sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A cadeirinha de "Prometida"


 A CADEIRINHA DE "PROMETIDA" - Símbolo do contrato pré-matrimonial
no Alentejo da primeira metade do séc. XX. Talhada em madeira numa
única peça (2,1x2,1x5,2 cm).

Campos do Alentejo na primeira metade do século vinte. Um moço que num rasgo de olhar, vislumbra uma moça, na qual existe qualquer coisa que irreversivelmente o atrai e o fulmina. É tiro e queda. Passa a segui-la como um perdigueiro que segue a caça. Pisteiro, procura dirigir-lhe palavra. Mas manda a tradição que a moça, apesar de se sentir atraída por ele, lhe dê um ou mais cabaços (negas). Todavia, “Quem porfia sempre alcança” e um dia, os sentimentos do moço são retribuídos pela moça e o amor irrompe como um vulcão. Ela dá-lhe trela e ele recebe luz branca para lhe fazer a corte. Derretem-se um pelo outro, mas procuram encontrar-se em segredo, longe das bocas do mundo, para que a família dela não saiba antes do tempo próprio. E as coisas assim continuam até que um dia, deixam de ter medo que os outros saibam e passam à condição de “conversados”, encontrando-se às claras, na pausa dos trabalhos do campo, no regresso dele, junto à fonte ou na igreja, nos domingos e dias santos. É a época em que o moço oferece à moça, objectos utilitários de arte pastoril, finamente lavrados: dedeiras para a ceifa, rocas e fusos, ganchos de fazer meia ou caixas de costura, que ele próprio confecciona se da arte pastoril tem o jeito ou que encomenda a alguém, no caso de não o ter. Ela retribui com prendas finamente bordadas, tais como uma bolsa para o relógio, para a tabaqueira ou para as moedas. E na comunhão do amor perene, qualquer deles usa e ostenta com orgulho, as prendas que recebeu do outro e que “selam” a sua condição de “conversados”.
A instâncias da moça, com o apoio da mãe primeiro e do pai depois, os pais dão autorização para que os “conversados” falem à janela ou à porta de casa, seja ela na vila ou no monte. E as coisas assim vão prosseguindo até que o estado psicológico do par atinja o ponto de rebuçado. Nessa altura, o moço pede aos pais da moça que lha dêem em casamento. Estes, naturalmente, protagonistas activos ainda que ocultos, desta saga amorosa, concedem-lhe a graça solicitada. A moça passa então da condição de “conversada”, à condição de “prometida”. Só então o par recebe autorização para conversar dentro da casa dos pais da moça. E para “selar” o contracto pré-matrimonial, o moço oferece à sua “prometida” uma cadeirinha em madeira que ela passará a usar, presa na fita do chapéu de trabalho, até à altura do matrimónio. Esta a fórmula encontrada pela sábia identidade cultural alentejana, de dar a conhecer à comunidade que a moça já estava “prometida” e que em breve iria casar.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 7 de Janeiro de 2011

TROCA DE PRENDAS ENTRE "CONVERSADOS" - Fotografia adicionada por Robert DeSousa
ao grupo do Facebook "ARTES E OFICIOS, USOS E COSTUMES DE PORTUGAL", no dia 21 de
Outubro de 2010, de onde foi partilhada e reproduzida com a devida vénia.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

