domingo, 2 de junho de 2013

Os bonecos de Estremoz na Exposição do Mundo Português


Fig. 1 - Homem do harmónio (Boneco de Estremoz
de Mariano da Conceição. Museu Rural de Estremoz.
Fotografia de Luís Mariano Guimarães).

AS COMEMORAÇÕES DOS CENTENÁRIOS DA FUNDAÇÃO E DA RESTAURAÇÃO DA NACIONALIDADE
A 2 de Junho de 1940, teve lugar em Lisboa, a abertura oficial das Comemorações dos Centenários da Fundação e da Restauração da Nacionalidade, anunciada pelo presidente da Comissão Executiva dos Centenários, Júlio Dantas.
As Comemorações tiveram âmbito nacional, mas o seu maior esplendor foi a Exposição do Mundo Português.

A EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS
A "Exposição do Mundo Português" (Fig. 2), que se realizou de 23 de Junho a 2 de Dezembro de 1940, foi um evento realizado em Lisboa durante o regime do Estado Novo. Com o propósito de comemorar simultaneamente as datas da Fundação do Estado Português (1140) e da Restauração da Independência (1640), constituiu-se na maior de seu género realizada no país até à data. Para a época foi uma grandiosa obra só comparável, com as devidas proporções, com a "Exposição Universal de Lisboa" de 1998.Incluía pavilhões temáticos relacionados com a História de Portugal, suas actividades económicas, cultura, regiões e territórios ultramarinos. Incluía ainda um pavilhão do Brasil.

Fig. 2.

O evento levou a uma completa renovação urbana da zona ocidental de Lisboa. A sua praça central deu origem à Praça do Império, uma das maiores da Europa. A maioria das edificações da exposição foi demolida ao seu término, restando apenas algumas como o actual Museu de Arte Popular e o Monumento aos Descobrimentos (reconstrução com base no original de madeira).
Situada entre a margem direita do rio Tejo e o Mosteiro dos Jerónimos, ocupava cerca de 560 mil metros quadrados e recebeu cerca de três milhões de visitantes, constituindo o mais importante facto cultural do Estado Novo.

OS BONECOS DE ESTREMOZ NA EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS
António Ferro, Director do Secretariado Nacional de Propaganda, estrutura que controlava todas as formas de comunicação do país, era o Secretário-Geral da Comissão Executiva, presidida por Júlio Dantas.
António Ferro era próximo de José Maria de Sá Lemos (1) e esteve em Estremoz, onde convidou Mestre Mariano da Conceição (1903-1959) a participar na Exposição. Este não o pôde fazer, pela sua condição de funcionário público, Mestre Olaria da Escola Industrial António Augusto Gonçalves. Os bonecos (Fig. 1) eram feitos em Estremoz por Mestre Mariano (Fig. 3) e transportados para Lisboa, onde na Exposição eram pintados por sua esposa, Liberdade Banha da Conceição, que ali esteve presente durante todo o período da mesma. Há provas documentais da presença dos bonecos de Estremoz na Exposição.

Fig. 3 - Mestre Mariano da Conceição a trabalhar na sua oficina. Fotografia de Rogério
de Carvalho (1915-1988). Arquivo de Hernâni Matos.

 Comecemos pelo “MUNDO PORTUGUÊS/IMAGENS DE UMA EXPOSIÇÃO HISTÓRICA/1940”. Trata-se de um álbum evocativo da “Exposição do Mundo Português”, editado pelo Secretariado Nacional de Informação, em 1956. Foi dedicado “Aos filhos dos que viram a Exposição do Mundo Português – Para que também a vejam”. Através dele se sabe que os bonecos de Estremoz marcaram presença no “Pavilhão da Vida Popular “, na “Sala de Artes e Ofícios”, onde estiveram presentes numa bancada exposicional e numa vitrina expositora (Fig. 4 e Fig. 5).

Fig. 4. 

Fig. 5.

O filme "A Grande Exposição do Mundo Português (1940)", de António Lopes Ribeiro, com a duração de 59 min 52 s, mostra entre os 44 min 25 s e 44 min 39 s, 14 preciosos segundos de filme, onde se vê Liberdade da Conceição, vestida de camponesa, a pintar bonecos de Estremoz (Fig. 6, Fig. 7 e Fig. 8).

Fig. 6. 

Fig. 7. 

Fig. 8.

