terça-feira, 23 de setembro de 2025

A ADOE no rescaldo do 1º Encontro Nacional de Olaria em Évora Monte

 



No passado dia 21 de Setembro tive o privilégio de participar no Castelo de Évora Monte no Colóquio “RECENTRAR - Memória, Barro e Saber-fazer“, integrado no Encontro Nacional de Olaria, que ali teve lugar.

A minha participação foi fruto do honroso convite que me foi formulado pela Senhora Doutora Mathilda Dias Coutinho, coordenadora do projecto de investigação 2LEGACY, no sentido de participar no Colóquio na qualidade de coleccionador e investigador da olaria de Estremoz, convite a que naturalmente acedi e que muito me congratulou.

A minha comunicação subordinada à epígrafe O guardador de memórias e acompanhada de projecção em PowerPoint, teve o seguinte epílogo:

O legado da antiga tradição oleira de Estremoz constitui indiscutivelmente Património Cultural Imaterial de Interesse Municipal. O legado é caracterizado pela excelência dos exemplares oláricos que o integram, o que é revelador da exigência que constitui a sua recuperação e preservação, visando a salvaguarda da identidade cultural estremocense.

Nessa missão está envolvida a ADOE, cujos associados têm recebido formação continuada, ministrada por Mestre Xico Tarefa, visando o seu aperfeiçoamento técnico e artístico. Tal só foi possível com o apoio indispensável e insubstituível do Município de Estremoz e do CEARTE - Centro de Formação Profissional para o Artesanato e Património.


Se me permitem endereço aqui uma saudação muito especial à Inês Crujo, Presidente da ADOE – Associação Dinamizadora da Olaria de Estremoz, que é a timoneira encarregada de “levar o barco a bom porto”. Parafraseando “O Mostrengo”, da “Mensagem” de Fernando Pessoa, é caso para dizer: “Ali ao leme é mais do que ela. É um povo que quer a olaria que é sua”.


Por fim e os últimos são os primeiros, uma saudação também muito especial para Mestre Xico Tarefa, "decano" da olaria de Redondo, reconhecido pelo seu vigoroso contributo para a preservação da arte oleira, o qual tenho o privilégio de conhecer desde o I Encontro Regional de Olaria do Alto Alentejo, realizado em Vila Viçosa, em 1980, há 45 anos atrás. Tem sido ele que com a sua mestria de saber fazer”, empenho e dedicação que são o seu timbre, tem dado formação aos Adoeiros, desculpem-me o neologismo, para que estes sejam bem-sucedidos na nobre missão a que se propuseram: "Revitalizar a produção oleira tradicional de Estremoz. Bem hajam por isso.

Hernâni Matos

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Colóquio “RECENTRAR: Memória, Barro e Saber-fazer “- Encontro Nacional de Olaria

 


Transcrito com a devida vénia de
newsletter do Município de Estremoz,
de 17  de Setembro de 2025.

Nos dias 20 e 21 de setembro, o Castelo de Évora Monte recebe o colóquio "Recentrar: Memória, Barro e Saber-fazer", integrado no programa do Encontro Nacional de Olaria.

O colóquio constitui um espaço de reflexão e debate em torno da memória, do barro e das práticas tradicionais da olaria, reunindo investigadores de diversas instituições portuguesas, convidados de entidades ligadas ao património cultural e ao artesanato, bem como artesãos e colecionadores.

O encontro tem como objetivo aprofundar o diálogo entre o conhecimento académico e o saber-fazer tradicional, valorizando o património material e imaterial da cerâmica e contribuindo para a sua preservação e transmissão às gerações futuras.

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Exposição "O Legado do barro de Estremoz"



Transcrito com a devida vénia de
newsletter do Município de Estremoz,
de 18  de Setembro de 2025.

No próximo dia 19 de setembro, às 15:00 horas, será inaugurada, na Sala de Exposições Temporárias do Museu Municipal Prof. Joaquim Vermelho, a exposição "O Legado do Barro de Estremoz".