As corridas de rodas

JOGO DO ARCO OU DA GANCHETA (Pormenor - século XX). Fotografia de autor desconhecido (30,5x23,5 cm). Museu da Guarda.
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A “corrida de rodas” era um jogo da minha infância, para o qual tenho reservado um lugar muito especial nas gavetas espaçosas da minha memória.
Não tinha época certa. Bastava que alguém com o corpo a pedir folia se lembrasse disso e lançasse o repto:
- Vamos correr com as rodas?
Aceite este desafio, cada um de nós corria até casa para ir buscar a sua roda, bem como o indispensável guiador.
Eu e os do meu bando, nos anos cinquenta do século passado, tínhamos no Largo do Espírito Santo, em Estremoz, o Quartel-General das nossas operações. Ali nascemos e ali crescíamos, temperados pelas brincadeiras que nos enchiam as medidas.
Éramos: eu, o Rodrigo André e o irmão, o Manuel Maria Gato, o Armando Pereira, o António Maria Craveiro, o Manuel da Avó e o Jorge Maluco.
As rodas eram das mais diversas: aro cilíndrico de ferro maciço, roda de bicicleta, aro de pneu e cinta metálica de barril ou de pipa. Esta última era a mais difícil de conduzir e era sempre um “desenrascanço” que se arranjava à do Silva, tanoeiro da Horta do Quinton, na rua da Levada, onde funcionava a Fábrica de Conservas “Alves e Martins, Lda”. A de pneu também desenrascava e tinha uma boa aderência ao solo, o que era uma vantagem para os mais inábeis. Já a roda de bicicleta era uma senhora roda, pois pelo seu maior diâmetro, atingia facilmente maior velocidade, com menos esforço, além de que pela maior largura do aro, assentava melhor no solo, o que lhe conferia uma maior estabilidade. Porém, para os mais hábeis, o “fórmula 1” das rodas, era o aro cilíndrico de ferro maciço, com menor diâmetro que as rodas de bicicleta, mas também mais estreito e pesado que aquelas. Tomava cá uma embalagem… E esta era tanto maior quanto maior fosse o diâmetro do aro.
Um complemento indispensável à boa condução da roda era o “guiador”, confeccionado com arame ou varão de ferro, tendo numa das extremidades um desvio em U, para encaixe, condução e orientação da roda. Este desvio era para o lado esquerdo da extremidade no caso dos dextros e para o lado direito da extremidade no caso dos canhotos. A outra extremidade era aquela pela qual se empunhava o guiador e tinha uma dobra a 180º, para não ferir a mão, podendo mesmo possuir uma protecção improvisada, como tiras de pano enrolado ou um cabo de madeira ou de cortiça. O guiador em varão de ferro era o mais apreciado e devia ter um tamanho adequado que facilitasse a condução da roda. Quanto maior fosse o guiador, mais fácil era a condução da roda. Porém, o controle destas nas curvas, aconselhava a que o guiador não fosse demasiadamente grande. E nós sabíamos o tamanho exacto a dar ao nosso guiador.
As corridas de rodas realizavam-se em qualquer altura do ano, mas eram mais apreciadas na Primavera ou nos dias de Inverno sem chuva, já que assim davam para aquecer o corpo com o esforço e não havia o risco de derraparmos e nos estatelarmos no chão molhado. Já de Verão eram absolutamente desaconselháveis, uma vez que com a calorina, ficávamos com os bofes de fora.
Reunidos os apetrechos para a corrida, combinávamos o local de partida, o trajecto e o local de chegada. A única regra era que não valia empurrar.
Um dos trajectos possíveis era: Largo do Espírito Santo junto ao lampião (descida e viragem à direita), Rua da Levada, Travessa da Levada (viragem à direita), Rua do Almeida (viragem à direita), Largo da Liberdade (viragem à esquerda), Rua do Casco (subida e viragem á direita), Rua das Freiras (viragem à direita) e Largo do Espírito Santo (onde se localizava a meta).
Dada a partida por quem havia sido acordado que o fizesse, começávamos alinhados, mas a partir daí, era “o ver se te avias”, “pernas para que te quero”, acondicionadas por muita genica e uma vontade indomável de ganhar.
Circulava-se então bem pelas ruas, pois estas não estavam apinhadas de carros e os eventuais transeuntes colaboravam, desviando-se, avisados pela sonoridade galopante das próprias rodas, especialmente as de ferro maciço e as de bicicleta, que à medida que galgavam a calçada à portuguesa, em uníssono com ela, gemiam ais capazes de fazer ressuscitar um morto bem falecido. Corria-se à roda livre, embora se ouvisse por vezes alguma vociferação mais rabugenta.
- Lá andam os gaiatos a correr outra vez! Não há maneira de sossegarem!
Apesar disso, a maioria das pessoas era compreensiva, sabia tal como nós, que a brincadeira era o nosso trabalho, era a nossa maneira de aprendermos a ser grandes. Por vezes lá tínhamos que nos desviar da carroça de algum aguadeiro ou de uma casa agrícola, que circulavam pelas ruas. Porém, era raro.
Por vezes, sobretudo nas curvas, alguém mais inábil deixava cair a roda, pelo que se tinha de abaixar para a apanhar e poder prosseguir a corrida. Porém, a vitória era então mais difícil. Os outros nem pestanejavam, pois corrida é corrida e concentração e empenho são receitas de êxito.
Na subida da rua do Casco é que se via quem tinha pernas. Era aqui que se esfrangalhava o pelotão, que entrava na recta final da rua das Freiras. A descida do largo do Espírito Santo era já realizada em travagem a fundo, com o Alegrete à direita e a Casa do Manuel Maria Gato ao fundo, a ameaçar estamparmo-nos nela.
À chegada, o vencedor ufanava-se com um sonoro e repetido:
- Ganhei! Ganhei! Ganhei!
Os vencidos diziam então de suas razões, esperançados que estavam em melhores dias.
Descansava-se então um bocado, para retemperar as forças e só depois se partia para outra brincadeira, que até podia ser nova corrida de rodas, se a exigência de desforra por parte de alguém fosse aceite pela maioria.
Um campeão de corrida de rodas é fruto da conjugação de múltiplos factores: boa tracção às pernas, bom fôlego, calçado aderente, estratégia adequada, bom equipamento (roda e guiador), perícia (especialmente nas curvas) e, é claro, espírito de ganhador. Tirando este último, não reunia por vezes todas estas condições, pelo que nunca passei dum condutor mediano. Nunca deu para ser um ás da corrida de rodas. Fui um ás, mas noutro jogo, o do botão. Lá diz o rifão:
- “A roda anda, anda, mas também desanda”. 0
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Cerâmica grega de figuras vermelhas do Pintor de Berlim (Cerca de 500-490 a.C.). Do lado A, Ganimedes segurando um arco, símbolo da sua juventude e na outra um galo, oferta amorosa de Zeus que o persegue e está representado no lado B do vaso.Museu do Louvre, Paris.
 
