Fig. 1 - Pastor de tarro e manta. Aclénia Pereira (1927-2012)
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Aclénia Pereira (1927-2012) é uma barrista de Estremoz cujo perfil biográfico tracei em 2018 [1] , o qual pode ser lido na hiperligação acima indicada.
Aclénia frequentou a Escola Industrial António Augusto Gonçalves entre 1940 e 1943. Aí foi aluna de Mestre Mariano da Conceição (!903-1959) na disciplina de “Oficina”, durante 3 anos lectivos consecutivos. Com ele aprendeu a modelar e a decorar Bonecos de Estremoz, podendo tal como Armando Alves (1935 - ), ser considerada discípula daquele Mestre. É de sua autoria o “Pastor de tarro e manta” da Fig. 1, que ostenta na base duas das suas bem conhecidas marcas de autor. (Fig. 2). A data 22-5-50 escrita verticalmente na base com lápis de grafite, é por mim interpretada como sendo a data de aquisição registada por quem adquiriu a figura à barrista, que teria então 23 anos. Significa isto que ao fim de 7 anos de ter deixado de ser aluna de mestre Mariano da Conceição já produzia figuras com marcas individuais diferenciadas das do Mestre. Com efeito, à semelhança de Ana das Peles (1869-1945) na sua primeira fase de produção, a representação do olhar utilizada por Aclénia é feita através da menina do olho e da sobrancelha. Já Mestre Mariano da Conceição, utilizava a menina do olho, a sobrancelha e a pestana na representação do olhar. Esta, enquanto marca identitária dum determinado barrista, integra conjuntamente com outras marcas identitárias, aquilo que se pode designar como o estilo desse barrista. Por outras palavras: o estilo pode ser definido como o conjunto de marcas identitárias de cada barrista.
Como diferentes barristas têm, naturalmente, algumas marcas identitárias distintas das de outros barristas, resulta daí que cada um deles tem o seu próprio estilo, o que não é impeditivo de qualquer deles, no decurso da produção, seguir os cânones subjacentes à Estética do Boneco de Estremoz, a qual tem a ver com a modelação e com a decoração, mas não com a representação do olhar, que ao longo da História do Boneco de Estremoz é diversificada e plural.
É inteiramente desprovido de sentido, considerar, como alguns o fazem, que as figuras que não apresentam “duas riscas por cima dos olhos”, não obedecem à Estética do Boneco de Estremoz. Além de ser uma afirmação inteiramente desprovida de sentido, não fica bem fazer essa afirmação, porque não é uma afirmação séria, visto que não corresponde à realidade histórica.
Por outro lado, produzir intencionalmente uma tal afirmação, corresponde na prática a pretender valorizar o trabalho daqueles que seguem uma dada forma de representação do olhar, em detrimento de outros, o que considero lamentável porque preconceituoso.
3 cm x 1 cm, seguido de carimbo “ESTREMOZ / PORTUGAL”,
dentro de um rectângulo de 2,7 cm x 1 cm.
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