quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

14 – Armando, bonequeiro de Estremoz



 
Armando Alves em 1949, com a idade de 14 anos.

Armando Alves (1935- ), natural de Estremoz e consagrado artista plástico a quem José Saramago (1922-2010) chamou “Inventor de Céus e Planícies”, frequentou a Escola Industrial e Comercial de Estremoz, entre 1949 e 1952. Aí teve aulas de oficinas de olaria com Mestre Mariano da Conceição (1903-1959).
Foi no ano lectivo de 1951-52, já com a Escola Industrial e Comercial de Estremoz instalada no Castelo, que o jovem Armando começou a confeccionar os seus bonecos de Estremoz.
O trabalho de modelação, cozedura, pintura e envernizamento era feito na própria Escola e Armando não terá confeccionado mais que 10 modelos de bonecos: - Figuras que têm a ver com a realidade local: amazona, leiteiro, mulher a vender chouriços e homem do harmónio; - Figuras intimistas que têm a ver com o quotidiano doméstico: Mulher a lavar; - Figuras que são personagens da faina agro-pastoril nas herdades alentejanas: ceifeira, mulher da azeitona, pastor de tarro e manta, pastor com um borrego e pastor do harmónio. Ao todo não terá manufacturado mais que cinquenta bonecos. Estes eram comercializados em Estremoz na Papelaria Ruivo, situada no Largo da República, número vinte e quatro, em Estremoz. Exactamente um dos locais em que eram comercializados os bonecos do Mestre Mariano da Conceição. Fê-lo a pedido da proprietária, a sua tia Joana Ruivo. Cada figura era vendida ao preço de vinte e cinco tostões, enquanto que os de Mestre Mariano custavam doze mil e quinhentos.
Actualmente, o Armando não faz ideia de quem comprava os seus bonecos. Todavia, lembra-se da tia, uma vez lhe ter dito que uma dessas pessoas era o coleccionador e médico calipolense, Dr. Couto Jardim (1879-1961).
Mestre Mariano marcava os seus bonecos, estampando na base a marca “ESTREMOZ/PORTUGAL”, em maiúsculas distribuídas por duas linhas. Porém, o jovem Armando vai além do Mestre e assina simplesmente “Armando”, em caracteres manuscritos. Fá-lo a verde, o verde da esperança e verde das searas que já doiradas, ondularão mais tarde as suas telas de artista consagrado. Tratou-se então, de uma aposta forte visando o futuro. Uma espécie de premonição da Obra que iria construir. Daí a razão de assinar simplesmente “Armando”. Sabem porquê? É simples. Toda a gente sabe quem é o Armando. Pois claro!  

O pastor do harmónio criado pelo jovem Armando no ano lectivo de 1951-52.

A marca "Armando" manuscrita, pintada a verde na base.

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