JOGOS INFANTIS (1560) - Pieter Brueghel – O Velho (c.1525 - 1569). Óleo sobre painel de madeira (118 x 161 cm).Museu de História de Arte, Viena.
BRINCADEIRAS INFANTIS (1774) - Gravura de Daniel Nikolaus Chodowiecki (1726–1801), extraída de “J. B. Basedows Elementarwerk mit den Kupfertafeln Chodowieckis u.a. Kritische Bearbeitung in drei Bänden, herausgegeben von Theodor Fritzsch. Dritter Band. Ernst Wiegand, Verlagsbuchhandlung Leipzig 1909". 
AFONSO, PRÍNCIPE IMPERIAL DO BRASIL, FILHO PRIMOGÉNITO DE D. PEDRO II (1846) - Pintura de Joahn Moritz Rugendas (1802–1858).
TEATRO NACIONAL DE MANNHEIM (1853) - Artaria Mathias (1814-1885). Detalhe de óleo sobre tela. Museu Reiss-Engelhorn, Mannheim.
O JARDIM DO LUXEMBURGO (CERCA DE 1883) - Pierre August Renoir (1841-1919). Óleo sobre (53x64 cm). Colecção particular.
RAPARIGA COM UMA RODA (1885) - Pierre August Renoir (1841-1919). Óleo sobre tela (76,6x125,7 cm) . Colecção Chester Dale - Galeria Nacional de Arte, Washington. 

RAPAZES CORRENDO COM RODAS NA CHESNUT STREET, TORONTO (1922). Fotografia do Arquivo da Biblioteca Pública de Toronto.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Estremoz - Presépio de trono ou altar

Presépio de trono ou altar, produzido actualmente pelas irmãs Flores, segundo o
modelo criado nos anos 40 do século XX, por Mariano da Conceição (1903-1959).