Na Exposição do Mundo Português marcaram forte presença os bonecos de Estremoz, afeiçoados pelas mãos sábias e mágicas de Mestre Mariano da Conceição e decorados pelas mãos pacientes e laboriosas de sua terna esposa, Liberdade da Conceição, que lhes comunicava, não só as cores garridas, como a luz própria e muito característica das claridades do Sul.
Os bonecos de Estremoz, de Mariano da Conceição, foram na Exposição do Mundo Português, o ex-líbris de excelência da nossa bem amada cidade branca. Eles foram os melhores embaixadores da nossa Arte Popular e da nossa identidade cultural local e regional. Eles foram simultaneamente, a primeira declaração e a primeira prova insofismável de que nesta terra que nos pariu e é nossa, existem criadores populares de elevado gabarito, com grande qualidade de desempenho, que estão bem e se recomendam.
A mensagem transmitiu-se através do feedback de visitantes, originários dos mais distintos locais, não só de Norte a Sul do país, como também das Ilhas e mesmo das Sete Partidas do Mundo.
Os bonecos de Estremoz de Mariano da Conceição, até então relativamente pouco conhecidos, adquiriram por mérito próprio e muito justamente, grande notoriedade pública. Foram eles que desalojaram a nossa Arte Popular do estatuto comezinho em que se encontrava acantonada e lhe conferiram dimensão humana à escala planetária.
Mestre Mariano da Conceição é um ícone da cidade de Estremoz que o gerou e que dele muito justamente se orgulha. Exactamente como Tomaz Alcaide, meu parente do costado dos Carmelos, tenor lírico de projecção internacional, que com o vigor cristalino da sua apreciada voz, levou igualmente o nome da nossa urbe, por esse mundo fora, sempre que como artista de excepção, pisava os palcos dos grandes e famosos teatros líricos. Tanto Tomaz Alcaide como Mariano da Conceição foram actores que desempenharam e bem, o seu papel no palco da vida. Por isso, a comunidade estremocense lhes está grata e os admira. Todavia, para além do reconhecimento, há uma homenagem que tarda em relação a Mariano da Conceição.
Com a Exposição do Mundo Português houve uma mudança de paradigma na produção de bonecos de Estremoz. Mariano da Conceição resolveu dar uma inflexão à sua actividade bonequeira. Até aí Mestre Mariano só confeccionava bonecos na Escola Industrial António Augusto Gonçalves, os quais conjuntamente com exemplares executados pelos seus alunos, assim como peças de olaria eram vendidos, funcionando o produto da venda como fonte de receita para a Escola. Os alunos recebiam por isso salário, conforme notícia do jornal “Brados do Alentejo” nº 239 (25 de Agosto de 1935). A partir da Exposição do Mundo Português, que se saldou num êxito para Mestre Mariano, ele passa também a fazer bonecos na sua casa, os quais são comercializados em Estremoz, em diversos locais: Loja de Artigos Regionais da Olaria Alfacinha (Largo da República, 30), Papelaria Ruivo (Largo da República, 24), Loja de Artesanato de Rafael dos Santos Grades (Rua Victor Cordon, 27 e 30), Papelaria A Tabaqueira de Alves & Simões, Lda (Rossio Marquês Pombal 11 e 12).
Com o seu exemplo, Mestre Mariano demonstrou que a produção de bonecos de Estremoz era uma actividade viável e abriu caminho para aqueles que se lhe seguiram, após a sua morte prematura em 1959.

PARA QUANDO UMA HOMENAGEM A MESTRE MARIANO DA CONCEIÇÃO?
Mestre Mariano da Conceição cuja Memória permanece viva na comunidade, era um homem do povo, do clã dos Alfacinhas, com mãos mágicas para modelar o barro desta terra de Além Tejo do termo de Estremoz. Exactamente o mesmo barro que de acordo com o Génesis, Deus terá modelado o primeiro homem. Em Mariano pensou o poeta António Simões, compadre de Maria Luísa da Conceição, filha de Mariano, quando a meu pedido criou em 1983 a quadra que diz:

Barro incerto do presente,
Vai moldar-te a mão do povo
Vai dar-te forma diferente,
Para que sejas barro novo.

Mestre Mariano é um ícone desta terra transtagana, ao qual a comunidade muito deve e cujo reconhecimento público tarda, porque alguns pensam que se deve cumprir o adágio “Ninguém é rei na sua terra”, o que não é minimamente aceitável.
No Canto I dos Lusíadas, diz Luís Vaz de Camões:

(…)
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando
(…)

É o que se passou com Mestre Mariano da Conceição, que ganhou fama que lhe sobreviveu e será lembrado pelas gerações futuras.
Falta agora o nosso Município homenagear Mestre Mariano postumamente, através da atribuição duma medalha de grau adequado, o que aqui se sugere, bem como a atribuição do seu nome a uma rua da cidade. Em 19 de Setembro de 1997, na qualidade de deputado municipal, fiz uma proposta de recomendação à Câmara nesse sentido, a qual foi aprovada. Como sou uma pessoa paciente, ainda estou à espera da resposta.
Estou crente que a Câmara Municipal de Estremoz não ficará indiferente a estas sugestões, que reúnem condições para serem consensuais. A Memória de Mestre Mariano da Conceição e o seu legado merecem isso.
Assim seja!


