cabeça de cavalo, crinas, arreios e tudo. E logo que o estreei, como ele não dizia nada, com todo o meu contentamento fui eu próprio que relinchei por ele, o que emprestou mais realismo à minha representação. E sabem que mais? Quando montava o meu corcel, usava sempre um barrete feito de papel de jornal, que o meu avô me ensinara a fazer numa tourada, quando me esqueci de levar o meu chapéu à Mazantina.
O meu barrete de papel era um acessório importante. Quando fazia de militar a cavalo, usava o barrete posto de trás para diante e uma espada de madeira presa no cinto das calças. Já quando era cavaleiro tauromáquico, punha o barrete de papel atravessado na cabeça e usava um pau a fazer de farpa. Mas nada de usar jaqueta ou chapéu à Mazantina, porque isso era só nos dias de festa.
As minhas representações equestres eram diversificadas, iam do trote ao galope, passando pelo volteio. Nelas, na minha imaginação, eu era sempre um garboso cavaleiro montado num puro-sangue de Alter, que cavalgava horas a fio no Largo do Espírito Santo. Acontecia às vezes que uma tourada ficava a meio do seu curso ou, o que era bem pior, não conseguia concretizar uma carga de cavalaria. Sabem porquê? É que a minha mãe aparecia à janela a gritar:
- “Hernâni anda para a mesa, que são horas de comer!”
E eu não resistia à chamada, porque com tanta cavalgada, já tinha a barriga a dar horas.

Publicado inicialmente em 5 de Abril de 2011
Texto que integra o meu livro "Memórias do Tempo da Outra Senhora"

JUNHO – iluminura do “Breviário de Eleanor de Portugal” (segundo
o uso  de Roma), manuscrito e iluminado em Bruges, c. 1500, pelo
Mestre dos antigos Livros de Orações de Maximiliano I e de Jaime IV
 da Escócia, que alguns estudiosos identificam como sendo Gerard
Horenbout. MS M.52 fol. 4V, metade superior. Morgan Libray,
Nova Iorque.  Na faixa superior, várias figuras montam cavalinho
de pau e parecem travar uma batalha simulada.

JUNHO - Iluminura (9,8x13,3 cm) do “Livro de Horas de D. Fernando”
 [Século XVI (1530-1534)],  manuscrito com iluminuras da oficina
Simon Bening. Número de Inventário: 01163.10 TC. Número de
Inventário do Objecto: 13/6v. Ilum. Museu Nacional de Arte Antiga.
Em baixo, à direita, o cavalinho de pau.

JOGOS INFANTIS (1560) - Pieter Bruegel, o Velho (1526/1530–1569). Óleo sobre madeira
(161 x 118 cm). Museu de História de Arte, Viena.

CAVALINHO DE PAU - Pormenor do quadro JOGOS INFANTIS (1560) - Pieter
Bruegel,  o Velho (1526/1530–1569). Óleo sobre madeira (161x118 cm).
Museu  de  História de Arte, Viena.

CRIANÇAS A BRINCAR NUMA SALA - Ilustração do “Splendor Solis”
(1582),  códice alemão ilustrado, que é um tratado alquímico
atribuído ao  lendário  Salomon Trismosin, considerado o mestre
de Paracelso. Harley 3469,  f.31v, British Library, Londres.

BRINCADEIRAS INFANTIS (1774) - Gravura de Daniel Nikolaus Chodowiecki (1726–1801), extraída de
“J. B. Basedows Elementarwerk mit den Kupfertafeln Chodowieckis u.a. Kritische Bearbeitung in drei Bänden, herausgegeben von Theodor Fritzsch. Dritter Band. Ernst Wiegand, Verlagsbuchhandlung
 Leipzig 1909". Representado o cavalinho de pau, o cavalo de balanço, o carrinho de bébé e o baloiço.