O PRESÉPIO
Entrámos no período de Natal. Este é a festividade cristã que enaltece o nascimento de Jesus Cristo. A data da sua celebração ocorre a 25 de Dezembro (Igreja Católica Apostólica Romana) ou a 7 de Janeiro (Igreja Ortodoxa). O Natal é, de resto, mundialmente encarado por pessoas de diferentes credos, como o dia consagrado à família, à paz, à fraternidade e à solidariedade entre os homens.
Um dos grandes símbolos religiosos, que retrata o Natal e o nascimento de Jesus é o presépio. De acordo com Rafael Bluteau [2] e Cândido de Figueiredo [4], a palavra “presépio” provem do latim “praesepium”, que genericamente significa curral, estábulo, lugar onde se recolhe gado e que, numa outra óptica designa qualquer representação do nascimento de Cristo, de acordo com os Evangelhos. E que dizem estes?
REFERÊNCIAS BÍBLICAS AO PRESÉPIO
LUCAS 2:
“1. Naqueles tempos apareceu um decreto de César Augusto, ordenando o recenseamento de toda a terra.
2. Este recenseamento foi feito antes do governo de Quirino, na Síria.
3. Todos iam alistar-se, cada um na sua cidade.
4. Também José subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à Cidade de David, chamada Belém, porque era da casa e família de David,
5. para se alistar com a sua esposa Maria, que estava grávida.
6. Estando eles ali, completaram-se os dias dela.
7. E deu à luz seu filho primogénito, e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria.
8. Havia nos arredores uns pastores, que vigiavam e guardavam seu rebanho nos campos durante as vigílias da noite.
9. Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor refulgiu ao redor deles, e tiveram grande temor.
10. O anjo disse-lhes: Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo:
11. hoje vos nasceu na Cidade de David um Salvador, que é o Cristo Senhor.
12. Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura.
13. E subitamente ao anjo se juntou uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus e dizia:
14. Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos homens, objectos da benevolência {divina}.
15. Depois que os anjos os deixaram e voltaram para o céu, falaram os pastores uns com os outros: Vamos até Belém e vejamos o que se realizou e o que o Senhor nos manifestou.
16. Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura.
17. Vendo-o, contaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino.
18. Todos os que os ouviam admiravam-se das coisas que lhes contavam os pastores.“
MATEUS 2 :
“1. Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do oriente a Jerusalém.
2. Perguntaram eles: Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.
3. A esta notícia, o rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalém com ele.
4. Convocou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo.
5. Disseram-lhe: Em Belém, na Judeia, porque assim foi escrito pelo profeta:
6. E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo {Miquéias 5,2}.
7. Herodes, então, chamou secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a época exacta em que o astro lhes tinha aparecido.
8. E, enviando-os a Belém, disse: Ide e informai-vos bem a respeito do menino. Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-lo.
9. Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que e estrela, que tinham visto no oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o menino e ali parou.
10. A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria.
11. Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra.
12. E, sendo por divina revelação avisados em sonhos para que não voltassem para junto de Herodes, partiram para a sua terra por outro caminho.”
Entre os biblistas é consensual que o aparecimento da estrela se refere à estrela de Jacob, profetizada por Balãao: “Eu o vejo, mas não é para agora, percebo-o, mas não de perto: um astro sai de Jacob, um ceptro levanta-se de Israel, que fractura a cabeça de Moab, o crânio dessa raça guerreira.” (Números 14,17).
A exegese vê na chegada dos reis magos o cumprimento da profecia contida no livro dos Salmos (72, 11): “Todos os reis hão de adorá-lo, hão de servi-lo todas as nações”.
SIMBOLISMO DO PRESÉPIO
O presépio é assim uma referência cristã que nos remete para o nascimento de Jesus numa gruta de Belém, na companhia de José e Maria, que ali pernoitaram na sequência do recenseamento de toda a Galileia.
Jesus terá nascido numa manjedoura destinada a animais e foi reconhecido após o nascimento, por pastores da região, avisados por um anjo, e, dias mais tarde, por Reis Magos vindos do Oriente, guiados por uma estrela e que terão chegado até Jesus no dia 6 de Janeiro, data que em presentemente se comemora o “Dia de Reis”.
Segundo a tradição vigente terão sido três os Reis Magos:
- BELCHIOR (representante da raça europeia) que terá oferecido ouro;
- BALTASAR (representante da raça africana) que terá oferecido mirra;
- GASPAR (representante da raça asiática) que terá oferecido incenso.
Pela sua diversidade, os magos simbolizam uma homenagem universal a Jesus. Também as prendas ofertadas têm um simbolismo que resume o evangelho e da fé cristã:
- O OURO - oferecido unicamente a Reis, representa a realeza de Jesus;
- A MIRRA - simboliza Jesus como Homem, o sofrimento que iria ter ao longo da sua vida e os suplícios porque passou até à morte, sendo que foi sepultado por José de Arimatéia e Nicodemos, que conforme costume judaico o embalsamaram (João 19: 39 e 40).
- O INCENSO - representa a divindade e a fé, uma vez que o incenso é usado nos templos para simbolizar a oração que chega a Deus, tal como a fumaça sobe ao céu: “Que minha oração suba até vós como a fumaça do incenso, que minhas mãos estendidas para vós sejam como a oferenda da tarde” (Salmos 141:2).
PRESÉPIOS DE ESTREMOZ
Conhecem-se presépios de barro de Estremoz desde o séc. XVIII e crê-se que eles terão sido aqui introduzidos pelos monges do Convento de S. Francisco edificado em meados do séc. XIII e cuja tradição presepista é bem conhecida, desde que o fundador da Ordem, S. Francisco de Assis, montou o primeiro presépio do mundo em Greccio (Itália), no Natal de 1223, com a função didáctica de explicar o nascimento de Jesus, ao mesmo tempo que desgostado com as liberdades da Natividade dentro dos Templos, sustinha a adoração do Natal, como nos diz Luís Chaves [3].
