Todas as imagens aqui apresentadas se referem a espólio recolhido na
Villa lusitano-romana de Santa Vitória do Ameixial e que se encontra
depositado no Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa.
Na sua reunião de 17 de Junho passado, a Câmara Municipal de Estremoz deliberou por unanimidade, aprovar a celebração de um Contrato Interadministrativo de Delegação de Competências entre o Município e aPresidência do Conselho de Ministros, que tem por objecto a delegação de competências da Secretaria de Estado da Cultura no Município para a transferência da titularidade do património, relativo à Villa lusitano-romana de Santa Vitória do Ameixial (Sítio Arqueológico de Santa Vitória do Ameixial –ruínas romanas) e ao Castelo de Evoramonte – fortificações, com excepção da Torre do Paço do Castelo, que se mantém património dependente da Direcção Regional de Cultura do Alentejo. A deliberação da Câmara foi ratificada por unanimidade na reunião da Assembleia Municipal de Estremoz, realizada no passado dia 26 de Junho.
Congratulo-me com esta unanimidade, a qual era
esperada, dado a importância do assunto e o facto de o mesmo não ser
fracturante. De salientar que a transferência de competências é acompanhada da
transferência de recursos.
A Villa
lusitano-romana de Santa Vitória do Ameixial
A descoberta da Villa lusitano-romana de Santa
Vitória do Ameixial ocorreu na sequência de trabalhos de exploração de uma
pedreira na aldeia de Santa Vitória. O proprietário dos terrenos comunicou o
facto ao director do Museu Etnológico Português, José Leite de Vasconcelos
(1858-1941), que enviou o conservador do Museu, Luis Chaves (1888-1975), para
proceder a escavações, o que ocorreu em 1915 e 1916. A publicação dos
resultados só viria a ocorrer bastante mais tarde, no volume 30 da 1ª série de
“O Arqueólogo Português”, de 1938. Tratava-se de uma Villa lusitano-romana, de
grande proprietário, senhor das terras que a circundavam e que terá sido
construída entre finais do século I e inícios do IV, no contexto da Romanização
da Península Ibérica, estando inserida na província da Lusitânia, cuja capital
se situava em Mérida (Emerita Augusta).
Luis Chaves escavou parte dessa Villa, que se
encontrava já muito destruída, pelo saque a que vinha sendo sujeita pela
população local, para a recuperação e reaproveitamento dos materiais de
construção, nomeadamente a pedra. Luís Chaves pôs então a descoberto o
peristilo da residência senhorial e as termas, ambas com notáveis pavimentos de
mosaico, num total de 13. Para além dos mosaicos, o espólio recolhido no local
e transportado para Lisboa, onde se encontra depositado no Museu Nacional de
Arqueologia, integra ainda importantes vestígios de escultura de vulto e
escultura arquitectónica, materiais de construção, utensílios variados, loiças
domésticas, vidros variados, vasos de bronze, adornos femininos de ouro e osso,
jogos, anéis de metal ou de vidro e o rico tesouro de 3000 moedas.
A Villa terá tido uma primeira ocupação no séc. I,
como é documentado pelo aparecimento de uma moeda de Nero e cerâmica datada
deste período. No entanto, a ocupação mais significativa, em termos de
vestígios materiais, é já do Baixo-império (finais do séc. III - inícios do
séc. IV).
As escavações foram posteriormente retomadas entre
1970 e 1980.
Nas condições do contrato agora celebrado entre a
Câmara Municipal de Estremoz e a Secretaria de Estado da Cultura, está prevista
a conservação, segurança e reabilitação de estruturas. Não se sabe é se as
escavações vão ou não prosseguir.
Centro
Interpretativo da Villa
A meu ver torna-se necessário a construção no local
de um “Centro Interpretativo da Villa lusitano-romana de Santa Vitória do
Ameixial”, à semelhança do que se passa em Miróbriga, visando permitir o
desenvolvimento de uma oferta turística de base cultural, com envolvimento da
comunidade local. Santa Vitória precisa de turismo, como um pobre de pão para a
boca.
Retorno ao
local do espólio recolhido
Actualmente, a legislação sobre património proíbe a
deslocalização do mesmo, o que não acontecia na época das primeiras escavações.