RETRATO DE HENRIETTE VON HEINTZE COM OS SEUS FILHOS (1803) - Óleo
sobre tela de Friedrich Carl Gröger (1766-1838), Museum Behnhaus, Lübeck.

“RIDE A COCK HORSE” - Ilustração da escritora e ilustradora
infantil Kate Greenaway (1846-1901) publicada no livro
Mother Goose” (1881).

RIDE A COCK HORSE TO BANBURY CROSS (1902) - Ilustração de
William  Wallace Denslow (1856 - 1915), ilustrador e caricaturista,
do livro “Denslow's Mother Goose”.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Cristina Malaquias: A Alquimia das Cores


O papel é um deserto com sulcos epidérmicos que revelam a sua própria História. Nele, Cristina Malaquias começa por lançar aguarela como quem repete o gesto augusto do semeador. De seguida, a Artista transfigurada em Éolo, deus dos ventos, sopra a aguarela que passa a povoar aquele deserto. De entremeio, as suas mãos sísmicas ondulam e determinam o curso da tinta que se transfigurará em animada ria com uma miríade de braços, como uma Veneza de cores. Ora arbustos entrelaçados como amantes, que se possuem languidamente na procura do infinito, ora raízes que estabelecem uma ligação forte à Terra-Mãe, porque é preciso resistir e gritar bem alto: - “Nós estamos aqui!”. Ora ainda pássaros que se libertam do peso terrestre e ascendem ao transcendente, porque é preciso cumprir o sonho de Ícaro.
Alquimista das cores, Cristina Malaquias, na procura incessante da Pedra Filosofal, lixivia as aguarelas, cujas cores se transmutam e adquirem textura, brilho e luminosidade. Visionária na concepção e perfeccionista no acto de criação, a Artista é uma permanente insatisfeita na procura de novos caminhos e na descoberta de técnicas que potenciem a sua visão mágica das coisas. O seu atelier transforma-se em laboratório alquímico onde para nosso gáudio, a magia acontece.
“Soprados” se chama a técnica e “Soprados” foi o título escolhido pela Artista para a Exposição de quarenta trabalhos, que de 2 de Abril a 4 de Junho, estará patente ao público na Sala de Exposições do Centro Cultural Dr. Marques Crespo, em Estremoz.
Cristina Malaquias que há cerca de 20 anos está radicada entre nós, tem um extenso currículo como ilustradora de livros escolares e infanto-juvenis. Tem igualmente exposto, um pouco por todo o país e também pelo estrangeiro.
Data de 2008, a sua última exposição individual de “Ilustração e Desenho” no Centro Cultural.
A Associação Filatélica Alentejana, vocacionada para uma vasta gama de actividades exposicionais, considera um privilégio ter acolhido no seu espaço, a exposição com que a Artista divulga esta técnica inédita, de sua criação. Obrigado Cristina por esta bela exposição, que nos enche e colore a alma, com toda a sua riqueza e com toda a sua beleza.
Bem haja!

Estremoz, 28 de Março de 2011
(In catálogo de “SOPRADOS”. Centro Cultural Dr. Marques Crespo. Estremoz, Abril/Maio de 2011)

















