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quarta-feira, 29 de novembro de 2023

XVII Exposição de Presépios de Artesãos de Estremoz



Transcrito com a devida vénia de
newsletter do Município de Estremoz,
de 29 de Novembro de 2023

A Galeria D. Dinis vai receber a XVII Exposição de Presépios de Artesãos de Estremoz, de 1 de dezembro a 7 de janeiro de 2024.Esta mostra, que é já uma referência no Alentejo, contará com mais de 20 Presépios, produzidos em diversos materiais: Cerâmica, tecido, pedra, madeira, cortiça, vidro e metal.

Os artesãos participantes são: Afonso Ginja, Ana Catarina Grilo, António Moreira, Carlos Alberto Alves, Carlos Pereira, Conceição Perdigão, Duarte Catela, Fátima Lopes, Inocência Lopes, Irmãs Flores, Isabel Pires, Jorge Carrapiço, Jorge da Conceição, José Carlos Rodrigues, Luís Parente, Luísa Batalha, Madalena Bilro, Manuel Broa, Maria José Camões, Perfeito Neves, Ricardo Fonseca, Sara Sapateiro, Sofia Luna e Vera Magalhães.

Visite e sinta, através dos presépios, o espírito de um Natal Feliz.








terça-feira, 21 de novembro de 2023

6.º aniversário da inscrição da Produção de Figurado em Barro de Estremoz na Lista Representativa de Património Cultural Imaterial da UNESCO

 



Transcrito com a devida vénia de
newsletter do Município de Estremoz,
de 21 de Novembro de 2023.

O Município de Estremoz irá comemorar o 6.º aniversário da inscrição da Produçãode Figurado em Barro de Estremoz na Lista Representativa de Património CulturalImaterial da UNESCO", no dia 7 de dezembro de 2023, com o seguinte programa:

SALÃO NOBRE (CÂMARA MUNICIPAL DE ESTREMOZ)

- 18:00 horas - Cerimónia de Celebração do 6.º aniversário da inscrição da Produção de Figurado em Barro de Estremoz na Lista Representativa de Património Cultural Imaterial da UNESCO"

Hugo Alexandre Nunes Guerreiro, coordenador da candidatura e responsável pelo Plano de Salvaguarda;

José Daniel Pena Sádio, Presidente da Câmara Municipal de Estremoz.

- 18:20 horas - Entrega de Certificado de Produtor de Bonecos de Estremoz a Vera Magalhães.

- 18:25 horas - Conferências:

Ana Fonseca (CME) e Mathilda L. Coutinho (Centro Hercules da Universidade de Évora): Bonecos de Estremoz - à descoberta do imaterial;

Ana Cristina Mendes (Diretora adjunta do CEARE): Indicações Geográficas Europeias.

TEATRO BERNARDIM RIBEIRO

- 22:00 horas - Dezalinhados Filarmónica Rock Show com a Banda Sociedade Filarmónica Artística Estremocense e a Banda Filarmónica do Grupo União e Recreio Azarujense.

Entrada livre que carece de levantamento de bilhete no Teatro Bernardim Ribeiro ou Posto de Turismo.

Venha celebrar connosco!


Hernâni Matos

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Uma Primavera de Mestre Jorge da Conceição

 

Fig. 1 - Primavera (aspecto frontal). Mestre Jorge da Conceição (1963 - ).


É sabido que colecciono Bonecos de Estremoz produzidos por todos os barristas, independentemente da época e do tema. E faço-o, por entender que não há uma maneira única de os produzir, já que cada barrista tem o seu próprio estilo e as suas próprias marcas identitárias, fruto de circunstâncias diversas, as quais me dispenso de analisar aqui. No acto de criação, apenas é exigido ao barrista que respeite a técnica de produção e a estética do Boneco em barro vermelho de Estremoz.
A minha colecção, apesar de invejada por muitos, apresenta alguns “calcanhares de Aquiles”. Um deles é não integrar como eu gostaria, um número julgado apropriado e representativo da produção de Mestre Jorge da Conceição. Daí que eu tenha resolvido tratar este calcanhar, o que me levou tempos atrás a encomendar-lhe algumas figuras. A primeira a ser-me entregue foi uma Primavera (Fig. 1 e Fig. 2), que de imediato, despertou em mim uma emoção que iria desembocar na redondilha maior que então compus:

Aquece-me o coração
Esta linda Primavera
De Jorge da Conceição,
Cuja posse era quimera.