(1) -  José Maria de Sá Lemos (1892-1971), escultor, discípulo de Mestre António Teixeira Lopes (1866-1942) foi Director da Escola Industrial António Augusto Gonçalves, entre 21 de Abril de 1932 e 30 de Setembro de 1945.

Excertos do livro em preparação:
"MESTRE MARIANO DA CONCEIÇÃO (O Alfacinha)"
(Texto publicado inicialmente em 2 de Junho de 2013)

sábado, 1 de junho de 2013

Efemérides de Junho

30 de Junho

Em 30 de Junho de 1487 é publicado "Pentateuco", o primeiro livro impresso
em Portugal. A obra, de carácter religioso, constituída pelos cinco livros
de Moisés que compõem a “Torá”, foi impressa em 110 fólios, com
composição de 30- 32 linhas. De acordo com o colófon, saiu do prelo de
Samuel Gacon, editor judeu, operador da primeira oficina tipográfica,
situada em Faro. Foram utilizados tipos metálicos móveis com caracteres
hebraicos, letras quadradas e elegantes, de dois tamanhos, sendo a maior
usada no texto e a outra, mais larga, nas rubricas. O único exemplar
conhecido da obra encontra-se na British Library, em Londres. Foi roubada
em Portugal no ano de 1596, no decurso da ocupação filipina, quando a
cidade de Faro foi saqueada e incendiada pelas tropas inglesas sob o
comando de Robert Devereux, 2.º Conde de Essex (1566-1601), favorito
da Rainha Isabel I de Inglaterra (1533-1603). A obra integra um conjunto
de 65 títulos (de um total de 91 volumes), que pertenciam à biblioteca
do então bispo do Algarve, D. Fernando Martins de Mascarenhas (1594-1616).
Em 1600, Robert Devereux doou o saque ao seu amigo, o erudito e diplomata
Thomas Bodley (1545-1613), pelo que este valioso espólio se encontra
epositado na Bodleian Library da Universidade de Oxford desde a sua
inauguração em 1602. CLIO (1670-1675). Painel de azulejos (123cm x 108 cm).
Fabrico de Lisboa. Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.[De acordo com a
Mitologia Grega, Clio é uma das nove musas, filhas de Zeus e
Mnemósine (a deusa que personificava a Memória), que habitam o
monte Hélicon, vizinho ao monte Olimpo e que era um santuário
onde apenas os dignos podiam entrar. Ali, junto à fonte Hipocrene, 
as musas reuniam-se sob a assistência de Apolo, presidindo às Artes
e às Ciências. Clio é a musa da História, da Criatividade e da Eloquência.
29 de Junho
A 29 de Junho de 1840 é inaugurado o Museu Portuense, actual Museu Nacional Soares
dos Reis, instalado no Palácio dos Carrancas, construção de finais do séc. XVIII. As suas
colecções incluem cerâmica,escultura,gravura,joalharia,mobiliário,ourivesaria,pintura,
têxteis e vidros. VARIAÇÕES EM AZULEJOS va22b01. Painel de azulejos de Jorge Rezende
presente na Exposição “CIÊNCIA E ARTE” patente ao púbico no Museu Nacional de Soares
dos Reis, entre 19 de Janeiro e 24 de Fevereiro de 2013.
28 de Junho
A 28 de Junho de 1867 é inaugurado em Lisboa, o monumento a Luís Vaz de Camões,
da autoria do escultor Victor Bastos (1830–1894), projectado a partir de 1860 e
inaugurado em 1867, na presença do rei D. Luís I (1838-1889) e de seu pai D. Fernando
de Saxe-Coburgo-Gota-Koháry (1816-1885), rei consorte. A estátua evocativa do poeta
é de bronze e mede 4 metros de altura. Assenta num pedestal oitavado, de mármore
branco, com 7,5 metros de altura. Em seu redor, oito estátuas, de pedra lioz, de 2,40 metros
de altura, representam vultos notáveis da cultura portuguesa: Fernão Lopes, Pedro Nunes,
Gomes Eanes de Azurara, João de Barros, Fernão Lopes de Castanheda, Vasco Mouzinho de
Quevedo, Jerónimo Corte-Real e Francisco de Sá de Meneses. CAMÕES SALVANDO “OS
LUSÍADAS” - Painel de azulejos na fachada dum prédio de Peniche.
27 de Junho
A 27 de Junho de 1850 é fundada a Associação dos Operários, primeira organização
portuguesa de trabalhadores e o jornal O Eco dos Operários. Painel de azulejos da
entrada do bairro operário “Estrela d'Ouro”, na Graça, em Lisboa.
26 de Junho
A 26 de Junho de 1982 morre Alfredo Marceneiro (1891-1982), glória portuguesa do fado,
conhecido por cantar de boné e lenço ao pescoço. Foi o mais castiço fadista e um dos maiores
intérpretes, no cantar e sentir o fado. Dos muitos temas que cantou destaca-se a Casa da
Mariquinhas, da autoria do poeta Silva Tavares. Compôs 22 fados: Aida, Laranjeira, Eu lembro-me
de ti, Bailado, Bailarico, Balada, Cabaré, Cravos, CUF, Moda, Traição, Louco, Marcha do Alfredo
Marceneiro, Maria Alice, Maria do Anjos, Maria Marques, Menor, Mocita dos Caracóis, Odéon,
Pajem, Pierrot e Vestido Azul. Retirou-se oficialmente dos palcos em 1980, com 89 anos, tendo-lhe
sido outorgada pela Câmara Municipal a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa. Em 10 de Junho de
1984, foi condecorado, a título póstumo, com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique pelo
Presidente da República Portuguesa, General Ramalho Eanes. O FADO – Painel de azulejos
contemporâneos, inspirado no óleo sobre tela homónimo (150 cm x 183 cm), pintado em 1910
pelo pintor José Malhoa (1855-1933) e que se encontra actualmente no Museu do Fado, em Lisboa.
25 de Junho
A 25 de Junho de 1948 morre em Lisboa, Bento de Jesus Caraça (1901-1948),
natural de Vila Viçosa, matemático, professor catedrático do Instituto Superior de
Ciências Económicas e Financeiras, etnocientista, pedagogo e divulgador científico,
militante comunista, dirigente do Movimento Nacional de Unidade Anti-fascista e do
Movimento de Unidade Democrática. PANTEÃO DOS DUQUES E VISTA DE VILA VIÇOSA.
Painel de azulejos da estação da CP de Vila Viçosa.
24 de Junho