A Exposição resulta do projeto de investigação 2LEGACY, dedicado à valorização do uso de barro endógeno — obtido a partir de argilas locais — na produção cerâmica tradicional. Com uma abordagem transdisciplinar, o projeto cruza história, antropologia, ciências exatas e artes, dando visibilidade à importância cultural e patrimonial deste saber-fazer.

A exposição reúne peças históricas de diferentes épocas e obras de olaria resultantes da recuperação do barro endógeno e das práticas tradicionais de Estremoz, realizadas em workshops e residências artísticas. O percurso expositivo acompanha todas as fases do projeto, destacando os processos de recolha, preparação e utilização do barro. Esta exposição é uma oportunidade para conhecer o património associado à olaria e barro de Estremoz.

O projeto de investigação, financiado pelo laboratório colaborativo IN2PAST, intitula-se Explorando o papel das matérias-primas na cerâmica tradicional portuguesa para resgatar o legado de Lepierre para o futuro: 2LEGACY (EXPL/In2Past/2024/15). Foi liderado pelo Laboratório HERCULES (UÉ/IN2PAST), em colaboração com o CRIA (NOVA FCSH/IN2PAST), o Lab2PT (UMinho/IN2PAST), a VICARTE (FCT-UNL/FBAUL), o CENIMAT (FCT-UNL) e a Associação Dinamizadora da Olaria de Estremoz (ADOE).

Contou com a parceria de instituições de referência como o Município de Estremoz, Sèvres – Manufacture et Musée Nationaux, a Fundação Alentejo, o Centro Ciência Viva de Estremoz, Museu da Olaria de Barcelos e a CEARTE.

Venha visitar!

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Colóquio "RECENTRAR / Memória, Barro e Saber-fazer" - Évora Monte, 20 e 21 de Setembro


No âmbito do ENCONTRO NACIONAL DE OLARIA que decorrerá no Castelo de Évora Monte entre 20 e 21 de Setembro, terá lugar o colóquio "RECENTRAR / Memória, Barro e Saber-fazer", que decorrerá naqueles dias, com intervenientes e horário indicados no cartaz do Colóquio, disponível aqui:




quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Museu do Neo-Realismo homenageia o estremocense Rogério Ribeiro



Sessão de homenagem a Rogério Ribeiro
No próximo dia 20 de Setembro, pelas 16 horas, decorrerá no Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira, uma sessão de homenagem ao pintor Rogério Ribeiro (1930-2008), no âmbito da exposição FAZER CRESCER A VIDA – ROGÉRIO RIBEIRO E O NEO-REALISMO, patente nos pisos 1 e 2 do Museu, e que se centra na fase neo-realista do artista.
A sessão conta com as presenças de Ana Isabel Ribeiro, filha de Rogério Ribeiro, José Luís Porfírio, museólogo e crítico de arte, António Mota Redol, em representação da Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo e David Santos, director do Museu do Neo-Realismo. A entrada é livre.

Notas biográficas
Rogério Ribeiro nasceu em Estremoz em 1930, mas cerca de uma década depois já se encontra em Lisboa. Aí ingressa primeiro na Escola de Artes Decorativas António Arroio e depois na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, onde conclui a licenciatura em Pintura.
Nos anos 50, frequenta o atelier de Júlio Pomar, onde conhece Alice Jorge, Vasco Pereira da Conceição, Maria Barreira e Lima de Freitas. Tem depois o seu atelier com Cipriano Dourado.
Expõe pela primeira vez numa exposição colectiva na V Exposição Geral de Artes Plásticas (1950), sendo presença constante até à última dessas exposições (1956). A sua vasta obra desenvolve-se em diversas modalidades artísticas: pintura, gravura, ilustração, tapeçaria e azulejaria.
Em 1953 participa no Ciclo do arroz. Em 1956 foi um dos membros fundadores da Gravura – Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, de cujo catálogo fez parte e na qual desenvolveu intensa actividade.
A sua carreira de professor inicia-se na Escola de Artes Decorativas António Arroio (1961), prossegue na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (anos 70) e mais tarde no Ar.Co (anos 80).
São de 1964 os primeiros trabalhos no âmbito do Design de Equipamento. Autor de cartões de tapeçaria, começou a colaborar com a Manufactura de Tapeçarias de Portalegre em 1961.Desenvolveu intenso labor no âmbito da azulejaria e teve uma actividade intensa como ilustrador.
Dirigiu, desde 1988, a Galeria Municipal de Arte de Almada e a partir de 1993 foi Director da Casa da Cerca — Centro de Arte Contemporânea, em Almada.
Expôs colectivamente desde 1950 e individualmente desde 1954. Está representado em diversas colecções particulares, instituições privadas e museus, tanto em Portugal como no estrangeiro.

