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quinta-feira, 28 de abril de 2022

Qual morte, qual carapuça!



O presente texto de reflexão foi elaborado
 na sequência da recepção de um email do senhor João Ferro,
 enviado no passado dia 16 de Abril, a todos os colaboradores do Jornal E


O senhor João Ferro queixa-se de que quiseram matar os "Brados", jornal que defende tal como eu, que nele tenho sido cronista em diferentes momentos do seu e do meu percurso de vida. Equaciona ainda se "Valerá a pena, haver na nossa terra dois jornais?". Ora, isto "cheira-me a gato escondido com o rabo de fora". Será que o senhor João Ferro entende que o "Jornal E" deveria acabar? Usando as suas palavras: achará ele que o jornal E, deveria ser morto? Só ele é que poderá responder. E é bom que responda.
Pela minha parte, na qualidade de cronista do "Jornal E" em diferentes momentos do seu e do meu percurso de vida, acho que não. Acho que isso seria um disparate de todo o tamanho.
Na minha perspectiva cívica, ética, cultural e também ideológica, uma sociedade democrática é necessariamente plural. Palavra de honra que me chateia a tentação de alguns de que se cante a uma só voz, o que é terrivelmente monótono. Então não é mais interessante e valiosa a polifonia?
O "Jornal E" e os "Brados" são igualmente respeitáveis, apesar do segundo já ter cabelos brancos e o primeiro ainda não.
Cada um deles tem o seu público e há quem seja público dos dois, como é o meu caso.
Cada um deles é uma voz importante em termos locais e regionais e dá-se o caso de conviverem bem um com o outro.
Parafraseando Ives Montand, diria até que são companheiros de estrada. Ora, é sabido que os companheiros de estrada são livres na sua caminhada. Grande parte do percurso é comum, mas há uma altura em que um deles diz: “- Eu não vou por aí!” E não vai, o que constitui seu legítimo direito. É assim que deve ser em termos da vivência democrática proporcionada pelas "Portas que Abril, abriu”, como oportunamente pregoou o saudoso José Carlos Ary dos Santos.
Daí que eu rejeite liminarmente a “ideia peregrina” do senhor João Ferro e parafraseando o senhor Pinto da Costa, proclame alto e bom som:
- “Cada macaco no seu galho!”
É que não é legítimo nem ético, advogar a morte de alguém, para assegurar a vida a quem já desejaram que morresse, mas não morreu e felizmente está vivo.

Hernâni Matos
Publicado no "Jornal E" n.º 299. de 29 de Abril de 2022.

sexta-feira, 22 de abril de 2022

Joana Santos e o “Ti Manel do tarro”



Ti Manel do Tarro (1922). Joana Santos (1978-  ). 

É sabido que de há largos anos a esta parte, sou coleccionador e estudioso da Arte Pastoril Alentejana. Quer daquela que saiu das mãos de criadores anónimos, como da criada por aqueles que tendo saído do anonimato, me concederam a prerrogativa da sua amizade. Foi o caso do veirense Roberto Carreiras (1930-2017), com quem tive o privilégio e o prazer de privar, bem como com sua esposa Rosa Mariano Machado, no decurso das Feiras de Artesanato em Estremoz.
Roberto Carreiras partiu há 5 anos, completados no transacto dia 8 de Janeiro. No elogio fúnebre (*) que lhe fiz na altura do seu falecimento, disse: “Pessoalmente, orgulho-me de as minhas colecções de Arte Pastoril integrarem especímenes afeiçoados pelas suas mãos, que comandadas pela sua alma de visionário, nunca se renderam à rudeza do uso do cajado e do mester de vaqueiro. Foram mãos hábeis que aliadas a um espírito sensível, conseguiram filigranar e esculpir os materiais com mestria.”
Decorridos 5 anos, a barrista Joana Santos teve acesso a uma excelente fotografia de Isabel Borda d'Água, na qual figura Roberto Carreiras, sentado, a manufacturar um tarro de cortiça. De imediato, pensou em criar um Boneco de Estremoz, que perpetuasse no barro a actividade daquele lídimo representante da Arte Pastoril Alentejana. E se bem o pensou, melhor o fez, para gáudio daquele que viria a ser o seu felizardo destinatário, que como devem ter calculado fui eu.
“Ti Manel do tarro” chamou a barrista à sua criação. Ora, Manuel é um nome bastante comum no Alentejo, pelo que ao cognominar a figura com aquele epíteto, a barrista regionaliza a sua criação, que assim transcende a figuração de Roberto Carreiras e ascende à condição de representação generalista dum mesteiral de Arte Pastoril Alentejana.
Fascinado pela obra da barrista, dei-lhe conta desse meu estado de espírito, através da presente missiva:
"Joana:
O “Ti Manel do tarro” está uma maravilha das maravilhas. É um monumento e simultaneamente um hino à matriz identitária da Arte Popular Alentejana. Digo hino, porque para deleite de espírito, da figura que criou, flui o cante da Alma Alentejana. A mesma alma que conjuntamente com as suas mãos benditas, perpetuou no barro a figura icónica do meu grande amigo, o veirense Roberto Carreiras, uma referência eterna da Arte Pastoril Concelhia.
Bem-haja Joana, por toda a beleza que vem criando e connosco partilha."