A produção dos presépios de Estremoz e dos bonecos de Estremoz não está actualmente em risco. Todavia, nem sempre foi assim. Segundo D. Sebastião Pessanha (1892-1966) os últimos presépios feitos em Estremoz, terão sido uma encomenda que fez para si e para o Museu Etnológico de Belém, em 1916. Por outras palavras, os bonecos de Estremoz foram dados como extintos. Como ressurgiram então? Graças à acção de José Maria de Sá Lemos (1892-1971), escultor, natural de Vila Nova de Gaia, discípulo de Mestre Teixeira Lopes e director nos anos 30 da Escola Industrial de António Augusto Gonçalves. Quando ele chegou a Estremoz, o artesanato em barro, estava na mais completa decadência, apenas se confeccionando peças de olaria para uso doméstico. Alimentou então o sonho do ressurgimento dos bonecos de Estremoz e conseguiu concretizar esse sonho. Como director da Escola deu forte incentivo aos Cursos de Olaria e de Cantaria e com o apoio de Mariano da Conceição (1902-1959), estimulou a recuperação dos bonecos dados como extintos.
PRESÉPIO DE TRONO OU DE ALTAR
Para além dos modelos de presépio existentes, Sá Lemos induz Mariano da Conceição a criar um modelo de presépio que reúne num trono de cascata de Santo António, as figuras principais dum presépio. É o chamado presépio de trono ou de altar, com figuras montadas em cantareira de barro, pintada à maneira tradicional das casas alentejanas.
Para Mariano da Conceição, o presépio (estábulo, curral) é o interior de uma casa tradicional alentejana, toda caiada de branco, mas com rodapés e ornamentos do topo da fachada, pintados com a marca regional de azul do Ultramar. Por outro lado, o parapeito do varandim superior está decorado com tijolos dispostos regularmente em zig-zag, entre duas fiadas horizontais de tijolos.
As figuras do presépio são em número de nove e encontram-se dispostas hierarquicamente em três degraus da cantareira, hierarquizados de baixo para cima e da esquerda para a direita:
1º DEGRAU - OS PASTORES: - pastor ofertante em pé com um cesto com uma pomba branca; - pastor ajoelhado e de cabeça descoberta, orando com o chapéu à frente; - pastor ofertante em pé, segurando um borrego e com tarro enfiado no braço esquerdo.
2º DEGRAU – A SAGRADA FAMÍLIA: - Nossa Senhora ajoelhada; - Menino Jesus deitado numa manjedoura; - São José ajoelhado.
3º DEGRAU – OS REIS MAGOS: Gaspar, Baltazar e Belchior. Todos de pé e segurando as respectivas ofertas.
Na parede, por detrás dos reis magos, rasgam-se duas janelas de arco românico. A da esquerda, através da paisagem que por ela se vislumbra, contextualiza o local, onde na realidade nasceu Jesus. Por isso, esta janela mostra-nos, ao longe, uma casa de perfil palestiniano, ladeada por uma palmeira, árvore característica da região. Quanto à janela da direita, revela-nos o firmamento e nele a estrela, símbolo do poder divino que iluminou e conduziu os reis magos a Jesus.
O chão onde assentam todas as figuras é verde, pintalgado de branco, numa alegoria à erva usada para atapetar o chão dos estábulos e fazer a cama aos animais. Curiosamente, deste presépio estão ausentes a vaca e o jumento junto da manjedoura, geralmente representados nos presépios, de acordo com uma simbologia inspirada em Isaías 1:3 que diz: “O boi conhece o seu possuidor, e o asno, o estábulo do seu dono; mas Israel não conhece nada, e meu povo não tem entendimento”.
As cores utilizadas na decoração do presépio de trono ou altar, são: branco, azul do ultramar, amarelo de crómio, vermelhão, verde bandeira, cor-de-rosa, ocre e preto.
Entremos agora na descrição pormenorizada das figuras de cada um dos andares do altar:
PASTORES – São pastores alentejanos trajando à moda da primeira metade do século XX: bota caneleira de cabedal atacoada do lado de fora, calça grossa de saragoça ou burel, pelico de pele de borrego, por cima de jaqueta ou casaco de trabalho, em ganga azul. Por debaixo de tudo, uma camisa branca fechada em cima por um par de botões. Ao ombro uma típica manta alentejana de Reguengos, forma alegórica de referir o frio que faz entre nós no período de Natal. Os pastores estão aqui despojados dum atributo que lhes é habitual: o cajado.
SAGRADA FAMÍLIA – Nossa Senhora está ajoelhada e de mãos postas em atitude de oração. Tem um vestido azul comprido, com gola multicolor e sobre a cabeça um manto igualmente azul, com a orla igualmente multicolor. Repare-se no pormenor de Nossa Senhora ter a cabeça e com ela o cabelo coberto pelo manto. Para além da natural contextualização em termos de usos e costumes da época em que nasceu Jesus, a esta representação não será também estranho o reconhecimento da realidade vigente entre nós na primeira metade do século XX e que impedia qualquer mulher de entrar num local de culto, de cabeça descoberta.
O Menino Jesus está deitado, nu, nas palhinhas de uma manjedoura alentejana com friso decorado a azul do Ultramar. Na manjedoura, quatro pombas brancas, simetricamente pousadas, reforçam a ideia subjacente de Paz. Um galo branco postado ao centro da manjedoura parece cantar, como quem alegoricamente anuncia um novo dia: o dia de Natal, em que nasceu Jesus.
São José veste uma túnica curta azul, com bainha amarela e cabeção multicolorido, em fundo branco. Veste calça branca e botas pretas. Ajoelhado junto de Jesus, olha para o alto. A sua mão direita firma-se a um bordão com flor na ponta e a mão esquerda está assente no coração. A representação configura uma atitude de agradecimento a Deus pela graça recebida.
REIS MAGOS – Coroados, devido à sua real condição. Usam bota fina pintada de preto, com um botão amarelo em cima e calça branca, que como é sabido é uma cor cativa, possível referência alegórica aos reis magos estarem afastados das fainas quotidianas que maculam o vestuário. Vestem túnicas curtas debruadas a amarelo, mas cada uma delas de sua cor: Gaspar (cor de rosa), Baltasar (vermelhão) e Belchior (azul). Todas as túnicas têm um cabeção branco. Nos ombros têm um manto, amarelo à frente e zarcão atrás.
O presépio de trono ou de altar, existe em três tamanhos. No caso dos produzidos pelas irmãs Flores, que foi aqueles que estudámos têm as seguintes características:
- Formato pequeno (13x14x21 cm): figuras com 12 cm de altura;
- Formato médio (16x16x25,5 cm): figuras com 15 cm de altura;
- Formato grande (22x21,5x36,5 cm): figuras com 20 cm de altura.
A FINALIZAR
Para além do chamado presépio de trono ou de altar, existem outros modelos de presépios de Estremoz, que oportunamente serão por nós, objecto de outros posts.
BIBLIOGRAFIA
[1] - ABELHO, Azinhal. Barros de Estremoz. Edições Panorama. Lisboa, 1964.
[2] – BLUTEAU, Raphael. Vocabulario Portuguez & Latino. Real Colégio das Artes da Companhia de Jesus. Coimbra, 1713.
[3] - CHAVES, Luís. O primeiro «Presépio» de Lisboa conhecido (Século XVII). In, O Archeologo Português. Lisboa, Museu Ethnographico Português. S. 1, vol. 21, n.º 1-12 (Jan-Dez 1916), p. 229-230.
[4] – FIGUEIREDO, Cândido de. Novo Diccionário da Língua Portuguesa. Editora T. Cardos & Irmão, 1899.
[5] – PESSANHA, Sebastião. Os bonecos d’Estremoz. In, Terra Portuguesa, I-II, 1911, p. 105.