A beleza da figura resulta de uma modelação perfeita, fortemente naturalista, conjugada com um cromatismo harmonioso. Para além disso, uma observação mais minuciosa do exemplar, torna possível deduzir que, no decurso da sua manufactura, ocorreu uma mudança de paradigma relativamente à produção de barristas que antecederam Mestre Jorge da Conceição.
Em primeiro lugar, as flores do arco deixaram de estar representadas por discos cilíndricos coloridos e pintalgados, para serem mostradas, ainda que de uma maneira generalista, por flores com tridimensionalidade, ostentando uma parte frontal e uma parte posterior, distintas.
Em segundo lugar, o vestido deixa de apresentar folhos apenas no fundo, para os apresentar também nos punhos e no amplo decote que vai de ombro a ombro.
Em terceiro lugar, a fita do chapéu deixa de ser uma mera pintura e adquire ela própria, tridimensionalidade.
Em quarto lugar, o topo da base deixa de ser sarapintado, pompeando aquilo que configura ser um chão atapetado de flores.
Tudo isto é de se lhe “tirar o chapéu” e dai que, apesar de ser paisano, me ponha duplamente em sentido. Em primeiro lugar, pelo trabalho de excelência de Mestre Jorge da Conceição. Em segundo lugar, pelo facto de a Primavera envergar um vestido com as cores da nossa bandeira nacional, que de imediato despertam em mim um sentimento patriótico.
Obrigado Mestre Jorge da Conceição por me ter enchido as medidas com esta criação germinada a partir da sua grande alma de artista e à qual a magia das suas mãos conferiu forma e cor, transmitindo-lhe harmonia, perfeição, beleza e elegância. Bem-haja!


Fig. 2 - Primavera (aspecto posterior). Mestre Jorge da Conceição (1963 - ).

domingo, 22 de outubro de 2023

Adagiário das castanhas

 

MULHER DAS CASTANHAS (1938) - Ana das Peles (1869-1945).
Ex-colecção Azinhal Abelho.

À Catarina, minha filha,
que nesta época anda envolvida
na apanha da castanha na sua quinta.

Anualmente entre Junho e Julho, os castanheiros ficam floridos e a estas flores sucedem-se os ouriços, que encerram as castanhas, as quais começam a cair no início do Outono, em Setembro e Outubro.
É vasto o adagiário das castanhas:

- A castanha amarela em Agosto tem a tinta no rosto.
- A castanha é de quem a come e não de quem a apanha.
- A castanha e o besugo em Fevereiro não têm sumo.
- A castanha em Agosto a arder e em Setembro a beber.
- A castanha tem três capas de Inverno: a primeira mete medo, a segunda é lustrosa e a terceira é amarga.
- A castanha tem uma manha: vai com quem a apanha.
- A castanha veste três camisas: uma de tormentos, outra de estopa e outra de linho.
- A noz e a castanha é de quem a apanha.
- Ao assar as castanhas, as que estouram são as mentiras dos presentes.
- Arreganha-te, castanha, que amanhã é o teu dia.
- As castanhas apanham-se quando caem.
- As castanhas para o caniço e o boneco para o porco.
- As folhas de castanheiro andam sete anos na terra e depois ainda voam.
- Carregadinho de castanha, vai o burrinho para Idanha.
- Castanha assada, pouco vale ou nada, a não ser untada.
- Castanha bichosa, castanha amargosa.
- Castanha peluda, castanha reboluda.
- Castanha perdida, castanha nascida.
- Castanha que está no caminho é do vizinho.
- Castanha quente só com aguardente, comida com água fria causa “azedia”.
- Castanha semeada, p´ra nascer, arrebenta.
- Castanhas boas e vinho fazem as delícias do S. Martinho.
- Castanhas caídas, velhas ao souto.
- Castanhas do Marão, a escolher se vão.
- Castanhas do Natal sabem bem e partem-se mal.
- Castanheiro para a tua casa, corta-o em Janeiro.
- Com castanhas assadas e sardinhas salgadas não há ruim vinho.
- Crescem os reboleiros, morrem os castanheiros.
- Cruas, assadas, cozidas ou engroladas, com todas as manhãs, bem boas são as castanhas.
- Dá-me castanhas, dar-te-ei banhas.
- De bom castanheiro, boa acha.
- De bom castanheiro, bom madeiro.
- De castanha em castanha (roubando) se faz a má manha.
- De castanheiro caído todos fazem lenha.
- Desde que a castanha estoira, leve o diabo o que ela tem dentro.
- Do castanho ao cerejo, mal me vejo.
- Em ano de muito ouriço não faças caniço.
- Em minguante de Janeiro, corta o teu castanheiro.
- Em Setembro, antes de chover, o souto o arado quer ver.
- Folha amarela do castanheiro cai ao chão.
- Mais vale castanheiro, que saco de dinheiro.
- No dia de S. Martinho, come-se castanhas e bebe-se vinho.
- No dia de S. Martinho, lume, castanhas e vinho.
- No dia de S. Martinho, mata o teu porco, chega-te ao lume, assa castanhas e prova o teu vinho.
- No dia de São Julião, quem não assar um magusto não é cristão.
- O castanheiro, para plantar, precisa ir na mão, o carvalho às costas e o sobreiro no carro.
- O céu é de quem o ganha e a castanha de quem a apanha.
- O ouriço abriu, a castanha caiu.
- Oliveira do meu avô, castanheiro do meu pai e vinha minha.
- Os ouriços no São João são do tamanho de um botão.
- Pelo S. Martinho castanhas assadas, pão e vinho.
- Pelo São Francisco, castanhas como cisco.
- Quando gear, o ouriço vai buscar.
- Quando o sol aperta, o ouriço arreganha.
- Quem castanhas come, madeira consome.
- Quem não sabe manhas, não come castanhas.
- Raiz de castanheiro, dá bom braseiro.
- Sete castanhas são um palmo de pão.
- Temporã é a castanha, que em Agosto arreganha.

