Elvis Presley (1935-1973)
Há cinquenta anos atrás, estávamos em 1961. Os rapazes da minha geração tinham quinze anos e estavam quase a ir “tirar as sortes”. Eram nuvens negras no horizonte de cada um, pois em Fevereiro desse ano começara a Guerra em Angola.
A sociedade era bastante conservadora. Vivíamos num regime de partido único e não era permitida a expressão pública de opiniões contra o regime e contra a guerra. A censura e a polícia política controlavam toda a comunicação social, pelo que não nos era dado ouvir ou ver, nada que pusesse em causa o regime ou aquilo que era considerado por eles, os bons costumes.
Ainda não acontecera o Maio de 68 e ainda não déramos pelos Beatles. Não usávamos cabelos compridos, nem barbas crescidas. Tínhamos um ar normal na época. Vestíamos de maneira convencional, conforme as posses de cada um. Alguns já fumavam um cigarrito à escondida dos pais. Íamos ao futebol, ao hóquei e ao cinema. Elvis Presley era o nosso ídolo no celulóide, sempre divertido, a cantar e a tocar guitarra, rodeado de miúdas giras. Como nós o
invejávamos. Alguns de nós, imitavam-no, penteando o cabelo para trás, com brilhantina e a competente popa.
A América era para muitos de nós um sonho de liberdade, já que para bebermos coca-cola, tínhamos que ir a Espanha. Não havia discotecas por aqui e nos bailes as mães ficavam sentadas atrás das filhas. E os filmes do Elvis que nos continuavam a dar a volta à cabeça… Tinha que haver uma saída… E ela aconteceu precisamente numa Sexta-Feira Santa, dia de enterro do Senhor. Um de nós descobrira a pólvora sem fumo:
- Eh rapaziada, os meus pais foram de viagem e eu estou sozinho em casa. Que tal convidarmos umas miúdas para fazer lá uma matiné.
- Eh pá! Bestial! Vamos a isso!
Lá convidámos umas miúdas e dançámos ao som do Elvis, debitado pelo gira-discos do nosso anfitrião. Até foram irmãos e irmãs, tendo decorrido tudo dentro da maior compostura. E ao som do Elvis, lá descarregámos as tensões acumuladas dentro de nós, pela sociedade que nos oprimia. O pior estava para vir. As miúdas apanharam um raspanete de todo o tamanho lá em casa. E pela cidade de Estremoz, correu célere a notícia:
- Vejam lá estes hereges. Com o Senhor morto e o corpo a pedir folia!
- Excomungados é que precisavam!
- Onde é que já se viu, Sexta-Feira Santa e rock and roll?
Cinquenta anos decorridos, reconheço que foi positivo ninguém ter sido excomungado, já que muitos eram católicos praticantes e desse credo nunca se afastaram. Nem mesmo com Sexta-Feira-Santa e rock and roll…
Hernâni, excelente evocação desses nossos tempos de adolescentes espigadotes. O Elvis como ídolo e as nossas poupas capilares com a brilhantina que as formatava.Os gira-discos que eram salvação aos bailaricos improvisados e o " Senhor morto " que tudo perdoava ( por uma boa causa, como era o caso), Lembrança a estes jovens do que eram os anos sessenta do século passado.
ResponderEliminarInteressante a descrição dos outros tempos, como se comportava a juventudo. Comparados aos tempos de hoje eramos todos muito atinados. E o Rock era novidade e contagiante. Mas foi esta diferença que fez de nós os Homens e as Mulheres que somos hoje, muito responsáveis. Tenho saudades desses tempos. Mesmo os anos que vivi em Angola. Rosa Casquinha.
ResponderEliminarA mim leva-me a crer que foi o amigo e SENHOR PROF HERNANI,que organizou o baile,em sua casa ,,,,Seja quem for a pena que tenho é de não estar presente,uma vez que tínhamos sempre a nossa mãe connosco.uma tarde a dançar com os miúdos que trazíamos de baixo de olho,sem niguem para vigiar ,já era um marco de grande liberdade,,,,,como eu sonhava ao ouvir a voz do ELVIS. Como eram fiferentes os tempos em Portugal,,,,,,,SAUDADES!!!!!!!
ResponderEliminarNão foi na minha casa, não. Foi na casa do Senhor Paquete, que à época era Solicitador Provisionário. O local foi a vivenda à esquina do topo da rua da Restauração com a Avenida Dr. Marques Crespo.
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