(*) – MATOS, Hernâni. Roberto, guardador de vacas e artista popular. [Em linha]. Disponível em:





Roberto Carreiras (1930-2017). Fotografia de Isabel Borda d'Água.

quarta-feira, 20 de abril de 2022

Jorge da Conceição e o Porteiro do Céu

 

Fig. 1 - São Pedro (1984). Jorge da Conceição (1963-  ).

A aparição de São Pedro
As horas são como as cerejas. Atrás de uma vem sempre outra. E foi assim que em Outubro passado, já a desoras, ainda me encontrava vigilante no meu posto de pescador à linha, a ver aquilo que conseguia pescar na internet. Já não me lembro da palavra chave que naquela altura utilizei como engodo no motor de busca do OLX. O que é verdade, é que fui surpreendido pelo aparecimento de “peixe graúdo”.
Tratava-se de uma imagem de São Pedro (Fig. 1), de grandes dimensões, identificada como “Boneco de Estremoz” e que na base ostentava a marca manuscrita “Jorge Conceição / Palmela 1984” distribuída por duas linhas, ladeada à esquerda e um pouco mais abaixo pelo carimbo “ESTREMOZ / PORTUGAL” (2 cm x 0,8 cm), distribuído igualmente por duas linhas. Trata-se de uma marcação (Fig. 2), que por desconhecimento meu não foi inventariada nas págs. 81 e 85 do meu livro (1). Se em 2018, à data de edição do livro, podia dizer “Quem dá o que tem, a mais não é obrigado”, na actualidade impõe-se o preenchimento da lacuna, do que aqui dou conta para usufruto do leitor.
A figura, da autoria do prestigiado barrista Jorge da Conceição Palmela, fora criada há quase quarenta anos, na sua primeira fase de produção. De imediato, contactei o vendedor, revelando o meu interesse na sua aquisição e solicitando o envio de coordenadas bancárias, visando o pagamento do item pretendido. O vendedor respondeu-me na manhã seguinte e eu de imediato, efectuei o respectivo pagamento. O inesperado “achado”, dada a sua natureza, ocupa um lugar de destaque e muito especial na minha colecção.

Onde se fala da sorte
Quem soube do sucedido, logo me disse:
- És um homem de sorte!
E eu repliquei sempre:
- Qual sorte, qual carapuça!
Não fosse eu um internauta persistente, com a mente povoada de sonhos e a ânsia de descobrir o que há para ser descoberto e nunca teria tido a sorte que me atribuem. De resto, a nossa tradição oral regista os provérbios: "Cada qual é artífice da sua sorte." e "A sorte ajuda os ousados." Mas houve quem continuasse:
- Isso são provérbios. O que é um facto, é que és um homem de sorte!
Bom. Aqui comecei a ficar com os azeites. Então o meu trabalho de pesquisa persistente não valia nicles? E vá daí, pus-me a pescar por aí, o que diz o pensamento ocidental acerca da sorte e respiguei as seguintes afirmações: “A sorte sorri aos fortes” (2); “A sorte ajuda os audazes” (3); “A diligência é a mãe da boa sorte” (4); “Acredito muito na sorte; verifico que quanto mais trabalho mais a sorte me sorri” (5), “Creio muito na sorte. Quanto mais trabalho, mais sorte pareço ter” (6); “A sorte não existe. Aquilo a que chamais sorte é o cuidado com os pormenores” (7); “A sorte marcha com aqueles que dão o seu melhor” (8); “A seguir ao trabalho duro, o maior determinante é estar no sítio certo à hora certa” (9).
Municiado com estes nobres pensamentos, procurei um a um, os meus opositores, fervorosos adeptos da sorte e disparei-lhos em frases seguidas, mesmo à queima roupa. E perguntei-lhes depois:
- E então? Continuam a acreditar na minha sorte?
Não houve um único que tivesse a coragem de me dizer que sim. Creio que alguns ficaram mesmo convencidos que eu tinha razão. Mas outros, adeptos das crenças cegas, lá no fundo continuaram a pensar que não. Todavia, não arranjaram argumentos para me fazer frente e “fecharam-se em copas”.