BIBLIOGRAFIA
- BLUTEAU, Raphael. Vocabulario Portuguez e Latino. Vol. I a X. Officina de Pascoal da Sylva. Coimbra, 1712-1728.
- CHAVES, Pedro. Rifoneiro Português. Imprensa Moderna, Lda. Porto, 1928.
- DELICADO, António. Adagios portuguezes reduzidos a lugares communs / pello lecenciado Antonio Delicado, Prior da Parrochial Igreja de Nossa Senhora da charidade, termo da cidade de Evora. Officina de Domingos Lopes Rosa. Lisboa, 1651.
- MARQUES DA COSTA, José Ricardo. O Livro dos Provérbios Portugueses. Editorial Presença. Lisboa, 1999.
- ROLAND, Francisco. ADAGIOS, PROVERBIOS, RIFÃOS E ANEXINS DA LINGUA PORTUGUEZA. Tirados dos melhores Autores Nacionais, e recopilados por ordem Alfabética por F.R.I.L.E.L. Typographia Rollandiana. Lisboa, 1780.


MULHER DAS CASTANHAS (1906) – Ilustração de Raquel Roque
Gameiro para capa da revista “Serões”, de Novembro de 1906.

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

ANA DAS PELES na toponímia estremocense

 

Sá Lemos trocando impressões com Ana das Peles numa sala de aulas da Escola Industrial
 António Augusto Gonçalves. Fotografia de Rogério de Carvalho (1915-1988),  publicada
no semanário estremocense “Brados do Alentejo” nº 250, de 10 de Novembro de 1935. 


Novos topónimos concelhios
Em reunião do Município realizada no passado dia 28 de Junho, foi aprovada uma proposta da Comissão de Toponímia do Concelho de Estremoz, a qual integra a acta da sua reunião de 24 de Maio do ano em curso, no sentido de serem atribuídos novos topónimos, assim distribuídos: Estremoz (12), Veiros (10), Arcos (4).
Entre os 12 novos topónimos aprovados para Estremoz, figura o nome da barrista ANA DAS PELES (1869-1945), que assim viu a sua memória perpetuada através da atribuição do seu nome à rua que se inicia na Avenida Tomaz Alcaide e termina na Avenida Condessa da Cuba, junto à Associação Cultural e Recreativa dos Marinheiros de Estremoz, instalada no local do antigo Dispensário de Assistência aos Tuberculosos.