quarta-feira, 30 de março de 2011

Cristina Malaquias: A Visão Mágica das Coisas


Um olhar fotográfico que regista a imagem e dela a forma, a volumetria, a medida, a profundidade, a cor, a textura, o contraste, a luminosidade e o brilho.
Um olhar analítico que cruza o ar, no espaço e no tempo e que, no acto visual de dissecar as partes de cada todo, procura nelas os elos de ligação, bem como as harmonias e os ritmos que as hão de reagrupar e reunificar na reconstrução dialéctica do todo.
Um olhar privilegiado que através da miríade de redes neuronais, funciona como um pantógrafo que pictogroficamente transmite à mão dextra, o impulso nervoso que não é mais que o feedback visual do raio luminoso que impressiona a sua retina e a sua alma de Poeta.
Mão que empunha um lápis de cor com a mesma determinação olímpica do ganhão que lavra a Terra-Mãe para dela extrair o seu pão de cada dia.
Mãos solidárias e cúmplices com a folha de papel que tacteiam, exploram, afagam e fecundam, ora energicamente ora duma forma mais pausada, mas sempre com a doçura própria de quem ama.
Mãos que vibram como quem dedilha com mestria uma guitarra portuguesa e arranca dela o que de mais profundo tem o sentir da Alma do Povo.
Mãos que sofrem como o olhar ou o pensamento, pois doloroso é o Acto Criador.
Este é, em traços gerais, necessariamente simplificadores e redutores, o esboço tosco do perfil biográfico da ilustradora e desenhadora Cristina Malaquias.
A Artista desculpará a ousadia com que eu, recorrendo à alquimia das palavras, transmutei as emoções que o seu trabalho e Obra, em mim despertam. Mas doutra forma não poderia ter sido.
À Artista agradeço em nome do público, o ter partilhado connosco a beleza da sua visão mágica das coisas: o esvoaçar duma borboleta, o som do restolho pisado, a intensa claridade do sul que ora se acende, ora se apaga, que esse é o ciclo do Vida.
Obrigado, Cristina!



Estremoz, 6 de Julho de 2008
(In catálogo de “ILUSTRAÇÃO E DESENHO”. Centro Cultural Dr. Marques Crespo. Estremoz, Junho/Julho de 2008)













domingo, 27 de março de 2011

As aves e o Paraíso


O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam. (Génesis 2,25). O PARAÍSO. Óleo sobre madeira de Herri met de Bles (c. 1500-1550). Rijksmuseum, Amsterdão.

Na tradição bíblica, o Paraíso Terrestre (Jardim do Éden ou Jardim das Delícias) é o local da primitiva habitação do Homem, onde ocorreram os eventos narrados no Livro do Génesis (Génesis 1, 2 e 3): a criação de Adão e Eva, a indicação a Adão para cultivar e guardar o Jardim, bem como a indicação expressa de que podia comer frutos de todas as árvores, excepto os da árvore do conhecimento do que é bom e do que é mal. Ao desobedecerem a essa ordem e ao comerem o fruto proibido, Adão e Eva ficaram a conhecer o bem e o mal. Desse pecado original, nasceu a vergonha e o reconhecimento de estarem nus. Como resultado da desobediência, Deus expulsou-os do Paraíso:
- O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam. (Génesis 2,25)
- A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha formado. Ela disse a mulher: É verdade que Deus vos proibiu comer do fruto de toda árvore do jardim?” (Génesis 3,1)
- A mulher respondeu-lhe: Podemos comer do fruto das árvores do jardim. (Génesis 3,2)
- Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: Vós não comereis dele, nem o tocareis, para que não morrais.” (Génesis 3,3)
- “Oh, não! – tornou a serpente – vós não morrereis! (Génesis 3,4)
- Mas Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal.” (Génesis 3,5)
- A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente. (Génesis 3,6)
- Então os seus olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram cinturas para si. (Génesis 3,7)
- E eis que ouviram o barulho (dos passos) do Senhor Deus que passeava no jardim, à hora da brisa da tarde. O homem e sua mulher esconderam-se da face do Senhor Deus, no meio das árvores do jardim. (Génesis 3,8)
- Mas o Senhor Deus chamou o homem, e disse-lhe: “Onde estás?” (Génesis 3,9)
- E ele respondeu: “Ouvi o barulho dos vossos passos no jardim; tive medo, porque estou nu; e ocultei-me.” (Génesis 3,10)
- O Senhor Deus disse: “Quem te revelou que estavas nu? Terias tu porventura comido do fruto da árvore que eu te havia proibido de comer?” (Génesis 3,11)
- O homem respondeu: “A mulher que pusestes ao meu lado apresentou-me deste fruto, e eu comi.” (Génesis 3,12)
- O Senhor Deus disse à mulher: Porque fizeste isso?” “A serpente enganou-me,– respondeu ela – e eu comi.” (Génesis 3,13)
- Então o Senhor Deus disse à serpente: “Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais e feras dos campos; andarás de rastos sobre o teu ventre e comerás o pó todos os dias de tua vida. (Génesis 3,14)
- Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu ferirás o calcanhar.” (Génesis 3,15)
- Disse também à mulher: Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à luz com dores, teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio.” (Génesis 3,16)
- E disse em seguida ao homem: “Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida. (Génesis 3,17)
- Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. (Génesis 3,18)
- Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar.” (Génesis 3,19)
- Adão pôs à sua mulher o nome de Eva, porque ela era a mãe de todos os viventes. (Génesis 3,20)
- O Senhor Deus fez para Adão e sua mulher umas vestes de peles, e os vestiu. (Génesis 3,21)
- E o Senhor Deus disse: “Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal. Agora, pois, cuidemos que ele não estenda a sua mão e tome também do fruto da árvore da vida, e o coma, e viva eternamente.” (Génesis 3,22)
- O Senhor Deus expulsou-o do jardim do Éden, para que ele cultivasse a terra donde tinha sido tirado. (Génesis 3,23)
- E expulsou-o; e colocou ao oriente do jardim do Éden querubins armados de uma espada flamejante, para guardar o caminho da árvore da vida. (Génesis 3,24)
O Paraíso Terrestre foi tema central da pintura europeia, que ao longo dos séculos inspirou inúmeros pintores. Deles destacamos Hieronymus Bosch, Lucas Cranach, “O Velho”, Michelangelo Buonarroti, Albrecht Altdorfer, Jacopo Bassano, Jacob de Backer, Jan Bruegel, “O Velho” e Charles Auguste Bouvier. Através das obras destes grandes mestres procurámos ilustrar a harmonia em que Adão e Eva viviam com os animais, entre eles as aves que são o objecto central dum conjunto de posts iniciado com “Deus e a criação das aves”, o qual terá continuidade.