Todavia, se houver sensibilidade da parte da Secretaria de Estado da Cultura,
visando ampliar e aprofundar o protocolo actual, há que promover o retorno ao
local do espólio então recolhido. De contrário, parafraseando Jerónimo de
Sousa, é caso para dizer:
- DÃO-NOS OS OSSOS E FICAM COM OS BIFES DE
LOMBO!
Texto publicado inicialmente em 9 de Julho de 2015
BIBLIOGRAFIA
- CHAVES,
Luís – “Estudos Lusitano-Romanos – A Villa de Santa Vitória do Ameixial
(Concelho de Estremoz), Escavações de 1915-1916”, in O ArcheólogoPortuguês, Vol. XXX, Lisboa, 1916, pp. 14-117.
- CHAVES, Luís - "Latifúndios de Romanos no Alentejo. Uma “villa” romana". Separata do Boletim da Associação Central da Agricultura Portuguesa, nº4. Lisboa, Abril de 1922.
Mosaico:
AS ESTAÇÔES DO ANO. Datação: Época Romana.
Mosaico:
O VENTO EURUS.
Mosaico: JÚPITER TOCADO POR UMA SETA DO CUPIDO.
Mosaico: COROAÇÃO DO ATLETA
VENCEDOR NO DITIRAMBO EM JOGOS
DIONISÍACOS.
Carranca fontanária em mármore. Séc. II
– Época Romana. Dimensões (cm):
altura: 27,2; largura:
21,3; espessura: 13,5.
Estátua de Inverno.
Escultura em mármore. Séc. II
- Época Romana.
Dimensões (cm): altura: 48;
largura: 62; espessura: 28.
Guarnição parietal em
mármore. Época Romana. Dimensões (cm):
altura: 26,5; largura: 41;
espessura: 5.
Jarro de cerâmica comum.
Época Romana. Dimensões (cm): altura: 17,9;
diâmetro: 13,5.
Pote de cerâmica comum.
Datação: Época Romana. Dimensões (cm):
altura: 10,8; diâmetro:
14,5.
Pote de cerâmica comum.
Dimensões (cm): altura: 16,5; espessura: 0,6;
diâmetro: 14,7. Datação:
Época Romana.
Peso de tear em barro. Dimensões
(cm): altura: 11; largura: 7,3.
Datação: Época Romana.
Lucerna de 1 bico, em barro. Fabrico por
molde. Dimensões (cm):
largura: 4,7; comprimento:
7,1. Datação: III d.C. - IV d.C. - Época Romana.
Lucerna de dois bicos, em barro. Fabrico por
molde, Dimensões (cm):
altura: 5,1; diâmetro: 7,9;
comprimento: 11.Datação: Época Romana.
Lucerna em ferro. Dimensões
(cm): altura: 2,2; largura: 6,7; comprimento:
10,6. Datação: Época
Romana.
Ralo de canalização. Séc.
II - Época Romana. Fundição em chumbo.
Dimensões (cm): altura:
27,5; largura: 15; espessura: 9,8.
Manilha em chumbo. Séc. II –
Época Romana. Dimensões (cm): altura: 9,5;
largura: 10; comprimento: 47.
Torneira
de distribuição. Séc II - Época Romana.
Fundição em bronze.
Sega.
Ferro fundido. Época Romana. Dimensões (cm): comprimento: 22,5.
Machado
de ferro. Dimensões (cm): largura: 5,6; comprimento: 19,8. Datação:
Época
Romana.
Martelo em ferro. Dimensões
(cm): comprimento: 12,3. Datação: Época Romana.
Enxó em ferro. Dimensões
(cm): diâmetro: 8,8; comprimento: 13,2. Datação:
Época Romana.
Alvião em ferro. Dimensões
(cm): comprimento: 19,9. Datação: Época Romana.
Armela de asa de sítula.
Bronze fundido em molde. Época Romana.
Dimensões (cm): altura:
7,2; largura: 7; espessura: 0,5.
Argola de bronze, de secção
circular e aro circular fechado. Dimensões (cm):
espessura: 0,8; diâmetro:
4,2. Datação: Época Romana.
Tripé de bronze composto
por argola circular achatada e três pés de apoio.
Dimensões (cm): diâmetro:
7,1. Datação: Época Romana.
Fíbula de bronze. Dimensões
(cm): altura: 3,1; comprimento: 8,6. Datação:
Época Romana.
Elemento decorativo de um
carro, em bronze.
Datação : Época Romana.
Dimensões: 10,8 x 6,7 cm .