Ana das Peles, o novo topónimo
A proposta de inclusão do antropónimo “Ana das Peles” na toponímia local, teve origem numa proposta do Presidente da União das Freguesias (Santa Maria e Santo André), aprovada por unanimidade na reunião ordinária da Junta de Freguesia, de 14 de Fevereiro passado. O teor da proposta aprovada é o seguinte:
A 19 de Fevereiro de 2023 completam-se 78 anos sobre a morte da bonequeira Ana das Peles (1869-1945), velha barrista que foi o instrumento primordial da recuperação da extinta tradição de manufactura dos Bonecos de Estremoz, empreendida pelo escultor José Maria de Sá Lemos (1892-1971) nos anos 30 do séc. XX.
Em 1935 os Bonecos de Ana das Peles participaram na “Quinzena de Arte Popular Portuguesa” realizada na Galeria Moos, em Genebra. Em 1936 estiveram presentes na Secção VI (Escultura) da Exposição de Arte Popular Portuguesa ocorrida em Lisboa, em 1937 na Exposição Internacional de Paris e em 1940 na Exposição do Mundo Português, promovida em Lisboa.
Os Bonecos de Ana das Peles, foram nestas exposições, um ex-líbris de excelência da cidade de Estremoz. Eles foram os melhores embaixadores da nossa Arte Popular e da nossa identidade cultural local e regional. Eles foram, simultaneamente, a primeira declaração e a primeira prova insofismável de que na nossa terra existiam criadores populares de grande qualidade. Os Bonecos de Estremoz, até então relativamente pouco conhecidos, adquiriram por mérito próprio e muito justamente grande notoriedade pública.
Ana das Peles partiu, mas os seus Bonecos muito apreciados e procurados, povoam vitrinas de coleccionadores e de museus para deleite de espírito. Com eles a imagem de marca da nossa identidade cultural local e transtagana, testemunho e herança de uma época.
78 anos volvidos sobre a morte de Ana das Peles, os seus gestos de modeladora de sonhos, continuam a ser repetidos, ainda que recriados pelos barristas de hoje. Por isso Ana das Peles é imortal e os Bonecos de Estremoz serão eternos.
Ana das Peles é uma figura que pela sua acção desempenhou um papel de relevo na construção da Memória de Estremoz, pelo que não pode ser olvidada nas páginas da História local.
Desde 7 de Dezembro de 2017 que a manufactura de Bonecos de Estremoz está inscrita na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Como reconhecimento do papel desempenhado por Ana das Peles na recuperação duma tradição que corria o risco de se extinguir e que hoje é motivo de orgulho para todos os estremocenses, a Junta de Freguesia de Estremoz (Santa Maria e Santo André) propõe à Câmara Municipal de Estremoz, a perpetuação da Memória daquela barrista, incluindo o seu nome na toponímia local, usando a fórmula: “ANA DAS PELES / BARRISTA”.”

Quem se segue?
Até agora a toponímia estremocense já perpetuou o nome dos seguintes barristas: Mariano da Conceição (1903-1959), Sabina da Conceição Santos (1921-2005), Liberdade da Conceição (1913-1990), Maria Luísa da Conceição (1934-2015), Quirina Marmelo (1922-2009) e Ana das Peles (1869-1945). Todavia, para além deles há outros barristas falecidos que até agora foram esquecidos. São eles:
- António Lino de Sousa (1918-1982), oleiro da Olaria Alfacinha e discípulo de Mestre Mariano da Conceição, com quem aprendeu a manufacturar Bonecos de Estremoz, a cuja confecção se dedicou em exclusivo entre 1976 e a data do seu falecimento.
- José Moreira (1926-1991), discípulo de Ana das Peles e que foi o barrista que mais contribuiu para a divulgação dos Bonecos de Estremoz. Percorreu o país de lés a lés e não houve feira ou exposição de artesanato a que ele não fosse.
- Aclénia Pereira (1927-2012), que nos anos 40 do séc. XX foi discípula de Mestre Mariano da Conceição na Escola Industrial António Gonçalves e que foi barrista até ao fim da vida, mesmo depois de se ter transferido para Santarém, em cujo distrito foi uma grande embaixadora dos Bonecos de Estremoz.
- Isabel Carona (1949-2006), que foi uma das primeiras discípulas de Mestra Sabina da Conceição e que depois de trabalhar com ela durante dez anos, se fixou em Sarilhos Grandes, Montijo, onde continuou a arte bonequeira.
- Mário Lagartinho (1935-2016), o último oleiro de Estremoz, que como barrista confeccionou Bonecos de Estremoz nos anos 70-90 do século passado e que pela sua acção continuou a cadeia de transmissão de saberes.
- Arlindo Ginja (1938-2018), discípulo de Mário Lagartinho, que conjuntamente com seu irmão Afonso exerceu o mester durante 32 anos, até se aposentar em 2011.
Estes barristas, cada um à sua maneira, contribuiu para que a manufactura de Bonecos de Estremoz esteja actualmente inscrita na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade. Daí ser da mais elementar justiça que o seu nome seja igualmente perpetuado na toponímia estremocense. Ficamos à espera.


Estremoz, 27 de Julho de 2023
Publicado no jornal E nº 319, de 13 de Outubro de 2023

Ana das Peles a modelar uma figura. Fotografia de Albert t’Serstevens (1886-1974)

Ana das Peles a pintar Bonecos na sua oficina na Rua Brito Capelo nº 21 em Estremoz,
local onde também residia na época. Fotografia de Rogério de Carvalho (1915-1988). 

A entrada da Rua Ana das Peles pelo lado da Avenida Condessa da Cuba.