Rogério Ribeiro e Estremoz
Rogério Ribeiro vive em Estremoz a sua primeira infância. Os pais fixam-se em Lisboa em 1940, mas ao longo da sua vida, mantém laços estreitos com Estremoz, não só através de familiares aqui residentes, como de amigos como Aníbal Falcato Alves, Jacinto Varela, Armando Carmelo, Francisco Falcato, Joaquim Vermelho e outros. Nos anos 80 do séc. XX chega a utilizar como atelier, o edifício da antiga cadeia, cedido pelo Município.
Rogério Ribeiro foi co-autor do projecto da extinta Galeria de Desenho do Museu Municipal de Estremoz, conjuntamente com Armando Alves, Joaquim Vermelho, José Aurélio e outros, concretizado em 1983, tendo dado um valioso contributo para a recolha de obras de arte por doação de artistas plásticos, as quais integram actualmente as valiosas reservas do Museu Municipal de Estremoz – Professor Joaquim Vermelho.
Estremoz foi palco de três exposições do pintor: - “Rogério Ribeiro / Pintura, desenho e ilustração” (1981), na Biblioteca Municipal; – “Rogério Ribeiro / “Mudam-se os tempos, ficam as vontades” (2005), no Museu Municipal; – “Evocação e memória. Pintura e desenho de Rogério Ribeiro” (2013), na Galeria Municipal D. Dinis.
Em 2006, o Município de Estremoz, presidido por José Alberto Fateixa, outorgou ao artista plástico e a título póstumo, a Medalha de Mérito Municipal - Grau Ouro.
Em 2013, o Município de Estremoz, presidido por Luís Mourinha, perpetuou o nome do pintor na toponímia local, passando a partir daí a existir o topónimo Rua Mestre Rogério Ribeiro.

Todos a Vila Franca!
Rogério Ribeiro é uma figura cimeira das artes plásticas portuguesas com projecção internacional e filho ilustre de Estremoz, cuja vida e obra nos deve encher de orgulho. Daí que eu sugira o envolvimento naquela homenagem, dos estremocenses em geral e do Executivo Municipal de Estremoz em particular. Rogério Ribeiro merece isso e muito mais.


Rogério Ribeiro (1930-2008) na Fábrica Viúva Lamego. Fotografia de Rosa Reis.

Rogério Ribeiro à direita, de camisa branca, no seu atelier em finais dos anos 50, 
acompanhado da esquerda para a direita pelos seus amigos Aníbal Falcato Alves, 
Jacinto Varela e Francisco Alves. Painel fotográfico patente na exposição.

domingo, 24 de agosto de 2025

Berço com bébé, assobio de Maria Luísa da Conceição

 


Fig. 1 - Maria Luísa da Conceição. Berço com bébé (Fig. de assobio).


Preâmbulo
A figura de assobio que é objecto do presente escrito (Fig.1) foi adquirida por mim há cerca de 20 anos à barrista Maria Luísa da Conceição (1934-2015), no decurso de uma visita à sua oficina.
Trata-se de um exemplar invulgar e de produção restrita que foi criado a pedido de uma cliente para ser oferecida como lembrança duma festa de baptizado aos convidados. Terão sobrado alguns assobios e daí eu ter o privilégio de possuir um na minha colecção, à semelhança do que se passa com Jorge da Conceição, filho da barrista.

