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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O homem primitivo e a conquista do cosmos


HOMEM PRIMITIVO
Imagem recolhida de:

O nascimento da Geometria
Nos primórdios do tempo, o homem primitivo terá verificado que ao assentar a lança no solo brando ou na neve, ficava gravada uma marca que aumentava de tamanho, se no seu movimento arrastasse a lança. Deste modo, terá mentalmente elaborado as noções daquilo a que hoje chamamos ponto e linha. Daqui até à distinção entre linha recta e linha curva foi um passo, já que não lhe terá sido difícil reconhecer que as marcas gravadas nem sempre eram iguais, pois umas vezes andava a direito e outras não. Terá também reconhecido que a linha curva se poderia fechar sobre si própria, assim como a curvatura poderia ser variável ou sempre igual. Assim terá chegado à noção daquilo a que se viria a chamar circunferência. Estas noções empíricas de ponto, linha recta, linha curva e circunferência, constituiriam as bases materiais da Geometria, que terá encontrado em Euclides de Alexandria (360 a.C. - 295 a.C.), um dos seus mais altos expoentes na antiguidade clássica.

O nascimento da Mecânica
Por outro lado, a observação do movimento de calhaus rolados nos cursos de água, terá levado o homem primitivo a associar a facilidade de movimento destes calhaus ao facto de terem curvatura e serem desprovidos de saliências e reentrâncias. Daí até ao transporte de carga sobre troncos roliços foi novamente um passo. Estava assim descoberta a roda e com ela, as bases materiais da Mecânica, que na antiguidade clássica teve grande incremento graças ao trabalho de sábios como Arquimedes de Siracusa (287-212 a.C.).

Na terra e na água
O nascimento da Geometria e da Mecânica estão indissociavelmente ligados à necessidade de movimento e de transporte de carga pelo homem primitivo. Assim terão nascido os primeiros caminhos, antepassados remotos das redes de estrada e de caminhos-de-ferro.
O mesmo se terá passado relativamente ao movimento e transporte de carga nos cursos de água e nos lagos, em trajectos curtos, percursores das grandes rotas marítimas das descobertas de quinhentos.

O sonho de Ícaro
Subjugado pelas condições de extrema dureza da sua vida material, o homem primitivo terá decerto alimentado o sonho de voar como as aves que o rodeavam. Todavia, o chamado sonho de Ícaro, é do domínio da mitologia grega. Segundo esta, Ícaro era filho de Dédalo, o construtor do labirinto de Creta onde o rei Minos aprisionava o Minotauro, criatura híbrida, misto de homem e de touro. Caídos em desgraça, Ícaro e Dédalo, foram aprisionados numa torre por ordem do Rei Minos. Apesar de se conseguirem libertar da prisão, não conseguiam sair da ilha de barco, devido à estreita vigilância que o monarca exercia sobre os barcos. Dédalo construiu então asas artificiais para si e para seu filho, confeccionadas com penas de gaivotas e mel de abelhas. Antes de fugirem, Dédalo advertiu Ícaro para não voasse perto do sol, para a cera das asas não derreter, nem muito perto do mar, porque a espuma das ondas poderia tornar as asas mais pesadas. Todavia, Ícaro não atendeu os conselhos paternos e querendo realizar o sonho de voar próximo do sol, viu as suas asas desfazerem-se, despenhando-se no mar Egeu, enquanto seu pai, pesaroso com o sucedido, vou para a costa, onde chegou a salvo. O mito de Ícaro aborda temas como o efeito nefasto que pode ter um conselho, bem como o desejo de homem querer ir sempre mais longe, correndo o risco de se encontrar face à sua condição de simples ser humano.