Placa toponímica da RUA ANA DAS PELES / BARRISTA

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Poesia Portuguesa - 103

 


SÃO BONECOS DE ESTREMOZ
Poema de Hernâni Matos
 (1946 -  )


Modelar é uma arte,
solta do coração
e que dali a reparte,
guiada a cada mão.

É com mãos e com barro,
água, teques e jeito,
um encontro bizarro:
modelar a preceito.

Tem bola, rolo, placa.
Com eles vai fazer,
tudo o que se destaca.
É lindo de se ver.

O rolo dá um braço
e dá a perna então,
com um gesto do traço
que nasce com a mão.

A bola dá cabeça
e dá olhar, razão
para que lá mereça
ter lugar a visão.

Placa dá avental,
vestidos e safões.
É roupa sem igual
em várias ocasiões.

Após modelação,
é cozer e pintar.
Envernizar então,
e sua obra acabar.

Secar para cozer,
com o tempo a passar,
para não acontecer,
a figura estalar.

Cozer tem a sua arte,
nunca é de repente,
que a figura se parte.
Disso estou bem ciente.

Pigmentos são zarcão
e azul dito Ultramar.
Como ocre e vermelhão,
dão tintas p'ra pintar.

As cores são reais,
são representação
desses dados visuais,
fruto da observação.

O verniz dá beleza,
concede protecção,
previne da rudeza
de feia alteração.

Há Presépios e Santos,
desfilam procissões
e há muitos recantos
das humanas paixões.

Tem a mulher no lar,
com o chá a servir,
com a roupa a lavar
e o que mais há de vir.

Da cidade o aguadeiro,
a mulher dos chouriços,
o peralta e leiteiro,
como outros aqui omissos.

Do campo uma ceifeira,
um pastor e um ganhão,
mais uma azeitoneira,
todos os que ali estão.

Galeria dos Santos:
onde vai São João,
a Virgem aos prantos
e António folião.

Também a procissão,
mostra solenidade,
com padre, sacristão,
povo mais irmandade.

O Natal é chegado
e logo nos seduz
o presépio montado.
Ali nasceu Jesus.

Lá vem o Carnaval
com o seu “Amor é Cego”
e Primavera tal,
que nenhuma renego.

E por fim os apitos.
Que bela brincadeira,
gozo de pequenitos,
bem à sua maneira.

O púcaro enfeitado,
cantarinha também.
Recipiente ornado
que beleza que tem.

Bonecos que cantamos
e só nos dão alegria.
Amigos quase humanos
no nosso dia a dia.

Assim, da Humanidade
tornaram-se Património,
orgulho da cidade
e do povo campónio.

Cá, os nossos barristas
brilharam bem então,
já que foram artistas
da classificação.

Barristas do presente,
barristas do passado
que a memória consente,
todo aqui é louvado.

Hernâni Matos (1946 - )

Bonecos de Estremoz em Exposição na Assembleia da República


Mestre Jorge da Conceição tendo à sua direita, sucessivamente, o Presidente da
 Assembleia da República, Augusto Santos Silva e os Presidente e Vice-Presidente
 da Câmara Municipal de Estremoz, José Daniel Sádio e Sónia Caldeira.


Transcrito com a devida vénia de
newsletter do Município de Estremoz,
de 11 de Outubro de 2023.
Fotografias do Município de Estremoz


Foi inaugurada hoje, dia 11 de outubro, no Palácio de São Bento, uma exposição de Produtos Tradicionais Certificados, da qual fazem parte os Bonecos de Estremoz, o único produto certificado do Alentejo.

A iniciativa é promovida pelo Deputado Carlos Brás e pela A. Certifica (organismo de certificação de produções artesanais tradicionais) e estará patente até dia 13 de outubro.

Estremoz e os Bonecos de Estremoz são uma referência na Assembleia da República!

O Município de Estremoz agradece ao Mestre Jorge da Conceição a sua presença ao longo dos três dias de Exposição, enquanto representante desta arte!

Hernâni Matos


Mestre Jorge da Conceição tendo à sua esquerda, o Presidente da Câmara Municipal de
Estremoz, José Daniel Sádio e à sua direita, sucessivamente, a Vice-Presidente da Câmara
Municipal de Estremoz, Sónia Caldeira e os deputados pelo Círculo Eleitoral de Évora, Norberto
Patinho e Capoulas Santos.

Um aspecto parcial da exposição. 

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Bonecos de Estremoz de Vera Magalhães

 

Vera Magalhães no seu espaço de trabalho.