A 24 de Junho de 1360 nasce em Cernache do Bonjardim ou Flor da Rosa,
Nuno Álvares Pereira (1360-1431), filho ilegítimo de D. Álvaro Gonçalves Pereira,
prior do Hospital. Foi para a Corte aos 13 anos, sendo armado cavaleiro por
Dona Leonor Teles com o arnês do Mestre de Avis, de quem se torna amigo.
Adere à causa do Mestre, que o nomeia fronteiro da comarca de Entre Tejo e
Odiana. Vencedor da Batalha dos Atoleiros (6 de Abril de 1384), de Aljubarrota (14
de Agosto de 1385) e de Valverde (15 de Outubro de 1385), D. Nuno Álvares
Pereira desempenhou um papel fundamental na resolução da crise de 1383-1385
com Castela e na consolidação da independência. Por isso foi, desde sempre,
muito justamente considerado como um símbolo da independência nacional.
Nomeado 2º Condestável do Reino e 38º Mordomo-mor, recebeu ainda de D. João I,
os títulos de 3º conde de Ourém, de 7º conde de Barcelos e de 2º conde de Arraiolos.
Em 1388 iniciou a edificação da capela de São Jorge de Aljubarrota e, em 1389, a do
Convento do Carmo, em Lisboa, onde se instalaram os frades da Ordem do Carmo,
no ano de 1397. Após a morte de sua esposa, Leonor de Alvim, com quem casara
em 1376, torna-se Carmelita em 1423, recolhendo ao Convento do Carmo,
em Lisboa, onde ingressa sob o nome de Irmão Nuno de Santa Maria. Ali permanece
até à sua morte em 1 de Novembro de 1431, aos 71 anos de idade e já com fama de
Santo. D. Nuno Álvares Pereira foi beatificado em 23 de Janeiro de 1918
pelo Papa Bento XV e é desde 26 de Abril de 2009, mais um Santo português,
após a cerimónia de canonização em Roma, do Beato Nuno de Santa Maria.
O anúncio fora feito pela Santa Sé, no final do Consistório de 21 de Fevereiro de 2009,
presidido por Sua Santidade o Papa Bento XVI. D. NUNO ÁLVARES PEREIRA (1932).
 Painel de azulejos (191,5x114 cm) da autoria de Alves de Sá e produzido
na Fábrica Viúva Lamego. Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.
23 de Junho
A 23 de Junho de 1940 é inaugurada a Exposição do Mundo Português, organizada
pelo Estado Novo para comemorar o Duplo Centenário da Independência (1140) e da
Restauração (1640) de Portugal. Painel de azulejos da época da Exposição do Mundo
Português, localizado no Jardim Botânico Tropical em Belém, junto ao Mosteiro
dos Jerónimos.
22 de Junho
A 22 de Junho de 1633, Galileu Galilei (1564-1642) é condenado pelo Tribunal do Santo
Ofício pela publicação do livro “Diálogos sobre os Dois Máximos Sistemas do Mundo”
 que defendia a teoria heliocêntrica. A pena consiste em: abjuração, proibição do livro,
residência fixa e penitências religiosas. A humilhante condenação de Galileu foi uma
 tentativa desesperada da Igreja para salvar o sistema cosmológico geocêntrico,
peça-chave da escolástica, a grande síntese da filosofia aristotélica (século IV a.C.)
e da doutrina cristã, que dominou o pensamento europeu durante a Baixa Idade Média
(séculos XI a XIV). O DIA CONTRA A NOITE (séc. XVIII) – Museu Nacional do Azulejo,
 Convento da Madre de Deus, Lisboa.
21 de Junho