A concretização do sonho de Ícaro
A concepção do balão de ar quente como meio de deslocação aérea deve-se ao padre brasileiro, Bartolomeu de Gusmão (1685-1724). A primeira demonstração com êxito do movimento ascensional de um balão de ar quente foi por ele realizada, utilizando um pequeno balão de papel pardo grosso, cheio de ar quente, produzido pelo fogo contido numa tigela de barro incrustada na base de um tabuleiro de madeira. A experiência decorreu com sucesso a 8 de Agosto de 1709, no Pátio da Casa da Índia, em Lisboa, na presença de D. João V, a rainha D. Maria Ana de Habsburgo, o Núncio Cardeal Conti, o Infante D. Francisco de Portugal, o Marquês de Fonte, fidalgos e damas da Corte. O balão subiu lentamente no ar e quando a chama se extinguiu, foi cair no Terreiro do Paço. O trabalho do padre Bartolomeu de Gusmão precedeu em 74 anos, as experiências com aeróstatos desenvolvidas pelos irmãos Montgolfier, Joseph Michel (1740-1810) e Étienne (1745-1799). Depois de várias experiências, no dia 21 de Novembro de 1783, perante o Rei Luís XVI a Rainha Maria Antonieta fizeram subir um balão de 32 m de circunferência , confeccionado em tela de linho e que foi enchido com fumo de uma fogueira de palha seca. O balão do qual estava suspenso um cesto, transportava dois tripulantes, Pilatre de Rozier e François Laurent, marquês de Arlandes, sobrevoou Paris e percorreu cerca de nove quilômetros em 25 minutos.
Em 23 de Outubro de 1906, o brasileiro Santos Dumont utilizando o seu famoso avião 14-Bis, efectuou em Paris, aquele que é considerado o primeiro voo bem sucedido de um avião, no qual percorreu uma distância de 221 metros.

Explorando o cosmos
Actualmente, as viagens cósmicas tripuladas ou não, só são possíveis, graças à acção de uma vasta equipa de cientistas e complexos cálculos de trajectórias, bem como devido à existência omnipresente de sofisticados mecanismos. Todavia, na génese de tudo isto está um contínuo acumular de saberes que entroncam nos arquétipos de natureza geométrica e mecânica do homem primitivo.


PARTIDA DE VASCO DA GAMA PARA A ÍNDIA EM 1497.
Aguarela de Alfredo Roque Gameiro (1864-1935).
 
A QUEDA DE ÍCARO (1636-1638)
Peter Paul Rubens (1577-1640)
Óleo sobre tela
Museu de Arte Antiga, Bruxelas. 
 EXPERIÊNCIA DE BARTOLOMEU DE GUSMÃO
Quadro de Bernardino de Sousa Pereira
Museu Paulista, São Paulo.
ASCENÇÃO CATIVA DE UM BALÃO MONGOLFIER
(JEAN-FRANÇOIS PILÂTRE DE ROZIER)
NOS JARDINS DA PAPELARIA RÉVEILLON,
A 19 DE OUTUBRO DE 1783.
Desenho de de Claude-Louis Desrais (1746-1816). 
 COSMOS
Imagem recolhida de:

segunda-feira, 14 de março de 2011

Do coice ao Cavalo-vapor

Churrião. Bilhete-postal ilustrado do início do século XX (Edição de Faustino António Martins, Lisboa).

Órfãos de pai e mãe, discípulos acidentais de Proust, procuramos angustiadamente o tempo perdido.
Foi na velha Albion, nos primórdios da Revolução Industrial, que os iniciáticos da energia elástica do vapor, deram o golpe de misericórdia na empregabilidade e ultrajaram a convicção libertária de que o Homem é o capital mais importante. Económica e sociologicamente estiveram na génese do capitalismo, das sequelas que se lhe seguiram, bem como de outros “ismos” que prosseguiram na sua peugada. Todavia e numa perspectiva cientifica de Arqueologia Industrial - é legítimo pensá-lo - foram arcaicos. Os seus arquétipos estavam limitados espaço-temporalmente à energia do cavalo, ao coice da mula e à teimosia do burro, o qual duma forma singular, sabe como ninguém dizer:
- “ Não. Não vou por aí”.
Para eles, a sua referência-mestra eram a energia e a potência dos motores de combustão a palha. Do coice e da tracção animal, assim se chegou ao Cavalo-vapor como unidade de potência.

domingo, 4 de julho de 2010

A Experiência dos Hemisférios de Magdeburgo


    Experiência dos Hemisférios de Magdeburgo – Azulejos Barrocos Joaninos (1744-1749) da
Aula de Física da Universidade do Espírito Santo (hoje sala 120 da Universidade de Évora)
e que atesta a preocupação dos jesuítas com a modernização do ensino científico.


A EXPERIÊNCIA DOS HEMISFÉRIOS DE MAGDEBURGO
A experiência dos Hemisférios de Magdeburgo foi efectuada em 8 de Maio de 1654, em Magdeburgo (Alemanha), pelo burgomestre da cidade, o jurista e físico Otto Von Guericke (1602-1686), perante o Imperador Friedrich Wilhelm von Brandenburg (1620-1688) e a sua corte.

