domingo, 25 de agosto de 2024

Olaria tradicional de Estremoz


Jarro com decoração fitomóRfica, relevada e polida. Prenda de aniversário da Fátima


As peças oláricas tradicionais são um registo e um regalo de memórias da antiga tradição oleira, cuja recuperação é indissociável da salvaguarda da identidade cultural estremocense.

Modeladas em barro vermelho de Estremoz, aliam à beleza morfológica consignada pela tradição oleira local, uma decoração sui-generis, rica e diversificada, rematada por um acabamento sem mácula.

Em suma: são verdadeiras obras de arte!

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

“MARIA / JOSÉ / CARTAXO” – nova marca de autor de barrista de Estremoz

 

“Bailadeira pequena”. Maria José Cartaxo da Conceição (1923-2013). A pintura da figura
encontra-se incompleta, dado que à excepção da base, a figura apenas recebeu uma
pintura com branco de alvaiade (óxido de zinco), como preparação para receber outras
cores, o que não chegou a acontecer.

No meu livro “BONECOS DE ESTREMOZ” (*), dado à estampa em 2018, inventariei e descrevi, de uma forma sistemática e por autor, um total de 122 marcas de autor, que surgem estampadas com carimbo ou manuscritas na base das figuras ou no interior das peanhas das imagens devocionais. Tratou-se e trata-se ainda do maior número de marcas de autor de bonequeiro(a)s de Estremoz, jamais divulgada por alguém.

No final do estudo então apresentado, afirmei: “Estou convicto que a listagem de autores e respectivas marcas aqui apresentadas não está completa e, como tal, não é definitiva. O futuro o confirmará ou não.”

De então para cá, foram-me surgindo novas marcas dos autores já inventariadas, que a seu tempo divulgarei.

Mais recentemente, surgiu-me a marca manuscrita “MARIA / JOSÉ / CARTAXO”, distribuída por 3 linhas, aposta na base da figura conhecida por “bailadeira pequena”. A pintura desta encontra-se incompleta, dado que à excepção da base, a figura apenas recebeu uma pintura com branco de alvaiade (óxido de zinco), como preparação para receber outras cores, o que não chegou a acontecer.

Vejamos quem era Maria José Cartaxo.

Após a morte do seu irmão Mariano Augusto da Conceição (1903-1959), Sabina Augusta da Conceição Santos (1921-2005) dá continuidade à manufactura dos Bonecos de Estremoz na Olaria Alfacinha, conjuntamente com as cunhadas, Maria José Cartaxo da Conceição (1923-2013) e Teresa Cabaço Cid da Conceição (1922-1962). Após o falecimento desta última em 1962, a sociedade desfaz-se por iniciativa de Sabina Santos. Então, Sabina Santos e Maria José Cartaxo começam a trabalhar separadas. A marca aqui divulgada é até agora a única marca de autor conhecida.desta última barrista.

(*) MATOS, Hernâni. BONECOS DE ESTREMOZ. Edições Afrontamento. Estremoz / Póvoa de Varzim, Outono de 2018.

Hernâni Matos

Marca manuscrita “MARIA / JOSÉ / CARTAXO”, distribuída por 3 linhas, aposta na base
da figura conhecida por “bailadeira pequena”.

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Aonde se fala da minha visita à Exposição de Pintura de João Moura Reis no Howard's Folly, em Estremoz

 


Hoje á tarde visitei a Exposição de Pintura de João Moura Reis, patente ao público no Howard's Folly, em Estremoz.
Não resisti ao convite formulado pelo João no acto inaugural, no sentido de cada visitante se expressar livremente com umas pinceladas numa tela colectiva, ali presente para esse efeito.
Foi ousadia minha. Quis dar um passo maior que a perna e saiu asneira.
Pretendia pintar uma rosácea hexapétala. de forte simbolismo na arte pastoril alentejana. Saiu-me uma espécie de roda de um carro de tracção animal, com falta de raios.
Não sou dado a atitudes de auto-justificação em casos de inêxito, mas sempre digo:
- O que conta é a intenção!
Isso mesmo disse ao João - um amigo de longa data - no Livro de Honra, onde o parabenizei pela sua Exposição com a simultaneidade de um grande abraço.



A Fátima também me acompanhou na minha aventura pictórica. Ei-la em plena acção.

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Mineiro - Eduardo Valente da Fonseca

 



Mineiro
Eduardo Valente da Fonseca (1928-2003)


Mineiro da pele de fogo.
português do meu país,
onde nós vemos flores,
tu vês raiz.