Descrição
Base achatada, de secção elíptica, pintada de branco, com o tubo de sopro numa das extremidades, na cor natural do barro. Na base (Fig. 2), as marcas: carimbo “ESTREMOZ” (2 cm x 0,8 cm), seguido da marca manuscrita “M. Luísa”.
O motivo central do assobio assente na base descrita é um berço de bébé, de fundo cor de rosa e supostamente para menina, dada a convenção tradicional de cores: cor de rosa (menina), azul (menino). A parte lateral do berço apresenta superfície ondulada, sem decoração alguma. A coberta do berço e o toldo encontram-se decoradas com o que configuram ser flores de corola branca e pétalas azuis. O topo da parte frontal do berço ostenta um laço decorativo em branco. A extremidade da coberta do berço virada para o interior do mesmo encontra-se oculta pela dobra de um lençol branco, junto ao qual assomam as mãozinhas do bébé e a cabecinha assente na almofada, também cor de rosa.

Epílogo
O berço com bébé é uma das mais invulgares criações que constituem o legado da barrista Maria Luísa da Conceição. Daí eu me congratular por ser um dos raros possuidores desta notável figura de assobio.

Hernâni Matos

Fig. 2 - Na base, as marcas: carimbo “ESTREMOZ” (2 cm x 0,8 cm), seguido da marca
manuscrita “M. Luísa”.

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

79 voltas ao Sol

 

O passageiro terrestre com Fátima, sua mulher e Catarina, sua filha.

Escravo involuntário da atracção gravitacional, viajo pelo cosmos como passageiro terrestre. A minha velocidade translacional em relação ao Sol é de 30 Km/s ou seja 10.000 vezes mais lenta que a luz do Sol que nos ilumina. Não sou dado a grandes velocidades. Vão perceber porquê.

No passado dia 19 de Agosto concluí o meu 79º passeio solar. Convenhamos que começa a ser monótono, repetitivo e mesmo cansativo. Com a agravante de ter plena consciência de que como passageiro terrestre a duração do meu passeio ser finita, ainda que indeterminada.

O meu corpo em desagregação lenta mas inexorável como todos os outros, é regido pelas leis da Física Quântica. Daí que quando a minha viagem chegar ao fim, cumprir-se-á uma espécie de lei de Lavoisier generalizada, já que “Na Natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. A minha estrutura orgânica decompor-se-á numa miríade de átomos de elementos constitutivos da Tabela Periódica, com especial predominância de átomos de oxigénio, carbono, hidrogénio, azoto, cálcio, fósforo, potássio, enxofre, sódio, cloro e magnésio. Libertos do meu corpo irão desempenhar novos papéis, novas funções, novas missões, sabe-se lá quais. A minha decomposição orgânica será também acompanhada da libertação de energia que mantinha coesa a minha estrutura orgânica. Também ela irá desempenhar novos papéis, novas funções, novas missões.

O fim da viagem cósmica é um acto de libertação das amarras gravitacionais da matéria e do espaço-tempo-energia.  A partir daqui há um universo de crenças que não quero ferir por respeito às crenças que constituem um direito individual de cada um. Para além disso esta conversa já vai longa.

Como passageiros terrestres desta viagem cósmica em que nos vemos envolvidos, cumprimos rituais tribais cuja origem se perdem nos alvores do tempo. Uma delas é assinalar anualmente cada volta ao Sol em convívio e comunhão de espírito com a Família e amigos.

No dia em que completei a mais recente volta ao Sol, optei por me cingir à companhia da célula familiar e lá fui com a Fátima, minha mulher e a Catarina, minha filha, rumo à Mercearia Gadanha, prestigiado restaurante estremocense, que figura no Guia Michelin e onde fomos principescamente atendidos. Abstenho-me de revelar a ementa, mas asseguro-vos que o ritual tribal de comemorar mais uma volta completa ao Sol, foi deveras gratificante e reconfortante.

 Hernâni Matos


Imagem recolhida com a devida vénia no website da Gadanha Mercearia, em Estremoz.