Otto von Guericke, gravura de Anselm van Hulle (1601-1674).

A experiência visava a separação de dois hemisférios de cobre, de 51 centímetros de diâmetro, unidos por contacto comum com um anel de couro, formando uma área fechada, da qual foi extraído o ar com recurso a uma bomba de vácuo, inventada pelo próprio Von Guericke. Em cada hemisfério existiam anéis para prender cabos ou correntes que eram puxados em sentidos opostos.
Os espectadores ficaram completamente surpreendidos ao verificar que diferentes grupos de homens, puxando com toda sua força em sentidos opostos, não conseguiram separar os hemisférios. O mesmo aconteceu com dois grupos de 8 cavalos puxando em sentidos opostos. Só depois dum grande esforço da parte dos cavalos, é que foi possível separar os hemisférios, o que só foi conseguido por não ser perfeito o vácuo alcançado através da rudimentar bomba de vácuo de Von Guerick. Em contrapartida, deixando entrar o ar para o interior dos hemisférios através duma torneira de admissão, era possível separar os hemisférios sem qualquer dificuldade.

Gravura de Gaspar Schott (1608 - 1666), executada em 1657, reproduzindo a experiência dos hemisférios de Magdeburgo, realizada em 1654. Publicada no livro de Otto Von Guericke “ Experimenta nova (ut vocantur) Magdeburgica de vacuo spatio”, editado em 1672.

A experiência seria repetida ainda no mesmo ano em Berlim, com 24 cavalos.
Com esta experiência Von Guerick demonstrou:
- a imensa força que a atmosfera podia exercer sobre os corpos;
- a existência de pressão atmosférica sobre os corpos;
- a existência do vazio.
A interpretação corrente do resultado experimental é a de que os hemisférios não se separam enquanto a pressão atmosférica for superior à pressão do ar no interior dos hemisférios. Uma vez conseguida a igualdade de pressões, através da entrada de ar, é fácil a separação dos hemisférios.
Com a sua experiência, Von Guerick pôs fim, de forma espectacular às ideias que vinham sendo defendidas desde Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) e segundo as quais a Natureza teria “horror ao vácuo”, preenchendo imediatamente, a todo custo, qualquer espaço que fosse deixado sem matéria.
A UNIVERSIDADE DE ÉVORA
A criação da Universidade de Évora data de 18 de Outubro de 1558, por Bula de Paulo IV e a abertura solene das aulas ocorreu no dia 1 de Novembro de 1559, sendo 1º Reitor o Padre Leão Henriques.
A Universidade de Évora foi suprimida em 1759 pelo Marquês de Pombal, quando da expulsão da Companhia de Jesus. No período que medeia entre 1841 e 1979, o edifício esteve ocupado pelo Liceu Nacional André de Gouveia. Após um hiato de 200 anos, ocorreu uma reestruturação em 1973, primeiro, como Instituto Universitário, e pelo Decreto de 14 de Dezembro de 1979, como Universidade de Évora.
Na Universidade de Évora cursaram, no período áureo, vultos da Cultura Humanística Universal como Luís de Molina, Sebastião Barradas, Francisco Suarez, Pedro da Fonseca, Manuel Álvares Baltazar Teles, Francisco da Fonseca, António Franco, S. Francisco de Borja, padre António Vieira, D. Afonso Mendes, Patriarca da Abissínia e o arcebispo de Braga D. José, filho de D. Pedro II.
Na volumosa construção trabalharam alguns dos maiores arquitectos quinhentistas: Afonso Alvares, Manuel Pires, Diogo de Torralva e Cristóvão de Torres.
Do seu conjunto monumental e artístico destacam-se silhares de azulejos historiados, de temática bíblica, mitológica, literário-poética (Virgílio, Platão, Arquimedes, Aristóteles), do Humanismo e das leis naturais, que revestem todas as aulas quinto-joaninas (1744-49).

Publicado inicialmente a 4 de Julho de 2010

BIBLIOGRAFIA
ESPANCA, Túlio. Évora – Arte e História. 2º edição. Câmara Municipal de Évora. Évora, 1987.
ESPANCA, Túlio. Évora – Encontro com a Cidade. Câmara Municipal de Évora. Évora, 1988.