domingo, 29 de novembro de 2015

Poesia Portuguesa - 064


Retrato de Alves Redol
Ary dos Santos (1937-1984)

Porém  se por alguém não foi ninguém
cantou e disse  flor  canção  amigo
a si o deve. A si e mais a quem
floriu  cresceu  cantou  lutou consigo.

Homem que vive só  não vive bem
morto que morre só é negativo
morrer é separar-se de ninguém
e contudo  com todos  ficar vivo.

Nado-vivo da morte. É isso.  É isso.
Uma espécie de forno de bigorna
de corpo imorredoiro que transforma
em fusão o metal do compromisso:
Forjar o conteúdo pela forma:
marrar até morrer.  E dar por isso.

Ary dos Santos (1937-1984)

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