BIBLIOGRAFIA
- ART ET BIBLE [http://www.artbible.net ]
- BIBLIA CATÓLICA [http://www.bibliacatolica.com.br]
- BIBLICAL ART ON WWW [http://www.biblical-art.com]
- WEB GALLERY OF ART [http://www.wga.hu]


O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam. (Génesis 2,25). Tríptico do Jardim das DELÍcias (c. 1500) – parte esquerda. Óleo sobre tela de Hieronymus Bosch (1450 - 1516). Museo del Prado, Madrid.
O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam. (Génesis 2,25). JARDIM DO ÉDEN (1570-73). Óleo sobre tela de Jacopo Bassano (c.1510–1592). Galleria Doria Pamphili, Roma.
O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam. (Génesis 2,25). JARDIM DO ÉDEN. Óleo sobre Madeira de Jacob de Backer (1555/60-1585/90). Groeninge Museum, Bruges.
O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam. (Génesis 2,25). JARDIM DO ÉDEN (1612). Óleo sobre cobre de Jan Bruegel, "O Velho" (1568-1625). Galleria Doria Pamphili, Roma.
O homem e amulher estavam nus, e não se envergonhavam . (Génesis 2,25). ADÃO E EVA NO JARDIM DO ÉDEN (1615). Óleo sobre cobre de Jan Bruegel, "O Velho" (1568-1625). Colecção Real, Reino Unido.
O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam. (Génesis 2,25). PARAÍSO TERRESTRE (C.1621). Óleo sobre cobre de Jan Bruegel, "O Velho" (1568-1625).   Musée du Louvre, Paris.
O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam. (Génesis 2,25). O PARAÍSO TERRESTRE. Óleo sobre tela de Jan Bruegel, "O Velho" (1568-1625). Museo del Prado, Madrid.
A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente. (Génesis 3,6). O PECADO ORIGINAL (1616). Óleo sobre madeira de Jan Bruegel, "O Velho" (1568-1625).  Szépmûvészeti Múzeum, Budapest.
A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente. (Génesis 3,6). PEGANDO A MAÇÃ. Óleo sobre tela, atribuído a Charles Auguste Bouvier (francês, activo em 1845-53). Musée des Beaux-Arts, Dole.
A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente. (Génesis 3,6). ADÃO E EVA (1528). Lucas Cranach, “O Velho” (1472-1553). Oleo sobre madeira (Díptico). Galleria degli Uffizi, Florença.
A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente. (Génesis 3,6). A TENTAÇÃO DO HOMEM (c. 1535). Óleo sobre madeira da Oficina de Albrecht Altdorfer (1480-1538). National Gallery of Art, Washington.
O Senhor Deus expulsou-o do jardim do Éden, para que ele cultivasse a terra donde tinha sido tirado. (Génesis 3,23). A QUEDA E A EXPULSÃO Do JARDIM DO ÉDEN (1509-10). Fresco de Michelangelo Buonarroti (1475-1564). Cappella Sistina, Vaticano.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Estão a meter água