Mineiro desse outro lado
onde a flor não desabrocha,
és bicho, gente ou gerânio
florescendo nas rochas?

Mineiro da pele de fogo,
português do meu país,
vejo-te aqui na cidade
no ferro, no ouro e cobre,
nas estações e cozinhas
e no colo das mulheres.

Andas presente nas pontes,
em dedos, salões de luxo,
nas orelhas das crianças,
em casas comerciais,
e na frescura das tranças
enfeitadas a metais.

Descubro-te assim presente
na força continental
dos guindastes e navios
e no rumor industrial
dos próprios rios.

Mineiro do meu país,
português da pele de fogo,
alarga os braços e diz,
mostrando os dedos à luz
deste sul de Portugal,
que mais que o peixe e o sal
é o minério a raíz
e a razão fundamental
deste fumo industrial
do teu país.

Eduardo Valente da Fonseca (1928-2003)


#Poesia Portuguesa - 220

terça-feira, 6 de agosto de 2024

Artesãos e Feiras de Artesanato


Fotografia transcrita com a devida vénia da página do Facebook do dia 5 de
Setembro, do barrista Carlos Alberto Alves, com a seguinte legenda: "E assim
terminou esta grande Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde. Os meus
agradecimentos à organização do evento e a todos que visitaram o meu stand.
Para o ano cá estarei. Até já."

Desde a sua génese, que as feiras de artesanato visam a preservação e a promoção das artes tradicionais, enquanto reflexos identitários e fontes de riqueza das comunidades.

São elementos fundamentais das feiras de artesanato, os feirantes, designação bi-valente, aplicável tanto a artesãos produtores como a público comprador.

Poderá haver feiras de artesanato com mais ou menos público. Porém uma coisa é certa, não faz sentido haver feiras de artesanato sem a presença de artesãos, os quais trabalhando ao vivo mostram o seu saber fazer, comercializam a sua produção e dão a cara no contacto com os clientes, promovendo a sua arte e com ela a comunidade onde se inserem.

Foi assim que participaram em feiras por aqui e por ali, José Moreira, Liberdade da Conceição, Irmãs Flores, Maria Luísa da Conceição e Célia Freitas, nomes incontornáveis de barristas de Estremoz, que não podem deixar de ser referidos e destacados como exemplo.

Apesar de tudo, a vida é como o planeta Terra, dá muita volta, pelo que fruto das circunstâncias e pela indisponibilidade de alguns artesãos estarem presentes nas feiras com stand próprio, a promoção do artesanato de algumas regiões passou a ser feita por entidades vocacionadas para o marketing de produtos de várias tipologias, entre elas o artesanato. É o que tem sido feito pelo Turismo Municipal de vários municípios, por Entidades Regionais de Turismo e por outras entidades. Qualquer delas tem objectivos mais vastos e agenda própria, os quais ultrapassam largamente os objectivos específicos e os interesses próprios dos artesãos.

Estremoz não foge à regra e por isso o mesmo já aconteceu com representações de Estremoz em feiras de artesanato. Todavia, parece que houve artesãos de Estremoz que resolveram arrepiar caminho. Daí que a participação dos artesãos estremocenses na Feira de Artesanato de Vila do Conde do presente ano, tenha sido a maior de sempre, com os artesãos distribuídos por 5 stands: Bonecos de Estremoz (3), Olaria (1) e Artesanato em Pele (1).

Aí estiveram presentes os barristas Carlos Alberto Alves, Inocência Lopes, Maria Isabel Catarrilhas Pires e Sara Sapateiro, a ADOE - Associação Dinamizadora da Olaria de Estremoz e a artesã Clara Cunha da empresa artesanal Maria da Conceição Cunha – Artesanato em pele.

Fizeram-no na condição de artesãos independentes, que se inscreveram por sua própria iniciativa e se deslocaram pelos seus próprios meios. Trata-se de uma postura que traduz uma atitude de independência que aqui sublinho e aplaudo. De igual modo, sublinho e aplaudo a presença do Presidente do Município de Estremoz, José Daniel Sadio, na Feira de Artesanato de Vila do Conde no passado dia 30 de Julho, onde foi recebido pelo Dr. Saraiva Dias, Presidente da Associação para a Defesa do Artesanato e Património de Vila do Conde (ADAPVC). Na sua visita, o autarca felicitou os artesãos presentes pelo trabalho de promoção e divulgação do artesanato de Estremoz, o que não deixa de ser significativo.

sábado, 3 de agosto de 2024

Alforge – Mercado das Velharias de Estremoz



Os burros usados outrora no transporte de carga podiam ser portadores de um “alforge”, faixa de tecido grosseiro com dois sacos nas extremidades, os quais ficavam dependurados de cada lado do animal, após o alforge se encontrar assente na “albarda”, sela grosseira cheia de palha que era aparelhada no dorso do animal.

