sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Ladrões!

Imagem recolhida com a devida vénia do website
ACTIVISMO DE SOFÁ - http://www.ativismodesofa.net/


Como funcionário público aposentado, estou revoltado com governos PS e PSD, com ou sem CDS em conúbio, que gastaram à tripa forra, sem que estivessem mandatados ou tivessem dinheiro para tal.
O expoente máximo da loucura, foi José Sócrates.
Só uma atitude é possível: o direito legítimo à insurreição. Há que lhes fazer a folha.
Cumprindo as regras em vigor, nós descontámos para vir a receber mais tarde. É património nosso. Não podemos ser vítimas de loucos, que abusando do poder e para satisfação de clientelas pessoais, gastaram o dinheiro que não era deles.
Até ser feita justiça, o mínimo que podemos fazer, é denunciá-los e chamar-lhes:
- LADRÕES!


sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Fuga de Peniche

VER (1ª metade do Século XVIII). Painel de azulejos (142 cm x 142 cm) representando
dama com espelho e telescópio. Colecção Berardo.

Homenagem
Passam hoje 54 anos sobre a famosa fuga do Forte de Peniche, uma das prisões de mais alta segurança do Estado Novo, protagonizada a 3 de Janeiro de 1960 por Álvaro Cunhal, Carlos Costa, Francisco Martins Rodrigues, Francisco Miguel, Guilherme Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Carlos, Pedro Soares e Rogério de Carvalho. Esta fuga, uma das mais espectaculares evasões de toda a história do fascismo, marca o início do exílio de Álvaro Cunhal até ao 25 de Abril. No encerramento das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal (1913-2013), político e Homem de Cultura, repesquei um texto meu, editado no Facebook, a 29 de Outubro de 2012. É a minha singela homenagem aqueles que com coragem e firmeza souberam dizer não à besta fascista. Como diz Manuel Alegre, na Trova do Vento que passa:

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Um Homem nunca se rende
Fuzilando o cristalino espelho que reflecte majestaticamente a sua presunçosa figura, a dama oitocentista com as mamas empinadas por cingido colete e arrastando pelo chão o frou-frou das sedas daquele vestido à Maria Antonieta, interroga o espelho como se fosse um qualquer inspector Casaca da António Maria Cardoso:
- Espelho meu! Espelho meu! Haverá alguém mais belo do que eu?
Para desespero da dama, o espelho não responde. Era essa a postura dos heróicos resistentes que nos negros tempos da outra Senhora, se recusavam a responder quando torturados. Por mim, ainda hoje digo:
- Um Homem nunca se rende. Mesmo de fato e gravata.


sábado, 28 de dezembro de 2013

48 - Terrina de Estremoz


 Terrina (Anos 60 do séc. XX).
Olaria Alfacinha.
Colecção particular.