Mariano da Conceição (1903-1959), criador do presépio de trono ou de altar,
trabalhando na sua oficina. Fotografia de Rogério de Carvalho (1915-1988),
obtida nos anos 40 do séc. XX.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Gíria portuguesa ilustrada - 3

Altar = Seios femininos [3]
Bilhete-postal ilustrado de fabrico francês, dos meados do séc. XX.

Beber como uma esponja = Ser bom bebedor [3]
Bilhete-postal ilustrado de fabrico português, dos meados do séc. XX.

Cabrito = Homem que costuma dar dinheiro às amantes [4]
Bilhete-postal ilustrado de fabrico português, dos meados do séc. XX.

Cábula = Estudante que não estuda a lição [1]
Bilhete-postal ilustrado de fabrico português, dos meados do séc. XX.

Dormir como um porco = Dormir profundamente [5]
Bilhete-postal ilustrado de editor desconhecido, dos primórdios do séc. XX.

Preto como um tição = Muito preto [2]
Bilhete-postal ilustrado de fabrico português, dos meados do séc. XX.

Preto da Casa Africana = Pessoa que vai muito carregada [2]
Bilhete-postal ilustrado de fabrico português, dos meados do séc. XX.

Seca - Adegas = Bêbado [2]
Bilhete-postal ilustrado de editor desconhecido, dos primórdios do séc. XX.



BIBLIOGRAFIA

[1] - BESSA, Alberto. A Gíria Portugueza. Gomes de Carvalho - Editor. Lisboa, 1901.
[2] - NEVES, Orlando. Dicionário de Expressões Correntes. Editorial Notícias. Lisboa, 1998.
[3] - NOBRE, Eduardo. Dicionário de Calão. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1986.
[4] - PRAÇA, Afonso. Novo Dicionário de Calão. Editorial Notícias. Lisboa, 2001.
[5] - SIMÕES, Guilherme Augusto. Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1993.

Mitologia Popular do Natal


Bento Coelho da Silveira (1620-1708). Adoração dos Pastores.

A presente colectânea de superstições e tradições populares sobre o Natal, recolhidas de três fontes bibliográficas distintas, cujos autores as recolheram da tradição oral, mostra novamente a riqueza da Mitologia Popular Portuguesa:
- Cerca de um mês antes do Natal, lançam trigo ou cizirão num pequeno recipiente, o qual vai sendo continuamente borrifado com água. São as searinhas do Menino Jesus, utilizadas posteriormente na decoração dos presépios (Elvas). [3]
- A construção ou reparação do lar deve ser efectuada na noite de Natal. [1]
- À meia-noite do dia de Natal deve sair-se para o campo e colher arruda, alecrim, salva e erva-terrestre. A arruda frita-se em azeite para usar nas fricções e das outras plantas faz-se chá para beber quando se está doente. [1]
- A rosa de Jericó desabrocha na noite de Natal, conservando-se aberta até ao dia da Purificação. [1]
- À rosa de Jericó é atribuída a virtude de facilitar o nascimento das crianças. Para tal, a rosa é lançada numa tigela com água e à medida que vai abrindo, o parto é facilitado. A planta é vendida pelos judeus ambulantes, sendo boa para a enxaqueca quando se aspira o aroma que exala ao abrir-se. C$olocada num oratório na noite de Natal, encontra-se aberta pela manhã. (Elvas). [2]
- Na noite de Natal percorrem as ruas, ao som da ronca e em grandes cantorias. (Elvas). [3]
- Quando canta na noite de Natal, o galo diz: “Jesus é Cristo.” (Elvas). [2]
- Na noite de Natal, os rapazes costumam assar muitas pinhas, costumando guardar os cascos das que são mansas, meio-queimadas, para serem incendiadas por altura de trovoadas, a fim destas passarem. (Barcelos). [2]
- Havendo luar na noite de Natal, é sinal de no próximo ano haver muito leite. [2]
- Devem-se comer cinco bagos de uva quando a hóstia é erguida na missa da noite de Natal, a fim de evitar dores de cabeça. [3]
- Uvas comidas seguidamente à meia-noite de Natal, livram de sezões (Évora). [1], [2]
- É bom ficar a mesa posta no fim da ceia de Natal, que é para os Apóstolos virem comer. (Barcelos). [2]
- Ao meio-dia do dia de Santa Bárbara devem deitar-se algumas galinhas para tirarem na noite de Natal. Todo o galo nascido nessa noite, cantará sempre à meia-noite. [1]
- As pessoas nascidas no dia de Natal ou de Ano Bom são muito felizes. [1]
- As pessoas nascidas no dia de Natal vivem muito tempo. [1]
- O cepo da fogueira do Natal e os cotos de velas usadas nessa época, têm grandes virtudes contra as coisas más. [1]
- O vento que sopra à meia-noite do dia de Natal, não muda de direcção até ao dia de São João. [1]
- Para curar uma pessoa de ataques epilépticos, esta deve ser medida com uma cana, a qual na noite de Natal deve ser colocada por detrás do altar do Menino Jesus. [1]
- No presépio, a mula espalhava o feno e a vaca juntava-o. Daí a maldição de Nossa Senhora à mula: —"Não parirás! — prometendo à vaca que a carne dela seria a que sustentaria mais (Elvas). [2], [3]

BIBLIOGRAFIA
[1] - PEDROSO, Consiglieri. “Supertições Populares”, O Positivismo: revista de Filosofia, Vol. III e IV. Porto, 1981-1882.
[2] - PIRES, THOMAZ A. A noite de Natal, o Anno Bom e os Santos Reis (2ª edição). António José Torres de Carvalho. Elvas, 1923.
[3] – PIRES, THOMAZ A. Tradições Populares Transtaganas. Tipographia Moderna. Elvas, 1927.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 22 de Dezembro de 2010

