Um poço em Estremoz (Início do séc. XX). Alberto de Souza (1880-1961). Desenho a tinta da China aguarelada, utilizado como ilustração de bilhete-postal ilustrado da 3ª série de “A EDITORA”.
A presente colectânea de adivinhas sobre a água, é fruto da nossa investigação em oito fontes bibliográficas distintas, cujos autores, cada um na sua época, as recolheu da tradição oral. Sistematizámo-las em quatro grupos distintos, ainda que não divergentes:
1 – Água
2 - Poço
3 – Nora
4 – Diversos
Passemos, de seguida, em revista, estes grupos:
1 – ÁGUA
“Qual é a cousa, qual é ela,
Que chega à serra e se abica?” [5]
(SOLUÇÃO – A água)
“Uma coisa que tanto anda, e nunca chega onde quer.” [3]
(SOLUÇÃO – Água corrente.)
“Sem voz, encanto quem me ouve; tenho leito e não durmo; e, como o tempo, corro sempre.” [5]
(SOLUÇÃO – A água de um ribeiro.)
“Qual é a coisa, qual é ela,
Que Deus criou para andar
Sem nunca para trás voltar?” [2]
(SOLUÇÃO – A água do rio.)
“São três cousas:
Uma diz que vamos,
Outra que fiquemos,
Outra que dancemos?” [4]
(SOLUÇÃO – Água, areia, espuma.)
“Quanto mais alta,
Melhor se alcança.” [7]
(SOLUÇÃO – A água do poço.)
2 – POÇO
“Alto como um pinheiro,
Redondo como um pandeiro.” [1]
(SOLUÇÃO – Um poço.)
“Que é, que é,
Redondo como um cesto,
Comprido como uma corda?” [4]
(SOLUÇÃO – Um poço.)
“Que é, que é,
Que quanto mais se lhe tira
Maior é?” [5]
(SOLUÇÃO – Um poço.)
3 - NORA
“Qual é a coisa que anda e anda bem, e nunca sai do sítio e faz sair os que andam com ela?” [8]
(SOLUÇÃO – A nora.)
“Eu sou mãe de muitos filhos
e todos comigo tenho
e para lhes matar a fome
dou mil voltas e venho.” [8]
(SOLUÇÃO – A nora.)
“Sou mãe de muitos filhos,
E todos comigo tenho;
Para os ver fartos e cheios,
Dou uma volta, vou: e venho;
Mas, como no tempo presente
Tudo custa a sustentar,
Quando os vejo fartos e cheios,
Ponho-me então a cantar.” [6]
(SOLUÇÃO – A nora.)
4 – DIVERSOS
“Já que tens entendimento
E és amigo de saber:
Uma pedra em cima da água,
Dize lá se pode ser?” [5]
(SOLUÇÃO – O gelo)
“Que diferença há entre a água e o médico?“ [7]
(SOLUÇÃO – A água mata secura; o médico se cura, não mata.)
Adivinhas como estas, povoavam o imaginário popular, na época em que gerações, afastadas no tempo, seroavam em convívio e partilha, já que a transmissão de saberes, de uma forma natural, se processava através da oralidade. Foram práticas que se perderam…
BIBLIOGRAFIA
[1] – BRAGA, Teófilo. “As Adivinhas Portuguesas”, in Era Nova. Lisboa, 1881
[2] – GONÇALVES DAS NEVES, Serafim, PIRES DE LIMA, Augusto Castro & DACIANO, B.: “Tradições de Azurara, III — Adivinhas”, in Boletim Douro-Litoral, 4ª série, VII-VIII. Porto, 1951.
[3] – LEITE DE VASCONCELLOS, José. Ensaios Etnográficos, vol. IV. Lisboa, 1910.
[4] – LEITE DE VASCONCELLOS, José. Tradições Populares de Portugal. Livraria Portuense de Clavel e C.ª – Editores. Porto, 1882.
[5] – PIRES DE LIMA, Augusto Castro. O Livro das Adivinhas. Editorial Domingos Barreira. Porto, 1943.
[6] – PIRES DE LIMA, Fernando de Castro. Qual é a coisa qual é ela? Portugália Editora. Lisboa, 1957.
[7] – VIEGAS GUERREIRO, M. Adivinhas Portuguesas. Fundação Nacional Para A Alegria No Trabalho. Lisboa, 1957.
[8] - VIEIRA BRAGA, Alberto. “Folclore”, in Revista de Guimarães, vol. XXXIV (1934).
Gostei de recordar algumas das adivinhas que fizeram parte do meu livro de leitura escolar, (Pires de Lima). Como sempre fiquei surpreendida porque o professôr traz sempre algo desconhecido. Obrigada aprendo sempre mais um pouco.
ResponderEliminarRosa Casquinha
bom como sempre
ResponderEliminarabraço
Saudade do "meu" alentejo que tanto amo! Embora seja do norte, o meu coração também é do alentejo.
ResponderEliminarAlentejo de minha alma.
Gostei de recordar algumas advinhas...
Adorei conhecer o seu blog. Desculpe não ter passado mais cedo...mas nem sempreó tempo dá:)
Saudações poéticas.
"Nunca o vi subir, subir,
ResponderEliminarSó o vi descer, descer.
E só perde a sua queda,
Quando o que é deixa de ser."