Estamos em presença de uma terrina de secção circular com pegas laterais relevadas. Bojo saliente com plissado entre as pegas.  Pé recuado, de inflexão para o exterior. Tampa de encaixe com plissado no bordo, encimada por tufo de folhas donde emergem quatro flores com caule de arame, à semelhança do que acontece nas tampas das cantarinhas e dos pucarinhos. A terrina tem tampa e está assente num prato de forma circular, raso, de covo pouco acentuado.
Tanto o interior da terrina, como o da tampa ou o fundo do prato não se encontram pintados, revelando que o conjunto é todo ele, de barro vermelho. Trata-se de uma peça manufacturada no torno e posteriormente submetida a secagem, seguida de decoração com pigmentos minerais, completada por envernizamento, a qual tem funções meramente ornamentais.
No que respeita à decoração, a parte superior do bojo ostenta fundo azul-turquesa, decorado com motivos florais estilizados, utilizando zarcão, verde bandeira e amarelo. Já a parte inferior do bojo e as asas têm fundo zarcão. Na zona de inflexão do pé, a decoração é vegetalista, estilizada, a verde bandeira. O bojo apresenta um plissado tricolor, semelhante ao das cantarinhas e dos pucarinhos, com fundo amarelo no qual se dispõem paralela e alternadamente, faixas em zarcão e em verde bandeira. A tampa pompeia fundo azul-turquesa, decorado com motivos florais estilizados, utilizando zarcão, verde bandeira e amarelo. O bordo é em zarcão, encimado por plissado semelhante ao do bojo. O tufo de folhas é em verde bandeira. As flores apresentam quatro pétalas em cores diferentes: amarelo, zarcão, azul e verde, qualquer delas pintalgadas. O prato tem fundo azul-turquesa, ornamentado na orla do rebaixo com um filete simples, em zarcão. 
Em termos dimensionais (cm) as características são as seguintes: - TERRINA: altura total – 28,5; altura sem tampa – 17; altura da tampa – 15; diâmetro do fundo – 17,8; diâmetro do bojo – 22,5; diâmetro exterior da abertura – 14; diâmetro interior da abertura – 12,5; diâmetro exterior da tampa – 15; - PRATO: diâmetro exterior da aba – 27; diâmetro do fundo – 18.
No que respeita a peso (g), as características são: - TERRINA – 1277g; - TAMPA: 756 g; - PRATO: 1206 g.
No verso da terrina, encontra-se gravada a marca OLARIA ALFACINHA / ESTREMOZ / PORTUGAL, com o texto distribuído por três linhas, com as dimensões de 2,5 cm x 4,5 cm. A mesma marca aparece estampada duas vezes no fundo do prato em que se apoia a terrina.
As terrinas eram fabricadas na Olaria Alfacinha nos anos 60 do século XX e eram decoradas por Maria José Cartaxo, mulher de Caetano da Conceição. Trata-se de artefactos mais raros que a cantarinha, o pucarinho e o candelabro, que dão para arregalar a vista e aquecer o coração.

Terrina de Estremoz


A barrística popular estremocense causa-nos surpresas a todo o momento. No nosso caso, que não somos propriamente virgens nestas andanças, para além dos “brincos” (brinquedos), conhecíamos apenas uma tríade de peças de grandes dimensões, modeladas na roda e decoradas com as cores garridas dos bonecos de Estremoz. Eram elas: a cantarinha, o pucarinho e o candelabro, nos seus três formatos: pequeno, médio e grande. Todavia a tríade, transformar-se-ia em quaterno, graças à aquisição recente no Mercado das Velharias, em Estremoz, de uma peça com tipologia similar.  Trata-se de uma terrina com tampa e assente num prato. Quer o interior da terrina, quer o da tampa ou o fundo do prato não se encontram pintados, revelando que o conjunto é todo ele, de barro vermelho. Sob o ponto de vista do material, podemos dizer assim que se trata de uma peça de barro vermelho, decorada no exterior. Tecnicamente é uma peça manufacturada no torno e posteriormente submetida a secagem, seguida de decoração com pigmentos minerais, completada por envernizamento. A terrina não se destina assim a desempenhar a usual função de uma terrina, que é a de levar a sopa ou o caldo á mesa da refeição. Trata-se de uma terrina com funções meramente decorativas, a expor numa vitrina, num aparador ou num centro de mesa.