Em 21 de Junho ou próximo a este dia, o Sol atinge o ponto mais ao norte na sua
trajectória pelo céu. É o solstício de Verão, momento em que o Sol, no seu movimento
aparente na esfera celeste, atinge a maior declinação em latitude, medida a partir
da linha do equador. A duração do dia é então a mais longa do ano. PAINEL DE AZULEJOS,
REPRESENTANDO O VERÃO  - Rua Manuel Firmino, Aveiro.
20 de Junho
A 20 de Junho de 1921, nasce Matilde Rosa Araújo (1921-2010), que viria a ser pedagoga
e escritora especializada em literatura infantil e que enquanto cidadã se dedicou ao longo
da sua vida, aos problemas da criança e à defesa dos seus naturais direitos. Foi distinguida
com diversos prémios literários e em 2004 foi agraciada com o grau de Grande-Oficial da
Ordem do Infante D. Henrique. Painel de azulejos (1956) de Mestre Querubim Lapa (1925- ).
Escola Primária Mestre Querubim Lapa, Campolide, Lisboa.
19 de Junho
A 19 de Junho de 1731, nasce em Coimbra, Joaquim Machado de Castro (1731-1822),
um dos maiores e mais célebres escultores portugueses, que exerceu enorme influência
na Europa do século XVIII e princípio do século XIX. O seu trabalho de maior projecção
foi a estátua equestre do Rei D. José I de Portugal, datada de 1775. Em sua homenagem
abriu ao público em 11 de Outubro de 1913, em Coimbra, o Museu Nacional de Machado
de Castro, um dos mais importantes museus de Belas Artes e Arqueologia de Portugal.
FRONTAL DE ALTAR / EMBLEMA CARMELITA E CENA DE CAÇA (c. 1670). Painel de azulejos
(95 x 156 cm), fabrico de Lisboa. Museu Nacional de Machado de Castro, Coimbra.
18 de Junho
A 18 de Junho de 1953, o empresário e mecenas Calouste Sarkis Gulbenkian
(1869-1955), assina o testamento que determina a criação da Fundação
Calouste Gulbenkian, em Lisboa, que ficou herdeira do remanescente da sua
fortuna, e que tem fins caritativos, artísticos, educativos e científicos.
Painel de azulejos policromados (71 cm x 71 cm). João Lopes Segurado
(1920- ). Centro de Arte Moderna - Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
17 de Junho
A 17 de Junho de 1665 travou-se a Batalha de Montes Claros num local perto de Borba, a meio
caminho entre Estremoz e Vila Viçosa. Nela pelejaram mais de quarenta mil homens: 20.500 do lado
português sob o comando do Marquês de Marialva e 22.600 do lado espanhol sob o comando do
Marquês de Caracena. Morreram nesse dia, 700 combatentes portugueses, registando-se
ainda 2.000 feridos. Do lado espanhol, tombaram 4.000 homens e foram feitos 6.000 prisioneiros.
Esta foi a última das cinco grandes batalhas ganhas pelos portugueses na Guerra da Restauração,
iniciada a 1 de Dezembro de 1640. Três anos depois, em 1668, seria finalmente assinada a paz com a Espanha, que pelo Tratado de Lisboa, reconheceu decisivamente a restauração da independência
de Portugal. BATALHA DE MONTES CLAROS – Painel de azulejos (162 cm x 329 cm). Oficina de Lisboa (c. 1670). Desenho de engenheiro militar. Palácio dos Marqueses de Fronteira, Fundação das Casas de
Fronteira e Alorna, Lisboa, Portugal.
16 de Junho
A 16 de Junho de 1853 é aprovado o projecto de construção da linha ferroviária entre
Lisboa e Porto. EXCERTO DE PAINEL DE AZULEJOS ALUSIVO À HISTÓRIA DOS TRANSPORTES
(1905-1906) da autoria do pintor, ceramista, ilustrador e caricaturista Jorge Colaço
(1864-1942). Saguão da Estação da C.P. de S. Bento, Porto. 
15 de Junho
A 15 de Junho de 1970 morre José Sobral de Almada Negreiros (1893-1970). “Pela sua obra
plástica, que o classifica entre os primeiros valores da pintura moderna; pela sua obra literária,
que vibra de uma igual e poderosa originalidade; pela sua acção pessoal através de artigos e
conferências - Almada-Negreiros, pintor, desenhador, vitralista, ceramista, poeta, romancista
ensaísta, crítico de arte, conferencista, dramaturgo, foi, pode dizer-se que desde 1910, uma
das mais notáveis figuras da cultura portuguesa e uma das que mais decisivamente contribuíram
para a criação, prestígio e triunfo de uma mentalidade moderna entre nós". Assim o apresenta
Jorge de Sena (1919-1978), no primeiro volume das “Líricas Portuguesas”, antologia da poesia
lírica portuguesa contemporânea por ele organizada e publicada em 1958. Painel de azulejos
da  autoria de Almada Negreiros, numa casa onde morou, localizada na Rua da Alcolena, 28, em
Lisboa.
14 de Junho