Jorge da Conceição visto à lupa
Como refiro no meu livro (1), “Tive o privilégio de ser professor de Física de 12º ano de Jorge da Conceição e desde essa época que o vejo como um perfeccionista que procura dar o melhor de si próprio em tudo aquilo que faz, o que se reflecte não só na concepção como nos acabamentos das figuras que modela.”. No livro dei conta de que Jorge da Conceição é “… filho da barrista Maria Luísa da Conceição (1934-2015), neto dos barristas Mariano da Conceição (1903-1959) e Liberdade da Conceição (1913-1990) e sobrinho de Sabina da Conceição Santos (1921-2005), irmã de Mariano.”. E concluí: ”Filho e neto de peixes sabe nadar, pelo que Jorge da Conceição estava condenado a ser barrista, tomando contacto com o barro desde criança e criando apetência pela manufactura de Bonecos como via fazer à avó e à mãe. Foi assim que aprendeu as técnicas e a arte de modelar o barro, manufacturando Bonecos enquanto estudava, até à idade de 21 anos”, quando frequentava no Instituto Superior Técnico, o Curso de Engenharia Electrónica e de Computadores – Variante de Electrónica e Telecomunicações. A imagem de São Pedro de Jorge da Conceição, datada de 1984, pertence à parte final da sua primeira fase de produção, já que ele decidiu interromper a sua actividade como barrista, para só a retomar em 2013, após uma carreira profissional na área de consultoria que durou 25 anos e o manteve afastado da modelação do barro. Todavia, a chamada do barro, que transporta na massa do sangue, levou-o em 2013 a dedicar-se exclusivamente à barrística.
Jorge da Conceição participou em 1983 e 1984, na I na II Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz. Foi nesta última que alguém comprou a imagem que hoje é minha. Na altura, eu não lhe comprei nada, pois o dinheiro não era muito e eu andava fascinado, como hoje ainda ando, pelo trabalho de sua avó, Liberdade da Conceição, que tal como sua mãe e ele próprio, me concedeu o privilégio da sua amizade. De sua avó, tenho na minha colecção um bom núcleo de figuras, com especial destaque para imagens de Santo António, São João Baptista e São Pedro, qualquer delas de grandes dimensões.

Felicitações de Jorge da Conceição
Quando soube da minha “pescaria”, Jorge da Conceição felicitou-me vivamente pela aquisição da imagem, já que são escassas as peças dessa época na posse de coleccionadores. Disse-me ainda que na II Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz, para além de algum “peixe miúdo” à disposição do público, tinha ainda para vender as imagens de Santo António, São João Baptista, São Pedro e São Marçal, das quais vendeu apenas as duas últimas, que integram neste momento a sua colecção. Com o regresso do seu São Pedro à terra mãe, é caso para reconhecer de uma forma proverbial que “O bom filho a casa torna”.

BiMestre Jorge da Conceição
Em 2019 teve lugar em Estremoz, no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte, um Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz. A formação da componente técnica do Curso foi liderada por Jorge da Conceição, que contou com o apoio inestimável de Isabel Água e de Luís Parente. Ali se formou um grupo de barristas, os quais se encontram presentemente a produzir. São eles: Ana Catarina Grilo, Inocência Lopes, Joana Santos, José Carlos Rodrigues, Luísa Batalha, Madalena Bilro, Manuel J. Broa, Sara Sapateiro, Sofia Luna e Vera Magalhães. Todos eles o reconhecem como uma referência de topo da nossa barrística e praticamente todos o tratam carinhosamente por Mestre, já que foi com ele que aprenderam.
As criações de Jorge da Conceição ostentam marcas identitárias singulares e por isso notáveis. Em primeiro lugar, o rigor e a perfeição na modelação, com integral respeito pelas proporções, pela morfologia, pelas texturas, bem como a representação do movimento. Em segundo lugar, um cromatismo harmonioso que resulta de uma sábia combinação de cores. Tudo isso contribui para que os trabalhos de Jorge da Conceição sejam reveladores da sua incomensurável mestria. Trata-se de facetas do seu trabalho, que ultrapassam o âmbito restrito dos seus formandos e catapultam o barrista a uma nova dimensão de Mestre. Daí eu ter assumido a iniciativa terminológica de o considerar um biMestre. De resto, tenho de lhe agradecer o prazer que me dá em usufruir do deleite de espírito causado pela visualização dos seus trabalhos. Daí que lhe confesse: Jorge,