Em termos dimensionais (cm), a peça tem as características que passo a quantificar. Começando pela terrina: altura total – 28,5; altura sem tampa – 17; altura da tampa – 15; diâmetro do fundo – 17,8; diâmetro do bojo – 22,5; diâmetro exterior da abertura – 14; diâmetro interior da abertura – 12,5; diâmetro exterior da tampa – 15. Quanto ao prato: diâmetro exterior da aba – 27; diâmetro do fundo – 18.
No que respeita a peso (g), a peça tem as características seguintes: terrina – 1277g; tampa – 756 g; prato – 1206 g.
Em termos descritivos, trata-se de uma terrina de secção circular com pegas laterais relevadas. Bojo saliente com plissado entre as pegas.  Pé recuado, de inflexão para o exterior. Tampa de encaixe com plissado no bordo, encimada por tufo de folhas donde emergem quatro flores com caule de arame, à semelhança do que acontece nas tampas das cantarinhas e dos pucarinhos. Terrina assente num prato de forma circular, raso, de covo pouco acentuado. 
Quanto à decoração, a parte superior do bojo ostenta fundo azul-turquesa, decorado com motivos florais estilizados, utilizando zarcão, verde bandeira e amarelo. Já a parte inferior do bojo e as asas têm fundo zarcão. Na zona de inflexão do pé, a decoração é vegetalista, estilizada, a verde bandeira. O bojo apresenta um plissado tricolor, semelhante ao das cantarinhas e dos pucarinhos, com fundo amarelo no qual se dispõem paralela e alternadamente, faixas em zarcão e em verde bandeira. A tampa pompeia fundo azul-turquesa, decorado com motivos florais estilizados, utilizando zarcão, verde bandeira e amarelo. O bordo é em zarcão, encimado por plissado semelhante ao do bojo. O tufo de folhas é em verde bandeira. As flores apresentam quatro pétalas em cores diferentes: amarelo, zarcão, azul e verde, qualquer delas pintalgadas. O prato tem fundo azul-turquesa, ornamentado na orla do rebaixo com um filete simples, em zarcão. 
No verso da terrina, encontra-se gravada a marca OLARIA ALFACINHA / ESTREMOZ / PORTUGAL, com o texto distribuído por três linhas, com as dimensões de 2,5 cm x 4,5 cm. A mesma marca aparece estampada duas vezes no fundo do prato em que se apoia a terrina. Esta marca permite-nos concluir que se trata de uma peça da barrística popular estremocense, manufacturada na Olaria Alfacinha. A nosso ver, aquela marca, de dimensões razoáveis, era usada exclusivamente nas peças de olaria decoradas com as mesmas cores garridas dos bonecos de Estremoz e que como tal não foi contemplada no estudo “Bonecos de Estremoz / Marcas de Autor da Família Alfacinha / 1934-2012”, da autoria de Hugo Guerreiro e dada à estampa nos “Cadernos de Estremoz nº 3, editados pelo Município, em 2012.  
O historial da peça é singelo. Segundo Maria Inácia Fonseca Mateus, uma das Irmãs Flores, estas peças eram fabricadas na Olaria Alfacinha nos anos 60 do século XX e eram decoradas por Maria José Cartaxo, mulher de Caetano da Conceição. Segundo ela não terão sido produzidas muitas peças e lembra-se de ter havido encomendas da Embaixada Inglesa, em Lisboa. Trata-se assim de uma peça decorativa, mais rara que a cantarinha, o pucarinho e o candelabro. Uma peça que dá para arregalar a vista e aquecer o coração.




sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Presépio Alentejano


Presépio Alentejano. Peça da autoria do jovem barrista estremocense, Ricardo Fonseca.

É sabido que pela sua paisagem própria, pelo carácter do povo alentejano, pelo trajo popular, pela gastronomia, pela arte popular, pelo cancioneiro popular, pelo cante, pela casa tradicional, o Alentejo é uma região com uma identidade cultural própria. Esta deve ser transmitida duma forma clara pela genuína arte popular. Começa logo pelos materiais empregues, como é o caso do barro utilizado pelos barristas desta terra de Além Tejo, do termo de Estremoz. Exactamente o mesmo barro, que de acordo com o Génesis, Deus terá usado para modelar o primeiro homem. Barro sobre o qual, António Simões poetizou em 1983:

Barro incerto do presente
Vai moldar-te a mão do povo
Vai dar-te forma diferente
P´ra que sejas barro novo!

É com a magia das mãos, auxiliada por utensílios rudimentares, que os barristas, homens e mulheres do povo, corporizam a imaginária que lhes vai na alma e que decoram com as cores minerais já utilizadas pelos artistas rupestres de Lascaux e Altamira no Paleolítico, mas aqui garridas e alegres, como convém às claridades do Sul.
É o caso do “Presépio Alentejano” do jovem barrista Ricardo Fonseca. Trata-se dum Presépio de três figuras, com a Sagrada Família representada em contexto alentejano.
São José é um barbado pastor que se protege do frio com um chapéu aguadeiro, calças de burel, camisa xadrez de flanela e um capote também de burel, com gola de pele de ovelha. Tem os pés protegidos por botas de atanado, a mão esquerda enfiada no bolso das calças, por causa do frio, enquanto que a direita empunha um cajado, pois o Menino Jesus tem que ser protegido e mais vale prevenir que remediar. Lá diz o rifão: Apanha com o cajado quem se mete onde não é chamado.
O Menino Jesus está deitado em cima das palhinhas contidas num cesto de vime, daqueles que são vulgares no Alentejo e encontra-se coberto por uma mantinha xadrez. Lás diz o rifão: A fome e o frio nunca criaram infante. O Menino parece ser irrequieto, já que tem os pés destapados, o que parece preocupar a Mãe, conforme revela a postura das Suas mãos. Nossa Senhora é representada como uma mulher do povo com avental de trabalho e saia azul até aos pés. Usa lenço florido na cabeça e um xaile sobre as costas e por cima da blusa de flanela florida, uma vez que o frio de Dezembro não é para brincadeiras. Lá diz o rifão: Em Dezembro treme de frio cada membro.
O chão é de laje, rocha xistosa, vulgar na região, usada para atapetar a entrada dos montes e pavimentar o seu interior. A horizontalidade do chão evoca a planura da charneca alentejana.
A contextualização do Presépio é reforçada pela fachada do monte, que está por detrás da Sagrada Família. O telhado é de telha romana e a parede está caiada de branco. Lá diz o cancioneiro popular alentejano:

Nas terras do Alentejo
É tudo tão asseado...
As casas e o coração,
Sempre tudo anda lavado...

Rodapé e ombreira da janela decorada com azul do Ultramar, azul que tem a ver com a identidade cultural alentejana e possui um valor simbólico: o azul exprime o desejo de paz e de calma, próprio dos alentejanos e o azul límpido do céu, característico das claridades do Sul, o que é ainda reforçado pelas várias tonalidades de azul do vestuário de Nossa Senhora.
Curiosa a representação de uma parreira sob o beiral do monte. Na minha opinião, trata-se de uma alegoria à actual importância económica da vinicultura no Alentejo, a qual transformou em vinhas aquilo que em tempos foram campos de semeadura de trigo. Os cachos, esses são de uvas pretas, daquelas com que se produz o vinho tinto e espesso que o alentejano, legítimo herdeiro da cultura báquica mediterrânica, gosta de mastigar nos seus rituais báquicos.
Do exposto se conclui que o “Presépio Alentejano”, de Ricardo Fonseca, é uma bem conseguida peça de genuína arte popular alentejana. Com ela originou uma mudança de paradigma nos presépios, tal como nos anos quarenta do século XX, o conseguiu Mariano da Conceição (1903-1959), através da criação do “Presépio de Trono ou de Altar”, hoje uma peça clássica da barrística popular estremocense. Pela sua enorme beleza e pela matriz identitária que dele irradia, o “Presépio Alentejano” está igualmente condenado a ser uma peça clássica da barrística popular estremocense.
Parabéns Ricardo!  


Publicado inicialmente a 20 de Dezembro de 2013

domingo, 8 de dezembro de 2013

A todas as Mulheres do Mundo...


Camponesa. Manuel Ribeiro de Pavia (1910-1957).


                                     ...mas em especial à Gina Ferro,
                                                       pelo privilégio da sua amizade.

As mulheres são nossas mães, nossas filhas, nossas companheiras, nossas amantes, nossas cúmplices, o bálsamo para os maus momentos, a nossa inspiração para a ode triunfal e o estímulo para a vitória.
Com elas apanhamos bebedeiras de azul, quando não gostam de vinho.
E fartos de azul, por elas bebemos vinho, até dizer basta!
Com elas e por elas, lutamos por amanhãs que não sabemos quando vêm, mas que temos a certeza inabalável que hão de vir.
A elas nos agarramos quando sentimos que estamos a mergulhar no abismo.
Delas gostamos do carinho, do amor e do sexo-porto de abrigo.
Nelas nos fundimos e com elas fazemos filhos, erguemos projectos e por vezes engendramos mudanças de paradigma.
Com elas nos derretemos em sangue, sémen, suor e lágrimas, com gemidos e ais, punhos erguidos e bandeiras vermelhas, raiva incontida que nos vem de baixo e que desfraldamos ao vento, porque somos insurrectos. É um direito que nos assiste!
Para além de sustentarem metade do céu sobre os seus ombros, as mulheres são a metade que nos falta, que nos dá força e que nos faz vacilar, qual travão que adocica o motor.
E mais não digo…