O alforge aqui apresentado, fazia parte do recheio de um monte alentejano e foi confeccionado em tecido grosseiro com quadrados vermelhos e brancos. Encontra-se guarnecido à volta com um debrum branco e o topo dos sacos ostenta um recorte branco com um bordado cor-de-rosa. De cada uma das extremidades do saco pende uma borla cor-de-rosa.

Os sacos encontram-se monogramados com as letras “M” e “A, bordadas a linha cor-de-rosa, correspondentes decerto às iniciais do(a) proprietário(a) e cada uma das letras está ladeada por dois pés de uma flor indefinida, bordada a vermelho, cor-de-rosa e verde claro.

A decoração do alforge não faria sentido em exemplares usados no serviço diário, o que me leva a admitir que se destinava a ser usado apenas em dias festivos, como era o caso da “bênção do gado” pelo pároco da freguesia, tradição rural cuja origem se perde na memória dos tempos.

Hernâni Matos

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Visita do Presidente do Município de Estremoz à Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde


O barrista Carlos Alberto Alves, ladeado à esquerda pelo Dr. Saraiva
Dias  (Presidente da ADAPVC) e à direita pelo Presidente do Município
de Estremoz, José Daniel Sadio, acompanhado da esposa.

Fotografias recolhidas com a devida vénia na
página do Facebook do Presidente do Município
de Estremoz, José Daniel Sadio

O Presidente da Câmara Municipal de Estremoz, José Daniel Sadio, visitou no passado dia 30 de Julho, a 46ª Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde. Aqui foi recebido pelo Dr. Saraiva Dias, Presidente da Associação para a Defesa do Artesanato e Património de Vila do Conde (ADAPVC), a quem a Câmara Municipal confia a gestão e promoção do Centro de Artesanato e a realização da Feira Nacional de Artesanato que, desde 1978, se continua a realizar.

No seu périplo pela Feira, José Daniel Sadio visitou o stand do barrista Carlos Alberto Alves e o stand de Maria da Conceição Cunha – Artesanato em pele, onde se encontrava presente a artesã Clara Cunha. Em qualquer deles, dialogou com os artesãos que participam na Feira desde o passado dia 20 de Julho e até ao seu termo em 4 de Agosto. O autarca felicitou ainda os artesãos pelo trabalho de promoção e divulgação do artesanato de Estremoz. Estas felicitações foram naturalmente extensivas àqueles que já não se encontrando presentes, participaram na Feira entre 20 e 27 de Julho: ADOE - Associação Dinamizadora da Olaria de Estremoz e as barristas Inocência Lopes, Maria Isabel Catarrilhas Pires e Sara Sapateiro.

A participação dos artesãos estremocenses na Feira de Artesanato de Vila do Conde foi a maior de sempre, com os artesãos distribuídos por 5 stands: Bonecos de Estremoz (3), Olaria (1) e Artesanato em Pele (1).

Em comunicado de imprensa distribuído hoje, o Município de Estremoz agradece ao Município de Vila do Conde, o que considera ser um agradável acolhimento na visita efectuada. Simultaneamente parabeniza e enaltece a participação de todos os que contribuem para a divulgação e promoção do concelho de Estremoz

Criada em 1978, a Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde é um evento reconhecido a nível nacional, sendo considerada a mais antiga, a melhor e a maior do género que se realiza em Portugal, não só pelo número de artesãos nacionais participantes, mas também no que respeita ao número de visitantes do certame.

A Associação para a Defesa do Artesanato e Património de Vila do Conde (ADAPVC), entidade gestora da Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde, orgulha-se de, ao longo das últimas quatro décadas, ter contribuído de forma decisiva para a preservação das artes tradicionais portuguesas, defendendo a genuinidade e qualidade dos produtos presentes no certame.

Hernâni Matos


A artesã Clara Cunha, ladeada à esquerda pela esposa do Presidente
do Município  de Estremoz, José Daniel Sadio, que se encontra à sua
direita, seguido do Dr. Saraiva Dias (Presidente da ADAPVC).