SETEMBRO (VINDIMA) - Iluminura (10,8x14 cm) do “Livro de Horas de
D. Manuel I” [Século XVI (1517-1551)], manuscrito com iluminuras
atribuídas a António de Holanda, conservado no Museu Nacional de
Arte Antiga. Pintura a têmpera e ouro sobre pergaminho.

À CATARINA, MINHA FILHA:

Somos um país com uma agricultura errada, em que se pagou aos agricultores para deixarem de cultivar. Para além disso, encheu-se o Algarve de campos de golfe e transformou-se o Alentejo numa vinha gigante, com as inescapáveis consequências que daí advêm e que se traduzem numa contaminação irreversível dos aquíferos usados no consumo humano.
Somos um país pequenino, mas com jeito para muitas coisas, entre elas a criatividade da gíria popular, do calão, das frases idiomáticas e das alcunhas. Usando dessa criatividade é caso para dizer a quem nos governa, em primeiro lugar:
- Estão a meter água!
Em segundo lugar, vamos dar conta dessa criatividade linguística, através duma resenha necessariamente sucinta no âmbito da temática “Água”:

- A PÃO E ÁGUA - Submetido a regime alimentar muito rigoroso. [6]
- ÁGUA BENTA – Protecção. [3]
- ÁGUA BÓRICA - Aguardente falsificada. [1]
- ÁGUA DE BACALHAU – Fiasco; Malogro. [1]
- ÁGUA DE CASTANHAS – Infusão de café ordinário. [7]
- ÁGUA DE CHEIRO – Alcunha outorgada a jovem que andava sempre muito perfumado (Aljustrel). [5]
- ÁGUA DE CÚ LAVADO – Poção que se crê existir e pode ser dada a beber traiçoeiramente a pessoa que se pretenda dominar, nomeadamente em jogos amorosos. [4]
- ÁGUA FERRADA – Água em que se deitou uma brasa para a amornar. [7]
- ÁGUA FRESCA – Designação atribuída a um aguadeiro (Mourão). [5]
- ÁGUA FRIA – O alcunhado caiu dentro de um poço e quando o retiraram de lá, disse que a água estava fria (Castro Verde). [5]
- ÁGUA MORNA - Pessoa com falta de energia, indolente, incapaz de qualquer iniciativa. [1]
- ÁGUA NO BICO - Intenção reservada. [1]
- ÁGUA- VAI! – Grito com que se lançava água suja na rua. [3]
- AGUAÇA – Enxurrada. [7]
- AGUACEIRO - Indivíduo que vive com contrariedades. [2]
- AGUADA - Pequeno descanso de um quarto de hora que o managteiro dá aos trabalhadores para beberem ou fumarem.[7]
- AGUADEIRO – Vocábulo desdenhoso do cocheiro que evidencia conhecimento nulo o que é conduzir. [7]
- AGUADILHA - Vinho fraco, aguado. [2]
- AGUARITA – Caldo muito aguado. [7]
- AGUARRÁS - Aguardente de figo ou de cereais.[1]
- ÁGUA-RUÇA - Reduzido a nada. [1]
-  ÁGUAS BELAS – Criança pálida e enfezada. [3]
-  ÁGUAS CARREGADAS – Sinal de zangas domésticas. [3]
-  ÁGUAS DA VALA - Preguiça ; moleza. [1]
-  ÁGUAS PASSADAS – Tempos ou coisas ultrapassadas. [3]
-  ÁGUAS-FURTADAS – A cabeça. [3]
-  BALDE DE ÁGUA FRIA -  Desilusão, decepção. [6]
-  CARGA DE ÁGUA - Chuvada violenta; motivo. [6]
-  CLARO COMO ÁGUA – Evidente. [6]
-  COMO DUAS GOTAS DE ÁGUAS - Perfeitamente idênticas. [6]
-  COMO PEIXE NA ÁGUA – À vontade. [6]
-  CRESCER ÁGUA NA BOCA - Experimentar forte desejo. [6]
-  DAR ÁGUA PELA BARBA – Ser difícil de conseguir. [6]
-  DE PRIMEIRA ÁGUA - Admirável. [6]
-  FÁCIL COMO A ÁGUA - Muito fácil de conseguir. [6]
-  FERVER EM POUCA ÁGUA - Irritar-se facilmente. [6]
-  IR POR ÁGUA ABAIXO - Falhar. [6]
-  LEVAR ÁGUA AO RIO - Fazer trabalho escusado. [6]
-  LEVAR ÁGUA AO SEU MOINHO – Arguir. [6]
-  METER ÁGUA - Ter um desaire. [2]
-  NAVEGAR ENTRE DUAS ÁGUAS - Usar de duplicidade. [6]
-  NAVEGAR NAS MESMAS ÁGUAS - Perfilhar as mesmas convicções. [6]
-  PARTIR PARA ÁGUAS - Ir para férias a fim de descansar ou tratar da saúde; ausentar-se para lugar incerto. [6]
-  PÔR A CABEÇA EM ÁGUA - Causar grandes preocupações. [6]
-  PÔR AGUA NA FERVURA -  Dizer ou fazer alguma coisa com a intenção de tranquilizar os espíritos. [6]
-  PRIMEIRAS ÁGUAS - As primeiras chuvas. [6]
-  SACUDIR A ÁGUA DO CAPOTE - Enjeitar responsabilidades. [6]
-  SEM DIZER ÁGUA VAI – Inesperadamente. [6]
-  SUJAR A ÁGUA QUE BEBE - Ser pessoa mal-agradecida. [6]
-  TEMPESTADE NUM COPO DE ÁGUA - Grande alarde. [6]
-   VERTER ÁGUAS - Urinar. [6]

Em suma: estão a meter água e põem-nos a cabeça em água. E olhem que isto não é uma tempestade num copo de água!

BIBLIOGRAFIA
[1] - BESSA, Alberto. A Gíria Portugueza. Gomes de Carvalho - Editor. Lisboa, 1901.
[2] – LAPA. Albino. Dicionário de Calão. Edição do Autor. Lisboa, 1959.
[3] - NEVES, Orlando. Dicionário de Expressões Correntes. Editorial Notícias. Lisboa, 1998.
[4] - NOBRE, Eduardo. Dicionário de Calão. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1986.
[5] – RAMOS, Francisco Martins; SILVA, Carlos Alberto da. Tratado das Alcunhas Alentejanas. 2ª edição. Edições Colibri. Lisboa, 2003.
[6] – SANTOS, António Nogueira. Novos dicionários de expressões idiomáticas. Edições João Sá da Costa. Lisboa, 1990.
[7] - SIMÕES, Guilherme Augusto. Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1993.