Anel de
bronze. Dimensões (cm): diâmetro: 1,7. Datação: Época Romana.
Alfinete
de cabelo, em osso.
Dimensões (cm): espessura: 0,3; comprimento: 5,7.
Datação:
Época Romana.
Bracelete em ouro
martelado. Datação: Século I d.C. Dimensões (mm):
Diâmetro: 68; Espessura: 2 mm . Peso (g): 10,6 g .
Boneca de osso. Época
Romana. Técnica: Talhe, polimento e incisão.
Dimensões (cm): altura:
11,3; largura: 1,5; espessura: 0,7.
Instrumento cirúrgico –
Sonda em bronze.
Dimensões (cm): espessura: 0,75;
comprimento: 11.77.
Datação: Época Romana.
Moeda de Arcádio. Centro de
Fabrico: Nicomedia. Datação: 393 d.C. - 395 d.C.
- Época Romana. Cunhada em bronze. Dimensões
(cm): espessura: 0,2; diâmetro: 2.
Moeda de Honorius. Datação:
393 d.C. - 395 d.C. - Época Romana.
Cunhada em bronze. Dimensões
(cm): espessura: 0,1; diâmetro: 2,2.
Moeda de Adriano. Datação:
117 d.C. - 135 d.C. - Época Romana.
Cunhada em Bronze. Dimensões
(cm): espessura: 0,3; diâmetro: 3,3;
Moeda de Trajano Decius.
Datação: Época Romana. Cunhada em bronze.
Dimensões (cm): espessura:
0,3; diâmetro: 2,7.
Moeda de Magno Máximo.
Centro de Fabrico: Lugdunum (Lyons, França).
Datação: 383 d.C. - 388
d.C. - Época Romana. Cunhada em bronze.
Dimensões (cm): espessura:
0,1; diâmetro: 2,4.
Moeda de Theodosius. Centro
de Fabrico: Nicomedia. Datação:
392 d.C. - 395 d.C. - Época
Romana. Cunhada em bronze.
Dimensões (cm): espessura:
0,1; diâmetro: 2,1.
Moeda de Maximinus. Centro
de fabrico. Roma. Datação: 235 d.C. - 236 d.C.
- Época Romana. Cunhada em bronze. Dimensões
(cm): espessura: 0,3;
diâmetro: 2,5.
Parabéns por este texto.
ResponderEliminarObrigado, Filomena.
EliminarUm abraço.
Obrigada, amigo. Pelo trabalho, pela erudição, e pela partilha ... Permito-me brincar um pouco : se os políticos europeus soubessem um pouco mais de História, nunca teriam escolhido aquele nome para a moeda única ! Claro que " Eurus" seria um enorme vendaval...
ResponderEliminarUm abraço!
mf/.
Fernanda:
EliminarObrigado mais uma vez, pelo seu estimulante comentário.
Um grande abraço para si também, amiga.
Profundo agradecimento por partilhar cultura. .
ResponderEliminarOra essa. É com gosto que o faço.
EliminarSeria bom que todo o material arqueológico encontrado em Santa Vitoria estivesse exposto no Museu Municipal, pois é aqui que ele pertence.
ResponderEliminarQuanto a entrega, do que resta, do campo arqueológica à Câmara, fico preocupado, pois se esta não tem sequer capacidade para manter uma cidade limpa e livre de ervas como vai ter para gerir as ruinas?
ResponderEliminarNo texto escrito há 8 anos, eu defendo:
CENTRO INTERPRETATIVO DA VILLA
A meu ver, torna-se necessário a construção no local de um “Centro Interpretativo da Villa lusitano-romana de Santa Vitória do Ameixial”, à semelhança do que se passa em Miróbriga, visando permitir o desenvolvimento de uma oferta turística de base cultural, com envolvimento da comunidade local. Santa Vitória precisa de turismo, como um pobre de pão para a boca.
Deveria ser esse Centro Interpretativo a alojar o material arqueológico devolvido á procedência. Será que o Centralismo Museológico alguma vez vai deixar regressar esses objectos à origem?
Acho que o Museu Municipal de Estremoz não seria a melhor solução, por ser um museu generalista. Penso que seria preferível o Centro Interpretativo (a construir de raíz) em Santa Vitória do Ameixial, o qual deveria funcionar sob supervisão técnica e cientifica do Museu Municipal de Estremoz.