Primavera com Arco.
Oficinas de Estremoz (séc. XIX).
Colecção Júlio Reis Pereira.
Museu Municipal de Estremoz.
A Primavera é a estação do ano que sucede ao
Inverno e antecede o Verão. Marca a renovação da natureza, sendo especialmente
associada ao reflorescimento da flora
e da fauna terrestres.
Na pintura, a Primavera é o tema central de obras
de grandes mestres. A natureza é representada verdejante e florida. Por vezes
são retratados trabalhos agrícolas ou de jardinagem, característicos do início
da estação. As cenas são em geral iluminadas, reflectindo a claridade própria
da época. Por vezes, a estação é tratada alegoricamente com recurso a uma ou
mais figuras femininas enquadradas por flores , em ramos ou grinaldas.
Na vidraria francesa são conhecidas duas figuras do
séc. XVIII, fabrico de Nevers, conhecidas por “Alegorias da Primavera”. São figuras
masculinas, trajando à antiga e empunhando arcos com flores.
No figurado de Estremoz existem peças cuja origem
remonta ao séc. XIX e das quais a designação consagrada pelo uso é a de
“Primaveras”. Trata-se de uma designação genérica que abrange as chamadas
“Primaveras de Arco”, as “Primaveras de Plumas” e as “Bailadeiras”. É ponto
assente que tais especímenes são alegorias à estação do ano do mesmo nome. Todavia
são mais do que isso, como procurarei justificar.
Desde tempos remotos que existem rituais vegetalistas
de celebração e exaltação do desabrochar da natureza. Tais ritos vieram a ser
assimilados pela Igreja Católica que começou a comemorar o Entrudo ou Carnaval
como preparação para a Quaresma.
Referindo-se ao Entrudo de antigamente diz Xavier
da Cunha na revista OCCIDENTE, de 15 de Fevereiro de 1879: “Hoje de todos esses
brinquedos, que passaram, restam apenas as decantadas danças de cavallões e
marmanjos vestidos de pastorinhas a bailarem entre os costumados arquinhos de
flores ao som do classico apito – elemento essencial da ordem no programma de
toda aquella brincadeira”.
Também na capa da revista “PARODIA
– COMEDIA PORTUGUEZA”, nº 6, de 18 de Fevereiro de 1903, Raphael Bordalo
Pinheiro retrata vários mascarados num salão particular. À esquerda duas
figuras supostamente de homens mascarados de figuras femininas, empunham um
arco com flores.
Face ao exposto, julgo não ser despropositado
concluir que no figurado de Estremoz, as “Primaveras”, para além de
constituírem uma alegoria à estação do mesmo nome, são também figuras de
Entrudo e registos dos primitivos rituais
vegetalistas de celebração e exaltação do desabrochar da natureza.
Obrigada por mais um trabalho aliciante! E com lembranças quentes e coloridas, como andamos todos a precisar... Esperemos que este ano a Primavera traga muitas flores, muitos aromas e quenturas para as almas desanimadas e friorentas!
ResponderEliminarBem haja!
Cumprimentos.
mfernanda/.
Fernanda:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
A Primavera limpa-nos a Alma.
Um grande abraço para si.