domingo, 19 de dezembro de 2010

Nós por cá todos bem




COMUNICAÇÃO "ON LINE"
A comunicação “on-line” está na ordem do dia. Qualquer um de nós é protagonista diário de uma saga que tem a ver com rotinas diárias que passam pela utilização da www, nos seus múltiplos aspectos:
- Motores de busca para recolha de informação;
- Correio electrónico para difusão de mensagens;
- Blogues e web sites para editar textos, imagens e sons;
- Redes sociais como o Facebook, para convívio e partilha de informação.
Hoje os eventos ocorrem à escala planetária e a sua divulgação processa-se à velocidade de um click.
Somos cidadãos do Mundo e neste ano de 2010, em que se comemora o Centenário da I República Portuguesa, quer queiramos ou não, somos os herdeiros lusitanos da Revolução Francesa, arautos dos valores da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade entre os homens.
Pesem embora alguns desvios de percurso, aqueles são valores que permanecem actuais e que urge honrar e revitalizar, porque os grandes valores são eternos. Têm a dimensão do Homem e/ou de Deus. A opção fica ao critério de cada um, porque é isso que é ser um Homem Livre.
PROBLEMÁTICAS SUSCITADAS PELA COMUNICAÇÃO “ON-LINE”
Hoje não podemos estar de costas viradas uns para os outros. A Liberdade exige Responsabilidade e não pode ser Anarquia em nome do combate à Tirania. A Cidadania exige que cada um de nós dê a cara e se assuma de corpo inteiro, não se refugiando no anonimato ou o que é pior do que isso, não se mascarando cobardemente atrás de um pseudónimo, que muitas das vezes não é mais que o auto-reconhecimento da incapacidade de ser um Homem Livre.
Hoje, comunicar é importante. Tão importante como respirar ou comer. É igualmente um acto que deve ser assumido de uma forma ética. Hoje, não é admissível que ninguém, em nome de nenhuns pseudo-valores, tente rebaixar os outros, para se elevar a si próprio. Hoje e muito bem, fala-se em Ética da Comunicação.
Hoje, que somos Homens Livres, devemos ter respeito pela Dimensão dos Outros, bem como respeito pela Propriedade e entre ela a Propriedade Intelectual. Um acto de comunicação na www, não pode ser um mero acto de corte e colagem. São atitudes que devem ser reprovadas pela Comunidade. A Elevação do Homem é fruto necessariamente do Trabalho e do Aperfeiçoamento, mas nunca da facilidade, nem do facilitismo.
São estes alguns dos valores em que acredito. Por eles dou a cara no blogue ESTREMOZ NET (http://estremoznet.blogspot.com), no qual, como diria Ives Montand, sou “compagnon de route” de amigos que não pensam como eu, mas que eu respeito na sua individualidade, porque como Homens de Corpo Inteiro, dão a Cara, na defesa dos ideais em que acreditam. Posso discordar deles, mas respeito-os.
Essa a Postura que será sempre a minha, nesse blogue cujos membros, numa atitute tipicamente cristã, ali resolveram partilhar o seu amor a Estremoz.
BLOGUE “ESTREMOZ NET”
“ESTREMOZ NET“ é um espaço de Encontro e de Caminhada, para quem ama Estremoz, o qual assumiu a forma de um blogue de âmbito local e regional, generalista e que se orienta pelos princípios da liberdade, do pluralismo e da independência, procurando assegurar a todos o direito ao debate construtivo e responsável. Como tal, respeita os direitos, deveres, liberdades e garantias consignadas na Constituição da República Portuguesa. Por isso, assume-se como independente de todos os poderes políticos e económicos, bem como de qualquer credo, de qualquer doutrina ou ideologia, respeitando todas as opiniões ou crenças. As opiniões políticas, doutrinárias ou ideológicas ali veiculadas, apenas vinculam os respectivos autores.
“ESTREMOZ NET" é integrado por bloggers que validarão sempre com o seu nome, os respectivos posts e tem a particularidade de não publicar comentários anónimos, mas unicamente os comentários de leitores devidamente identificados.
"ESTREMOZ NET" considera a sua acção como de serviço público, com respeito total pelos seus leitores, em prol do desenvolvimento da identidade e da cultura local, regional e nacional, da promoção do progresso económico, social e cultural das populações e do reforço da independência nacional e da paz. Estes são de resto, os princípios consignados no Estatuto Editorial do blogue.
Criado a 27 de Março de 2010, é integrado por 27 membros e tem como administradores António José Ramalho, José Capitão Pardal e Hernâni Matos. Da equipa de 27 bloggers, 7 ainda não chegaram a postar, provavelmente porque se dividem por múltiplas tarefas e outros têm postado espaçadamente. Todavia há um “núcleo duro” que assegura a continuidade e a permanência do blogue colectivo que veio para ficar. A sua saúde está bem e recomenda-se. De resto, não se trata de uma federação de blogues locais contra ou a favor de alguém, mas apenas de um espaço de Encontro e de Caminhada, para quem ama Estremoz, onde se valorizam questões como: Liberdade versus responsabilidade; - Anonimato e Identificação; - Ética da comunicação; - Propriedade Intelectual.
Outros números: até à presente data foram postadas 186 mensagens e verificaram-se 10849 visitas, o que corresponde a uma média de 35 por dia. O que não é mau, se atendermos a que é um blogue que entronca na realidade local.
BLOGUE “DO TEMPO DA OUTRA SENHORA”
Tem endereço http://dotempodaoutrasenhora.blogspot.com . Surgido a 20 de Fevereiro passado, trata-se do meu blogue pessoal, de autor, com posts originais, fruto da criação literária e da recolha etnográfica. Aí como blogger assumo “A escrita como Instrumento de Libertação do Homem” e centro a escrita em conteúdos que têm a ver com Estremoz e o Alentejo, muito particularmente os Usos e Costumes, a Arte Popular e a Identidade Cultural Alentejana. E sobretudo muito, mas muito humor, humor às carradas, com base em factos da vida real, que são “do tempo da outra senhora”.
Alguns números relativos a este blogue: até à presente data foram postadas 75 mensagens, o que corresponde a uma média de 1,8 mensagens por semana. Verificaram-se até agora 25527 visitas, o que corresponde a uma média de 148 por dia. O que seria bom para um blogue de âmbito local, mas que é fraco para um blogue que se assume como de âmbito nacional. De qualquer modo, a visualização do blogue tem vindo a consolidar-se e é caso para dizer que “Roma e Pavia não se fizeram num dia”. O blogue que aposta forte na selecção de links para outros blogues, tem 108 seguidores através do “Google Rede Social” e 33 através dos “Networked Blogs”. Até agora os seus 75 posts receberam 295 comentários, o que corresponde a uma média de 3,9 comentários por post e é revelador da interactividade que este blogue suscita.
Este blogue tem como rectaguarda no Facebook um Grupo de Fãs homónimo do blogue, integrado até ao presente por 1534 membros, número que cresce diariamente.
MENSAGEM FINAL
Contra aquilo que apregoam alguns profetas da desgraça, apetece-nos parafraser o cineasta Fernando Lopes, dizendo:“NÓS POR CÁ TODOS BEM!”

