No passado dia 19 de Agosto
concluí o meu 79º passeio solar. Convenhamos que começa a ser monótono,
repetitivo e mesmo cansativo. Com a agravante de ter plena consciência de que
como passageiro terrestre a duração do meu passeio ser finita, ainda que indeterminada.
O meu corpo em desagregação lenta
mas inexorável como todos os outros, é regido pelas leis da Física Quântica.
Daí que quando a minha viagem chegar ao fim, cumprir-se-á uma espécie de lei de
Lavoisier generalizada, já que “Na Natureza nada se perde, nada se cria, tudo
se transforma”. A minha estrutura orgânica decompor-se-á numa miríade de átomos
de elementos constitutivos da Tabela Periódica, com especial predominância de
átomos de oxigénio, carbono, hidrogénio, azoto, cálcio, fósforo, potássio,
enxofre, sódio, cloro e magnésio. Libertos do meu corpo irão desempenhar novos papéis, novas funções, novas missões, sabe-se lá
quais. A minha decomposição orgânica será também acompanhada da libertação de
energia que mantinha coesa a minha estrutura orgânica. Também ela irá
desempenhar novos papéis, novas funções, novas missões.
O fim da viagem cósmica é um acto
de libertação das amarras gravitacionais da matéria e do
espaço-tempo-energia. A partir daqui há
um universo de crenças que não quero ferir por respeito às crenças que
constituem um direito individual de cada um. Para além disso esta conversa já
vai longa.
Como passageiros terrestres desta
viagem cósmica em que nos vemos envolvidos, cumprimos rituais tribais cuja
origem se perdem nos alvores do tempo. Uma delas é assinalar anualmente cada
volta ao Sol em convívio e comunhão de espírito com a Família e amigos.
No dia em que completei a mais recente volta ao Sol, optei por me cingir à companhia da célula familiar e lá fui com a Fátima, minha mulher e a Catarina, minha filha, rumo à Mercearia Gadanha, prestigiado restaurante estremocense, que figura no Guia Michelin e onde fomos principescamente atendidos. Abstenho-me de revelar a ementa, mas asseguro-vos que o ritual tribal de comemorar mais uma volta completa ao Sol, foi deveras gratificante e reconfortante.
Excelente texto.
ResponderEliminarFeliz Aniversário.
Abraço amigo
Luis Milhano