De si é sempre admirável,
toda e qualquer criação.
Tudo o que faz é notável,
Mestre Jorge Conceição.

Oração a São Pedro
Senhor São Pedro, Pescador, Apóstolo, 1.º Bispo de Roma, 1.º Papa e Mártir, já que sois Porteiro do Céu, atrasai a abertura das portas da abóbada celeste, para que eu me possa libertar da culpa de há cerca de 40 anos não ter comprado Bonecos de Mestre Jorge da Conceição. Dai-me mais uns anos bons, para que eu possa preencher as muitas lacunas que ainda tenho na minha colecção. Amém.

(1) – MATOS, Hernâni. Bonecos de Estremoz. Edições Afrontamento. Estremoz / Póvoa de Varzim, Outono de 2018.
(2) - Terêncio (185 a.C.-159 a. C.), poeta romano
(3) - Virgílio (70 a.C-19 d.C.), poeta romano
(4) - Miguel de Cervantes (1547-1616), romancista espanhol.
(5) . Thomas Jefferson (1743-1826), estadista norte-americano.
(6) - Ralph Waldo Emerson (1803-1882), escritor norte-americano.
(7) - Winston Churchill (1874-1965), estadista inglês.
(8) - Horace Jackson Brown Jr. (1940-2021), romancista americano.
(9) - Michael Bloomberg (1942- ), magnata norte-americano.

Publicado em 20-04-2022


Fig. 2 - Marcação no interior da peanha da imagem de São Pedro. 

Fig. 3 - Jorge da Conceição em 1985.

domingo, 17 de abril de 2022

Eu e a olaria de Estremoz


Garrafão

Pontos nos ii
A olaria de Estremoz, extinta com a morte de Mário Lagartinho em 2016, é há muito, objecto das minhas preocupações, as quais tenho partilhado com os leitores, desde a criação deste blogue em 2010. Em 2016, lancei o alarme mais forte de todos, mas não fizeram caso do que eu disse e redisse, alegando que havia outro projecto em carteira. Decorridos todos estes anos, está a decorrer finalmente e por módulos, um Curso de Olaria em Estremoz, numa parceria do Município com o CEARTE. É do conhecimento público que os resultados estão a superar as expectativas, o que muito me congratula. A minha expectativa agora é só uma: saber quem é que vai continuar a Arte, depois de ter terminado o Curso.
Entretanto, como estudioso e coleccionador de longa data de peças oláricas de Estremoz, entendo que é chegada a altura de tocar trombetas e motivar ainda mais as pessoas para a nossa olaria. Este texto deve assim ser encarado como um pontapé de saída nessa direcção.

Tipologia
É diversificada a tipologia das peças oláricas de Estremoz. As principais são: Assadores, Barris, Bilhas, Cafeteiras, Cântaros, Cantis, Cinzeiros, Copos, Fogareiros, Garrafas, Jarras, Mealheiros, Medalhas, Moringues, Palmatórias, Pratos, Púcaros, Reservatórios, Troncos, Vasos de flores, etc.

Morfologia
A uma dada tipologia podem corresponder várias morfologias. Assim um moringue pode ter um corpo ovóide, esferóide, cilindróide segundo a vertical ou a horizontal, bem como qualquer outra forma distinta das anteriores.

Dimensões
Em geral, uma peça olárica de determinada tipologia e com uma dada morfologia, existe em vários tamanhos, numerados a partir do 1, número que corresponde ao mais pequeno. Este número pode aparecer gravado na base da peça ou aí marcado a giz, depois da cozedura ou então nem sequer ter sido marcado.

Proporções
É óbvio que as proporções entre as 3 dimensões de qualquer peça olárica no seu todo ou entre os seus componentes, não é arbitrária. São proporções que os oleiros de várias gerações foram perpetuando no barro, após a magia das suas mãos as ter tornado harmoniosas.