"TRADIÇÃO E CULTURA“ é o título da exposição de Bonecos de Estremoz da barrista Vera Magalhães, inaugurada no Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz, no passado sábado, dia 9 de Setembro, pelas 11 horas e que ali ficará patente ao público até ao próximo dia 26 de Novembro.
A exposição visa dar-nos uma ideia da actividade da artesã ao longo do seu percurso entre 2020 e 2023, para o que recorre a cerca de 40 figuras, repartidas por distintas tipologias
; - IMAGENS DEVOCIONAIS: Andor do Senhor dos Passos, Fuga para o Egipto, Nossa Senhora da Conceição, Rainha Santa Isabel; - PRESÉPIOS: Presépio de 9 figuras; - FIGURAS DA FAINA AGRO-PASTORIL NAS HERDADES ALENTEJANAS: Ceifeira, Mulher a dobar, Mulher das galinhas, Mulher dos enchidos, Mulher dos perus, Pastor das migas, Pastor de tarro e manta, Pastor debaixo da árvore, Queijeira; - FIGURAS QUE TÊM A VER COM A REALIDADE LOCAL: Aguadeiro, Homem do harmónio, Lanceiro com bandeira, Leiteiro, Mulher a vender chouriços, Mulher das castanhas; - FIGURAS INTIMISTAS QUE TÊM A VER COM O QUOTIDIANO DOMÉSTICO: Mulher a lavar a roupa, Senhora a servir o chá, Senhora à varanda, Senhora ao toucador; - FIGURAS DE NEGROS: Reis negros (3); - FIGURAS ALEGÓRICAS: Amor é cego, Primavera (3); - ASSOBIOS: Galinha no cesto com flores, Galo na cadeira, Galo no pinheiro, Galo no poleiro (2); - GANCHOS DE MEIA: Bispo, Palhaço, Sacristão; - OLARIA ENFEITADA: Cantarinha enfeitada (2), Castiçal (2), Pucarinho enfeitado (1);

“TRADIÇÃO” E CULTURA” é a primeira exposição individual de Vera Magalhães, que com ela se sente realizada pessoalmente, uma vez que o convite para expor é um corolário natural da sua certificação como barrista produtora de Bonecos de Estremoz, reconhecimento que lhe foi conferido pela Adere-Certifica em 2023. Anteriormente à presente exposição, a artesã já participara em exposições colectivas temáticas, promovidas pelo Museu Municipal de Estremoz e pelo Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz.


Publicado inicialmente a 27 de Setembro de 2023
Fotografias de Vera Magalhães


Presépio de 9 figuras.

Fuga para o Egipto. 

Senhor dos Passos.

Rainha Santa Isabel.

Ceifeira.

Pastor de tarro e manta.

Pastor das migas.

Pastor debaixo da árvore.

Mulher das galinhas.

Mulher dos perus.

Queijeira.

Mulher a dobar.

Aguadeiro.

Leiteiro.

Mulher das castanhas.

Mulher a vender chouriços.

Homem do harmónio.

Mulher a lavar a roupa.

Senhora a servir o chá.

Senhora no toucador.

Senhora à varanda.

Reis negros.

Amor é cego.

Primavera.

Primavera.

Primavera.

Assobios.

Cantarinha.

Pucarinho

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

TRADIÇÃO E CULTURA - Bonecos de Estremoz de Vera Magalhães

 

Isabel Borda d'Água, directora do Museu Municipal de Estremoz, faz a apresentação
 da barrista Vera Magalhães (ao centro). À direita, a Vice-presidente da Câmara Municipal
de Estremoz, Sónia Caldeira. 

APRECIE AQUI EM PORMENOR

Este o título da exposição de Bonecos de Estremoz da barrista Vera Magalhães, inaugurada no Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz, no passado sábado, dia 9 de Setembro, pelas 11 horas e que ali ficará patente ao público até ao próximo dia 26 de Novembro.


Acto inaugural
Ao acto inaugural compareceram cerca de 3 dezenas de pessoas, entre elas entidades oficiais, familiares, amigos e admiradores, que ali foram testemunhar a admiração que têm pela barrista e pelo seu labor.
A cerimónia foi iniciada por Isabel Borda d’Água, directora do Museu Municipal de Estremoz, a qual historiou o processo formativo da artesã e teceu os melhores encómios sobre o seu trabalho. Seguidamente, a Vice-presidente da Câmara, Sónia Caldeira, afirmou que entre os objectivos do Município se insere a divulgação dos trabalhos dos barristas certificados na sequência da frequência do Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, ocorrido em 2019. Seguidamente, louvou o trabalho da artífice, a quem felicitou pela presente exposição. Finalmente, usou da palavra a expositora Vera Magalhães, a qual começou por justificar a designação ”Tradição e Cultura”, atribuída à exposição, já que a mesma é de Bonecos de Estremoz, cuja produção faz parte integrante da identidade cultural e das tradições de Estremoz, as quais queremos salvaguardar. Agradeceu seguidamente a presença de todos os que ali foram testemunhar apreço pelo seu trabalho, bem como ao Município de Estremoz, ao CEARTE e à Adere-certifica, que asseguraram o enquadramento institucional do Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz que frequentou em 2019.

