Hernâni Matos
Desde os longínquos tempos do bibe e do pião que é
recolector de objectos materiais que fazem vibrar as tensas cordas de violino
da sua alma. Nessa conjuntura se tornou filatelista, cartofilista, bibliófilo,
ex-librista e seareiro nos terrenos da arte popular, muito em especial a arte
pastoril e a barrística popular de Estremoz.
Respigador nato, cão pisteiro, farejador de coisas
velhas, o seu olhar cirúrgico procede sistemática e metodicamente ao varrimento
de scanner no mercado das velharias em Estremoz, no qual é presença habitual e
onde recolecta objectos que duma forma virtual, pré-existiam no seu pensamento.
O fascínio da ruralidade e o culto da tradição
oral, levam-no a procurar o convívio de camponeses, artesãos e poetas
populares, com os quais procura aprender e partilhar saberes.
A arte pastoril, um dos traços mais marcantes da
identidade cultural alentejana, integra as suas memórias materiais de
recolector. Para além do acto da colheita e mais que o fascínio da posse,
importa-lhe a possibilidade de dissecação de cada peça recolhida e a
cumplicidade com o autor no próprio acto de criação, constituindo um registo
para memória futura e uma afirmação vigorosa da identidade cultural
transtagana.
Perfilha há muito a ideia de que é necessário
estabelecer pontes de entendimento entre as pessoas, já que a partilha cúmplice
de ideias e valores comuns, viabiliza a edificação conjunta de arquitecturas,
facto que induzirá e consolidará laços de união entre os intervenientes.
Uma das muitas coisas que partilha com os outros é
a escrita, instrumento de libertação do Homem. Filho de alfaiate, aprendeu a alinhavar
palavras, que permitem cerzir ideias com que se propagam doutrinas. Esse o
sentido da sua intervenção cívica.
Escritor, jornalista e blogger intervém em domínios
como a História Postal, a História Popular de Estremoz, a Etnografia e a
Cultura Popular Alentejana, publicando textos, apresentando comunicações e
montando exposições temáticas e iconográficas.
Furiosamente independente, incisivo e cáustico
quanto baste, mas sempre preciso. Procura levar tudo às últimas consequências e
como franco-atirador do pensamento e da acção, busca fazer o varrimento da
transversalidade dos saberes. Depois disso, a síntese dialéctica é um ovo de
Colombo nascido no cu da galinha da sua cabeça.
In catálogo da Exposição
ARTE PASTORIL - MEMÓRIAS DE UM COLECCIONADOR
6 de Maio de 2012
(Autor do texto)
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