A 14 de Junho de 1910 no crepúsculo da Monarquia Portuguesa, a Maçonaria constitui
a comissão de resistência, encarregada de colaborar com a Carbonária. Fachada de edifício
pombalino, da Rua da Trindade, nº 26-34,em Lisboa, revestida com azulejo figurativo
policromo da Fábrica de Cerâmica da Viúva Lamego, pintado pelo "Ferreira das Tabuletas".
Composição com figuras mitológicas e de simbologia maçónica, encimada pelo famoso
triângulo com o Olho da Providência.
13 de Junho
A 13 de Junho de 1231, morre em Pádua, Santo António de Lisboa (1195-1231),
frade franciscano português que ao longo da sua vida desenvolveu intensa vida
religiosa e apostólica. Canonizado em Maio do ano seguinte pelo papa Gregório IX,
foi declarado oficialmente Padroeiro de Portugal em 1932 e proclamado por Pio XII,
Doutor da Igreja, em 1946. É venerado pela Igreja Católica, que o considera um
grande taumaturgo e lhe atribui um extraordinário número de milagres. A circunstância
de o dia festivo de Santo António (13 de Junho) coincidir com as festas do Solstício de
Verão, faz com que seja celebrado em Portugal como um dos santos mais populares.
SANTO ANTÓNIO COM O MENINO JESUS (1651-1675) - Painel de 16 azulejos (56 x 83,7 cm).
Fabrico de Lisboa. Museu de Évora.
12 de Junho
A 12 de Junho de 1850 nasce Roberto Ivens (1850-1898), oficial da Armada,
administrador colonial e explorador do continente africano que participou
 com Hermenegildo Capelo (1841-1917) na célebre travessia entre Angola e
 a costa do Índico, descrita no livro conjunto De Angola à Contra-Costa”.
PALANCA NEGRA, SÍMBOLO DE ANGOLA - Painel de azulejos inspirado em
gravura baseada em  desenhos de Roberto Ivens. Fortaleza de São Miguel
de Luanda, Angola.
11 de Junho
A 11 de Junho de 1557 morre D. João III (1502-1557), “O Piedoso” que permitiu
a introdução da Inquisição em Portugal e em cujo reinado  se inicia uma crise que
se amplifica sob o governo do seu neto e sucessor,  o rei D. Sebastião (1554-1578).
D. JOÃO III – Painel de azulejos no Jardim do Palácio Galveias, Lisboa.
10 de Junho
A 10 de Junho de 1580 morre na mais absoluta pobreza, Luís Vaz de Camões (c.1524-1580),
o maior poeta do Classicismo português, autor de "Os Lusíadas", a epopeia portuguesa que canta
 os feitos guerreiros e marítimos de Portugal. CAMÕES - Painel de azulejos da estação de metro
do Alto dos Moinhos inaugurada em 1988 e cujo projecto de Júlio Pomar (1926-2018) data de 1983.
João Castel-Branco Pereira na sua obra “Arte: Metropolitano de Lisboa” disse: “Pomar dá corpo
a um Camões guerreiro e galante, memorista de uma história pátria poeticamente ficcionada,
em duelos medievais, exotismos do Oriente e amores fogosos em ilhas míticas.” É o próprio
poeta  que nos Lusíadas (Canto VII, 79) diz:
Olhai que há tanto tempo que, cantando
O vosso Tejo e os vossos Lusitanos,
A Fortuna me traz peregrinando,
[…]
Nũa mão sempre a espada e noutra a pena;
9 de Junho
A 9 de Junho de 1879 verifica-se o regresso a Lisboa de Serpa Pinto (1846-1900)
após a travessia de África iniciada a 7 de Julho de 1877 com Roberto Ivens (1850-1898)
e Hermenegildo Capelo (1841-1917). PLACA TOPONÍMICA EM AZULEJOS. Rua de
Serpa Pinto, Tomar.
8 de Junho

