Fig. 1 - Caixa de devoção com tampa removida.
Caixas de devoção
Ainda que tal não seja obrigatório, a prática da oração é muitas vezes efectuada perante imagens devocionais. A maioria destas encontram-se presentes nos locais de culto, tanto públicos como privados. Todavia, os crentes têm muitas vezes que se deslocar para locais onde não existem imagens devocionais. Uma tal ausência pode ser suprida pelo crente, transportando consigo uma pequena caixa com tampa, na qual está contida a imagem devocional, perante a qual pode orar, sempre que o desejar. Um tal estojo é conhecido por “caixa de devoção” e existe uma vasta diversidade de caixas de devoção, tendo em conta múltiplos factores: época de construção, composição do material, tamanho, geometria, decoração, modo de abertura da tampa e imagem devocional contida.
O culto da Santíssima Trindade
A caixa de devoção que é objecto do presente estudo (Fig. 1 a Fig. 4), foi confeccionada numa madeira extremamente leve e tem uma geometria sinuosa, tal como mostram as figuras. A tampa (Fig. 3 e Fig. 4) pode ser removida por deslocação ao longo de dois sulcos laterais existentes na parte superior da caixa e dispostos segundo a maior dimensão da mesma (Fig. 1). As suas dimensões são de 11,2 x 4 x 1,8 cm. A superfície interior e exterior da caixa foi pintada a zarcão, à excepção do fundo, o qual apresenta uma tonalidade esverdeada. Quando fechada, a caixa revela a existência de contornos pintados a negro nas arestas (Fig. 2).
Uma análise minuciosa da caixa revela que a mesma foi escavada num bloco único da madeira, no qual foi introduzida a imagem devocional (Fig. 1), colada numa fina base de madeira com contorno adequado, pintada numa tonalidade esverdeada.
A imagem devocional (Fig. 1) em madeira não pintada, tem três componentes que debaixo para cima são: - FILHO (uma imagem de Cristo crucificado com um resplendor sobre a cabeça e assente numa peanha); - ESPÍRITO SANTO (representado pelo fogo, uma das suas representações possíveis); - PAI (representado por uma venerável figura situada no topo, por cima da cruz e que ostenta igualmente um resplendor sobre a cabeça). Estamos, pois, em presença de uma representação da Santíssima Trindade, a qual constitui um dogma central sobre a natureza de Deus na maioria das igrejas cristãs. De acordo com esta crença, Deus é um ser único que existe como três pessoas distintas consubstanciais: Pai, Filho e Espírito Santo.
Arte pastoril alentejana
A presente caixa de devoção, de autoria desconhecida e cuja datação não consigo precisar, pela sua singeleza e simultaneamente finura de execução, configura-me ser um exemplar de arte pastoril alentejana e como tal o tenho catalogado na minha colecção.
Caro amigo Hernâni
ResponderEliminarMais uma peça espectacular da sua vasta e maravilhosa colecção. Também a classificaria como arte pastoril ( na sua definição mais abrangente).
Já não seria tão perentório na sua origem alentejana. Como sabe a temática religiosa não tem fronteiras e já vi num museu de vocação etnologico em Espanha não consigo precisar onde mas tavez tivesse sido em Zamora , uma peça muito semelhante.
Seja donde for é uma peça que orgulha qq colecção.
Sobre a qualidade da descrição não me pronuncio...pois ela fala por si, como já nos habituou.
Parabéns e um abraço
Caro amigo:
ResponderEliminarMuito obrigado pelo seu comentário.
Um abraço para si, também.