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Armando Alves - O sentido de um trajecto


Foi inaugurada no passado dia 11 de Dezembro, no Centro Cultural Dr. Adriano Moreira, em Bragança, uma exposição antológica da obra de Armando Alves. A exposição realizada a convite do Presidente da Câmara Municipal, António Jorge Nunes, estará patente ao público até finais de Janeiro, donde seguirá para Zamora (Espanha).
A exposição intitulada “O sentido de um trajecto” coroa 60 anos de carreira do artista e engloba trabalhos seus dos anos 50 do século passado até aos nossos dias.
Armando Alves nasceu em Estremoz em 1935. Estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa, e na Escola Superior de Belas-Artes do Porto. Aqui conclui o curso de Pintura com vinte valores, o que originou, em 1968, a formação do grupo “Os Quatro Vintes” com Ângelo de Sousa, José Rodrigues e Jorge Pinheiro, com o qual se apresenta em exposições no final da década de 60. Entre 1963 e 1973 foi professor assistente na escola portuense, tendo aí introduzido o estudo das Artes Gráficas. A sua saída da Escola implicou, aliás, a dedicação às artes gráficas como responsável por essa área na Editorial Inova, fundada no Porto em 1968, e foi nesse domínio que recebeu o 1º prémio da Grafiporto, em 1983.
Tendo começado por uma figuração que pode aproximar-se do universo neo-realista, optou seguidamente por um informalismo matérico desenvolvido na década de 60. Nos anos 70 dedica-se à construção de objectos pintados, de grande depuração formal. A partir dos anos 80 retoma os valores da paisagem que reformula à luz de um abstraccionismo lírico.
Começou a expor individualmente em 1964, na Escola Superior de Belas-Artes do Porto para apresentar exclusivamente trabalhos de artes gráficas. Neste ano expõe na Cooperativa Árvore, onde voltaria em 1985 e 1993. Em 1978 e 1981 realiza exposições na Galeria do Jornal de Notícias, no Porto e em 1987 e 1990 apresenta-se na Galeria Nasoni, Porto. Em 1994 e 1995 expõe na mesma cidade, respectivamente na galeria Degrau Arte e na Galeria Fernando Santos. Em 1996 realiza nova exposição na Pousada de S. Francisco, em Beja, e em 1997 na Galeria Municipal de Vila Franca de Xira e na Galeria da Praça, Porto. Em 2001 expõe na Sala Maior, na cidade do Porto.
Com o grupo “Os Quatro Vintes” realizou exposições na Galeria Dominguez Alvarez, Porto (1968), Galeria Zen, Porto (1969), Sociedade Nacional de Belas-Artes (1969) e Galeria Jacques Desbrière, Paris (1970).
Entre 1997 e 2007 participou em exposições no Brasil, Chile, Cabo Verde, Maputo e Ryahd – Arábia Saudita. De então para cá tem realizado várias exposições individuais e participado em muitas outras exposições colectivas.
No dia 10 de Junho de 2006 é agraciado pelo Presidente da República com o Grau de Grande Oficial da Ordem de Mérito. Em Outubro desse mesmo ano, é homenageado pelo Município de Estremoz com a Medalha de Mérito Municipal – Ouro. Em Dezembro de 2009, recebe o “Prémio de Artes Casino da Póvoa”.
É caso para perguntar, quando é que os estremocenses terão o privilégio de ter entre si uma exposição de pintura de Armando Alves? Esta, a realizar-se, deveria ter por palco um dos locais mais nobres para o efeito: a Galeria D. Dinis ou o Museu Municipal Joaquim Vermelho. Aqui fica o alvitre a aguardar uma resposta.

1954 - Óleo sobre tela (49,5 x 28,5 cm)
1958 - Óleo sobre tela (80 x 47 cm)
1963 - Óleo sobre tela (84 x 99 cm)
1978 - Óleo sobre tela (60,5 x 60,5 cm)
1984 - Óleo sobre tela (63 x 77 cm)
1986 - Óleo sobre tela  (200 x 160 cm)
1995 - Óleo sobre tela (65 x 50 cm)

2003 - Óleo sobre tela (80 x 120)
2009 - Óleo sobre tela (40x40 cm)