A presente colectânea de adivinhas sobre o pão, é o resultado da nossa pesquisa em quatro fontes bibliográficas distintas, cujos autores as recolheram da tradição oral:
“Feminina como sou,
milhões de bocas sustento,
mas é tal o meu tormento,
que sempre ralada estou.
Dão-me murros e eu não dou
um só ai nem mostro medo,
de água e fogo não me arredo.
Tudo sofro com prudência,
mas se me falta a paciência,
só comigo é que me azedo.” [2]
SOLUÇÃO: “A massa do pão.”
“Chego a minha barriga à sua e meto-lhe um palmo de carne crua.” [3]
SOLUÇÃO: “A masseira, a mulher que a amassa e os braços desta.”
“Devendo aos quatro elementos
O vir a ser o que sou,
Sempre recebo mau pago
Da gente com quem me dou;
Sou abafado, e depois
Num cárcere me vão pôr,
Onde não mudo a figura,
Mas do rosto mudo a cor;
O povo todo me busca,
Pois necessita de mim;
Tive criação aos murros,
Levo facadas por fim.” [1]
SOLUÇÃO: “O pão: a amassadura, a cozedura, o corte com a faca. Os quatro elementos são: terra,água, ar e fogo.”
“O que é que tem bosta na boca e pão no cú?” [3]
SOLUÇÃO: “O forno.”
“Verde esverdinhado, entre as pernas apertado.” [3]
SOLUÇÃO: “Vassoura para varrer o forno.”
“Verde, verde-gaio,
Antre as pernas apertai-o;
Vou com a mão,
Meto-o no buracão.” (Tolosa) [4]
SOLUÇÃO: “Vassoura verde que se mete pela boca do forno para o varrer.”
“O que é que quanto mais quente está, mais fresco é?” [3]
SOLUÇÃO: “O pão.”
E com adivinhas como estas, que excitavam o imaginário popular, se passavam os serões em família. Eram tempos de convívio e de partilha, mas sobretudo tempos da transmissão de saberes, através da oralidade. Tempos que se perderam…
BIBLIOGRAFIA
[1] – LEITE DE CASTRO. “Adivinhas” in Revista de Guimarães, vol. I, nº 3 (1884).
[2] - MOUTINHO, José Viale. Adivinhas Populares Portuguesas.6ª edição. Editorial Notícias. Lisboa, 2000.
[3] - VIEIRA BRAGA, Alberto. “Folclore” in Revista de Guimarães, vol. XXXIII (1933); vol. XXXIV (1934).
[4] – LEITE DE VASCONCELLOS, J. Etnografia Portuguesa. Vol. VI. Imprensa Nacional – Casa da Moeda. Lisboa, 1975.
Publicado em 2 de Julho de 2011
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