Tipos de decoração
Os tipos de decoração utilizados nas peças oláricas de Estremoz são de seis tipos principais:
1 - O empedrado, no qual meniscos convexos de argila, decorados com minúsculos fragmentos de quartzo, são colados com barbutina à peça;
- 2 - O riscado, que recorre a sulcos gravados na superfície, com recurso a um teque, um arame, um prego ou uma sovela;
- 3 - O picado, que utiliza formas geométricas que são gravadas na superfície por percussão de objectos cuja secção tem uma determinada geometria, como é o caso dos invólucros de bala e dos cartuxos de caça;
- 4 - O polido, que utiliza o contraste entre a superfície baça e os motivos que foram polidos com recurso a um seixo ou a um teque;
- 5 - A fitomórfica e/ou zoomórfica, na qual folhas, bolotas, ramos de sobreiro e/ou animais, são moldados em barro e colados com barbutina à superfície;
- 6 - A relevada, na qual brasões de Estremoz ou outros, bem como inscrições como “RECORDAÇÃO DE” ou “LEMBRANÇA DE”, são moldadas em barro e colados com barbutina à superfície;
Para além disso são conhecido exemplares que ostentam uma decoração obtida pela utilização conjunta de alguns dos tipos referidos de 1. a 6. Assim:
- 7 - Empedrado e riscado;
- 8 - Empedrado e picado;
- 9 - Empedrado, riscado e picado;
- 10 - Empedrado, riscado e relevado;
- 11 - Empedrado, picado e relevado;
- 12 - Empedrado, riscado, picado e relevado;
- 13 - Fitomórfica e/ou zoomórfica e polido;
- 14 – Fitomórfica e/ou zoomórfica, relevado e polido;
Por aqui se vê a diversidade e logo a riqueza da decoração das peças oláricas de Estremoz. Essa diversidade verifica-se também ao nível da decoração fitomórfica/ e ou zoomórfica e da decoração relevada, já que esta não é igual em olarias distintas, bem como na mesma oficina pode ter sido obtida por moldes diferentes, além de que estes podem ter sido substituídos por outros no decurso do tempo, devido a desgaste ou por questões meramente estéticas.

Funcionalidade
A funcionalidade das peças oláricas de Estremoz é predominantemente servirem de vasilhame para conter e transportar água, conter flores, dinheiro, velas, ou então servirem de elementos decorativos. Algumas funcionalidades deixaram de ser utilizadas, devido ao desenvolvimento tecnológico. É o caso dos tijolos, telhas, canos, sifões e manilhas.

Marcas
O levantamento das marcas de olaria de Estremoz é um trabalho que ainda está em curso. Até ao momento, eu já dei o contributo que me foi possível, inventariando três marcas da Olaria Alfacinha, em uso nos anos 30 do século passado, as quais foram caracterizadas pela primeira vez no meu artigo “Medalhas de barro de Estremoz”, publicado no meu blogue em 12 de Novembro de 2012. Também em 21 de Fevereiro de 2013, publiquei no meu blogue o artigo “Nova marca de olaria de Estremoz”, no qual inventariei e caracterizei uma marca de olaria, usada nos anos 30 do século passado, na Escola Industrial António Augusto Gonçalves. É um trabalho que precisa urgentemente de ser continuado, o que pela minha parte, farei assim que me for possível.

Estética
A meu ver, a estética das peças oláricas de Estremoz é determinada por quatro factores distintos, mas de igual importância: o cromatismo vermelho do barro, aliado à morfologia, às proporções e à decoração. É da conjugação desses factores, sabiamente combinados, que resulta a excelência da beleza das peças oláricas de Estremoz.

Património Cultural Imaterial
À semelhança dos Bonecos, também a olaria de Estremoz apresenta marcas identitárias locais, muito próprias e constitue Património Cultural Imaterial do Concelho de Estremoz, pelo que urge que seja classificada como sendo de interesse municipal. A partir daí, logo se vê.

Ponto final
Os meus votos sinceros são os de que este artigo tenha sido útil a todos aqueles que me lêem. Se assim for, congratulo-me com tal facto e prometo voltar ao assunto.