A 8 de Junho de 1663 trava-se a Batalha do Ameixial entre o exército espanhol
comandado por D. João José de Áustria e o exército português sob o comando
de D. Sancho Manoel, Conde de Vila Flor. A refrega saldar-se-ia por um êxito
retumbante para as forças portuguesas. BATALHA DO AMEIXIAL - Excerto de painel
de azulejos (544x164 cm). Oficina de Lisboa (c. 1670). Desenho de engenheiro
militar. Palácio dos Marqueses de Fronteira, Fundação das Casas de Fronteira
e Alorna, Lisboa, Portugal.
7 de Junho
A 7 de Junho de 1801 verifica-se a assinatura do Tratado de Badajoz através do qual
Portugal perde a cidade e o termo de Olivença. Painel de azulejos situado à entrada
do Centro Cultural de Olivença.
6 de Junho
A 6 de Junho de 1789 é decretada a deserção de Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805),
tenente de infantaria da 5ª Companhia da guarnição da Praça de Damão. BOCAGE (1979) -
Painel de azulejos de Louro de Almeida e Rogério Chora na entrada do Centro Comercial
Bonfim, Setúbal.
5 de Junho
A 5 de Junho comemora-se o “Dia Mundial do Ambiente”.
AZULEJO DE FIGURA AVULSA (12,9 cm x 12,8 cm).
Fabrico de Lisboa (1701-1750). Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.
4 de Junho
A 4 de Junho comemora-se o “Dia Internacional das Crianças Vítimas Inocentes
da Violência e Agressão”. Projecto de painel de azulejos (1901-1942).
Jorge Colaço (1868-1942). Aguarela e grafite sobre papel (25,3 cm x 19 cm).
Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.
3 de Junho
A 3 de Junho de 1919 começa a greve dos caminhos-de-ferro portugueses,
que durará dois meses. O Governo encerra o sindicato dos ferroviários.
LOCOMOTIVA – Painel de azulejos da estação da CP de Ovar.
2 de Junho
A 2 de Junho de 1940 verificou-se a abertura oficial das Comemorações
dos Centenários da Fundação e da Restauração da Nacionalidade, anunciadas
 pelo Presidente da Comissão Executiva dos Centenários, Júlio Dantas.
 PARTIDA DO DUQUE DE BRAGANÇA PARA LISBOA PARA OCUPAR
O TRONO: 1640 – Painel de azulejos da autoria de Gilberto Renda (1884-1971),
 realizado na Fábrica de Sant’Anna, Lisboa. Estação da CP de Vila Viçosa.
1 de Junho

A 1 de Junho comemora-se o “Dia Mundial da Criança”. CRIANÇAS NO BALOIÇO
(séc. XVIII).  Painel de azulejos portugueses no Museu do Açude (Rio de Janeiro),
antiga residência de Verão de Raymundo Ottoni de Castro Maya (1894-1968),
empresário, mecenas e coleccionador que deixou um  legado de 22.000 obras de arte.

Hernâni Matos 

quinta-feira, 30 de maio de 2013

“Até amanhã, Manuel Tiago" ou o neo-realismo como projecto de resistência.

A Professora Francisca Matos no decurso da sua palestra.
 Fotografia de Luís Mariano Guimarães.

