sábado, 22 de agosto de 2020

Peraltas e sua cores


Fig. 1 - Mariano da Conceição (1903-1959). Museu Rural de Estremoz.

Desfile de Peraltas
Do estudo dos Peraltas efectuado até à presente data, foi-me possível concluir que são figuras cuja decoração recorre geralmente à quadricromia ou à tricromia.
As orlas do fato e os virados do casaco são sempre de cores contrastantes (Fig. 2 a Fig. 7) ou de tons contrastantes (Fig. 1) com a cor ou o tom do casaco. Geralmente, quando uma é uma cor quente, a outra é uma cor fria (Fig. 2, Fig. 3 e Fig. 4).
Todavia nem sempre é assim. Mariano da Conceição (Fig. 1), utilizou como contrastantes duas tonalidades muito diferentes de castanho, que é uma cor neutra.
Luísa Batalha (Fig. 5), utilizou e muito bem como cores contrastantes, o azul de petróleo e o violeta, que são ambas cores frias. Por sua vez, Ana Catarina Grilo (Fig. 6) utilizou igualmente muito bem como cores contrastantes, o castanho que é uma cor neutra e o zarcão que é uma cor quente. Já José Carlos Rodrigues (Fig. 7), utilizou com toda a propriedade como cores contrastantes, o Bordeaux e o cor de laranja, os quais são ambos cores quentes.
Não me admira que qualquer dia possa haver barristas que utilizem como cores contrastantes, uma cor neutra e uma cor fria ou então duas cores quentes. Terão tanta legitimidade nas suas opções, como outros tiveram nas suas.
Liberdade de cores
Actualmente os barristas têm à sua disposição uma paleta cromática mais ampla que aquela que existia no terceiro quartel do séc. XX e que estava condicionada aos pigmentos disponíveis nas drogarias de Estremoz.
No século XXI surgiram barristas que não trilharam os caminhos habituais de aprendizagem: contexto oficinal e contexto familiar, que condicionam sempre a concepção, a modelação e a decoração. À semelhança do que já se passara com outros, como foi o caso de Sabina da Conceição (1921-2005) e de Mário Lagartinho (1935-2016) que aprenderam por auto-formação, o mesmo se veio a verificar com outros como: João Fortio (1951- ), Rui Barradas (1953- ), Carlos Alves (1958- )  e Jorge Carrapiço (1968- ). Por outro lado, no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte em Estremoz, teve lugar em 2019 um Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, orientado tecnicamente pelo barrista Jorge da Conceição. Aqui os formandos aprenderam e aplicaram os fundamentos da modelação e da decoração para virem a aplicar na sua actividade como barristas, sem a preocupação da obrigatoriedade de ter que seguir os traços identitários do formador ou de qualquer outro barrista, nomeadamente no que respeita a cores. Pelo contrário, ficaram com a consciência de que deviam procurar duma forma incessante o seu próprio caminho e a sua própria matriz identitária.
O Padre-Nosso não é para aqui chamado
A Barrística de Estremoz quer-se viva, pelo que deve reflectir os anseios e a sensibilidade dos seus criadores, para além dos contextos de produção ou inerentes ao tema abordado.
A Barrística de Estremoz não se pode limitar a ser uma linha de montagem e de reprodução dos modelos criados pelos mestres e pelas mestras. Se o fosse estaria embalsamada no tempo e seria merecedora de um funeral condigno.
É preciso perceber de vez que a Barrística Popular de Estremoz não é como o Padre-Nosso que só pode ser dito de uma maneira.
Hernâni Matos

Fig. 2 - Sabina da Conceição (1921-2005). Imagem recolhida "on line".

Fig. 3 - José Moreira (1926-1991). Imagem recolhida "on line".

Fig. 4 - Maria Luísa da Conceição (1934-2015). Colecção do autor.

Fig. 5 - Luísa Batalha (1959 - ). Colecção do autor.

Fig. 6 - Ana Catarina Grilo (1974 -  ). Colecção do autor.

Fig. 7 - José Carlos Rodrigues (1970- ). Colecção do autor. 

Fig. 8 - José Carlos Rodrigues (1970- ). Colecção do autor. 



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