 Hernâni Matos

Assador de castanhas

Bilha

Bilha com tampa

Cafeteira

Cafeteira

Cafeteira

Cântaro

Cantil

Copo

Fogareiro

Garrafa

Garrafa

Garrafa


Ânfora

Jarra de flores

Jarra de flores

Jarro

Medalhas

Moringue

Moringue

Moringue

Prato

Prato

Púcaro 

Púcaro

Púcaro

Reservatório

Tronco

Vaso


Vaso de suspensão

domingo, 27 de fevereiro de 2022

O fascínio da cerâmica de Redondo

 

Bacia. Oleiro desconhecido. 1910-1911.


Pontapé de saída
A cerâmica de Redondo exerce há muito sobre mim, um enorme e justificado fascínio: pela diversidade da sua tipologia, pela riqueza e variedade da sua morfologia, pela tecnologia de fabrico, pela sua decoração, pelos processos pelos quais é concretizada, pelas temáticas da decoração, pelo cromatismo, pela funcionalidade dos seus modelos e, finalmente, pela sua História e Etnografia.

O jogo em si
Ao longo dos anos fui reunindo exemplares que fui adquirindo, sobretudo no Mercado das Velharias em Estremoz e mais recentemente através de compras “on line”.
Ultimamente cheguei à conclusão que era imperioso inventariar os espécimes da minha colecção, pelo que se tornava necessário estudá-los, o que tenho vindo a fazer, recorrendo à bibliografia existente e que disponho ao meu alcance. Não tem sido tarefa fácil, a começar pela datação das peças, as quais não estando datadas, é sempre aproximada. A maioria das peças não estão assinadas, pois isso era pratica corrente. Deste modo, há um número considerável delas, para os quais não consegui identificar nem o oleiro, nem o(a) decorador(a). A tarefa a que me propus é uma tarefa hercúlea, daquelas que vulgarmente são designadas por “bico de obra”. Para ser mais preciso: a inventariação sem mácula de uma peça olárica de Redondo, é humanamente impossível, tal como o é a quadratura do círculo. Todavia, tal impossibilidade não me tem impedido de procurar inventariar os meus exemplares, tendo em conta os itens em relação aos quais é possível fazê-lo.
Uma tal inventariação tem sido acompanhada de uma leitura antropológica, que delas vou fazendo e na sequência das qual acabo por contruir uma estória, já que as peças falam comigo e eu sou um contador de estórias. As mesmas têm sido divulgadas no meu blogue "Do Tempo da Outra Senhora"  e posteriormente na minha página do Facebook.

Remate final
Recentemente e na sequência da divulgação da mais invulgar peça da minha colecção, recebi do historiador, Dr. José Calado, um comentário que muito me congratulou:
- Fantástica. Muito obrigado por mais esta extraordinária partilha...
A minha resposta célere foi a que reproduzo de seguida:
- É com todo o gosto que o faço. Como coleccionador sinto necessidade de estudar as peças que me tocam a alma e a divulgação dos resultados da minha pesquisa é um corolário natural que culmina todo o processo. Todavia, este não fica fechado. É um processo sempre em aberto, permeável a todas as descobertas e/ou reflexões que eu próprio ou alguém possa produzir. Nesse sentido, a representação que faço da peça é uma representação dinâmica, já que se encontra em permanente reconstrução.
É isso que prometo continuar a fazer, já que sou resiliente e costumo reincidir. Podem ter a certeza.

BIBLIOGRAFIA
MADUREIRA, João. Memórias da Olaria de Redondo. Centro de Documentação do Pão. Terena, 2015
CALADO, José. Redondo Terra de Oleiros. Santa Casa da Misericórdia de Redondo. Redondo, 2013.
CARMELO AIRES, António. Cerâmica de Redondo – Um Outro Olhar. Câmara Municipal de Redondo. Redondo, 1921.
Hernâni Matos

Bacia. Oleiro desconhecido.

Alguidar. Oleiro desconhecido.

Prato covo. Ti Rita (1891-1974).

Prato covo. Ti Rita (1891-1974).

Bacia. Álvaro Chalana (1916-1983).


Prato covo.  Álvaro Chalana (1916-1983).

Prato covo.  Álvaro Chalana (1916-1983).


Bacia. Ti Rita (1891-1974).


Bacia. Oleiro desconhecido.

Prato covo. Olaria Beira.

Prato peixeiro.  Álvaro Chalana (1916-1983).

Barril.  Álvaro Chalana (1916-1983).

Borracha. F. R. Cte, oleiro. 1941