Senhora de pezinhos (2020) - Parte da frente. Madalena Bilro (1959- ).
À laia de apresentação
Madalena Bilro (1959- ) é uma barrista que frequentou o Curso de
Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, que no ano
transacto teve lugar em Estremoz, no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte.
Anteriormente já tivera formação na Academia Sénior de Estremoz, orientada por
Isabel Água, do Museu Municipal de Estremoz.
Prólogo
A beleza feminina é polifacetada como um diamante.
Daí que um vestido deva reflectir essa beleza, observada de todos os ângulos.
Na rua ou num desfile de moda, a visualização do binómio modelo-vestido tem
dois momentos: o aproximar e o afastar. Daí a igual importância que os
estilistas dão à parte da frente a à parte de trás de um vestido. Cada uma delas
deve completar e reforçar a sensação induzida pela visualização da outra. Madalena
Bilro teve isso em conta na modelação e decoração da sua Senhora de pezinhos,
figura tradicional da barrística popular estremocense.
A Senhora de pezinhos de Madalena Bilro
A Senhora de pezinhos enverga um elegante vestido
comprido, a delimitar os contornos de um corpo a que corresponde uma silhueta
esbelta. O vestido configura ter sido confeccionado com tecido estampado em
padrão de margaridas em campo ocre amarelo.
O vestido é rematado em cima por uma gola branca e
larga, fechada por um botão de cor Bordeaux, cor que também é a dos punhos do
vestido e da faixa cingida à cintura e atada atrás, em forma de laço com duas
pontas pendentes.
A cabeça está coberta por um elegante chapéu de cor
Bordeaux, ornamentado por uma fita branca e que ostenta à frente três plumas em
tons igualmente Bordeaux, que acentuam a graciosidade do chapéu. Este deixa a
descoberto cabelo castanho puxado para trás e enrolado em forma de carrapito.
De cada lado do rosto, aquilo que configura serem pendentes de ouro, reforçam a
perfeição e a nobreza associadas à figura.
Os
sapatos negros, de bico, culminam na base, toda a elegância do modelo.
Carga simbólica
A figura está repleta de
mensagens que importa decifrar e realçar.
Em primeiro lugar, o
SIMBOLISMO DAS CORES: - Ocre amarelo,
que é uma cor quente, que ilumina e transmite alegria e jovialidade. A sua
presença no fundo do vestido, procura associar à figura, optimismo,
sociabilidade, tolerância e abertura; -
Cor Bordeaux, a qual transmite a ideia de clássico e de requinte; - Branco, que é uma cor que ilumina,
transmite pureza, frescura e simplicidade. A sua utilização na gola do vestido
confere espiritualidade à figura; - Preto,
que no contexto da figura, significa elegância.
Em segundo lugar, o
SIMBOLISMO DA MARGARIDA, flor também conhecida por malmequer, flor delicada que
integra as minhas memórias de infância, associada ao ritual popular que
consiste em arrancar-lhe as pétalas, uma a uma, ao mesmo tempo que se pergunta
sucessivamente: - Bem-me-quer? – Mal-me-quer?, para no fim se poder concluir se
o amor que se nutre por alguém, é ou não correspondido.
Antigamente, a margarida era considerada
a flor das donzelas e ainda hoje simboliza a pureza, a inocência, a
sensibilidade, a infância e a juventude, o amor, a virgindade, a paz, a bondade
e afecto. Oferecer margaridas a alguém é promessa de um amor fiel e verdadeiro,
Em terceiro lugar o SIMBOLISMO DO LAÇO. Este cria
mistério em torno do corpo que o vestido oculta, à semelhança do laço que
ornamenta uma caixa de prendas e cria o mistério de não se saber o que a caixa
encerra.
Epílogo
Madalena Bilro interpretou a tradicional Senhora de
pezinhos com uma estética muito própria. A uma modelação de grande perfeição
formal, fez seguir uma decoração cromaticamente muito rica e de forte
significação simbólica. A figura tem um rosto e um olhar que me parecem ser
marcas identitárias da barrista. Esta, usando a técnica tradicional dos Bonecos
de Estremoz, legou-nos através da sua criação, uma Senhora de Sociedade, de
aspecto elegante e requintado dentro de padrões clássicos, mas revelando também
sensibilidade e espiritualidade. Por isso, está de parabéns.
Senhora de pezinhos (2020) - Parte de trás. Madalena Bilro (1959- ).
Madalena Bilro no seu atelier. Fotografia de Luís Mendeiros.
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