quarta-feira, 23 de julho de 2014

6 – Tradição, inovação e mudança de paradigma

Roupeiro.
Irmãs Flores (séc. XXI).
Colecção particular.

Na galeria dos bonecos de Estremoz é possível identificar um núcleo central de cerca de 90 figuras que são produzidas pelos barristas de hoje, à semelhança do que fizeram os seus antecessores, ainda que cada um lhe confira as suas próprias marcas de identidade. São os chamados “Bonecos da tradição”.
O trabalho de cada barrista não se esgota, porém, na feitura dos bonecos da tradição. Por sua própria iniciativa, fruto de encomenda ou por sugestão de alguém, os barristas são levados a criar novas figuras que até então ninguém fizera. São aquilo, que podemos designar por “Bonecos da inovação”, que respeitam o ancestral processo de fabrico dos bonecos de Estremoz.
O meu interesse pelos bonecos de Estremoz entrosou com o meu interesse pela etnografia, levando-me a lançar desafios às Irmãs Flores no sentido de criarem novos modelos, para o que lhes forneci imagens do meu arquivo pessoal. Isso aconteceu em vários momentos distintos: Em 2007, quando da criação da colecção “O traje popular Português”; Em 2009 e 2010, quando da 1ª e da 2ª edição do meu livro “Bonecos da gastronomia”; Em 2011 para a colecção “Alentejo do passado”; Em 2012, quando do lançamento do meu livro “MEMÓRIAS DO TEMPO DA OUTRA SENHORA / ESTREMOZ-ALENTEJO”.
As colecções “O traje popular português” e “Alentejo do passado” estão patentes ao público na sala de exposições da Associação Filatélica Alentejana no Centro Cultural de Estremoz.
Com a criação de “Bonecos da inovação” a barrística popular estremocense ficou mais rica. Nalguns casos houve mesmo “Mudança de paradigma”, com a nossa barrística a atingir a sua mais alta expressão, na confecção de figuras mais complexas e de execução mais morosa.
As Irmãs Flores estão de parabéns, pois sem se afastarem um milímetro sequer dos cânones tradicionais da barrística popular estremocense, têm sabido inovar, criando novos públicos com apetência por aquilo que é diferente dentro do tradicional. E elas estão no caminho certo, pois se a sua mestria é pautada, por um lado, pela mais estrita fidelidade aos materiais, à tecnologia e às cores, não deixam todavia de manifestar inquietude que se expressa na criação de novos modelos de figurado, que têm a ver com a nossa identidade cultural, local e regional.

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