Álvaro Cunhal, político e homem de Cultura, foi analisado enquanto escritor numa palestra ocorrida no passado dia 18 de Maio, na Sala de Exposições do Centro Cultural de Estremoz. Foi oradora a Professora Francisca Matos, que dissertou sobre o tema “Até amanhã, Manuel Tiago" ou o neo-realismo como projecto de resistência”. A iniciativa, integrada nas “Comemorações do Centésimo Aniversário do Nascimento de Álvaro Cunhal”, foi da Associação Filatélica Alentejana e contou com o apoio do Partido Comunista Português e da Câmara Municipal de Estremoz.
A palestrante procurou dar resposta a duas questões: a primeira, o que é o neo-realismo e quais as suas características fundamentais? A segunda, qual o papel de Álvaro Cunhal no neo-realismo português.
A oradora apresentou o neo-realismo como movimento literário que se manifestou entre meados dos anos 30 e finais da década de 50 do século XX, num período difícil que engloba a crise económica iniciada em 1929, o triunfo do nazismo e do fascismo na Europa e o deflagrar da 2ª Guerra Mundial. E acrescentou que é nesse contexto assinalado e condicionado por intensas tensões ideológicas, políticas, económicas, sociais e literárias que se consolidou o neo-realismo, que conduzirá os escritores e os artistas a uma tomada de consciência diferente daquilo que era a realidade portuguesa. A seu ver, eles protagonizam então um confronto intelectual e doutrinário com os presencistas, pertencentes à geração literária anterior, o qual irá emergir nas páginas de publicações como o jornal O Diabo, as revistas Seara Nova, Sol Nascente e Vértice. Em causa, segundo nos diz, estava uma interpretação diversa da função social do escritor e da própria literatura. Na verdade, como nos ensinou Francisca Matos, os neo-realistas acusavam a literatura presencista de ser “individualista, psicologista e, sobretudo, desinteressada do homem concreto e social”. Além disso, defendiam a prevalência do “conteúdo” em relação à “forma”, visando uma maior consciencialização política e social dos leitores, de modo a que esta pudesse conduzir a uma transformação política do país.
Para falar de Álvaro Cunhal/Manuel Tiago, a Professora Francisca Matos teve que viajar no tempo até à Penitenciária de Lisboa, onde ele se encontrava desde 1949 em regime de isolamento. Deu-nos assim conta de que visando lutar contra os efeitos psicossomáticos da encarceração, ele engendra múltiplas estratégias de ocupação do tempo, dedicando-se a uma intensa actividade intelectual que passa pela leitura, pela tradução, pelo desenho, pela pintura e pela escrita. Esta última, segundo disse a oradora vai funcionar como uma espécie de ligação aos companheiros da própria prisão e aos companheiros que no exterior davam continuidade à luta anti-fascista. É, de resto, uma forma de manter acesas as memórias e as imagens da vida exterior à prisão e aí encontra a força interior necessária para resistir à privação de liberdade e ao isolamento.
A escrita de um livro como “Até amanhã, camaradas” cumpre, na óptica da palestrante, variadas funções: é a prova de que Álvaro Cunhal não se deixa abater perante os carcereiros, mas é também um manifesto que apela à resistência colectiva dos que, cá fora, deverão dar continuidade à luta comum. “Até amanhã, Camaradas” constitui a seu ver uma epopeia da clandestinidade, em que Vaz, o “homem da bicicleta” personifica vários homens, companheiros de Álvaro Cunhal na clandestinidade, na luta política e nos ideais. Trata-se na sua opinião de um “herói” colectivo que simboliza os ideais do partido, cuja missão é preparar o restante colectivo (camponeses, operários e intelectuais) para “a revolução e o derrube da ditadura”. Por isso considera que a obra Até amanhã, camaradas, como outras de Manuel Tiago/Álvaro Cunhal ocupam um lugar de destaque no neo-realismo português. É que, segundo disse, apesar do seu autor ter escrito para si e por si, escreveu para os outros num espírito de fraternidade e de humanidade. Legou-nos assim um importante testemunho para memória futura sobre o que foi a luta pela liberdade e pela democracia no tempo da ditadura fascista, escrito por quem a viveu “por dentro” e por isso dela tinha uma visão privilegiada. É convicção de Francisca Matos que os textos de Manuel Tiago/Álvaro Cunhal falam de luta e de sofrimento, mas apelam à liberdade e à consciência da importância de ser livre e de viver sem medo. Esse terá sido o seu grande legado para todos nós.
No final da palestra, a que assistiram mais que cinco dezenas de pessoas, houve um debate vivo com a assistência.


Aspecto parcial da assistência à palestra.
Fotografia de Luís Mariano Guimarães.


terça-feira, 28 de maio de 2013

À rédea solta

MINERVA E AS NOVE MUSAS.
Hendrick van Balen (1575-1632).
Óleo sobre painel (78 x 108 cm).
Colecção privada.

Há Musas feitas de vento e de madrugada que nos levam a cavalgar em pradarias nunca dantes conhecidas. São galopes à rédea solta, sem qualquer tipo de regras de Cavalaria, já que o prazer mútuo é cavalgar. Mesmo um homem sábio não sabe quando termina esse trote louco e manso. E esse será, porventura, o maior fascínio da jornada.