Infância e Juventude
A barrista, de seu nome completo, Vera Maria de Sousa Lara Cruz Gomes Ramos de Magalhães, nasceu e foi baptizada em 1966 na Freguesia de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa. Tem 4 irmãos (Ana Madalena, Filipa, Mafalda e Luís).
Logo na infância manifestou grande interesse pelo desenho e pela pintura. Houve mesmo uma época em que pintava móveis de madeira para quartos de crianças.
Iniciou os estudos numa prestigiada escola internacional britânica privada, a St Julian's School, em Carcavelos, seguindo-se o Liceu de São João do Estoril. Posteriormente ingressou no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa, onde tirou uma Licenciatura em Comunicação Social e Marketing. Enquanto estudava e durante um ano fez um Curso de Desenho na Sociedade Nacional das Belas Artes, em Lisboa. Mais tarde, efectuou uma Pós-Graduação em Gestão Agro-Industrial.
Na juventude, a ocupação de tempos livres era preenchida com prática desportiva, leituras e convívio com os amigos.

Vida familiar
Conheceu o marido, Bernardo Magalhães, agrónomo, quando tinha 16 anos, pois tinham o mesmo grupo de amigos. Casaram no Estoril em 1993, tinha ela 27 anos e ele 26. É mãe de 3 filhos: Sebastião, de 26 anos, Engenheiro Mecânico; Bernardo, de 22 anos, que acabou recentemente o Curso de Gestão Desportiva e está a trabalhar em Inglaterra; José, de 22 anos, estudante de Engenharia Naval.

Entrada na vida activa
Começou a trabalhar logo que acabou o Curso, tendo sucessivas ocupações. Viveu em Sevilha e trabalhou no Pavilhão de Portugal na Expo 92, em Sevilha. Trabalhou depois no Ministério da Cultura, no Ministério da Administração Interna, numa Agência de Publicidade em Évora, numa adega em Estremoz e há 14 anos que trabalha na adega J. Portugal Ramos Vinhos.

Formação como barrista
O seu interesse pelos Bonecos de Estremoz manifestou-se há 30 anos, quando foi viver para Veiros, onde reside na herdade da Torrinha.
Na casa dos seus sogros teve o primeiro contacto com os Bonecos de Estremoz, que desde logo a apaixonaram, levando-a a acalentar a esperança de um dia também os saber produzir.
Vera Magalhães já tivera uma primeira experiência com barro na St Julian's School, em Carcavelos, a que se seguiu em 2019, uma pequena formação nas Oficinas do Convento, em Montemor-o-Novo.
Em 2019 frequentou o Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, que teve lugar no Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz, no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte. O Curso foi promovido pelo CEARTE - Centro de Formação Profissional para o Artesanato e Património, em parceria com o Município de Estremoz. O Curso com a duração de 150 horas e de Nível QNQ 2, teve formação técnica a cargo do barrista Mestre Jorge da Conceição.
Vera Magalhães considera um privilégio ter tido Jorge da Conceição como formador, não só por ser um excelente profissional, mas também pelas qualidades humanas como pessoa.
Concluído o Curso, sentiu-se motivada a dar continuidade à produção de Bonecos de Estremoz, pelo que na sua casa, criou um espaço de oficina, onde tem parte da colecção de Bonecos de Estremoz dos seus sogros, os quais estiveram na origem da sua paixão por esta arte popular e que constituem uma das suas fontes de inspiração. É aí que modela, coze e pinta a suas criações, o que faz à noite e nos fins de semana, pois há que conciliar a actividade como barrista com a actividade profissional que lhe é anterior.
Em 2022 recebeu Carta de Artesão e de Unidade Produtiva Artesanal na área da Cerâmica Figurativa, emitida pelo CEARTE. Também em 2023 foi reconhecida como artesã produtora de Bonecos de Estremoz. O reconhecimento consta de um certificado atribuído pela Adere-Certifica, organismo nacional de acreditação a quem compete a certificação de produções artesanais tradicionais, com garantia da qualidade e autenticidade da produção.
O ano de 2023 é um ano marcante na vida de Vera Magalhães, pois passa a produzir e a comercializar Bonecos de Estremoz, como artesã certificada. A barrista encara a sua certificação pela Adere-Certifica como uma benesse, fruto do seu empenho e trabalho, que desta forma foi reconhecido e ficou valorizado.
Vera Magalhães frequentou também o Curso de Olaria que por módulos teve lugar a partir de 2021, no Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz. Considera um privilégio ter tido Mestre Xico Tarefa como formador, visto ser um Mestre oleiro prestigiado, com longa experiência e sempre pronto a ajudar os formandos.
A sua inscrição no Curso de Olaria foi fruto da convicção dele constituir um complemento ao Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, que frequentou em 2019. De resto, a essa inscrição não foi estranha a vontade de contribuir para a revitalização da olaria, extinta em Estremoz.
A frequência deste Curso teve naturalmente os seus frutos e é Vera Magalhães que na roda de oleiro, modela as cantarinhas, pucarinhos e castiçais que posteriormente irá enfeitar.

Sinopse da exposição
A exposição visa dar-nos uma ideia da actividade da barrista ao longo do seu percurso entre 2020 e 2023, para o que recorre a cerca de 40 figuras, repartidas por distintas tipologias; - IMAGENS DEVOCIONAIS: Andor do Senhor dos Passos, Fuga para o Egipto, Nossa Senhora da Conceição, Rainha Santa Isabel; - PRESÉPIOS: Presépio de 9 figuras; - FIGURAS DA FAINA AGRO-PASTORIL NAS HERDADES ALENTEJANAS: Ceifeira, Mulher a dobar, Mulher das galinhas, Mulher dos enchidos, Mulher dos perus, Pastor das migas, Pastor de tarro e manta, Pastor debaixo da árvore, Queijeira; - FIGURAS QUE TÊM A VER COM A REALIDADE LOCAL: Aguadeiro, Homem do harmónio, Lanceiro com bandeira, Leiteiro, Mulher a vender chouriços, Mulher das castanhas; - FIGURAS INTIMISTAS QUE TÊM A VER COM O QUOTIDIANO DOMÉSTICO: Mulher a lavar a roupa, Senhora a servir o chá, Senhora à varanda, Senhora ao toucador; - FIGURAS DE NEGROS: Reis negros (3); - FIGURAS ALEGÓRICAS: Amor é cego, Primavera (3); - ASSOBIOS: Galinha no cesto com flores, Galo na cadeira, Galo no pinheiro, Galo no poleiro (2); - GANCHOS DE MEIA: Bispo, Palhaço, Sacristão; - OLARIA ENFEITADA: Cantarinha enfeitada (2), Castiçal (2), Pucarinho enfeitado (1);
O conjunto dos trabalhos agora apresentados por Vera Magalhães incorpora exclusivamente o núcleo central dos Bonecos de Estremoz, habitualmente designado por “Bonecos da Tradição”. As figuras expostas inspiram-se em exemplares existentes na casa dos sogros, bem como em exemplares dos acervos do Museu Municipal e do Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz.
“TRADIÇÃO E CULTURA” (2023) é a primeira exposição individual de Vera Magalhães, que com ela se sente realizada pessoalmente, uma vez que o convite para expor é um corolário natural da sua certificação como barrista produtora de Bonecos de Estremoz, reconhecimento que lhe foi conferido pela Adere-Certifica em 2023. Anteriormente à presente exposição, a artesã já participara em exposições colectivas temáticas, promovidas pelo Museu Municipal de Estremoz e pelo Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz.

Características do trabalho da barrista
Desde o início da sua formação como barrista que Vera Magalhães tem revelado um estrito respeito pela técnica de produção e pela estética do Boneco de Estremoz. A comparação de figuras produzidas em momentos diferentes, revela que a artesã tem procurado o seu próprio caminho. Tal é notório na representação do olhar e na decoração dos assobios. Os Bonecos de Vera Magalhães apresentam marcas identitárias muito próprias que os distingue dos demais, o que é revelador de que é dotada de forte personalidade artística e de um estilo muito próprio, factos que me apraz registar e enaltecer. Daí que a felicite por toda a sua motivação e dedicação à produção de Bonecos de Estremoz, indissociavelmente ligada à identidade cultural local e classificada em 2017 pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade.

Texto publicado no jornal E nº 318, de 28-09-2023)
Publicado inicialmente a 27 de Setembro de 2023
Fotografias de Luís Mendeiros - CME


Vera Magalhães, fazendo uma visita guiada à exposição.

Vera Magalhães falando com a Vice-presidente da Câmara, Sónia Caldeira.

Vera Magalhães com o Mestre Jorge da Conceição.

Vera Magalhães com o marido e filhos.